Mais duas formas de brasões de Macau ao longo da história (1) recolhidos da imprensa escrita.
Brasão de armas de Macau “Colónia Portuguesa de Macau” que vigorou de 8 de Maio de 1935 a 11 de Junho de 1951. Em 1951, o listel branco passou a ser: “Província Portuguesa de Macau” e em 1975 “Governo de Macau“.
Ordenação simbólica das Províncias do Império Português de Além-Mar (Macau) segundo o parecer que a pedido da Agência das Colónias, e por incumbência do Instituto Português de Heráldica, o Senhor Afonso Dornelas elaborou em Junho de 1932.
(1) Brasão de armas ou, simplesmente, brasão, na tradição europeia medieval, é um desenho especificamente criado – obedecendo às leis da heráldica – com a finalidade de identificar indivíduos, famílias, clãs, corporações, cidades, regiões e nações.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Bras%C3%A3o
VER anteriores referências a Brasões/Insígnias de Macau em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/category/insignias-brasoes/
“…Paremos, agora, em frente dum nebuloso aspecto da China: o fumo do ópio!
O ópio é um polvo imenso, cujas raízes se estendem por todo o Mundo. A êle andam ligados interesses que representam milhões; o ópio é um dos grandes mistérios da China. Não tentemos devassa-lo, mesmo que seria inútil; basta que dêle observemos um aspecto e tenhamos uma idéia, tal como nós é transmitida através da tela impressionante e trágica – podemos dizer – que representa o interior dum fumatório de baixa classe. Na tela, do lado esquerdo, vê-se a entrada para um fumatório de classe superior.
Nunca fumei ópio; as primeiras tentativas são desagradáveis, causam um malestar parecido como o enjôo do mar.
Fausto Sampaio “Fumatório de Ópio”, Macau, 1937
O mal do ópio, que tão bem se revela nos fácies das vítimas representadas nesta tela, não pode ser debelado duma forma radical e imediata, – o assunto tem sido regulado por conferências e acordos internacionais – mas o governo da China tem-se mostrado incansável na repressão dêste terrível vício, e a Colónia de Macau , vítima escolhida para permanentes quão injustos ataques, sempre que se trate de campanhas contra êste estupefaciente – como se todo o ópio que se consome na Terra fosse produzido e exportado da minúscula Macau ! – a Colónia tem cumprido escrupulosamente o estipulado naqueles acordos internacionais.
O ópio fabricado em Macau, é muito apreciado no Oriente, e, tal como sucede com o vinho do Pôrto, sofre da fraude das imitações, havendo uma marca – a marca Leão, que se vende em pequenas caixas – que é a mais usada pela gente do mar, que tem tido muitas imitações, andando muito espalhada, e êste é um motivo a juntar a muitos outros, porque se atribuem a Macau culpas no negócio do ópio que não lhe cabem.
Excerto de uma conferência de Jaime do Inso denominada “Quadros de Macau” in Fausto Sampaio, Pintor do Ultramar Português. Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1942, 182 p.
Anteriores referências a Jaime do Inso, e ao pintor Fausto Sampaio, ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jaime-do-inso/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fausto-sampaio/
Os dois últimos quadros de Fausto Sampaio, inseridos no livro já referenciado em anteriores postagens. (1)
Não tenho informações sobre estes dois quadros:“Velha rua com chuva” e “Entrada do pôrto interior”
NOTA: tenho uma vaga ideia deste edifício ainda existente na década de 60, localizado ao lado da ponte cais n.º 1(?) da carreira para as Ilhas, no porto interior (hoje, seria ao lado da ponte cais anexo ao Museu Marítimo). Nessa altura já sem a configuração que se vê nesta pintura. Não existia o muro e o portão da frente (destruída para alargamento da Rua do Almirante Sérgio) e a torre nas traseiras do edifício principal. Na década de 60 pertencia ainda à Marinha, e vivia nele o Sr. Coelho, que dava “explicações” a alunos do Liceu.
