O Beco da Rede começa na Calçada da Barra, entre os prédios n.ºs 13 e 15 e termina na encosta da Colina da Penha. Este toponímico deriva de outro desaparecido, chamado Ponte da Rede, ali em frente.
“A 2 de Dezembro de 1828, o mandarim Tso-Tang, de apelido Fom, publicou um edital, dizendo que os chinas anciãos de Macau lhe haviam representado «que o Portuguez Leiria na Ponte da Rede mandou fazer hum muro, que cercou o quadro, em que se pretendia fabricar a torre da Fortuna, (1) pelo que indo em pessoa indagar, achei ser verdade todo o referido na representação deles. Por tanto além de ter eu mandado ao Procurador para mandar parar a ditta obra; ordeno tbem a vós todos os pedreiros, e picadores de pedras, que não façaes mais obra naquele terreno, nem leveis para ali mais pedras, com cominação de serdes agarrados, e castigados»
Supomos que o português Leiria é Hermenegildo António Leiria, natural de Lisboa, filho de José António Leiria e de Maria de Jesus; casou em 3 de Março de 1829 com Eugénia Maria Inácia Cortela, filha de António Joaquim Cortela (falecido a 1-06-1842) e de Ana Josefa de Azevedo (falecida a 21-01-1830), neta paterna de Lourenço Baptista Cortela (2) e de Mariana Muniz da Rosa (falecida a 5-11-1788) e materna de Bernardo Manuel de Azevedo e de Inácia Vicência Gomes.
Hermenegildo António Leiria morreu afogado em 1 de Agosto de 1836, à vista de Macau, pelo naufrágio do navio Suzana, onde ele vinha (3)”(4)
(1) ”2-12-1828 – O tchó-t´óng proibiu os pedreiros de continuarem a construção dum muro, propriedade do português Leiria, na Ponta da Rede, por essa obra vir a cercar dum terreno, onde os chineses pretendiam edificar a Torre da Fortuna” (GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954)
(2) Da família Cortela. Ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/05/12/noticia-de-12-de-maio-de-1806-vulto-ilustre-de-macau-do-seculo-xix-joao-francisco-rodrigues-goncalves/
(3) Este registo de óbito em S. Lourenço não está correcta segundo Jorge Forjaz: faleceu «no naufrágio do dia 31 de Agosto de 1836 sucedido ao navio Suzana aonde vinha de passagem o qual Navio deo a costa nas praias de Nameam em Sanchoão em que o dito Leiria enterrado » segundo o escrivão Gonçalves no Livro dos Termos das Eleições.»FORJAZ, Jorge – Família Macaenses, Volume II, 1996.
(4) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, 1997.
A fachada da Igreja do Seminário de S. José
A imponente fachada das Ruínas de S. Paulo não constitui apenas um monumento religioso. Aquela mole gigantesca de granito apregoa na sua aparente nudez, uma época brilhantíssima em que com toda a justiça, Macau era apontada como o ponto de irradiação da Cultura Lusíada nestas paragens.
Do Colégio-Universidade de S. Paulo (ou S. Paulo, o Grande – Tai Sam Pá / 大三巴) fundado no final do século XVI) saíram para a China, para o Japão, para todo o Extremo Oriente, legiões de missionários, padres e leigos empenhados na obra de difundir entre os infiéis, a Fé e a Civilização Cristãs.
Remonta também a essa época o começo do Seminário de S. José, fundado como Colégio de S. Paulo, pelos Jesuítas.
