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Extraído de « BGPMTS» I-4 de 11 de NOV 1854.

Sir James Stirling (1791-1865) foi um oficial da Marinha Inglesa e administrador colonial – 1.º governador e Comandante em Chefe da Australia (Oeste). Em 1854 era “Commander in Chief, China and the East Indies Station“.

«HMS Encounter» (1846- 1866) at Ningpo in 1862
https://en.wikipedia.org/wiki/HMS_Encounter_(1846)

«HMS Encounter» que estava estacionada na China para patrulha das suas águas em Abril de 1854 efectuou em operações conjuntas anglo-americanas (HMS Grecian and USS Plymouth) contra as tropas imperiais chineses em Shanghai. De Setembro a Outubro de 1854 integrava o esquadrão naval de 4 navios de guerra comandado pelo então vice almirante Sir James Stirling . A 3 de Novembro de 1854 efectuou ataques aos piratas nas águas perto de Macau. 10 dias depois atacou e tomou uma bateria chinesa na costa  e destruiu vários juncos na Baía de Coloane.

12-10-1854 – Os piratas formaram com as suas lorchas um cordão, desde Boca Tigre até Oeste. A lorcha n.º 58, que vinha do Oeste com uma valiosa carga de seda, foi atacada e roubada, no canal de Lampeão, bem perto desta cidade.” (1)
“14-10-1854 – A lorcha n.º 10 foi atacada, na sua viagem para Hong Kong, por quatro taumões, conseguindo escapar, devido à rapidez do seu andamento, sendo, porém obrigada a fazer fogo, desde 9.00 até às 12.00 horas. ” (1)
James Keenan, consul americano em Hong Kong referia, em 1854, a existência de 100.000 piratas nos mares da China (2)

Junco chinês (à esquerda) e lorcha (à direita)
De: “Tropenmuseum, part of the National Museum of World Cultures, CC BY-SA 3.0,”https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=8597415

NOTA: no ano anterior, a 10 de Maio de 1853, a corveta de guerra britânica (sloop-of-war) (3) “Rattler”, de 12 canhões, em missão na década de 50 (século XIX) no combate à pirataria marítima na costa da China, encontrou piratas ao largo de Nam Quan (perto da fronteira da China com o Vietnam). Uns dias antes, esses piratas tinham capturado um “combóio” de navios mercantes e exigiam resgate para os libertar. No combate, uma frota de 8 barcos chineses (1 lorcha capturada e 7 juncos chineses afundados) foi derrotada com a ajuda dos civis chineses em terra, e cerca de 500 chineses piratas foram mortos e feridos. Entre os britânicos além da corveta ter sofrido algum dano, morreram 3 ingleses – ficou conhecida como a “Batalha de Nam Quan”

HMS Rattler (right) and HMS Alecto in March 1845.https://en.wikipedia.org/wiki/Battle_of_Nam_Quan

(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.
(2) MEAGHER, Arnold J. – The Coolie Trade: The Traffic in Chinese Laborers to Latin America 1847-1874. 2008
(3) “No século 18 e na maior parte do século XIX, um sloop-of-war na Marinha britânica era um navio de guerra com uma arma única que levava até dezoito armas. Como o sistema de classificação abrangeu todos os navios com 20 armas e acima, isso significava que o termo sloop-of-war abrangia realmente todos os navios de combate não classificados, incluindo os pequenos briguess e cortadores de armas.”
https://educalingo.com/pt/dic-en/sloop-of-war

Uma nota inserida no «The Canton Register», Vol 8, DEC 8th, 1835, n-º 49, p. 195, (assinada com o nome de “Cícero”), acerca dos pintores chineses da escola de Lam Qua.
Lam Qua 林官  (1), foi um pintor chinês da província de Cantão, que com os seus retratos de estilo ocidental (muitos são retratos de mercadores estrangeiros e chineses de Cantão e Macau) criou uma “ fábrica /escola” de desenho e pinturas (onde se fazia também cópias de pinturas e depois quadros a partir de fotografia) na sua oficina em Cantão (na zona dos grandes armazéns estrangeiros) grande parte destinados a clientes ocidentais.
Foi o primeiro pintor chinês a ter uma exposição dos seus quadros no Ocidente

