Jaime do Inso que o conheceu e era seu amigo escreveu na sua obra “Visões da China”, pp. 91-95 (1)
“Lu Lim Yoc (2) teve uma curta doença da qual veio a falecer no dia 15 de Julho de 1927, em que lhe tivessem sido presados os socorros médicos devidos, porque a família se opôs à intervenção da nossa medicina. «Os mestres» chinas aplicaram-lhe um galo acabado de matar e esquartejado sobre o peito, que evidentemente, não produziu o efeito desejado, além de outras mezinhas a que cada uma das mulheres presentes ia recorrendo tentando ainda dar-lhe vinho com ópio, ao que, porém houve quem se opusesse.»
O corpo foi vestido com sete riquíssimas cabaias, enfaixado numa peça de seda e coberto com colchas de seda vermelha, dobradas. Mais tarde, queimaram-se umas ricas cabaias de seda para que o morto as pudesse vestir no outro mundo. O funeral (3) imponentíssimo realizou-se a 31 de Julho. O cadáver, depois de percorrer várias ruas de Macau, voltou à casa, entrando por uma porta escura, onde foi depositado no pavilhão Ch´on-T´sou -T´ong do seu jardim U-Un. Mais tarde foram os restos mortais transladados para Cantão, sendo sepultados na encosta da colina Pak San.” (4)
(1) in TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume II, pp.457-459
(2) Lu Lim Yeok (Lou Lim Ioc) 盧廉若, filho de Lu Cao, nasceu em Macau em 1878 e como o pai foi condecorado pelo Governo Português a 13 de Abril de 1925 com o grau de comendador da Ordem de Cristo, «pelos mais relevantes serviços prestados ao Pais e à Humanidade»
Extraído de «BOGPM», 22 de 30 de Maio de 1925 , p. 341
“Após prolongado sofrimento que o trazia prostrado no leito há mais dum ano, faleceu, na sua residência n.º 71 da Rua da Praia Grande, vitimado por uma tuberculose pulmonar, no dia 6 do corrente, o Sr. Leôncio Alfredo Ferreira, com 69 anos de idade. O funeral realizou-se no dia seguinte, às 17 e meia horas”.(1)
Nascido em Macau a 15 de Maio de 1849, era filho de D. Maria Gualdina Gonçalves, natural de Macau, e de João Eleutério Ferreira, nascido em Portugal. (2) Fez os seus estudos na «Escola Macaense» e transitou para o Seminário de S. José, onde foi sempre aluno distintíssimo, distinguindo-se em todo o seu curso pela sua aplicação, aproveitamento e comportamento exemplar, ganhando inúmeros prémios e referências elogiosas da imprensa.
Terminado no Seminário de S. José, o seu curso com distinção, dirigiu-se para Goa a fim de estudar Jurisprudência, regressando a Macau depois de formado. Estudioso apaixonado da língua chinesa, conhecedor profundo da mentalidade e psicologia dos chineses, revelou-se não só um valoroso intérprete mas mais especialmente um medianeiro inteligente nas relações destes como nosso governo.
Casou na Sé Catedral de Macau em 27 de Setembro de 1881, com Maria José Pereira (1861-?). Segunda núpcias, em 20 de Dezembro de 1894, com sua tia por afinidade Ana Teresa Vieira Ribeiro (condessa viúva de de Senna Fernandes). Não deixou filhos.
Além de advogado de provisão, professor da Escola Municipal e jornalista, (3) desempenhou os altos cargos públicos, com distinção e aprumo moral que eram o timbre do seu carácter integérrimo, enumerando aqui alguns dos cargos: pela Portaria n.º 82 de 20 de Julho de 1825, foi nomeado Secretário da Comissão Administrativa da Santa Casa de Misericórdia; pela Portaria n.º 106, de 8 de Novembro de 1875, foi nomeado Delegado interino da Comarca de Macau de que, porem, se escusou, em 5 de Julho de 1876
«BPMT», XXII-28 de 8 de Julho de 1876, p. 114
Comentando este caso alguém escreveu no «Jornal de Macau» n.º 29 de 24 de Novembro de 1875: “O Senhor Leôncio Ferreira que exerceu com zello e intelligencia o lugar de procurador da coroa, d´esta vez entendeu que não devia aceitar semelhante cargo porque não quer aferir pela balança por onde são pezados os membros da exma. Junta, que estão no equilíbrio das ilegalidades, em quanto se não justificarem das acusações que lhe hão feito” (1)
Pela Portaria n.º 97, de 23 de Dezembro de 1876, foi nomeado Administrador interino do Concelho de Macau, cargo que anteriormente já vinha desempenhando; em 23 de Setembro de 1879 foi nomeado pela Portaria n.º 118, administrador efectivo.