Há grande divergência entre os investigadores sobre a data da sua fundação. Sabe-se que já existia em 1749, podendo situar seguramente o seu começo no segundo quartel do século XVIII. Existia, então, no sítio onde se levanta o actual edifício, conhecido durante muito tempo como Monte do Mato Mofino, um grupo de 3 casitas pertencentes a um homem rico, Miguel Cordeiro, que as ofereceu aos missionários jesuítas. Nelas se instalou o primitivo Seminário e delas se foi erguendo, ano a ano, gradualmente o grandioso maciço que ainda é conhecido entre os chineses: Sam Pá Tchai ou S. Paulo Menor/ 三巴仔.(1)
Com a expulsão dos jesuítas, em 1762 , registou-se um período de abandono, até 1784, ano em que o Seminário foi confiado aos Lazaristas ou Padres da Missão, vindos do Seminário de Chorão (Goa).(2)
Dentre os novos professores, que conseguiram levantar o seu prestígio cultural a um grau bastante elevado, distingiu-se o famoso sinólogo, Padre Joaquim Afonso Guimarães, cujas cinzas, como as do Bispo de Pequim, D. Joaquim de Sousa Saraiva, ainda se conservam na igreja do Seminário.
Em 1820, ensinavam-se nela, além de ler, escrever e contar, as Línguas Portuguesa, Inglesa, Francesa e Chinesa, a Música, a Retórica, a Filosofia, os Estudos Eclesiásticos. Havia também aulas de Matemática, uma Academia e de Marinha.
Em 1828, o Seminário adquiriu, por compra, a Ilha Verde, então verdadeira ilha, para nela se construir uma casa de repouso, onde os seminaristas passavam as férias de Verão.(3)
Altar de Nossa Senhora da Conceição
Com a execução, em Setembro de 1835, do decreto que extinguia toas as congregações religiosas e, mais tarde com a morte, em 1853, do Pe. Joaquim José Leite, último reitor lazarista, entrou o então «Real Colégio de S. José» num novo período de decadência.
Em Março de 1862, porém, graças aos esforços do bispo D. Jerónimo José da Mata, chegavam os jesuítas Padres Francisco Xavier Rôndina (o seu retrato está num dos salões do edifício do Leal Senado) e José Joquim de Afonso Matos, que deram notável impulso ao ensino, atraindo ao Seminário alunos de Hong Kong, das Filipinas e doutros pontos do Extremo Oriente.
Em 1870, os seus estudos foram oficializados, para os que se não destinavam ao sacerdócio, passando a denominar-se «Seminário-Liceu», facto este que confere o direito de ser considerado o primeiro Liceu da Província.(4)
Em 1871 com a expulsão, primeiro dos professores estrangeiros e, mais tarde, de todos os padres da Companhia de Jesus, sofreu o Seminário novo golpe.(5)
O bispo D. António Joaquim Medeiros confiou em 1890, o ensino, e, em 1893, a direcção e administração do Seminário, novamente, aos jesuítas.
Com a terceira expulsão destes, em 1910, tomou a direcção do Seminário, o clero secular, até 1929, ano em que o bispo D. José da Costa Nunes a entregou, outra vez, aos jesuítas que nela se mantiveram até 1940. Desde então foi dirigido pelos cleros seculares, auxiliados por alguns religiosos e leigos até ao seu fecho em 1968 (externato); no ano anterior tinha sido encerrado o curso eclesiástico por falta de vocações.
Altar-mor da Igreja do Seminário
Em 1931, fundou-se o Colégio de S. José para alunos externos chineses, anexo ao Seminário até 1938, data em quer foi desligado, passando a funcionar independentemente.
Em Maio de 1938, fecharam-se as portas do Seminário aos alunos externos, sendo frequentado apenas pelos candidatos à vida missionária.(6)
Mas, em 1949, reabriu para os externos, o curso primário e, em 1950, o curso secundário.
Após obras de reconstrução, em 1955, os dois edifícios novos do Seminário de S. José. Ao fundo o Salão de Actos e sala de estudo e em primeiro plano a nova escola para alunos esternos.
Em 1954, (7) após a restauração da igreja do Seminário construída igualmente pelos jesuítas, em data que se ignora, mas já existente em 1758, o bispo João de Deus Ramalho, S. J. inaugurou dois pavilhões novos, um para sala de estudos dos seminaristas e salão de actos e outro para aulas dos externos e residências dos professores.
