Do «Boletim do Sindicato Nacional dos Jornalistas», no n-º especial comemorativo do Tricentenário da «Gazeta», n.º4, Out/Nov/ Dez de 1941, pp. 143-144; 169-170. (1), extraí o seguinte texto sobre a evolução da imprensa escrita em Macau.
No dia 20 de Janeiro de 1824, embarcaram na fragata Salamandra o Comandante dela, Capitão de Mar-e-Guerra Joaquim Mourão Gracez Palha, futuro governador de Macau. (1) Foi muito obsequiado e saudado à hora da partida, tendo a fortaleza de S. Francisco salvado quando, dirigindo-se do Hopu da Praia Grande para bordo, a lancha que o conduzia passou a frente.“ (2) A fragata que esteve em Macau desde 23 de Setembro de 1823 até à partida em 20 de Janeiro de 1824, trouxe uma força de 200 marinheiros e oficiais vindos de Goa, (3) sob o comando do Major João Cabral de Estefique ocupando as fortalezas e impondo um Conselho do Governo. (2) (3) (4)
(1) De 1825 a 1827 é Governador de Macau, Joaquim Mourão Garcês Palha. Teve problemas financeiros e políticos, nomeadamente com as autoridades chinesas quer de Cantão quer de Pequim. Garcês Palha chegou a ser em 1848 governador geral da Índia. (2) Anteriores referências de Joaquim Mourão Garcez Palha em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/joaquim-mourao-garces-palha/
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, pp. 38-40.
(3) De 1 de Julho a 23 de Setembro de 1823, a Cidade de Macau, foi governada exclusivamente pelo Senado. Em 23-09-1823, toma posse, em substituição do Senado, um conselho presidido pelo Bispo D. Fr. Francisco de Nossa Senhora da Luz Chacim, dele fazendo parte p Major João Cabral d´Estefique e um vereador aos meses (liberal). O termo de posse foi lido no Senado, mas a provisão era do Governador de Goa, D. Manuel da Câmara. Exactamente por este motivo, as nomeações não foram bem acolhidas. Entre outras razões, foi invocado que “se o povo de Goa pode dar autoridade, por que o não poderá o de Macau? (2)
(4) “23-09-1823 – Segundo os liberais do Senado, a fragata Salamandra era o centro do alegado movimento despótico e anti-constitucional que ameaçava Macau.” (2)
NOTA: “03-01-1824- Primeiro número do periódico “Gazeta de Macao”, substituto de “A Abelha da China”. Durou até fins de Dezembro de 1826. De periodicidade semanal, era impresso na Tipografia do Governo, a cargo do Leal Senado. O parque tipográfico veio a ser posteriormente emprestado ao Superior do Colégio de S. José, P.e Nicolau Rodrigues Pereira de Borja. (2)
De 1-07-1823 a 23-09-1823, a cidade de Macau foi governada exclusivamente pelo Senado. A 23 de Setembro de 1823 foi dado posse, em substituição do senado, de um conselho presidido pelo Bispo D. Fr. Francisco de Nossa Senhora da Luz Chacim, dele fazendo também parte o tenente-coronel João Cabral d´Estefique e um vereador do mês do Leal Senado que durou até 1825. Em 25 de Julho de 1825 foi nomeado novo governador Joaquim Mourão Garcez Palha (até 1827). (1) (2)
Segundo os liberais do Senado, a fragata Salamandra que chegou a Macau a 23 de Setembro de 1823, era o centro do alegado movimento despótico e anticonstitucional que ameaçava Macau. Era comandada pelo futuro Governador Joaquim Mourão Garcez Palha, e trazia uma força de 200 marinheiros e oficiais vindos de Goa ocupando as fortalezas e impondo um Conselho do Governo. (1)
NOTA: No dia 28 de Agosto de 1823, foi judicialmente queimado às portas da Ouvidoria o virulento número desta data de «A Abelha da China» (o 1.º jornal de Macau). O editor Fr. Gonçalo Amarante deste jornal (órgão do partido constitucional) fundado pelos dominicanos, com a queda do Governo Constitucional, em 23 de Setembro de 1823, refugiou-se em Cantão com os liberais Domingos José Gomes e João Nepomuceno Maher. No dia 27 de Setembro reapareceu, jornal agora editado por António José da Rocha mas o último número (n.º 67) foi a 27-12-1823. (1)
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, pp. 38 e 39.
