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Em 17 de Setembro de 1883, escreve Adolfo Loureiro (1) a propósito do Hotel Macao (2) (desde 1880, sob a direcção de Pedro Hing Kee) (3):

«Fiquei hoje definitivamente instalado nos meus aposentos que são completamente independentes e mobilados conforme as minhas indicações. Na varanda coberta lá estão as frescas e cómodas cadeiras, ou sofás de rota; no salão uma grande mesa para estantes, plantas e desenhos, secretárias, pequena mesa para quando quiser almoçar ou jantar no meu quarto, etc., etc,; no quarto de cama, um leito enorme e de armação, mesas, toilettes, guarda roupa, cabides; finalmente, uma pequena galeria envidraçada, dando para um páteo interior, e nela a sala de banho com uma daquelas banheiras chinesas de barro com esmaltes que fazem lembrar as antigas tinas de banho gregas ou romanas. Estou optimamente instalado e encontro no dono do hotel que é um cristão, o maior desejo de me ser agradável… (…) O jantar foi servido com profusão, com boa ordem e com uma cozinha, meio inglesa, meio portuguesa que me não desagradou. Quando terminei, ao chegar à janela vi o governador (Tomás de Sousa Rosa) que ia ao seu passeio. Acompanhei-o.» (4)

Por volta de 1900, encontra-se no Tourist Book de Hong Kong o seguinte anúncio: (4)

Macao Hing Kee’s Hotel – A perfectly new Building – 30 bedrooms – A confortable family Hotel – Five Minutes from the Wharves steamer – Every thing of the Best – Charges very moderate.

(1) O engenheiro Adolfo Loureiro, encontrava-se em Macau a fazer estudos sobre a viabilidade da construção de um dique no porto interior. Anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/adolfo-loureiro/

(2)

Em primeiro plano os Correios, a seguir, o «Macao Hotel», c. 1900

Velho hotel oitocentista «Hotel Hing Kee» (“Nam Van Heng Ki Chau Tim”) com a fachada principal virada a leste para a Rua da Praia Grande com o número 101 (Directório de 1890, p. 57), propriedade de P. L. Hing-Kee. Depois «Macao Hotel» (explorado por William Farmer (ou «New Macao Hotel», a partir de 1923) remodelado em 1927-1928 pelo comendador Lou Lim Ioc  com o nome de «Hotel Riviera» (encerrou em 1969) e, dois anos mais tarde, demolido. https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/hotel-macao/

DIRECTÓRIO DE MACAU DE 1890, p. 57

No Directório de Macau de 1879, vem mencionado um Hotel com o nome de «Macau Hotel» (Ou Mun Tai Chao Tim), propriedade de Joaquim Pereira de Campos, na Rua de Praia Grande n.º 15 (com gerência de António Gomes da Silva Telles e Augusto Siqueira)

DIRECTÓRIO DE MACAU DE 1879, pp. 28 -29

(3) O Engenheiro Adolfo Loureiro no seu livro ”Oriente” descreve-o «um china rechonchudo e prazenteiro que me recebe de modo expansivo, falando-me, em vozes mansas, um português ininteligível e que me obriga a recorrer ao inglês, língua em que sou menos forte do que ele no português» (4)

(4) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, ICM, 1997, p.75

Por iniciativa do Padre Francisco Xavier Rôndina, S. J. (1) efectou-se a 3 de Abril de 1864, uma quermesse no teatro D. Pedro V, em benefício dos órfãos do Seminário de S. José. Este mesmo jesuíta que veio para Macau em 1862, para ensinar e dirigir o Seminário de S. José, (2) era um defensor dos direitos humanos, denunciando os problemas sociais dos mais pobres e desfavorecidos, e promovendo os meios para sustentar os asilados nomeadamente os órfãos.

Mas só em 1900 por iniciativa do Provedor da Santa Casa de Misericórdia Pedro Nolasco da Silva (1842-1912) surgiu o “Asilo dos Órfãos” instalado no Tap Seac, mas que por razões económicas em 1918, foi extinta. (3) (4)

Em 1933, a “Associação protectora dos jovens pobres e órfãos”, que tinha o edifício alugado denominado «Novo Asilo dos Órfãos» na Travessa dos Santos n.º 2, encomendou a construção de um edifício próprio que seria denominado “Asilo dos Orfãos”. (5)

 «Boletim Geral das Colónias», XII, n.º 134/135, Agosto/Setembro de 1936, pp.181

Para efectivação desta grande obra de beneficência, para angariação de fundos para a sua concretização, em Macau, Abril de 1936, (6) foi impresso e distribuído um “jornal” de 16 páginas (número único) onde se apresenta:

– Uma mensagem do Governador interino, Dr. João Pereira Barbosa

 – Um “ante-projecto, para mostrar o partido tomado e em que ainda não há uma preocupação de detalhe”, elaborado por Keil Amaral, (7) acompanhado de uma “descrição do projectado para construção de um edifício na Rua da Horta da Companhia, (8) a pedido da Associação protectora dos jovens pobres e órfãos”, assinado pelo mesmo arquitecto.