Em 1954/1955 funcionavam neste estabelecimento, 4 cursos distintos, com 2 classes diferentes de estudantes (96 seminaristas e 330 alunos externos):
1 – Curso de Instrução Primária, para alunos portugueses;
2 – Curso Secundário, para alunos portugueses;
3 – Curso Secundário, para alunos chineses;
4 – Curso Eclesiástico, constituído por 2 anos de Filosofia e 5 de Teologia, comum a chineses e portugueses.
À parte funcionava ainda um Curso Especial nocturno de Português para chineses , frequentado especialmente por empregados comerciais.
No seu período áureo, por muitos anos, chegou a manter, com grande proveito para os que não pretendiam seguir a carreira eclesiástica, entre outros cursos especiais, uma Escola de Pilotagem e um Curso Comercial em língua inglesa.(8)
Durante mais de dois séculos, o Seminário de S. José formou sucessivas gerações de pessoas que se destacaram em Macau e no mundo, nomeadamente: Marechal Gomes da Costa, Leôncio Ferreira, o antigo governador de Macau Artur Tamagnini Barbosa, D. José da Costa Nunes (Vice-Camarlengo da Santa Sé), D. Jaime Garcia Goulart, (Bispo de Timor), Guilherme José Dias Pegado Gouveia ((doutor e lente de Matemática/Física da Escola Polytécnica e seu irmão Manuel Maria e Pedro José Lobo, Pedro Nolasco da Silva, José Silveira Machado, Manuel Teixeira, José Machado Lourenço, D. Jerónimo José da Mata, D. Arquimínio Rodrigues da Costa, D. Domingos Lam Ka-tseung, D. José Lai Hung-seng e D. Jaime Garcia Goulart. (9)
O corpo docente e discente do Seminário de S. José (1954/1955) com o novo reitor, Rev. Pe. Arquimínio Rodrigues
(1) 19-02-1783 – Foi erecto em seminário o antigo colégio de S. José, que os padres jesuítas tinham estabelecido em 1754 com três casitas que Miguel Cordeiro doou à Missão dos Jesuítas em Nanquim.(10)
07-03-1783 – Foi criado no Colégio de S. José de Macau, um seminário para a educação da mocidade macaense.(10)
(2) 01-10-1784 – Foi inaugurado o Seminário de S. José, confiado aos lazaristas, com oito alunos. (10)
(3) Referências anteriores à Ilha Verde:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/ilha-verde/
(4) O decreto de 20 de Setembro de 1870 é o primeiro documento oficial completo, referente ao Seminário, que, além dos estudos eclesiásticos e da formação dos missionários para a China, visava também oficializar os estudos no referente a alunos que não se destinavam ao sacerdócio. Na verdade, o n.º 3 do artigo 1.º diz assim « Servir de liceu em que recebam instrução secundária os indivíduos que não se destinarem aos estado eclesiásticos». Aparece, portanto, o Seminário de S. José, como o primeiro liceu na realidade, em Macau, visto que o Liceu de Macau só foi criado em 27 de Julho de 1893.
22-12-1881 – Decreto organizando o Seminário de S. José, sob o nome de Seminário -Liceu de S. José de Macau, continuando, porém a serem mantidas a cadeira de náutica e as aulas do ensino comercial.(10)
(5) 20-09-1870 – Todos os professores estrangeiros do Seminário de S. José foram obrigados, por decreto, a deixar o ensino.(10)
(6) 18-05-1938 – Foi extinto o Colégio e ficou só o Seminário de S. José, por Portaria Eclesiástica, em cumprimento às instruções da Santa Sé de as aulas do Seminário só poderem ser frequentadas por candidatos à vida eclesiástica(SILVA, B. B. .Cronologia da História de Macau, Vol.4)
(7) MARÇO DE 1954 – Concluídas as obras de reparação nela introduzidas, foi reaberta ao público a Igreja do seminário de S. José. Nesse dia, Sua Exa. o Bispo D. João de Deus Ramalho conferiu o Santo Crisma a 18 seminaristas recentemente vindo vindos da metrópole. (Macau B. I., 1954)
(8) 22-12-1881 – Decreto organizando o Seminário de S. José, sob o nome de Seminário -Liceu de S. José de Macau, continuando, porém a serem mantidas a cadeira de náutica e as aulas do ensino comercial.(10)
(9) Seminário de S. José – Macau B. I. 1955 e Seminário de S. José in Anuário de Macau 1953-55.