“View of Foreign Factories, Canton, 1825–1835” atribuído a Lam Qua
Lam Qua trabalhando num estúdio em Hong Kong c. 1850
Fotografia de John Thomson (2) (3)

Auto-retrato de Lam Qua cerca de 1840

 

Embora sempre referenciado como discípulo em 1820 de George Chinnery, (4) este terá negado que fosse um seu aluno. Chinnery ensinou muitos estudantes chineses e provavelmente por intermédio destes e dos próprios quadros de Chinnery, exerceram uma grande influência na pintura de estilo ocidental de Lam Qua.
Lam Qua é também conhecido por ter colaborado com o médico Peter Parker, (5) pintando os retratos dos doentes com patologia pré operatória, a maioria com  tumores  e deformidades (3)

 

Auto-retrato de Lam Qua c.1853-1854

 

Um dos quadros atribuídos a Lam Qua é o retrato do macaense Miguel António de Cortela
Miguel António Cortela, (1783 – 1844), 5.º filho de Inácio Baptista Cortela de Sousa e Albuquerque e de Mariana da Silva Faria, casou em casa, em 8 de Abril de 1829, com Ana Maria dos Remédios, (fal. a 1860) que corria perigo de vida , sendo ela viúva de Eduardo Organ e filha de  António Bernardino dos Remédios e de Maria Rita dos Remédios. Tendo-se ela restabelecido, receberam ambos as bênçãos nupciais em 12 de Novembro de 1829.
Miguel sucedeu a seu pai, cerca de 1820, nos cargos de Depositário Geral dos Cofres de Macau e tesoureiro dos Defuntos e Ausentes. Foi proprietário da barca «Tranquilidade» que naufragou na viagem de Macau para Solor em 1843 com 48 homens a bordo, que todos se salvaram. Tinha 1 das 82 acções da «Casa de Seguros» de Macau fundada em 1810
TEIXEIRA, P. Manuel – Galeria dos Macaenses Ilustres do Século XIX, 1942.
FORJAZ, Jorge – Família Macaenses, I Volume
(1) Guan Qiaochang (1801 – c.1860) (Lam Qua 林官; ou Kwan Kiu Cheong 關 喬 昌), é neto do famoso artista de Cantão, Spoilum (Guan Zuolin, activo entre 785 and 1810) e filho de Lamqua (com o mesmo nome) que terá herdado o estúdio familiar de pinturas. Com a colaboração de muitos dos seus alunos, produzia-se um grande número de quadros de pintura para exportação. Seu irmão Tinqua (Guan Lianchang- ca. 1809-1870) refinou o método de trabalho com produção em massa dos quadros quer a óleo quer de aguarelas.
https://visualizingcultures.mit.edu/rise_fall_canton_01/cw_essay04.html
林官 mandarim pīnyīn: lín guān; cantonense jyutping: lam4 gun1
(2) Sobre este fotógrafo, ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/john-thomson/
(3) https://en.wikipedia.org/wiki/Lam_Qua
(4) George Chinnery (1774 – 1852) que deixou a Inglaterra aos 28 anos de idade em 1802, e passou 23 anos na Índia e depois 27 na China, chegou a Macau em 1825 tendo aí falecido em 1852.
Ver anteriores referências em
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/george-chinnery/
(5) De 1836 a 1855, Lam Qua produziu uma série de quadros de pacientes em tratamento com Peter Parker, médico missionário dos Estados Unidos. Parker que estabeleceu o primeiro hospital americano Guangzhou em 1835, introduzindo técnicas cirúrgicas novas (introdução de anestesia) como amputações e cirurgias reconstrutivas, contratou Lam Qua para pintar os retratos pré-operatórios dos pacientes que tiveram tumores grandes ou outras grandes deformidades. Algumas das pinturas agora fazem parte de uma coleção do trabalho de Lam Qua, realizado pela Universidade de Yale, na Coleção Peter Parker, na Biblioteca Médica Harvey Cushing / John Hay Whitney; outras estão no Museu Gordon, no Guy’s Hospital, em Londres.
http://whitney.med.yale.edu/gsdl/collect/ppdcdot/
https://library.medicine.yale.edu/find/peter-parker 
NOTA: Outro quadro de Lam Qua,de 1843, é : “A Praia Grande vista da varanda, residência do mercador Nathan Kinsman, já postado em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/02/23/noticia-de-23-de-fevereiro-de-1837-tomada-de-posse-do-governador-adriao-silveira-pinto/