– Um artigo intitulado “Querer É Poder”, história resumida do Asilo dos Órfãos até então, por Luís Nolasco (Macau, 18 de Março de 1936) (9)

Com desenho/projecto na 1.ª página da “Fachada principal do novo edifício do Asilo dos Pobres e Órfãos de Macau”
Planta do 1.º pavimento
Planta do 2.º pavimento
Planta da cave
Mensagem manuscrita do governador interino, Dr. João Pereira Barbosa de 8 de Abril de 1936.

NOTA – Apesar de ter havido lançamento da primeira pedra do edifico, em 23 de Junho de 1936, com projecto do arquitecto Keil do Amaral, na Rua de Horta e Companhia, não consta ter havido concretização desta obra pois não encontro nas minhas pesquisas, até hoje, qualquer informação sobre a inauguração ou trabalhos realizados nessa mesma rua e também porque os «Anuários de Macau» de 1938 (p. 442) e 1940/41 (p. 462) referirem uma nova morada para o Asilo dos Órfãos, na «Vila Flora». Acrescenta-se o facto de, em 13 de Fevereiro de 1924, num terreno denominado Horta da Companhia, doado à Irmandade da Misericórdia de Macau pelo Governo da Província, ter sido construído um edifício destinado para Asilo dos Inválidos, (10)

(1) 08-06-1862 – Chegaram a Macau os Padres jesuítas Xavier Rôndina (1827-1897) e José Joaquim de Fonseca Matos, os primeiros professores do reaberto Seminário.  O Padre Francesco Saverio Rondina nasceu em Itália e aos 15 anos de idade ingressa na Companhia de Jesus e faz o seu noviciado em Roma. É enviado para Macau, tendo residido primeiramente, em Portugal entre 1859 e 1862, em Lisboa, no colégio de Campolide onde obteve a autorização régia para ensinar em Portugal, e posteriormente em Macau. Em 1862, passa pela ilha de Sanchoão, onde encontrou aí, a primeira sepultura de S. Francisco Xavier, que restaurou. Padre Rondina, depois de ter dirigido o Colégio de S. José em Macau de 1862 a 1871, devido à ordem que veio de Lisboa (os professores do Seminário teriam de ser obrigatoriamente de nacionalidade portuguesa e a aqueles que não cumpriam este requisito teriam de abandonar o território), abandona Macau com alguns colegas jesuítas e dirige-se para o Rio de Janeiro, onde permanecerá durante algum tempo mas, por motivos de saúde, regressa finalmente a Itália, em 1882. Nesse ano, quando conhece a obra educativa de S. João Bosco, sob a inspiração e nome de S. Francisco de Sales – os Salesianos – propôs a ida destes para Macau. D. João Paulino Azevedo (1902-1918) dá sequência à instalação dos salesianos em Macau, em 1906. (10)

Sobre a biografia e obra do Padre Rondina , aconselho leitura de: ARESTA, António – Cinco Figuras do Diálogo Luso-Chinês em Macau em file:///C:/Users/ASUS/Downloads/06-Cinco%20figuras__Antonio%20Aresta873-894.pdf

MARTINS, Maria M. B. – Compêndio de Philosophia Theorética e Pratica de Francisco Xavier Rondina S.J.; O Renascimento de Neo-escolástica  em https://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/15970.pdf

(2) TEIXEIRA, Padre Manuel – O Teatro D. Pedro V, 1971, p. 31.

(3) “1900 – Sendo Provedor da Santa Casa de Misericórdia Pedro Nolasco da Silva criou este grande vulto macaense o Asilo dos Órfãos, que ficou a cargo da mesma Santa Casa e instalado em edifício próprio, ao Tap Seac (hoje sede do Instituto Cultural do Governo da RAEM). A instituição foi extinta por medidas económicas em 1918, tendo recolhido e educado ao todo 182 rapazes, alguns dos quais atingiram lugares importantes dentro e fora de Macau. (10)