«BPMT», XXII-52 de 23 de Dezembro de 1876
Pela Portaria n.º 67 de 27 de Julho de 1877, foi exonerado do cargo de secretário da Comissão Administrativa da Santa Casa sendo nomeado Pedro Nolasco da Silva para o substituir (Portaria n.º 75 de 3 de Agosto de 1877); pela Portaria n.º 53 de 14 de Agosto de 1878, foi nomeado Procurador interino dos Negócios Sínicos. Exonerado em Setembro de 1879, para tomar posse, em 23 de Setembro, (Portaria n.º 118) do cargo de Administrador efectivo do Concelho de Macau. (até 1881). (4)
No dia 17 de Maio de 1881, António Joaquim Bastos Junior foi demitido do cargo do procurador dos negócios sínicos, para que havia sido interinamente nomeado por portaria n.º 56. Leoncio Alfredo Ferreira foi nomeado para o mesmo cargo. (BGPMT n.º 21 de 21 de Maio de 1881); pela Portaria n.º 81, de 12 de Novembro de 1881, foi nomeado Presidente da Comissão Administrativa da Santa Casa de Misericórdia; pela Portaria n.º 117 de 27 de Outubro de 1883, foi nomeado cônsul de 1.ª classe, em Shanghai (1883-1884).
Pela sua diplomacia, inteligência e valor demonstrados no desempenho desta missão, foi condecorado pelo Governo Central de Lisboa com o Grau de Oficial da Torre e Espada por Diploma de 23 de Janeiro de 1896.
Pela Portaria n.º 22, de 1 de abril de 1885, foi nomeado vogal do Conselho Inspector de Instrução Pública.; pela Portaria n.º 144, de 20 de Dezembro de 1898, foi louvado pela Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar, pela maneira como se houve durante a epidemia de petes bubónica que assolou Macau, de Fevereiro a Julho desse ano, no desempenho dos serviços de higiene e desinfecção; pela Portaria n.º 145, de 5 de Dezembro de 1902, foi nomeado Vogal do Conselho de Governo da Província.
Dados biográficos extraídos de : «Macau Boletim Informativo», II-27 de 15 de Setembro de 1954, pp. 11-12; FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses Volume I, pp. 1077-1078; e o livro referenciado em (1)
(1) TEIXEIRA, P. Manuel- Galeria de Macaenses Ilustres do Século XIX, p. 449-497.
(2) João Eleutério Ferreira (c.1785 – 1872) nasceu em Coimbra, Portugal, vindo para Macau casou, nesta cidade, pela 1.ª vez em 1830 e pela 4.ª vez com Maria Galdina Fernandes, filha de Vicente José Fernandes e de Ricarda Constantina Fernandes e irmã de Bernardino de Sena Fernandes (1.º Barão, 1.º Visconde e 1.º Conde de Sena Fernandes), de quem teve apenas um filho, Leôncio Alfredo Ferreira.
(3) Em favor dos Jesuítas, expulsos de Macau publicou um opúsculo, intitulado: “Um brado pela verdade ou a questão dos Professores Jesuítas em Macao e a Instrução dos Macaenses, Macau, Tipographia Mercantil, 1872.
(4) Na sua qualidade de Administrador do Concelho fez o relatório sobre a morte trágica co coronel Mesquita. (1)
NOTA 1: A Câmara de Macau decidiu honrar a sua memória atribuindo o seu nome à «Rua Leôncio Ferreira» – começa na Avenida de Sidónio Pais, a entrada da Rua de Silva Mendes, e termina na Avenida do Conselheiro Ferreira de Almeida, entre os prédios n.ºs 58-H e 60.