«B. O. do Governo da Província de Macau e Timor». XLI-4 de 25 de Janeiro de 1895

Faleceu em Macau no dia 19 de Janeiro de 1895, o 1.º e único Barão de Assumpção/Assunção (título criado por D. Carlos I em 6-5-1890), João Corrêa Paes D´Assumpção. (1)

“Ordem d´Armada” de 30 de Junho de 1846
«Annaes maritimos e coloniaes», n.º 3, p. 26.
Lista dos “ Officiaes da Fazenda d´Armada, segundos aspirantes”
«Almanak estatistico de Lisboa»,  Volume 1, 1848, p. 39.

Oficial da Armada, esteve em Macau pela 1.ª vez como comissário da corveta «Infante D. Henrique», voltando novamente em 1854, quando fixou residência em Macau.

«The Directory & Chronicle for China, Japan, Corea, Indo-China, …,» 1868.

Durante largos anos foi contador/secretário  da Junta da Fazenda Pública de Macau, Timor e Solor. Foi também 1.º oficial do Corpo dos Oficiais e superintendente da fiscalização da importação e exportação do ópio em Macau,. Em 1891 foi arrolado como um dos 40 maiores contribuintes de Macau.

Cemitério de S. Miguel
http://www.macaneselibrary.org/PublicE-o/p37.htm 

Encontrei esta nota curiosa de felicitação ao comendador por se ter livrado da cegueira do olho direito após tratamento do tratamento duma conjuntivite!

«O Correio Macaense» VI-15 de 24 de Maio de 1889

(1) João Corrêa Paes D´Assumpção (Paço de Arcos 1825 – Macau 1895) foi cavaleiro (1865), comendador da Ordem Militar de Cristo (ordem honorífica portuguesa que herdou o nome da extinta Ordem de Cristo (1834), cavaleiro da ordem de N.ª Srª da Conceição de Vila Viçosa (1888) e cavaleiro da Real Ordem do Cambodja. Foi também cônsul do Brasil (1892)

«Bol. Gov de Macau» XII-9 de 26-02-1866

Dados biográficos recolhidos de FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses, Volume I, 1996,p. 293.