(1) Fausto Sampaio, Pintor do Ultramar Português. Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1942, 182 p. Ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fausto-sampaio/
ACTUALIZAÇÃO 18-01-2015: Recebi do João Botas do blogue “Macau Antigo” , o seguinte esclarecimento sobre este segundo quadro : “Entrada do pôrto interior” : “a entrada do porto interior a que Fausto Sampaio se referia é a que se vê ao fundo no quadro. O edifício fica bem mais acima e ainda existe; fica na Penha junto à igreja e residência do bispo é da década de 1920 (estilo art déco ). Foi residência do pres. da Melco e já muito mais tarde de Carlos Assumpção. Ainda em 2012 a vi; tem na fachada principal a inscrição Skyline“.
Agradeço este esclarecimento e tem toda a razão. Analisei o quadro do ponto de vista , à beira do porto interior e não da perspectiva da Colina da Penha, tendo por isso, confundido o edifício.
Pode-se ver o residência “Slyline” num “Postal de Macau Antigo (IV) – Colina da Penha“, postado em 18-05-2013:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/colina-da-penha/
Continuação da leitura do livro e análise dos quadros de Fausto Sampaio pintados em Macau. (1)
“O quadro mostra o vestíbulo da casa de José Vicente Jorge, com a sua colecção de arte chinesa. “Macaense de destaque na Colónia e um dedicado cultor da arte chinesa. Serviu como encarregado de Negócios de Portugal em Pequim, quando da proclamação da República, em 1910 e mais tarde, em 1912, sendo chefe de Expediente Sínico em Macau foi a Cantão várias vezes, como agente diplomático, quando do tratado de expatriação com a China …(…)
A colecção de preciosidades que possue é tida como a melhor do Extremo-Oriente e já mereceu a visita do director do Museu Britânico de Londres”(2)
(1) Fausto Sampaio, Pintor do Ultramar Português. Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1942, 182 p. Ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fausto-sampaio/
(2) INSO, Jaime do – Quadros de Macau in (1)
Continuação da leitura do livro e análise dos quadros de Fausto Sampaio, pintados em Macau. (1)
“É de notar ao examinar-se o quadro «Tancareiras» que o autor atribuiu à figura da barqueira que está no primeiro plano, olhos de côr azul ou pardo-azulada, quando esta coloração pigmentar do globo ocular jamais aparece nos mongóis e mongoloides. Além disso, nota-se no rosto dessa mulher um deliquidade orbitária muito menos acentuada do que no comum da sua raça, bem como se vê muitíssimo atenuado aquêle bridado da fenda palpebral que é característico do ôlho mongol e que chega a fazer ocultar completamente as pestanas à vista alheia. Não foi, porém, nem ao longe, êrro de visão do artista. Veja-se que essa tancareira, ou era produto de mestiçagem e tinha recebido, por ascendência paterna europeia, essa modificação somática, ou, o que é menos provável, proviria de alguma daquelas populações da Mongólia do Nordeste aonde são relativamente frequentes os cruzamentos com eslavos brancos e louros e que tivesse emigrado para a China Meridional.” (2)
“Notabilíssimo quadro é êste, que só por si bastaria para firmar uma reputação. A naturalidade das atitudes, dir-se-ia a, a anatomia das personagens, não esquecendo o miudinho sai-kó (3) pendurado às costas e coberto com o seu pano novo e vermelho – o me-tal (4) – que é a côr da felicidade, o impressionante das côres, o tão bem reproduzido regionalismo dos trajos, tornam esta uma das inspiradas a apreciadas deste certame” (4)
(1) Fausto Sampaio, Pintor do Ultramar Português. Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1942, 182 p. Ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fausto-sampaio/
(2) MELO; Lopo Vaz de Sampaio e – A Arte ao serviço do Império in Fausto Sampaio, Pintor do Ultramar Português, p. 29
NOTA: Lopo Vaz de Sampaio e Melo (1884-1949), filho de um notabilíssimo homem de Estado do tempo da Monarquia, com o mesmo nome, Lopo Vaz de Sampayo e Mello (1848-1892), oficial da Marinha da qual pediu a demissão, foi director do Correio da Manhã, professor catedrático da Escola Superior Colonial onde regia as cadeiras de «Colonização Portuguesa», «Administração e Legislação», «Política indígena» e «Etnologia e Etnografia». Foi vogal do Conselho do Império Colonial, onde, em 1936, foi encarregado de fazer o inquérito relativo à existência ou não de escravatura nas colónias portuguesas. Era a favor da introdução de castigos corporais nas colónias “desde que não incluam mutilações (“Política Indígena- Questões coloniaes”, 1910, p. 194)
(3) Sai-Kó (細個– mandarim pinyin: xi gé; cantonense jyutping: sai3 go3) – rapazinho, garoto; pequeno moço de recados em escritórios, oficina, etc; rapazito que ajuda os empregados domésticos numa casa. Usam-se também os diminutivos saicozinho, saicozito.