Relato sumário das acções realizadas pela Canhoneira “Tejo” desde a saída de Macau no dia 21 de Maio até voltar a 27 de Maio de 1876, período em que esteve, no dia 24 de Maio, em Hong Kong, nos festejos do aniversário natalício da Majestade Britânica (1)
Extraído de «BPMT», XXII – 23 de 3 de Junho de 1876
O primeiro tenente Francisco Joaquim Ferreira do Amaral, (2) foi nomeado comandante da Canhoneira “Tejo” (3) em despacho de El-Rei de 4 de Março de 1876, em substituição do primeiro tenente da armada Fernando Augusto da Costa Cabral (4)
Extraído de «BPMT», XXII – 24 de 10 de Junho de 1876,
(1) Rainha Vitória (24 de Maio de 1819 – 22 de Janeiro de 1901) do Reino Unido de 1837 até à sua morte
(2) Francisco Joaquim Ferreira do Amaral, (1844 -1923) (reformado com o posto de Almirante), filho do Governador João Maria Ferreira do Amaral, Tinha 5 anos quando o pai foi assassinado, assentou praça na marinha aos 12 anos de idade; em 1855 era aspirante; e em 1861 completou o curso sendo promovido a guarda marinha em Agosto de 1866 e a primeiro-tenente em 1874. Nesse meio tempo, comandou os seguintes navios: «Penha Firme», o couraçado «Vasco da Gama, em que foi à inauguração do canal de Kiel na Alemanha; imediato da corveta «Mindelo», da fragata «D. Fernando» e comandante da corveta «Duque da Palmela». Como comandante do vapor «Tete» participou na expedição à África Oriental, tomando parte em três combates. Governou S. Tomé e Moçâmedes em 1878 e 1879. Em 1882 nomeado governador de Angola e em 1886 governador da Índia. Ministro da Marinha em 1892 e ministro interino dos Negócios estrangeiros em 1898.
Foi comandante da Estação Naval de Macau de 1876 a 1878. Em 1878 levou a Bangkok na canhoneira «Tejo», o Governador de Macau Carlos Eugénio Correia da Silva, que lá foi em missão diplomática. Esta missão regressou a Macau a 20 de Março de 1878. Ferreira do Amaral que não se dava bem com o governador Correia da Silva, (episódio que relatarei em próxima postagem) recusou receber o mandarim da Província de Cantão que vinha a Macau, em Julho de 1878, pois não podia suportar a afronta à memória do pai. Na véspera entregou o Comando da canhoneira ao oficial imediato e foi para o Hong Kong. O governador vingou-se, pedindo a sua exoneração a El Rei, e Ferreira do Amaral foi exonerado do comando com regresso imediato ao reino. (TEIXEIRA, Mons. Manuel – Marinheiros Ilustres Relacionados com Macau, 1988, pp. 117-118.)
Na Revista “O Occidente”, XIII- n.º 418 de 1 de Agosto de 1890, na página 171 aparece um apontamento quanto à duração da estadia em Macau da canhoneira, na nota de rodapé do artigo “Apontamentos sobre a Marinha de Guerra dos Diversos Países – Marinha de Guerra Portuguesa”::
(4) Fernando Augusto de Costa Cabral (1839-1901), filho de António Bernardo da Costa Cabral, 1.º conde de Tomar e 1.º marquês de Tomar, instaurou o “Cabralismo” em Portugal) ) irmão de António Bernardo da Costa Cabral, 2.º conde de Tomar, foi oficial na marinha, contra-almirante, condecorado com a medalha da Crimeia e cavaleiro da Ordem da Torre e Espada, e foi ajudante de campo do rei D. Carlos. O pai adoeceu gravemente em Nápoles, , em princípios de Setembro de 1885, sendo trzido para Portugal a bordo da corveta Estefânia, então sob o comando do seu filho Fernando Augusto da Costa Cabral. https://pt.wikipedia.org/wiki/Ant%C3%B3nio_Bernardo_da_Costa_Cabrall
Livro de 1878, de L de B (assinatura no preâmbulo) (1) (2) , publicado em francês “Les Colonies Portugaises, Court Exposé de Leur Situatiom Actuelle.”
Dedicado à “Província de Macao e Timor” as pp. 131 a 136 e a Macau somente pp. 131 a 132.