Em princípios de 1854, andava na costa da China nas imediações da cidade de Neng-Pó (Ningbo-寧波) (1) onde tinha a sua base, um pirata chamado Apak, que gozava de impunidade absoluta pois os mandarins nada podiam (ou não queriam pois toleravam a situação mediante a irresistível peita) fazer perante uma esquadra constituída por um junco Haipó (barco caranguejo) de grandes dimensões, armado com 32 peças (2) e por outras seis velozes taumões (T´au mang – cabeça violenta – barco com 3 mastros para transporte de carga) mais pequenos e tripulados por aguerridos piratas. A esquadra surpreendia desprevenidamente no alto mar e longe da terra os juncos mercantes cumulados de valiosas fazendas ou aqueles como as lorchas mercantes portuguesas de Macau que transportavam carregamentos mais preciosos.
Para evitar os constantes ataques e pilhagens com prejuízos à navegação e ao comércio de Macau, o Governador de Macau, Isidoro Francisco Guimarães mandou a corveta D. João I, (3) partir de Macau, em 14 de Maio de 1854, com destino ao porto de Neng Pó, fazendo escala por Hong Kong e Amoy. Entrou em Hong Kong no dia seguinte e largou a 17 para Amoy.
Fundeou diante da cidade de Neng Pó a 22 de Junho. Dois dias depois da chegada, o comandante e os restantes oficiais envergando uniforme de gala apresentaram cumprimentos ao Tau-tai (mandarim de Neng Pó), visita que foi retribuída, no dia 28 sendo, nessa ocasião, a autoridade chinesa saudada, tanto à entrada como a saída da corveta, com uma salva de três tiros, de conformidade com a pragmática do país.
E quatro dias mais tarde, tiveram início as negociações com as autoridades locais (acompanhava a delegação macaense, o sinólogo macaense João Rodrigues Gonçalves) pois a missão do comandante Craveiro Lopes era exigir das autoridades competentes uma satisfação oficial e se possível uma adequada indemnização pecuniária pelos danos causados ao comércio português, negociações essas que falharam quanto à indemnização pedida.
A 6 de Julho, a corveta fundeou na boca de um afluente do rio Iông (4), entre Neng Pó e Com-Po, onde estavam os barcos dos piratas, alinhados junto à terra. Juntou-se à corveta, dezanove lorchas de Macau que já se encontravam em Neng Po.
Ao amanhecer do dia 10 um taumão tentou evadir-se saindo do rio sendo impedido. Pelas 9.00 hora tendo recebido um oficio do vice-cônsul inglês, que foi informado pelo da decisão portuguesa de responder a qualquer represália,  o comandante da corveta capitão-de-fragata Carlos Craveiro Lopes (5) reuniu o conselho de oficiais, ficando resolvido fazer-se fogo contra os barcos piratas, no caso deles continuarem a não obedecer às suas intimações. Pelas 11 horas silvou uma bala por entre os mastros da corveta, tendo Craveiro Lopes içado a bandeira nacional no tope do mastro da gata da corveta – sinal combinado com as 19 lorchas para romper o fogo – e consequentemente lançaram ferro e fogo sobre os taumões estabelecendo o pânico entre os piratas que abandonaram precipitamente os seus barcos, deixando além dos estragos, os mortos e feridos. As equipagens da corveta e das lorchas devidamente armadas, não perderam tempo em se meterem nos seus escaleres, para se lançarem à abordagem dos taumões que se encontravam sem viva alma mas atestados de riquíssimo despojos – uma enorme quantidade e variedade de armas brancas e de fogo, caixas de bolas de ópio, riquíssimas cabaias de delicadíssimo brocado, muito delas bordadas a primor, figuras de marfim, barro e madeira, charões, vasos, porcelana, (“sendo tudo escaqueirado”, segundo Padre Teixeira). A artilharia foi recolhida a bordo da corveta, excepto aquela que era demasiado grande e pesada, que foi lançado ao mar.
Seis dos juncos dos piratas encontravam-se em mau estado pelo que Craveiro Lopes resolveu mandá-los afundar no próprio local depois de terem sido inutilizadas as peças A este combate puseram os marinheiros portugueses o nome de «combate das cabaias»
As negociações com as autoridades chinesas continuaram até finais de Julho, acabando aquela por satisfazer toas as exigências incluindo o pagamento de uma indeminização de 3 000 pesos. No dia 11 de Agosto foram afixados editais por parte do Governo da China e do Cônsul Português em Neng Po, Francisco Marques, com as declarações que a questão com os portugueses se achava terminada e que entre as duas Nações continuavam a existir as antigas relações de comércio e amizade.
Todos os membros da guarnição na corveta tiveram direito ao seguinte averbamento nas suas notas de assentamento «Ataque e aprisionamento pela corveta D. João I das forças navais do pirata Apak, no rio Yung-Kiong, em 10 de Julho de 1854»
(1) Neng Pó ou Ning Pó actual Ningbo (寧波) (Meng-Tchau como era conhecida na dinastia Meng) e o Porto de Neng Po, (Port of Ningbo-Zhoushan 宁波舟山港) ficam na Província de Zhejiang (Chekiam / Tchit-Kóng), no norte da China. Para o norte, a baía de Hangzhou separa Ningbo de Xangai; a leste fica Zhoushan no Mar da China Oriental; no oeste e no sul, Ningbo faz fronteira com Shaoxing e Taizhou, respectivamente.
A cidade de Ningpo foi identificada, erradamente, como a famosa Liampó citada por Fernão Mendes Pinto e João de Barros No entanto, hoje, segundo investigadores, identifica Liampó com a actual Zhenhai (鎮海 – Tchân-Hói), na embocadura do rio Iông (Yung) – um distrito municipal em Ningpo.
Ver:
https://en.wikipedia.org/wiki/Ningbo
https://en.wikipedia.org/wiki/Zhenhai_District
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/11/04/noticia-de-4-de-novembro-de-1843-conferencia-luso-chinesa-em-cantao/
(2) Algumas das peças faziam parte do armamento da malograda fragata D. Maria II, que no dia 19 de Outubro de 1850, teve uma explosão na Ilha da Taipa.
Ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fragata-d-maria-ii/
(3) A corveta D. João I largou de Lisboa a 6 de Outubro de 1853 sob o comando do capitão-de-fragata Carlos Craveiro Lopes para a segunda comissão na estação naval de Macau, fazendo escala pelo Cabo de Boa Esperança e Timor. Veio como imediato do navio o 1.º tenente Joaquim de Fraga Pery de Linde e faziam quartos os tenentes Zeferino Teixeira, João António da Silva Costa, José Maria da Fonseca e João Eduardo Scarnichia. O médico era Faustino José Cabral.
Ver anterior referência em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2018/04/20/leitura-a-corveta-d-joao-i-e-o-ultramar-portugues/
4) Rio Yong – 甬江, um dos principais rios da China localizado em Ningbo. Formado pela convergência de dois rios rio Fenghua e rio Yao.
(5) Carlos Craveiro Lopes (1807 – 1865) militar português.. Ver biografia em:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_Craveiro_Lopes
Informações recolhidas de
GOMES, Luís Gonzaga – Páginas da História de Macau, 2010.
MONTEIRO, Saturnino – Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa, Vol VIII (1808-1975), 1997, pp 109-110.
TEIXEIRA, Mons. Manuel – Marinheiros Ilustres Relacionados com Macau, 1988, p.91.