BATALHA, Graciete – Glossário do Dialecto Macaense, 1977.
(4) Deveria ser :“mé tai”.
孭帶 – mandarim pinyin: mie dài; cantonense jyutping: me1 daai2 – Faixa quadrada de pano com que as mulheres chinesas levam os bebés às costas.
(4) INSO. Jaime do – Quadros de Macau in Fausto Sampaio, Pintor do Ultramar Português, p. 103.
Continuação da leitura do livro e análise dos quadros de Fausto Sampaio pintados em Macau. (1)
“Este retrato vale como um romance: é o romance da vida do europeu na China.
Representa um tipo de rapariga haft-cast, português, uma eurasiana de Macau usando aquêle trajo característico da China, semi-europeu, semi-oriental, como a possuidora que o enverga. É filha dum activo compatriota nosso que há muito foi tocado a fundo pela China e lá ficou prêso pelo feitiço do Oriente de que a gente aqui poderá rir-se, na crença duma superioridade que lá se esvai e desaparece como por encanto.
Êste compatriota nosso vivia, até certo ponto, à moda chinesa, tinha várias mulheres e uns 16 filhos, se a memória me não falha.
Esta, conhecia-a, talvez, em pequena, e hoje é formada por uma escola de Hong Kong.
Este quadro é um romance, é um romance da vida na China…” (Jaime do Inso) (2)
(1) Fausto Sampaio, Pintor do Ultramar Português. Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1942, 182 p. Ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fausto-sampaio/
(2) INSO. Jaime do – Quadros de Macau in Fausto Sampaio, Pintor do Ultramar Português, pp. 100-101.
Livro onde além da colectânea das conferências realizadas na Sociedade Nacional de Belas Artes de Lisboa, durante a exposição do pintor Fausto Sampaio, em Lisboa, no ano de 1942, apresenta algumas fotografias dos magníficos quadros realizados pelo pintor em Macau. (1)
Referente a Macau, apresenta as duas conferências:
“Quadros de Macau” pelo Comandante Jaime do Inso.(2)
“A China que Fausto Sampaio sentiu” pelo Dr. Américo Pacheco Jorge. (3)
Do primeiro, transcrevo:
“A arte, em Macau, sofre, necessariamente, da influência estranha da China milenária, mestra a seu modo e na qual não se julge que a nossa civilização nada tenha que colhêr imprimindo-lhe aquêle cunho singular que, tanto nos choca, desde os cambiantes da paisagens aos bronzes dos Tangs e às cerâmicas dos Mings; desde a silhueta grácil das mulheres, duma finura altiva, ao sorrir bonacheiro dum Buda folgazão; desde a arquitectura larga dos portais dum Pu-lau, ao rendilhado precioso do jade e do marfim que aflora, tanto no pitoresco sórdido da mais miserável das misérias, como na fantasia mais rica duma cabaia doirada; que irradia das velas tristes duma lorcha ou se esconde no interior pequenino e pobre dum tanká; que surge, tanto na perturbação do sândalo queimado num Pagode, como no cenário de sonho duma procissão de Dragões … (…) (2)
“Êste ambiente é um segrêdo de Macau – um segredo soube da nossa raça – e êste segredo soube o primoroso artista que é Fausto Sampaio interpretá-lo nas côres das telas, trazendo até nós alguns recantos de Macau, bem portugueses…” (2)
Os quadros “Leong-Soi Teng –O Curandeiro” e “Velho Pescador”, são estudos impecáveis, é a China surpreendida nos mais curiosos tipos de raça da região cantonense, são verdadeiras obras primas em que a agudeza psicológica do artista imprimiu tanta sugestão, tanta naturalidade e tanto realismo, que quási fico à espera , ao olhar para eles, de ouvir a linguagem musicada dos chineses…” (2)
(1) Fausto Sampaio, Pintor do Ultramar Português. Agência Geral das Colónias, Lisboa, 1942, 182 p.