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/joaquim-mourao-garces-palha/
No dia 12 de Setembro de 1822, publicou-se o primeiro periódico local (primeiro jornal português em solo chinês ) «A Abelha da China», fundado pelo chefe do partido constitucional, Tenente-Coronel Paulino da Silva Barbosa, editado pelo Vigário de S. Domingos, Fr. António de S. Gonçalo de Amarante e impresso na tipografia do governo, para atacar o partido conservador, chefiado pelo Ouvidor Miguel José de Arriaga Brum da Silveira. (1)
https://zh.wikipedia.org/wiki/%E8%9C%9C%E8%9C%82%E8%8F%AF%E5%A0%B1#/media/File:Abelha_da_China_no1.jpg
Teve curta duração, terminou em 27 de Dezembro de 1823 (o ultimo, n.º 67, saiu a 20 de Dezembro de 1823. (2)
O jornal tinha sido sujeito a uma queima de um dos seus números, em cenário público, à porta da Ouvidoria no dia 28 de Agosto de 1823 , pelos absolutistas. (3)
Uma publicação estrangeira “The Asiatic Journal and Monthly Register for British and Foreign Dependencies” dessa época (4) dava notícia do jornal “A Abelha da China” e das”guerras” entre absolutistas e liberais em Macau.
“We have now before us a private letter, and various numbers of the periodical paper aboved alluded to, “A Abelha da China”, which communicate very late intelligence respecting the political state of this small community. It appears that a frigate, despatched from Goa, anchored off a Macao on the 16th of June 1823, with the avowed intention of restoring the former government…
“«A Abelha da China» surge logo que é revogada a lei que proibia a imprensa periódica ultramarina. É também o 1.º com a finalidade de informar e orientar a opinião pública sobre a nova ordem Constitucional. Não é exactamente o «Boletim Oficial» mas é porta voz do que, no Senado e na Cidade, se quadra com os seus objectivos liberais, sendo impresso na Tipografia do Governo. Por trás de si manobra Fr. António S. Gonçalo de Amarante, liberal e redactor principal do semanário. Macau, com a sua marca conservadora, foi o terreno propício para o desafio e a luta liberal que a «A Abelha da China» defendia. Aplicava as suas «ferroadas» no partido conservador, chefiado pelo Ouvidor Miguel José de Arriaga Brum da Silveira.” (3)
NOTA: o primeiro “jornal” publicado em território português no Oriente foi na Índia, em 1821. A «Gazeta de Goa», impresso num parque tipográfico que veio de Bombaim, tinha como responsável de redacção o físico-mor Dr. António José de Lima Leitão. (3)
Nesse mesmo ano de 1822 após o aparecimento de “A Abelha da China” , é publicado em Macau, o periódico ” Evangelist” em língua inglesa, propriedade e órgão das missões protestantes.
(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.
“12-09-1822 – A Abelha da China (1822 – 1823 ) «querendo fazer huma breve exposição do progresso da revolução (1820) em Macao adoptou o plano de publicar os procedimentos do Senado desde o tempo em que ali chegarão as primeiras notícias da nova ordem da coisas de Portugal, para mostrar a marcha daquele corpo, e o estado do espírito publico desde aquella epocha“.(3)
(2) Segundo outra fonte o último número foi publicado a 26-12-1823 ttps://zh.wikipedia.org/wiki/蜜蜂華報
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.
(4) The Asiatic Journal and Monthly Register for British and Foreign Dependencies : Volume 17-January to June, 1824 (Feb p. 212)
(5) “12-09-1822 – Pouco depois do aparecimento de A Abelha da China, aparece em Macau o Evangelist, em língua inglesa, propriedade e órgão das missões protestantes (a que a posição católica, muita atacada, dez pôr fim) e o Hong Kong Government Gazette, representante dos interesses britânicos, que passou de Macau para Hong Kong depois de, em 29 de Agosto de 1842, os ingleses terem tomado oficialmente posse da sua colónia. É o primeiro jornal inglês de Hong Kong“. (3)