(4) “Havia antigamente o Asilo dos Órfãos da Santa Casa da Misericordia de Macau, instalado no edifício que a mesma Santa Casa propositadamente mandou construir ao Tap Seac e onde hoje funciona o liceu nacional. Um provedor, porém, em hora infeliz de confissão de incompetência e de comodismo propôs, e conseguiu, a sua extinção. Ficou, então, aberta uma lacuna na obra de assistência pública de Macau.” (Luis Nolasco) (6)

(5) “06-01-1933 – Foi inaugurado a 6 de Janeiro de 1933, o «Novo Asilo dos Órfãos», sob o patrocínio da «Associação Pública de Protecção aos jovens Pobres e Órfãos», alimentada com cotas mensais, sessões de animatógrafo e outras representações de benefício. Faltava um prédio adequado, porque o 1.º, ao Tap Seac, passou a ser o Liceu Central de Macau. Com a ajuda de muitas almas boas, entre elas o arquitecto Keil do Amaral e o Dr. Gustavo Nolasco da Silva (11), impulsionados por Pedro Paulo Ângelo, (12) o Asilo foi instalado na Travessa dos Santos n.º 2 e encontrou quem lhe permitisse continuar (10) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/01/06/noticia-de-06-de-janeiro-de-1933-novo-asilo-dos-orfaos/

(6) “O Asilo dos Orfãos”, jornal, número único, de Abril de 1936,Macau.

“ABRIL DE 1936 – Publicado um Jornal do Asilo com o título de “O Asilo dos Orfãos”, Número Único, com a história e o projeto de construção do edifício destinado a esta obra de assistência; ainda instalado na Travessa dos Santos, ali se utilizou a política de self-supporting-concern, com oficinas de tipografia e encadernação e professores (e material) concedidos pela Comissão Administrativa de Município, por proposta do Tenente Guedes Pinto. O projecto foi feito gratuitamente pelo arquitecto Keil do Amaral, sendo-lhe destinado um espaço cedido gratuitamente por diligência do Governador Interino, Dr. João Pereira Barbosa.” (10)

(7) Francisco Caetano Keil Coelho do Amaral (1910 — 1975) foi um arquiteto português ligado ao Modernismo, com destaque ao longo dos anos de 1940 e 1950, com responsabilidade projectual de importantes obras públicas, como por exemplo, Aeroporto de Lisboa, Feira das Indústrias de Lisboa, Parque Florestal de Monsanto, Lisboa etc. Completa o curso de Arquitetura da Escola de Belas Artes de Lisboa e a primeira obra é de 1934 (Instituto Pasteur, Porto). Este projecto para Macau terá sido um dos primeiros trabalhos encomendados (não consta na sua biografia) já que só em 1936, é referenciado o concurso para o Pavilhão de Portugal na Feira Universal de Paris, onde esteve durante 1 ano para acompanhar a construção do pavilhão. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Keil_do_Amaral)

(8) A Rua de Horta da Companhia, em 1969, foi redenominada Rua de D. Belchior Carneiro (actual designação) nas comemorações dos 400 anos da chagada a Macau do Bispo D. Melchior.

(9) Dr Luís Gonzaga Nolasco da Silva (1881-1954; filho de Pedro Nolasco da Silva) foi presidente do Asilo dos Órfãos de 1933 (Travessa dos Santos, n.º 2) a 1938/1939 (Vila Flor) (Directório de Macau, 1933, p. 518 e Anuário de Macau, 1938, p. 442) (https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/luis-gonzaga-nolasco-da-silva/)

(10) (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, 2015, Volume II, p. 338; Volume III, pp. 161, 230,239, 251, 283)

(11) Dr. Gustavo Nolasco da Silva (1909-1991; filho de Luís Gonzaga Nolasco da Silva) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/gustavo-nolasco-da-silva/

(12) 14-07-1931- O Sr. Pedro Paulo Ângelo, fazendo parte da Mesa Directora da Sta. Casa, inicia uma subscrição pública para reerguer o Asilo dos Orfãos, instituição onde crescera e sustentada pela Santa Casa da Misericórdia até 1918 quando foi fechado por medidas económicas. Em 13 de Agosto de 1931, os Estatutos foram aprovados pela Portaria n.º 936 do Governo de Macau. Com a subscrição e mais algumas achegas finais, adquiriu-se uma soma de 10 mil patacas.” (10)

Anteriores referências ao Asilo dos Órfãos: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/asilo-dos-orfaos/

Extraído de «BGU», XLV 525 Março de 1969, p. 129/130

“Na parede do Gabinete do Conservador foi a 29 de Março de 1969 inaugurada uma placa de metal amarelo, encimada com o scudo nacional, a cores , com os seguintes dizeres em português e em inglês:

A placa é de cobre, encaixilhada em teca, sendo obra de Eurico Francisco do Rosário.