Aviso publicado no «Boletim do Governo de Macau e Timor,» XVIII – n.º 20 de 11 de Maio de 1872
Escaler – Pequena embarcação de quilha ordinariamente de remos ou vela, para serviço de um navio ou de uma repartição ou estação marítima. pública.
João Eduardo Scarnichia (1832 – 1888) -斯卡尼西亚capitão-de-mar-e-guerra da Marinha
Aos treze anos, assentou praça na Armada, iniciando-se muito cedo na vida do mar. Após frequência da escola Politécnica, foi promovido a guarda marinha em 1841 e embarca neste posto no vapor Mindelo.

Annaes Maritimos e Coloniaes, 1846
http://library.umac.mo/ebooks/b31365243f.pdf

Em Fevereiro de 1848 completa o curso da Escola Naval sendo promovido a guarda-marinha efectivo. Envolve-se nas lutas liberais que deflagraram em 1846 sendo deportado. É integrado no Exército de operações em Janeiro até Agosto do mesmo ano, voltando a embarcar no Mindelo. E nesse mesmo ano é-lhe concedido o grau de cavaleiro da Ordem Militar da Torre e Espada.
Em 3 de Setembro de 1853, passou à corveta D. João I que largou de Lisboa a 6-10-1853 chegando a Macau em 1854 sob o comando do capitão-de-fragata Carlos Craveiro Lopes, levando na viagem 6 meses e vinte e tantos dias (passando pelo cabo de Boa Esperança e Timor).
Em 1854 passou a comandar, no posto de 2.º tenente, a lorcha de guerra Amazona Promovido por distinção (várias expedições contra a pirataria nos mares da China) em 12-11-1854, a 1.º tenente.
Casou em Macau a 15-07-1856 na Sé Catedral com Maria Kikol Goularte (nascida em Macau)
Nomeado Capitão do Porto de 1861 a 1876, sendo nesse tempo promovido a capitão-tenente e capitão-de-fragata e
Comandante da Polícia Marítima de 1868 a 1876. Em 16-08-1876 foi promovido a Capitão-de-mar-e-guerra, Regressou a Portugal em 1877.
Em 1877, (1) foi eleito deputado pelo círculo de Macau cargo que exerceu até à sua morte, em 26 de Fevereiro de 1888 (no posto de contra-almirante) vítima de congestão cerebral.
Informações de TEIXEIRA, Mons. Manuel – Marinheiros Ilustres Relacionados com  Macau, 1988.
Anteriores referências a João Eduardo Scarnichia em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/joao-eduardo-scarnichia/
(1) Foi João Eduardo Scarnichia que, como deputado, teve uma intervenção no parlamento em 1880 chamando a atenção da decadência e incúria do jardim de Camões e da necessidade de aquisição do espaço por parte do Governo. Esta aquisição sé seria concretizada em 1885 com a intervenção do Governador Tomás Roa e do comendador Lourenço Marques
Ver
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/comendador-lourenco-marques/page/3/ 
卡尼西 mandarin pīnyī: sī qiǎ ní xī yà; cantonense jyutping: si1 kaa1 nei4 sai1 ngaa3
Do «Diário Illustrado» de 26 de Setembro de 1878 (n.º 1972) na coluna  “High Life” extraí esta nota social:

Deste livro, (1) transcrevo os dados históricos da corveta «D. João I» relacionados com as comissões em Macau; alguns dados não são condicentes com o publicado nas minhas postagens anteriores (2), dados esses que na altura recolhi do Arquivo Histórico da Marinha (3)
Pelo seu armamento em Goa, assumiu o comando o capitão de mar e guerra José António Marcelino Pereira e entrou pela primeira vez no porto de Lisboa, ido de Goa em 1831. O Governo francês, nas lutas entre liberais e miguelistas, tomou conta de vários navios de guerra portuguesa, entre eles, a corveta «D. João I» que enviou para Brest em 11 de Julho de 1831.
Após negociações ao fim de três anos, foi resgatada em 1834, tendo uma guarnição portuguesa chefiada pelo capitão-tenente João Maria Ferreira do Amaral partido e trazido de Brest com partida a 25 de Julho e chegada ao Tejo a 30 de Julho de 1834.

http://portalbarcosdobrasil.com.br/bitstream/handle/01/643/003101.pdf?sequence=1&isAllowed=y

Na sua oitava comissão (a primeira em direcção a Macau), saiu a 23 de Outubro de 1849, sob o comando do capitão-tenente Isidoro Francisco Guimarães, para a estação naval da América do Sul e dali para a de Macau em viagem sem escalas. Chegou ao seu destino, depois de 105 dias de viagem, isto é, a 25 de Abril de 1851. O comandante Guimarães deixou o comando ao oficial imediato, capitão-tenente Domingos Roberto de Aguiar, em 19 de Novembro por ter sido nomeado Governador de Macau.
A corveta partiu de regresso a Portugal a 27 de Dezembro e chegou a Lisboa em 18 de Agosto de 1852.
Na sua décima comissão, a missão de corveta era exigir das autoridades chinesas uma satisfação oficial e pecuniária pelas depredações e injúrias feitas ao comércio marítimo português pelo famoso pirata Apack que na altura havia atacado e roubado diferentes lorchas macaístas. Largou a 6 e Outubro de 1853 sob o comando do capitão-de-fragata Carlos Craveiro Lopes para a Estação Naval de Macau com escala pelo Cabo de Boa Esperança e Timor.  
Era imediato do navio o 1.º tenente Joaquim de Fraga Pery de Linde e faziam quartos os tenentes Zeferino Teixeira, Silva Costa Fonseca e João Eduardo Scarnichia.
O médico era Faustino José Cabral. Seguiam embarcados 10 guarda marinhas (entre estes Carlos Eugénio Correia da Silva (mais tarde conde de Paço d´Arcos)
Em 1 de Fevereiro de 1854 navegava no arquipélago de Sonda com mar de vaga larga, vento oesnoroeste fresco e céu limpo. Sucederam-se calmas, ventos variáveis e trovoadas que cansaram extraordinariamente a guarnição, pelas repetidas manobras que teve de fazer.
Seguia como intérprete o hábil e honesto João Rodrigues, de Macau. Uma parte da esquadra do pirata encontrava-se entre Ning-Pó e Compó, na força de 6 táo-maus ou juncos e 1 haipó, de 32 peças de artilharia. Parte desta artilharia havia sido da fragata D. Maria II, destruída em Macau pela explosão do seu paiol da pólvora.
Em Macau, cedeu à canhoneira «Camões», 12 carabinas pelo que ficou reduzida a 54 visto terem-se inutilizado as restantes.
Em 14 de Maio de 1854 largou a corveta de Macau com destino a Ning-Pó- Fu, fazendo escala por Hong Kong e Amoy. Entrou em Hong Kong no dia seguinte e largou a 17 para Amoy.
Fundeou diante da cidade de Ning-Pó-Fu a 22 de Junho. (4)
A corveta, em 1856 largou para Portugal e a 18 de Janeiro do ano seguinte entrava o Tejo. Em 1 de Agosto de 1859 tendo terminado as reparações, armou, assumindo o comando o capitão de fragata Feliciano António Marques Pereira.
A Décima primeira Comissão, novamente rumo a Macau (missão: viagem diplomática ao Japão) saiu em 28 de Agosto de 1859, sob o comando do capitão de fragata Feliciano António Marques Pereira, fazendo escala por Luanda, para onde levava passageiros e dinheiro, e por Dili. Apanhou uma tempestade próximo do cabo de Boa Esperança, passou por Batávia (autoridade holandesa) onde esteve 13 dias no porto e de onde saiu em 17 de Janeiro de 1860 em direcção a Dili que alcançou a 24 do mesmo mês – passado 6 dias largou para Macau onde só conseguiu ancorar em 15 de Março, devido a ventos banançosos e contrários.
Em Macau recebeu ordem do Governador para partir para Xangai fazendo escala por Hong Kong. Largou a 27 de Maio, tocou em Hong Kong na madrugada do dia seguinte, e saiu para o norte a 5 de Junho.
No dia 23 fundeou em frente de Wussung, um dos afluentes do Yang-Tsé, e a 29 foi embarcar na corveta o Governador de Macau, capitão-de-mar-e-guerra Isidoro Francisco Guimarães que seguia para o Japão na qualidade de ministro plenipotenciário a negociar um tratado de paz e comércio com os japoneses. A corveta em 5 de Agosto largou para Yokohama a fim de se abastecer e no dia 1 de Setembro subiu o rio Wussung e foi largar âncora em Xangai com a missão de proteger o consulado português (luta na China com os ingleses e franceses) e os mais súbditos portugueses pela maior parte macaístas, que ali se achavam empregados ou estabelecidos.
Em 10 de Outubro por ordem do Governador de Macau, largou para o porto de Amoy a exigir uma indeminização ao governador chino pelos roubos praticados pelos chineses num vapor mercante português. Entrou em Amoy a 14 de Outubro. Por ordem do mesmo governador a corveta largou a 29 para Macau onde entrava a 2 de Novembro para nova missão, em 1861 – segunda viagem diplomática.
A Décima Quinta Comissão foi novamente rumo a Macau, em 1869
A última viagem (décima nona comissão) foi cruzeiro na costa Angolana tendo largado a 22 de Novembro de 1873 e recolheu a Luanda a 10 de Dezembro.
(1) ESPARTEIRO, António Marques (capitão-tenente) – A corveta «D. João I» e o Ultramar Português. Subsídios para a História da Marinha de Guerra XII. Separata n.º 288 do Boletim da Agência das Colónias. 1949.
Este livro está disponível para leitura em:
http://portalbarcosdobrasil.com.br/bitstream/handle/01/643/003101.pdf?equence=1&isAllowed=y
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/corveta-d-joao-i/
(3) https://arquivohistorico.marinha.pt/details?id=2421)
(4) Sobre este combate publicarei numa próxima postagem.