“… La ville est défendue par les forts de S. Paulo do Monte, Nossa Senhora da Guia, Santago da Barra, Bom Parto, D.Maria II et Maoua sur l´isthme, S. Francisco et 1er décembre…”
“… Macao posséde une école de pilotage, quatre écoles d´instruction primaire, dont deux pour le sexe féminin, un cours de langue portugaise pour les Chinois et un séminaire oú les éléves peuvent choisir entre l´instruction religieuse et l ínstruction laique…”
“ … La ville est três pittoresque et contient d´assez beaux édifices comme le palais du gouvernement, la caserne Saint- François, l´hôpital Saint- Janvier (Januário). La fameuse grotte de Camões est située au milieu d´une forêt que tout êtranger visite à peine arrivé à Macao. …”
(2) Miguel Eduardo Lobo Bulhões (1830-1894) natural de Lisboa, filho de António Eliseu Paula de Bulhões, oficial de engenheiros, e de D. Maria Benedicta Lobo do Macedo Vieira. Estudou o curso de Humanidades, com preparatórios para entrar na Universidade de Coimbra. Em 1844 seguiu o curso da Escola do Comércio, onde foi aprovado com distinção. Aos dezassete anos entrou no serviço público como amanuense extraordinário da Contadoria da Junta do Crédito Público, onde, apesar de empregado, ainda frequentou algumas cadeiras da Escola Politécnica. Iniciou carreira jornalística em “O Futuro”, depois “Politica liberal”, e “Gazeta de Portugal”, especialmente de assuntos económicos e financeiros. Colaborou com “Commercio do Porto” assinando uma rubrica semanal de política e crítica. Numa reorganização dos serviços dos ministérios passou da Junta do Crédito Público para a Secretaria de Estado dos Negócios da Marinha e Ultramar, exercendo aí as funções de chefe de repartição. Tinha a comenda de Isabel a Católica desde Setembro de 1869. Em Novembro de 1893, Miguel Bulhões entra na casa de saúde lisbonense, onde sofreu a amputação de um pé por efeito de tuberculose, e aí faleceu pouco depois das onze horas da manhã de 15 de Março de 1894. https://www.fd.unl.pt/ConteudosAreasDetalhe_DT.asp?I=1&ID=2119
Extraído de «A Voz do Crente», Anno I n.º 1 de 1 de Janeiro de 1887 Igreja de S. Lázaro, década de 30 (séc XX)
“D. Melchior Carneiro, chegado a Macau, em 1568, fundou logo no ano seguinte a Santa Casa da Misericórdia, de que foi o primeiro provedor, e os hospitais de S. Rafael e de S. Lázaro. Não se conhece a data certa da erecção da Ermida de Nossa Senhora da Esperança que devido à leprosaria anexa, ficou vulgarmente conhecida pelo nome de Igreja de S. Lázaro. Também não sabemos qual existiu primeiro: se a Ermida ou o hospital de leprosos. Parece no entanto, pelo que dissemos atrás que, juntamente com Santo António e S. Lourenço, a Ermida de N. Senhora da Esperança deve ter sido coeva do estabelecimento dos portugueses em Macau… (…)
Em volta da Ermida, no decorrer dos tempos, foram-se estabelecendo os chineses, havendo já ali em 1818 nada menos que 98 casas de cristãos chineses; para atender aos seus interesses espirituais levantou-se uma capela aproximadamente no local da actual escola de Kong Kan, ficando a Ermida reservada aos leprosos. Tendo o bairro chinês aumentado mais e mais e sendo já insuficiente a pequena capela para os cristãos chineses foi-lhes cedida em 1878, de acordo com a autoridade eclesiástica, a mesma Ermida ou Igreja de N. S. da Esperança com a sacristia e a casa anexa do sacristão, passando o padre china que vigariava aquele bairro a celebrar os actos do culto na dita igreja. Arruinada com o decorrer do tempo, foi esta igreja, por Portaria Provincial n.º 65 de 8 de Agosto de 1885, reconstruída em 1886, de modo a poder estabelecer-se a nova Paróquia de S. Lázaro, sendo nesta ocasião demolida a capela. A nova igreja servia para cristãos e leprosos, assistindo estes aos ofícios divinos num compartimento reservado, gradeado de ferro.
Em 1895 espalhou-se em Macau uma terrível epidemia, provindo um grande número de casos das miseráveis choupanas do bairro chinês; alguns anos depois, foram elas expropriadas, de comum acordo entre o Governador Horta e Costa e o Bispo Carvalho e então o hábil arquitecto Abreu Nunes delineou e executou o plano de ruas do actual bairro de S. Lázaro. Por esta ocasião, foram removidos os leprosos para a Ilha de S. João e as leprosas para Ká Hó, ficando desde então até hoje a cargo do Governo, depois de terem estado a cargo da Santa Casa durante perto de três séculos e meio.” TEIXEIRA, P. Manuel – Macau e a sua Diocese I, 1940, p.169-171
A barca Vénus que partiu de Macau no dia 8 de Novembro de 1878, levando o regimento de Infantaria do Ultramar 3.º Batalhão para Timor sob o comando do capitão do batalhão João Augusto Soares, naufragou devido a um temporal no dia 12, pelas seis horas e meia da tarde, tendo os passageiros e tripulantes sido salvos para a ilha de Callaoray.
O relatório muito pormenorizado do acidente foi entregue a 22 de Janeiro de 1879 e o mesmo foi publicado no «Boletim da Província de Macau e Timor» em vários nºs. do 24 ao 28.