José Maria da Ponte e Horta, Governador de Macau (1866-1868) determinou pela Portaria n.º 14 de 26-06-1868 que o serviço de registo predial se iniciasse a partir de 1 de Julho de 1868. A Conservatória do Registo Predial ficou instalada no edifício do Tribunal, assistindo à inauguração o Governador Ponte e Horta, o Juiz João Maria Ferreira Pinto e o presidente do Senado. Foi só a 1 de Janeiro de 1869 que se fez o 1.º registo do prédio n.º 28 da Rua dos Mercadores; em todo esse ano registaram-se apenas 5 prédios e no dia seguinte 50.

O Dr. Diamantino de Oliveira Ferreira foi nomeado em Maio de 1964.

NOTA: Um dos conservadores foi o Dr. Camilo de Almeida Pessanha, professor do liceu, nomeado Conservador a 16-02-1899. Como a lei não permitia acumulação de cargos, foi chamado ao Ministro a Lisboa, onde se apresentou a 5-10-1899; regressando a Macau, deixou o professorado, tomando posse do cargo a 23-06-1900. A 16-04-1904 foi nomeado juiz, passando a Conservadoria ao delegado do procurador da Coroa e Fazenda, Dr. Luís Gonçalves Forte (17-05-1904 – ?) . Em 1905, Pessanha caiu doente e a 13 de Agosto regressou a Portugal; chegou de novo a Macau a 18-02-1909; e agora vai acumular os cargos de Conservador e de Professor, sendo nomeado a 13-03-1909, professor de Economia Política e Direito Comercial no Instituto Comercial, anexo ao Liceu. Em Agosto de 1915 foi exonerado do cargo de Conservador, que servira durante 6 anos de 179 dias; apesar disso, ainda continuou no ofício até 12 de Maio de 1919, em que pediu exoneração, continuando no cargo de juiz. (TEIXEIRA, P. Manuel – A Voz das Pedras de Macau. 1980, pp.127-128).

Extraído de «BOGPM», XLVI-11 de 17 de Março de 1900, p.

Mais dois postais com fotos, mal datadas, de c. 1908, da colecção (10 postais), intitulada “MACAU ANTIGA, ETERNA”  – fotografias das primeiras décadas do século XX – com legendas em três línguas, publicada pelo Instituto Cultural do Governo da R. A. E. M / Arquivo Histórico de Macau, em 2015. (1)

POSTAL – Jardim de S. Francisco c. 1908
POSTAL – Jardim de S. Francisco c. 1908 -verso

NOTA: Data errada, a mesma foto, foi publicada em postal pelo editor, M. Sternberg de Hong Kong e datada de “cerca de 1900”.

Recorda-se que o jardim de S. Francisco que fora murado em c. de 1860, constituindo um belíssimo campo de lazer, com três portões e uma porta pequena em frente do Convento de St. Clara, foi no ano de 1899,  sujeito a um projecto de construção de um muro-cais na Praia Grande, defronte do Grémio Militar e do Jardim de S. Francisco , em 27 de Janeiro, e  o aforamento do mesmo jardim em 7 de Setembro. O coreto do jardim onde a Banda Municipal dava concertos aos sábados, domingos e feriados, foi demolido em 1935. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015 pp . 333-334)

LOUREIRO, João – Postais Antigos de Macau, 2.ª edição, 1997, p. 50
POSTAL – Ruínas de S. Paulo, c. 1908.
POSTAL – Ruínas de S. Paulo, c. 1908 – verso

NOTA: Data errada, a mesma foto, foi publicada em postal pelo editor, M. Sternberg de Hong Kong e datada de “cerca de 1900

LOUREIRO, João – Postais Antigos de Macau, 2.ª edição, 1997, p. 82

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2020/09/25/postais-coleccao-macau-antiga-eterna-i/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2020/10/07/postais-coleccao-macau-antiga-eterna-ii/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2020/11/15/postais-coleccao-macau-antiga-eterna-iii/

Três grandes nomes da medicina que exerceram a sua profissão em Macau. Estes anúncios foram publicados no Anuário de Macau, 1921.