O cemitério de S. Miguel foi inaugurado no Dia de Finados, a 2 de Novembro de 1854. Anteriormente a esta data, os mortos eram sepultados no cemitério de S. Paulo. Como este estivesse muito arruinado e as paredes ameaçassem desmoronar-se, em 14 de Outubro de 1852, o governador Isidoro Francisco Guimarães por portaria, ordenou um empréstimo sem juros, por subscrição pública (que chegou a 720 patacas oferecidas por nove cidadãos, concorrendo o governo com 230 patacas) para construção dum novo cemitério a ser construído fora da porta da cidade.
O sítio escolhido foi num pequeno outeiro, o actual Cemitério de S. Miguel.
Excerto do relatório do Padre Francisco Anacleto da Silva, administrador do cemitério de S. Miguel, (1) nomeado presidente duma comissão em 1867, pelo governador José Maria da Ponte e Horta, para avaliar o estado do cemitério de S. Miguel e propor os melhoramentos necessários.
“Antigamente se enterrava nas igrejas e os rendimentos ficavam para a fabrica das mesmas, porem por decreto de 21 de setembro de 1835 foi prohibido esses enterramentos, e mandou se estabelecer cemitérios muralhados em todas as povoações e fora dos limites dellas, passando a sua administração ao municipio.
Em Macau, ao que parece, foi em 1836 que se observou esse decreto aproveitando-se para esse fim, as ruínas da igreja de S. Paulo, incendiada em 1835. Este cemitério foi construído pela Santa Casa de Misericordia, e depois reclamado pela autoridade ecclesiastica, indemnizando-a das despezas que nelle fizeram…” (2)
Do mesmo relatório, na conclusão, a Comissão propunha o seguinte:
A capela de maiores dimensões e com melhor ventilação”, proposta pela comissão só foi construída e inaugurada em 5 de Junho de 1875 pelo Governador do Bispado António Luís de Carvalho tendo a planta desse edifício sido desenhada pelo Barão do Cercal. (3)