(2) INSO. Jaime do – Quadros de Macau in Fausto Sampaio, Pintor do Ultramar Português, pp. 82-83; p.86; p. 101
Sobre Jaime do Inso, ver referências anteriores em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jaime-do-inso/
(3) Américo Augusto Pacheco Jorge ( (1902-1962), licenciado em direito, advogado. Filho de José Vicente Jorge , que tem um retrato a óleo deste mesmo Fausto Sampaio) (ver em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/01/18/leitura-novo-methodo-de-leitura-i/ )
Foi o presidente da delegação de Macau à 1.ª conferência do Império Colonial Português em 1937. (FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses II Volume)
Continuação da reprodução dos mapas de Macau, já apresentados em anterior “post”(1), do Boletim da Agência Geral das Colónias de 1929 (2)
“Macau – O novo pôrto de Macau e a sua situação no Extremo Oriente”
O mapa de Macau e a Ilha da Taipa com a escala de 1 / 80.000 e a outra com a escala de 1/100.000.000.
Assinalado a duração da carreira marítima para Cantão de 8 horas e para Hong Kong de 4 horas. No mapa à esquerda, a indicação do chamado “Porto Novo” com os aterros desde a Fortaleza de S. Francisco até à praia de Cacilhas(posteriormente chamados aterros do Porto Exterior)
Mapa com o projecto para o aterro da parte norte da enseada da Praia Grande e prolongamento e rectificações das ruas e avenidas existentes.
Assinaladoas neste mapa, algumas propostas interessantes, de espaços, avenidas e edifícios públicos, mas que nunca foram concretizadas: uma “Avenida de Portugal” (paralela a norte da Avenida Almeida Ribeiro com indicação de “trenvias e eléctricas” (instalação de «eléctricos») (3) passando por uma “Praça Afonso de Albuquerque” com um “Lago” e um “Tribunal”; um “Museu” sensivelmente à frente de Sta Clara (Colégio de Santa Rosa de Lima), uma “Avenida da Catedral” que ligaria a Sé Catedral à Rua das Estalagens e Ruínas de S. Paulo.
Propostas que foram concretizadas: prolongamento da “Avenida Almeida Ribeiro” para os novos aterros da Praia Grande, a rectificação da “Rua Conselheiro Ferreira de Almeida” (depois classificada como Avenida), o prolongamento da “Avenida Sidónio Paes”
Algumas sinaléticas também interessantes no mapa: atrás do “Cinema Victória” existia um “Hotel Presidente”; atrás do “BNU” estava um “Hotel”; uma “Calçada de Sta Clara” (hoje Jardim S. Francisco).
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/03/12/mapas-de-macau-de-1929-i/
(2) Boletim da Agência Geral das Colónias, Ano V, N.º 53, Novembro de 1929, 236 p., + |8|.
Sobre este número, dedicado a Macau, ver anterior “post”
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/11/10/leitura-macau-no-boletim-da-agencia-geral-das-colonias-1929/
(3) “Tranvia electrica” – caminho de ferro de carris, pelo sistema americano (do castelhano tranvia, do inglês tramway) (Dicionário da Língua Portuguesan de Cândido de Figueiredo.