José Caetano Soares (Almendra, freguesia de Trancoso 1887- Lisboa 1963) – Estudou medicina na extinta Escola Politécnica no Porto e depois, em 1912, concluiu o curso na Escola Médico-Cirúrgica em Lisboa. Estagiou no Hospital de S. José (Lisboa) onde adquiriu a prática de cirurgião. Iniciou a sua vida de médico, ingressando no quadro de saúde de Moçambique como tenente- médico e em 1913 (Portaria de 5-4-1913) foi mandado servir no quadro de Macau até 1915 (com uma comissão de serviço em Timor). Após regresso de Timor em 1916, rescindiu o seu contrato como médico militar, sendo exonerado em 25-07-1916. Passou a exercer clínica particular e a ser o primeiro facultativo do «Partido Médico Municipal», recém-criado pelo Leal Senado (posse a 1-11-1916). Na mesma altura nomeado Director do Hospital de S. Rafael, da Santa Casa de Misericórdia. Começou também nessa ocasião a fazer clínica em Hong Kong aonde se deslocava semanalmente. Em 30-11-1918 casou-se com Maria Luísa da Silveira Lorena Santos. Os seus filhos (dois rapazes e uma menina) nasceram todos em Macau. Manteve-se em Macau até 22 de Julho de 1937 (22 anos de actividade clínica) tendo regressado a Portugal, fixando residência em Lisboa. Deixou escrito um livro notável de investigação histórica “Macau e a Assistência – Panorama médico-social”, de 544 páginas, que foi publicado em 1950, pela Agência Geral das Colónias. Pelos seus serviços no território, o Leal Senado, deu o seu nome à Rua da Cadeia, que hoje se chama «Rua Dr. Soares» (1) (2)

NOTA: anteriores referências neste blogue em: em:https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-caetano-soares/

José António Flipe de Morais Palha (Mormugão, Índia Portuguesa 1872 – Macau 1935). Licenciou-se em medicina pela Faculdade de Medicina de Lisboa e frequentou o Instituto de Oftalmologia dessa cidade. Serviu como graduado em guarda-marinha desde 5-08-1893 a 2-08-1894. Foi promovido a alferes a 22- 07-1898. Chegou a Macau a 3.03-1900, como facultativo de 3.ª classe do quadro de saúde de Macau e com guia da Canhoneira «Zaire». (em 1-07-1900 passaria ao serviço dos corpos da guarnição). Comissão em Timor de 30-01-1902 a 7-12-1908; 24-01-1908 -? ; 31.03-1913 a 16-03-1914 (já como capitão médico). Em 2-09-1918 promovido a major-médico e a 10-09-1920 a tenente-coronel médico. Em 1917 nomeado chefe interino dos Serviços de Saúde e depois efectivo neste cargo. Casou, em 1922, com Adélia Gonçalves Rodrigues. Deixou uma filha adoptiva. Entre outras actividades oficiais, foi professor do liceu (em 1900- de língua alemã; em 1912 a 1918, professor do 6. º grupo). Reformado em 15-05-1926. Faleceu em Macau a 2 de Novembro de 1935. (2)

NOTA: anteriores referências neste blogue em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-a-f-de-moraes-palha/

António do Nascimento Leitão (Aveiro 1879- 1958)

Curso de Medicina na escola Médico-Cirúrgica do Porto com 18 valores; curso de Medicina Tropical com 12 valores; curso de Medicina Sanitária com 17 valores; curso especial de Medicina Operatória na Faculdade de Medicina da Universidade de Paris e e curso de Radiologia Médica no Hospital de Saint Antoine, de Paris. Subdelegado de saúde em Lisboa. Facultativo de 3.ª classe do quadro de saúde de Macau e Timor por Decreto de 4-04-1907 (B.M.U. n.º 8). Chegou em Macau e 8 de Julho de 1907. Destacado para Timor em 1913, esteve ali algum tempo, regressando a Macau em 1917, após especializar-se em radiologia). Em Macau destacou-se como médico-cirurgião e radiologista (capitão – médico, depois promovido a major-médico e a seguir tenente-coronel médico), como médico sanitário, nomeado director do Laboratório de Radiologia em 1922, Director do Laboratório Bacteriológico do Hospital Militar (1919) e subchefe interino dos Serviços de Saúde (nomeado em 13 de Agosto de 1926). Regressou a Portugal em 1951. (2)

“Homem de cem ofícios” como lhe chamou o Padre Teixeira (“Foi um dos bons médicos que conhecemos”).

NOTA: sobre este médico recomendo leitura de António Aresta em «JTM», 4 de Agosto de 2016: https://jtm.com.mo/opiniao/antonio-nascimento-leitao/ Anteriores referências neste blogue em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-do-nascimento-leitao/

(1) Rua Dr. Soares começa na Rua dos Cules, entre a Calçada do Tronco Velho e o Beco da Cadeia, e termina na Avenida Almeida Ribeiro, ao lado do edifício dos Paços do Concelho.

(2) Breves notas biográficas, retiradas de TEIXEIRA, Pe. Manuel – A Medicina em Macau, Volume 2(III-IV), 1998. 566 p., ISBN 972-97934-2-5.