A capela do cemitério de S. Miguel Arcanjo, um dos poucos edifícios de Macau em estilo manuelino, no ano de 1956 (4)

(1) A Administração do Cemitério de S. Miguel Arcanjo até 27 de Novembro de 1868 estava a cargo da Diocese; a partir desta data, a administração e a manutenção do cemitério foi transferida para o Leal Senado.
(2) «Boletim do Governo de Macau e Timor», Vol. XIV, n.º 14 de 6 de Abril de 1868.
(3) Ver anterior postagem em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/06/05/noticia-de-5-de-junho-de-1875-inaugura-cao-da-capela-do-cemiterio-s-miguel/
(4) «MBI» IV-79, 15NOV1956.

Entre as várias fotografias que ilustram os locais de interesse turístico de Macau que é apresentado no folheto turístico de 1928 (1) constam estas duas, os monumentos de Vasco da Gama e da Vitória.
a-vistors-handbook-to-romantic-macao-jardim-de-vasco-da-gamaRetiro da parte “Historical” do mesmo folheto:
Delving into history we discover that not for nothing Macai gained its glorious title “Gem of the Orient Earth” – a title bestowed on Macao by Sir John Bowring, (2) on early Governor of majestic Hong Kong.
This lovely “Gem” has survived the test of the ages and the banners of Portugal still flutter to the breeze o´er “Holy City” of enchanting Macao, after almost four centuries of the vicissitudes of hazardous times.
Vasco da Gama, transcendent of navigators, sailed out of the Tagus one day, and discovered the Cape route to the Indies and Far Cathay: his followers went farther afield and founded Macao.
Authorities disagree regarding the date of the foundation of the Portugueses Colony. Morrison refers to Portuguese incidence as early as 1535, and sojourn in 1537; the Chinese records admit residence in 1550; but the Portuguese have adopted 1557 as the oficial date of the Colony´s establishment.
It was not till 1887, however, three hundred and thirty years later that by treaty China ratified the perpetual occupation by Portugal of the Colony of Macao and its dependencies…
a-vistors-handbook-to-romantic-macao-the-pillar-of-victory“…The Dutch were the first to invade this privileged trade centre of the Portuguese and even attempted to take Macao by force of arms. Their repulse in 1622 by a small volunteer garrison at Macau is un historical episode of considerable interest”
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2017/01/24/leitura-folheto-turistico-de-1928-a-visitors-handbook-to-romantic-macao/
john-bowring-4-o-governador-de-hk(2) Sir John Bowring 寶寧 (1792-1872), homem de muito saber (intelectual), economista político, escritor e editor, poliglota, tradutor literário, membro do Parlamento Britânico, reformador na área da educação e do próprio funcionamento do parlamento, exerceu vários cargos governamentais entre eles, foi o 4.º Governador de Hong Kong (13-04-1854 – Março de 1859). Foi durante a sua governação enérgica e “bélica” contra os chineses que desencadeou a Segunda Guerra do Ópio (1856-1860).
http://uudb.org/articles/sirjohnbowring.html
https://en.wikipedia.org/wiki/John_Bowring

12-10-1854 – Os piratas formaram com as suas lorchas um cordão, desde Boca Tigre até Oeste. A lorcha n.º 58, que vinha do Oeste com uma valiosa carga de seda, foi atacada e roubada, no canal de Lampeão, bem perto desta cidade.” (1)
14-10-1854 – A lorcha n.º 10 foi atacada, na sua viagem para Hong Kong, por quatro taumões, conseguindo escapar, devido à rapidez do seu andamento, sendo, porém obrigada a fazer fogo, desde 9.00 até às 12.00 horas. ” (1)

James Keenan, consul americano em Hong referia em 1854, a existência de 100.000 piratas nos mares da China (2)
(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.
(2) MEAGHER, Arnold J. – The Coolie Trade: The Traffic in Chinese Laborers to Latin America 1847-1874,  2008.