A primeira parte do relatório foi publicado no suplemento ao n.º 24 de 18 de Junho de 1879, pp.135-136. ……………………………………………….continua
Tomou posse, no dia 3 de Outubro de 1843, do governo d´esta cidade o chefe de divisão da armada José Gregorio Pegado- 彼亞度 (1)
Foi no governo de José Gregório Pegado, (2) que se iniciou a ocupação da ilha da Taipa, depois de uma memorável visita de cortesia ao vice-rei Ki-Yin (3), alto comissário de Cantão que prometeu «fechar os olhos» ao nosso estabelecimento na mencionada ilha. Na Taipa Pequena mandou depois Ferreira do Amaral fazer um pequeno forte (terminado em Setembro de 1847. Em 20 de Agosto de 1851 o Governador Francisco António Gonçalves Cardoso procedeu à ocupação da Taipa Grande. Só mais tarde as duas Taipas (outrora três) se uniram geograficamente. Pegado faleceu em Adem no seu regresso a Portugal de 1846, tendo embarcado em Macau, em 28 de Maio desse ano. (4)
José Gregório Pegado, pela sua distinção e mestria no manejo dos fai-chis, (5) durante um jantar que lhe ofereceu, em Cantão, o delegado e alto-comissário imperial, Ki-Ying, ouviu da boca deste os seguintes elogio e garantia: – “V. Exa é um homem tão polido nas maneiras e simpatizo tanto consigo, que nada lhe posso recusar. Recomendarei confidencialmente ao vice-rei dos dois Kuóns que feche os olhos ao estabelecimento dos portugueses na (ilha da) Taipa“.
Depois de ocupar militarmente toda a península de Macau, desde as muralhas à Porta do Cerco, o heroico governador João Maria Ferreira do Amaral executou essa promessa verbal, incumbindo o capitão do porto, Pedro José da Silva Loureiro, em Abril de 1847, de construir a Casa Forte da Taipa. Depois de difíceis negociações com os mandarins limítrofes e com o vice-rei de Cantão, a bandeira portuguesa arvorou-se pela primeira vez nessa ilha ao 9 de Setembro de 1847. Em 1879 foi também ocupada a Taipa Quebrada ou Ilha de Maria Nunes e aí levantado um quartel, no antigo edifício do hospital, hoje Centro de Recuperação Social.
A 23 de Dezembro de 1864, os habitantes de Coloane pediram que uma força militar portuguesa os fosse proteger contra os piratas. Um destacamento de 10 polícias dirigiu-se imediatamente para aquela ilha. A administração dos três novos territórios (note-se que então a Taipa eram duas ilhas) organizou-se em 1878. (6)
MAPA DE 1884 – PLANTA DA PENÍNSULA E PORTO DE MACAU
de A. Ferreira Loureiro
Em baixo, à esquerda, a Ilha da Taipa Quebrada e Ilha da Taipa Grande ou Kaikong
(1) PEREIRA, A. Marques – Ephemerides Commemorativas da história de Macau e…
(2) José Gregório Pegado governador de 3-10-1843 até 13-02-1846, data do embarque para Macau do Conselheiro Capitão de Mar e Guerra João Maria Ferreira do Amaral que tomou posse como Governador a 21 de Abril de 1846.
Ver anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-gregorio-pegado/
(3) O ex-governador Adrião Acácio da Silveira Pinto (governador de 22-02-1837 até 3-10-1843) foi nomeado em 10-10-1843, pelo Governador José Gregório Pegado (em sessão do Senado de 10 de Outubro), Embaixador de Portugal para tratar com os Plenipotenciários chineses sobre as condições da existência política de Macau. O e governador seguiu no dia 27 de Outubro para Vampu, no brigue de guerra Tejo, do comando do Capitão-Tenente Domingos Fortunato de Vale. Acompanharam-no o Procurador da Cidade, João Damasceno Coelho dos Santos e o intérprete interino, José Martinho Marques. (7) No dia 4 de Novembro a missão diplomática seguiu de Vampu para Cantão, em escaleres, residindo, depois de realizada a conferência, na casa de campo do Mandarim graduado Pau-Teng-Kua e no Consulado da França, onde se realizou as reuniões, durante dez dias, com o segundo delegado chinês. A missão não conseguiu que fosse relevado o foro pago pela colónia nem dispensada a demarcação do limite para fora dos muros do Campo de Stº António,
Ver anterior referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/11/04/noticia-de-4-de-novembro-de-1843-conferencia-luso-chinesa-em-cantao/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/adriao-a-silveira-pinto/
(4) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. 3, 1995.