Extraído de «BGM», IX- 29 de 21 de Junho de 1863, p. 115

Francisco António Volong era filho de Job Volong e de Inês Volong. “Bom cristão, gozava do privilégio de ter em sua casa oratório particular“. Francisco António Volong casou com Ana Rosa das Chagas, filha de Francisco das Chagas e de Paula das Chagas, de quem teve os seguintes filhos: 1. Francisco António que casou com Rosa Maria 2. Vicente de Paulo que casou com Maria Madalena 3. José Joaquim, nascido a 18-09-1853 o qual faleceu a 29-08-1971

Ana Rosa Volong, viúva de Francisco António Volong, faleceu a 16 de Maio de 1868, com 45 anos de idade. Seu filho Francisco António Volong, natural de Cantão, faleceu a 15-08-1873, com 22 anos de idade…. (…). Volong deu o nome a um bairro de Macau, sito em S. Lázaro. O bairro de Volong era uma aglomeração chiqueiro, um perigosíssimo foco de infecção….Outrora era um bambual… (TEIXEIRA, P Manuel – Toponímia de Macau, Volume II, 1997, pp.315-316)

1894 – A Horta de Volong, um dos focos de infecção nas epidemias da peste e cólera, é por sua vez expropriada por utilidade pública em 1894 e saneada; é o local com uma área de 200 hectares, limitado ao norte pela Estrada do Cemitério, ao sul pela Rua Ferreira do Amaral, a leste pela Estrada da Flora e a oeste pela Rua de S. Lázaro. Entregue, em 1897, ao Senado, depois de a Repartição de Obras Públicas ter ali procedido a importantes obras tais como a abertura das ruas, à construção da canalização de esgoto e até dos alicerces das casas particulares. O bairro contíguo de S. Lázaro que fora um dos focos de epidemia da peste, de 1896, é por seu turno, saneado em 1900. Uma vez saneado nunca mais ali entrou a peste. (TEIXEIRA, P Manuel, – Toponímia de Macau, Volume I, 1997, pp.468/469)

Anteriores referências: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/horta-de-volong/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/rua-volong/

NOTA : A propósito dum artigo sobre a Catedral de Macau, a revista “Archivo Pittoresco” (n.º 35 de Fevereiro de 1858, p. 276)  traz a seguinte informação sobre Francisco Volong:

Hoje dia 13 de Setembro de 2019, celebra-se o 15.º dia do 8.º mês – Dia do Festival do Outono, mais conhecido como a Festa do «Bate-Pau» ou das «lanternas»
Do “Ta-Ssi-Yang-Kuo – Arquivos e Anais do Extremo Oriente Português” (1) (pp. 392~393), a propósito dos “Costumes e crenças da China” de Francisco Pereira Marques, retiro o seguinte:
A lua corresponde ao mez de setembro é consagrada pelos chins à festa do bate-pau ou das lanternas a que eles chamam Chung – chau e os inglezes Mid Autumn festival, por coincidir com a quadra outomnal.

Caixa contendo quatro bolos bate-pau

Dá-se o nome de bate-pau a um bolo que os chins preparam n´esta ocasião, que é arredondado e parecido com um pastelinho com crosta de farinha, recheado de doces. Há varias espécies de bolos de bate-pau: uns que que só entra feijão; outros o mungo (2); outros a semente de trate (3); e outros o gergelim, amêndoa e toucinho.
Só durante esta lua ou pouco antes é que os chins preparam estes bolos para venda e exportação.
Tambem por este tempo os chins vendem caramelos em forma de castello, embarcação, jarro, etc.; pães de farinha figurando um porco de tamanho de trez e quatro polegadas, metido n´um cesto de bambú de feitio conico; bolos de massa de farinha muito dura coma configuração de um prato com pintura a côres, representando paisagens e figuras humanas, postos n´uma caixinha de papelão de forma circular, polygonal ou oblonga, segundo o feitio do bolo, com uma rede muito fina e transparente de cassa. Este bolo só é feito para ornato e presente às creanças.

