«As 5.35 horas da manhã de 13 de Agosto de 1931, (1) explodiu o Paiol da Flora, (2) devido aos grandes calores estivais. A explosão causou a morte das seguintes pessoas: 1.º sargento António Sousa Vidal, Henrique Ciríaco da Silva, funcionários das obras públicas, João Córdova, Natércia Duarte, criança de 11 anos, um filhinho do chefe da Polícia Carlos A. da Silva, um soldado africano e 15 pessoas chineses, sendo os feridos cerca de 50.(3)
O Palacete da Flora ficou reduzido a um montão de escombros; as casas fronteiriças, escalavradas; muitas casas arruinadas e muitíssimas com as janelas, portas e vidros partidos.
Nas três casas Canossianas houve muitos vidros partidos e algumas portas quebradas, mas não houve ferimentos, pois, sendo Verão, tanto as educandas como as órfãs chinesas estavam fora a passar as férias.
Uma bomba incendiária fez uma visita à Casa Canossiana de Mong Há: entrou por uma janela, forçando-a, pois, estava fechada, girou em volta da luz eléctrica, e saiu por outra janela do dormitório ds educandas, sem causar dano algum, além dum grande susto a uma rapariga, que naquela noite havia dormido ali. Atribui-se à protecção de Maria, de quem a pequena era muito devota, o não ter sido vítima do acidente. (4)
Outros estragos materiais mais significativos referenciados, para além das casas próximas do jardim que ficaram danificadas: a casa que Sun Fo tinha construído para a sua mãe, a casa memorial “Sun Yat Sen” na Av. Sidónio Pais: o coreto do jardim de Lou Lim Ioc que se encontrava em lugar diferente do actual, tinha a porta virada Av. Conselheiro Ferreira de Almeida.
A propósito dessa explosão, conta o Padre Teixeira (4) o seguinte episódio:
Nessa manhã, alguém telefonou da Taipa para Macau.
– Ouviu-se aqui um grande «estâmpido». Que aconteceu?
– O paiol da Flora foi pelos ares.
– Houve vítimas?
– 22 mortos e 50 feridos.
– Safa. Que «estâmpido» tremendo!
O caso do «estâmpido» passou de boca em boca e, durante vários dias, era «estâmpido» sem parar.
Nós tínhamos leitura no Seminário, durante as refeições. Sucedeu que o leitor foi o José Dias Bretão. Apareceu essa palavra no livro e ele, com ouvir tantas vezes pronunciar «estâmpido»., já estava um pouco confuso e leu assim mesmo.
Gargalhada geral!
O prefeito mandou que repetisse. E ele «estâmpido».
Por fim, mandou-o sair da estante, ameaçando-o com um castigo, pois julgava que estava a brincar. Só lhe levantou o castigo ao verificar que o rapaz tinha lido a sério.
Resultado: ficou sempre com a alcunha de «estâmpido».
(1)
O Conselho do Governo destinou uma verba de 300 mil patacas destinado a ocorrer ao pagamento das despesas resultantes da destruição do Paiol Militar da Flora e à construção de um novo paiol nas Ilhas.
Boletim Oficial da Colónia de Macau de 14 de Agosto de 1931 – Suplemento ao n.º 32
Nomeação de uma comissão para propor as medidas a adoptar para se socorrer as vítimas da explosão do Paiol da Flora.
Boletim Oficial da Colónia de Macau de 14 de Agosto de 1931 – Suplemento ao n.º 32.
(2) “Década de 20 – Posteriormente, no início de 20, procedeu-se à construção de um complexo sistema de túneis de características militares, que atravessam o subsolo da Colina da Guia, tendo sido instalado, na propriedade, um paiol que em 13 de Agosto de 1931, explodiu provocando a destruição do palacete da Flora “(ESTÁCIO, A. J. E e SARAIVA, A. M. P. – Jardins e Parques de Macau, p.30”
Em 28 de Junho de 1919, o governador aprovou o projecto da Repartição dos Serviços de Obras Públicas para a construção do novo paiol militar junto da Colina da Guia.
O Paiol da Flora estava situado num terreno por detrás do “Ténis da Flora” sensivelmente por detrás do actual Jardim Infantil D. José da Costa Nunes).
(3) O número de mortos e feridos variam conforme as fontes:
“Em 13 de Agosto de 1931, explodiu o paiol militar situado na Fonte de Inveja, causando 41 mortos, nos quais 7 foram crianças, e danificando um grande número de casas nos locais próximos. A explosão causou uma perda económica no valor de 400,000.00 dólares de Hong Kong para os proprietários e habitantes dos locais adjacentes”
http://www.archives.gov.mo/pt/featured/detail.aspx?id=106
“11-08-1931 – Uma explosão no Paiol Novo da Flora provocou 24 mortos e 50 feridos e destruiu completamente o palacete da Flora. Várias casas ficaram em ruínas ou danificadas num raio de 3500 metros.” (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997)
Boletim Oficial da Colónia de Macau, n.º 33 de 15 de Agosto de 1931
(4) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, pp. 221-222
O jardim do Palacete da Flora. Construção antiga melhorada em 1914-1915
1915, Fotógrafo: M. Russel, Copyright: Arquivo Histórico Ultramarino,
https://actd.iict.pt/view/actd:AHUD7626
NOTA: Recorda-se que o Palacete da Flora foi a perda material mais significativa da explosão do Paiol. Foram trinta toneladas de pólvora que destruíram tudo, num raio de 300 metros incluindo o palacete que era a residência de verão dos Governadores; na altura, estava lá instalado o Museu Luís de Camões e servia também como pavilhão de exposições de arte.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/02/06/leitura-uma-exposicao-de-arte-no-palacete-da-flora-1929/
Anteriores referências em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/paiol-da-flora/
Pode-se ver fotografias dos estragos causados pela explosão em:
http://www.archives.gov.mo/pt/featured/detail.aspx?id=106
Outras leituras e video disponíveis:
https://cronicasmacaenses.com/2012/11/08/macau-1931-explodiu-o-paiol-da-flora/
https://www.youtube.com/watch?v=ytRaoL50QEU
http://macauantigo.blogspot.com/2012/07/explosao-do-paiol-da-flora-agosto-1931.html
O «Diário de Notícias” (Portugal) datado de 12 de Setembro de 1931 falava-se da segunda edição da Volta a Portugal em bicicleta, com vitória de José Maria Nicolau na etapa Beja-Évora e conquista da camisola amarela, a campanha contra o analfabetismo, considerado “um grande problema nacional”, e também de “A Catástrofe de Macau”, sobre a terrível explosão do paiol da Flora, acompanhado da seguinte foto:
https://www.dn.pt/edicao-do-dia/12-set-2018/interior/contra-o-analfabetismo-9832957.html