(5) Faichis – “Pauzinhos” para levar a comida à boca.. Termo macaense usado pelos chineses desta região e também pelo portugueses de Macau e Hong Kong (BATALHA, Graciete – Glossário do Dialecto Macaense, 1977
Ver em https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/05/10/os-antigos-cozinheiros-ambulantes-de-macau-1953-i/
(6) PIRES, Benjamim Videira – Os Governadores e a vida de Macau no Século XIX. http://www.icm.gov.mo/rc/viewer/30007/1510
(7) Ver anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-martinho-marques/
A Associação Promotora da Instrução dos Macaenses APIM) que foi fundada em 17 de Setembro de 1871 (1) para preencher a lacuna deixada no ensino pela retirada dos professores jesuítas do Seminário de S. José nesse ano, fundou a Escola Comercial (inicialmente “Collegio Comercial”) que começou a funcionar a 8 de Janeiro de 1878. (2)
«Boletim da Província de Macao e Timor» 1871, XVII – 40.
Os Estatutos da APIM foram aprovados por Portaria Provincial n.º 51 de 29-09-1871 do governador António Sérgio de Sousa e publicados no «Boletim da Província de Macao e Timor» de 2-10-1871. Tinha 15 artigos sendo de salientar:
Art. 2.º. O fim da associação era fundar e manter sob a denominação de “Collegio Comercial”, uma casa de educação e de instrução ….
Art. 3.º. (…) … O capital proveniente de 40 acções de $ 500 cada uma…
Art. 4.º. O valor das acções poderá ser pago imediatamente, ou em 5 soluções anuais de $ 100, pagáveis no começo do ano. A comissão administrativa com a data de 02-10-1871 publicava um anúncio no «Boletim da Província de Maca0 e Timor» XVII-42 de 16 de Outubro, convidando o público a subscrever as acções desta Associação. Os sócios accionistas foram 31 que entraram com a prestação de cem patacas: alguns pagaram por uma vez a quantia total, outros, em prestações anuais durante 5 anos. O total da quantia dos accionistas fundadores totalizou $11 000. Juntou-se a esse capital o remanescente dos fundos da “Nova Escola Macaense”, entregue por Alexandrino António de Melo, Visconde do Cercal, na importância de $ 9 417,53. (3)
A Escola Comercial (depois denominada Escola Comercial “Pedro Nolasco”, por este, Pedro Nolasco da Silva, ter sido a alma do empreendimento e seu grande dinamizador) começou a funcionar no dia 8 de Janeiro de 1878 sob a chefia de João Eleutério d’Almeida, numa casa particular.
A lista dos primeiros professores:
José Vicente de Jesus – classe elementar de Português, Geografia, História, Aritmética, Álgebra. Escrituração Comercial e Catecismo.
Theodosio Rodrigues – classe superior de Português, História e Geografia, classe inferior e superior de Ingês.
João de Lycopolis de Faria Marçal – língua chinesa.
Ly Langshan – língua chinesa.
Câncio Jorge – caligrafia.
Dr. Bernardo Maria das Neves d´Araújo Roza – prelecções sobre rudimentos de ciências naturais (duas vezes por semana) O edifício situado no alto da Calçada do Gamboa, na Praça do Gamboa n.º 2, construído em 1920, foi sede da Escola Comercial até o ano 1966, ano da inauguração do edifício (actual Escola Portuguesa) no cruzamento das Avenidas D. João IV e do Infante D. Henrique (projecto de arquitectura de Raul Chorão Ramalho e executado pelo construtor civil Osseo Acconci)
Outras referências à Escola Comercial https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/escola-comercial/
(1) Acta da instalação da associação promotora da instrução dos macaenses:
Aos 17 de Setembro de 1871, em Macau, e na residência do cidadão Maximiano António dos Remedios, senior, estando reunidos os abaixo assignados, se resolveu por unanimidade instalar a “Associação Promotora da Instrução dos Macaenses”, cujos estatutos foram n´este acto lidos, discutidos, e aprovados; e tendo-se procedido à eleição da comissão administrativa, foram eleitos por aclamação os seguintes cavalheiros:
Maximiano António dos Remedios, senior, presidente
João Joaquim Braga, tesoureiro
Pedro Nolasco da silva, junior, secretário
Lourenço Marques, vogal
Vicente de Paulo Portaria, vogal
António Manuel Pereira, vogal
Filomeno Maria da Graça, vogal
Além dos eleitos assinaram esta data:
Joaquim Braga, Domingos Clemente Pacheco, José Homem de Carvalho, José Elleuterio d´Almeida, Antonio dos Remedios, José A. dos Remedios, Albino António da Silva, Miguel Aires da Silva e Maximiano Antonio dos Remedios, junior.