Bolo Bate.pau embalado

O bolo de bate-pau é o symbolo da lua, e os chins chamam-n´o em dialecto mandarim Yué-ping 月餅 e em cantonense Yut—peang. Geralmente o seu peso nao atinge meia libra.
Os macaístas conhecem-n´o pelo nome de bate-pau, por ser preparado com um pau em forma de ferula, com um orifício no centro onde se mettem a massa de farinha e os recheios, carregando com a palma da mão para comprimil-o bem; e em seguida batem o pau com força, por duas ou tres vezes sobre a meza, para fazer expellir o bolo que é levado acto contínuo ao forno, a assar.
Todo este mez lunar é consagrado a esta festa, mas o decimo quinto dia da lua é o mais solemne.
As lojas, onde se fazem e vendem stes bolos, costumam ter nos seus terraços ou telhados um mastro com bandeiras e ou lanternas.”
(1) PEREIRA, J. F. Marques (“coligidos, coordenados e anotados” )- Ta-Ssi-Yang-Kuo, Archivos e annaes do Extremo-Oriente Português. 1899-1900. Série II, – Vols. III e IV. Edição S.E.C., !984.
(2) Mungo é uma espécie de feijãosinho que os chins do sul chamam Loc tau 綠豆(feijão verde) e, se não me engano, é o Phaseolus mungo, conhecido entre os ingleses pelo nome de “kidney beans”. Os chins cozem o mungo com jagra (melaço) fezes de assucar mascavado, a que chamam Wong-tong 黃糖 (assucar amarello) e vende-se em pães e se serve quente em chávenas como refrigerante, com o nome de Loc-tau-choc 綠豆粥(cozimento de mungo com jagra) e Loc-tau-sá  綠豆沙 (cozimento de mungo) , segundo o modo de o prepararem.
Quasi todos os navegantes que fazem viagens longas nas embarcações, costumam prover-se de mungo, e, quando a bordo há falta de hortaliça, os chinas borrifam agua sobre uma porção de mungo, que, ao cabo de dois ou três dias, gréla em espiga tenra.. Cozem-n´o como hervas e dão-lhe o nome de Teang-ká-choi 蛋家菜,, isto é, hortaliça dos barqueiros.
(3) Trate é uma planta aquática muito apreciada no Oriente. Os chins aproveitam toda esta planta, desde a flôr até a raiz, e denominam-na Lin-chi 蓮子… (…)
Os chins gostam muito da semente d´esta planta, que cosem com sopa e carne. Aproveitam esta semente para fazer doce e também preparam uma bebida, cosida com assucar e ovo de galinha e que servem ás chávenas, conhecida pelo nome de Lin-chi-kang 蓮子 羹 A sua raiz denominam Lin-ngan 蓮藕 e é apreciada para se cozer com carne de porco ou de vacca, e também fazem d´ella doce. Attribuem-lhe propriedades sedativas e anti-aphrosidíacas.
Anteriores referência a este festa em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/bolo-lunar-bolo-de-bate-pau-%E6%9C%88%E9%A5%BC/

Festa Chineza do Outono

Do livro de  Chrétien-Louis-Joseph de Guignes (1759-1845),  “Voyages à Peking, Manille et l’Île de France, faits dans l’intervalle des années 1784 à 1801”. 8vo. 3 vol. Avec Atlas in folio. Paris 1808
https://www.chineancienne.fr/17e-18e-s/de-guignes-voyage-%C3%A0-peking/

Anúncio publicado na imprensa em Macau, em 1888, da Farmácia Lisbonense (1)

«O Correio Macaense» Vol V, n.º 230 de 17-02-1888, p. 4.

Além da venda de drogas medicinais e medicamentos, na Farmácia Lisbonense também se vendia, artigos de toilette e rapé meio gordo da fábrica portuguesa Xabregas (2)
(1) Desconheço a data de inauguração desta farmácia. A “Pharmacia Lisbonense” a partir de 10 de Agosto de 1866, ficou sob a direcção e maneio dos seus novos proprietários Joaquim das Neves e Sousa & C.ª. Joaquim das Neves e Sousa era proprietário e farmacêutico. Terá fechado na década de 90 do século XIX. Os anuários /directórios a partir de 1900 já não apresentam referência a esta farmácia.

«B. G. M.» XII-33. 13 de Agosto de 1866, p. 134

Anterior referência a esta farmácia em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/farmacia-lisbonense/
(2)

Anúncio de 1880
Diário Illustrado” de Lisboa, Ano 9 – n.º 2:535 de 7 de Junho de 1880.

A Rua Direita de Xabregas passou pelo Edital municipal de 8 de junho de 1889 a ter a sua denominação simplificada para Rua de Xabregas, A Rua de Xabregas, que liga a Calçada de Dom Gastão à Rua da Madre de Deus, albergou nos séculos XIX e XX uma Fábrica de Tabacos, onde antes fora o Convento de São Francisco de Xabregas e hoje encontramos o Teatro Ibérico… (…)
A Fábrica de Tabacos da Rua de Xabregas existiu desde 1845 no que fora o Convento de São Francisco de Xabregas, destruído pelo terramoto de 1755 e reconstruído/ ampliado, com uma fachada monumental e o pórtico principal encimado pelo brasão de armas do rei  D. José I de Portugal…. (…)
A partir de 1927, passou a denominar-se Companhia Portuguesa de Tabacos e em 1962, a Fábrica mudou-se para um novo edifício na Avenida Marechal Gomes da Costa, sendo qu as instalações de Xabregas foram em finais de novembro de 1980 destinadas ao Teatro Ibérico.”
https://toponimialisboa.wordpress.com/2018/02/06/a-fabrica-de-tabacos-da-rua-de-xabregas/

Por lei desta data, 17 de Abril de 1884, foi efectivamente concedida pelo Governo de Sua Majestade, à Irmandade do Senhor de Bom Jesus dos Passos (1) a posse do Templo de Santo Agostinho, (2) obrigando-se aquela a prover a reedificação e conservação do edifício e sustentação do culto (3) (4)
Na verdade, foi a acção de Lourenço Caetano Cortela Marques (1811-1902) que foi durante muitos anos Presidente da Confraria e que ao ver desabar essa igreja em 27 de Setembro de 1872, (5) apressou-se a requerer a posse dessa Igreja para a Confraria
Assim o Governador Visconde Sam Januário em 28 de Janeiro de 1873 por portaria n.º 16, concedeu a posse, “requerida pela Confraria do Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos, da igreja de Sto Agostinho, obrigando-se a mesma Confraria a reedificar a referida igreja, e a prover de futuro a sua conservação e asseio”.

Boletim da Província de Macau e Timor, XIX, n.º 5 de 1/2/1873.

(1) A Confraria de Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos terá sido constituída, logo após a chegada a Macau dos agostinhos espanhóis, vindos das Filipinas em 1586 (2) pois nesse ano já se praticava o culto da Paixão de Cristo e se efectuava a procissão dos Passos. A Igreja de Nossa Sra. Da Graça, vulgarmente conhecida por Igreja de Sto Agostinho, está a cargo da Confraria do Senhor Bom Jesus dos Passos. Esta igreja foi sempre e continua a ser o centro do culto de Nosso Senhor dos Passos, cuja imagem é ali venerada (4)
(2) Fundado em Macau o convento de S. Agostinho, em fins de 1586 ou princípios de 1587, pelo agostinho espanhol Fr. Francisco Manrique, foi entregue aos agostinhos portugueses em 22 de Agosto de 1589. Encadeados nas múltiplas hipóteses da sua transferência, total ou parcial, para o sítio onde hoje existe, há manuscritos que nos afirmam ter-se mudado o local do convento para a Colina do Mato Mofino, em 1591, sítio actual da sua existência. Embora nos refiramos ao convento de S. Agostinho, o que realmente existe hoje é apenas a igreja e seus anexos, pois o que era o convento já não faz parte deste conjunto; é presentemente a «Vila Flor», residência dos religiosos da Companhia de Jesus” (“A Colina de Santo Agostinho e o seu Convento, artigo não assinado. in MACAU, Boletim Informativo III- 59,  15 de Janeiro de 1956, pp. 4-6)
(3) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954
(4) TEIXEIRA, P. Manuel – Galeria de Macaenses Ilustres do Século XIX, 1942 p. 193-195.

Boletim da Província de Macau e Timor XXX – n.º 25 de 21 de Junho de 1884

(5) O grande incêndio que em 1872 destruiu a capela‐mor, a sacristia e várias outras dependências. Não houve perdas de vida. No ano seguinte, a Confraria do Nosso Senhor Bom Jesus dos Passos requereu para si a igreja, com o compromisso de reedificar as partes derrubadas. Em 1887 já as obras estavam concluídas; no entanto, em 1889 a mesa da confraria resolveu reconstruir integralmente a igreja. O engenheiro Mateus Lima foi então requisitado para fazer a necessária vistoria e elaborar o caderno de encargos, vindo a empreitada a ser arrematada pelo mestre‐de‐obras chinês ou macaense Afoo. Foram também realizadas melhorias na sacristia, na torre e na casa da confraria. O templo voltou a ter culto a 9 de janeiro de 1900.
TEIXEIRA, Padre M. – Macau e a sua Diocese Volume I -Macau e as suas Ilhas. 1940, p. 180.
Ver anterior postagem em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/27/noticias-queda-do-tecto-da-igreja-de-santo-agostinho/

Exemplo de uma dádiva à Confraria

Boletim do Governo de Macau, n.º 8 de 24 de Fevereiro de 1868 p. 46.

Referências anteriores à Igreja de Santo Agostinho e à Procissão do Senhor:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/igreja-de-s-agostinho/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/procissoes/<