De salientar que do grupo fundador da Associação, estavam representados os comerciantes portugueses de Hong Kong nomeadamente Maximiano Antonio dos Remedios, João Joaquim Braga, Filomeno Maria da Graça e os capitalistas de Macau, Lourenço Marques, António Manuel Pereira e Vicente de Paulo Portaria.
Entre os membros fundadores há quatro da família Remédios: o 1.º presidente da APIM, Maximiano António dos Remédios (12-09-1808/ 1-02-1875) e os seus três filhos: António dos Remédios (14-11-1839), José António dos Remédios (19-03-1842) e Maximiano, júnior (26-05-1872). Só a família Remédios contribuiu com a quantia de $1400 patacas. (António -$200; José – $500; Maximiano senior- $400; Maximiano Junior- $300.
Por isso o Padre Teixeira ( ) refere o seguinte:
“Concordamos inteiramente com esta palavras tão justas ( elogio e gratidão ao benemérito Maximiano António d Remédios por essa iniciativa por parte de Leôncio Ferreira num jornal local) ; mas o facto é que o nome de Maximiano dos Remédios foi totalmente obliterado e hoje só é lembrado o do secretário, (na altura, um jovem) Pedro Nolasco da Silva. Pois bem, não há hoje nada que recorde o seu nome , sendo salientados outros que ficam muito aquém destes. Esperamos que a Associação venha a reparar esta ingratidão” TEIXEIRA, Padre Manuel – A Educação em Macau, 1981
(2) Francisco da Silva Magalhães insinuou no seu jornal “O Oriente” que na projectada organização da escola comercial, a APIM não tinha em vista a instrução, mas fim um fim oculto e um motivo meramente político, nomeadamente o pretexto para chamarem de volta a Macau os jesuítas.
A APIM reagiu publicando um anúncio no «Boletim do Governo de Macau e Timor» XVIII- 10, 1872, em forma de “PROTESTO”: (3) Alguns cavalheiros opuseram-se à transferência das quotas dos remanescentes da “Nova Escola Macaense” para a nova associação. Ver anterior referência à «Nova Escola Macaense» em; https://nenotavaiconta.wordpress.com/2018/01/05/noticia-de-5-de-janeiro-de-1862-nova-escola-macaense/
Realizou-se no dia 18 de Junho de 1954, no Palácio do Governo à Praia Grande, a entrega pelo Governador Almirante Joaquim Marques Esparteiro, das insígnias de «Oficial da Ordem da Instrução Pública», agraciada pelo Governo da Nação, à D. Beatriz Emília Nolasco da Silva, Directora da Escola Comercial «Pedro Nolasco», (1)
Assistiram, além de pessoas de família, da Direcção da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses e de professores e alunos da Escola Comercial «Pedro Nolasco», as mais destacadas individualidades e Macau.
O Governador, Almirante Marques Esparteiro proferindo o discurso.
(1) Beatriz Emília Nolasco da Silva (1912- ?) filha de Luís Gonzaga Nolasco da Silva e de Beatriz Emília Bontein da Rosa, é neta de Pedro Nolasco da Silva.(3). Diplomada pela Escola Cantonal de Lucerna (Suíça), professora da Escola Comercial «Pedro Nolasco»mantida pela Associação Promotora da Instrução dos Macaenses: da Língua Alemã (1934 a 1938), da Língua Inglesa e Noções Gerais do Comércio (1939 até 1950) e da Língua Francesa (1940 a 1952). Directora da mesma Escola na década de 40 (século XX) até 1952/53. Creio que nesse ano de 1954, já não fazia parte dos professores da Escola Comercial (o Director interino em 1953 era o Dr. Edmundo de Sena Fernandes).
(2) Comissão Directora da Associação Promotora da Instrução dos Macaenses no triénio 1953-55:
Presidente – Henrique Nolasco da Silva
Secretário – Joas José Lopes
Tesoureiro – José Fernandes
Vogais – Dr. Damião de Oliveira Rodrigues, Dr. Pedro Guimarães Lobato, Dr. Henrique de Barros Pereira e Francisco de Paula Barros.
(3) A Escola Comercial “Pedro Nolasco” foi fundada no dia 8 de Janeiro de 1878 sob a chefia de João Eleutério d’Almeida, mas a alma de empreendimento e seu verdadeiro dinamizador foi Pedro Nolasco da Silva.
Escola Comercial (1927)
O edifício situado no alto da calçada do Gamboa, na Praça do Gamboa n.º 2 construído em 1920, foi sede da Escola Comercial até o ano 1966, ano da inauguração do edifício (actual Escola Portuguesa) no cruzamento das Avenidas D. João IV e do Infante D. Henrique (projecto de arquitectura de Raul Chorão Ramalho e executado pelo construtor civil Osseo Acconci)
Fotos de «MACAU B. I., I-22, 1954».
O Hospício para Lázaros, em Ka Hó, depois de muita resistência e de alterações várias (1) quanto à escolha do local, quer em Macau (D. Maria, Porta do Cerco) quer na Taipa e depois em Coloane, foi entregue pronto no dia 20 de Janeiro de 1885, com guarda e zona circundante delimitada. O apetrechamento só ficaria completo em Maio desse ano. (2) Por portaria Provincial n.º 327 de 13 de Setembro de 1929 foi nomeada uma comissão, a qual cumpriu o seu mandato, fazendo construir no Hospício Ka Hó, cinco pavilhões e uma capela, com dependências anexas para constituírem a residência das Religiosas que venham ali a instalar. Em Ká Hó, com a preparação do terreno, construções dos cinco pavilhões, capela, poço, tanque e valsa de protecção, canalização de água potável e de esgoto e conservação de todas as obras despendeu-se a bela soma de $ 21.478, 19. A capela foi inaugurada e benzida por D. José da Costa Nunes no dia 21 de Outubro de 1934.
PAVILHÕES DOS LÁZAROS EM KA-HÓ, 1940
A Leprosaria fica na Baía de Ka Hó, construída num promontório na ponta leste de Coloane, perto da chamada aldeia ou povoação de Ká Hó (é um pequeno vale entre montanhas e era o mais cultivado antigamente). Tem uma bela igreja contemporânea dedicada a N.ª Sr.ª das Dores, ostentando um grande crucifixo de bronze sobre a porta norte. (1) Os leprosos que durante três séculos estiveram no Hospital S. Rafael, em 1878 são transferidos para a Ilha de D. João na altura sob a administração portuguesa, em Pac Sá Lan. Em 25-11-1896 é extinto o Hospício de S. Lázaro junto à Igreja de S. Lázaro. “1878 – Os leprosos, recebidos na primeira instituição congénere no Extremo-Oriente – O Hospital de S. Rafael – durante três séculos, são transferidos neste ano para a Ilha de D. João (para homens) sob a administração portuguesa”. (2) “17-03-1894 – O Administrador das Ilhas, Capitão João de Sousa Canavarro, oficia à Secretaria do Governo fazendo uma breve mas expressiva panorâmica da situação dos leprosos. É estudada a construção de novas barracas para o alojamento dos Lázaros em Pac-Sá-Lan e Ká-Hó.” (2)
Mas os constantes assaltos dos piratas (maus tratos e roubos) ao longo da década de 10 a 30 (século XX), (3) (4) à gafaria de Pac Sa Lan instalada na Ilha de D. João, foram transferidos aos poucos para a Gafaria de Ká Hó que com o tempo foi-se ampliando. Em 1933, o director da leprosaria Fernando Dias Costa (5) informava estarem construídos oito pavilhões para o tratamento da lepra. As instalações da leprosaria de Pac Sá Lan foram destruídas pelos militares comunistas em 1953. (6)
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.
(3) “19-06-1912 – Pedido dos leprosos instalados no Hospício de D. João para serem dali retirados a fim de não estarem sujeitos aos constantes assaltos de piratas.”(GOMES, Luís G. – Catálogo do M.M., n.º 254) (4) “24-01-1927 – Queixa apresentada pelos asilados da gafaria de Pac-Sa-Lan, na Ilha de D. João, contra os maus tratos e roubos de que eram vítimas às mãos dos piratas.” (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997).
(5) Fernando Castanha Dias Costa, foi Director dos Serviços da Fazenda e Contabilidade de Macau de 1932 a 1936, ano em que há um processo de inquérito aos actos praticados pelo Director dos Serviços de Fazenda e Contabilidade de Macau. Por inerência do cargo era também Director das Leprosarias existentes na altura na colónia de Macau (Ilha de Coloane e Ilha de D. João). («Portugal Colonial», Ano I, n.º 24 – Fevereiro de 1933 p. 18.)
(6) “1953 – Destruídas pelos comunistas a leprosaria de Pak-Sa-Lan. Aventou-se a hipótese dos doentes terem sido transferidos para outra ilha, perto de Hong Kong. Mas não se conseguiu confirmar tal notícia, sendo provável que os últimos leprosos tivessem perecido, porque já em 1949 tinham sido ameaçados de morte por Ng Seng, comandante da guarnição chinesa de Man Lei Wai, se não pagassem $500 em notasportuguesas.” (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 5, 1998).