(10) GOMES, Luís Gonzaga – Efemérides da História de Macau, 1954
NOTA: a Igreja e o Seminário de São José estão incluídos na lista dos monumentos históricos do “Centro Histórico de Macau”, que por sua vez foi classificado pela UNESCO em 2005 como sendo um Património Mundial da Humanidade.
Na sequência do artigo de José Torres publicado no semanário ilustrado ” Archivo Pittoresco” de 1864. (1), num número posterior da mesma publicação, fez o mesmo autor, outro comentário a uma outra ilustração de “Macau – Porto Interior”.
“Ahi fica estampada a vista da parte ocidental da cidade de Macau e o seu ancoradoiro ou porto interior, formado pelas águas de um braço do grande rio de Cantão. É aqui o centro commercial da cidade, como a parte oriental, que estampamos a pag. 345 d´este colume, se pôde chamar o centro official administrativo, mais propriamente cidadão, Estamos a contemplal-o das alturas da Penha. Ao longe, à direita , na altura em que se divisa um confuso arvoredo, é a quinta da Gruta de Camões, propriedade do comendador Lourenço Marques. As montanhas que se elevam ao fundo, à continuação da península em que Macau assenta, são da comarca de Anção ou Hiamxan, da ilha Ngão-men, a maior das que povôam o grande golpho em que desagua o rio Cantão. É ahi, sobre a esquerda, que está situada a povoação chim da Casa Branca. A primeira praia à esquerda (passando a fortaleza e pagode da barra, que ficam áquem do que descobrimos) é a chamada Manduco. Segue-se-lhe a Praia Pequena, adjacente à qual está a povoação chim chamada do Bazar, quasi na sua totalidade reconstruída por um plano regular, depois do grande incêndio que, em 1856, lhe devorou umas mil casas grandes e pequenas. Segue-se-lhe a praia do Terrafeiro, que é a última, na baixa ao poente da quinta da Gruta de Camões. A pequena ilha, que a pouca distancia se vê no meio do rio, é a ilha Verde, até 1762 propriedade dos jesuítas, de então até 1828 de particulares, e desde 1828 do collegio de S. José de Macau, hoje seminario diocesano.
A parte de outra ilha, que apparece à esquerda da estampa, demarcando o ancoradoiro por este lado, é a ilha que antigamente chamávamos dos Padres, pelas estancias que os das ordens religiosas ahi tiveram, fronteiras à cidade; ilha a que agora chamâmos da Lapa, e os chins Toi-miu-shan, em vulgar Panthera. Na praia que d´ella avistámos, e na sua continuação para barra, tivemos até princípio do seculo XVIII as estancias da Lapa, da Ribeirinha e da Ribeira Grande; e ao sair da barra as da ilha do Bugio e de Oitem.
A historia de cada parte d´este territorio, que nos pertenceu ou pertence, interessando particularmente aos portuguezes, pôde ainda assim ser para todos fonte de grandes e aproveitaveis lições. Reservâmol-a para artigo especial
JOSÉ DE TORRES
NOTA: esta mesma ilustração foi inserida posteriormente no livro de Rocha Martins ” História das Colónias Portuguesas” (no meu “post” de 28-04-2015 ) (2) com a legenda (errada) “MACAU EM 1897“. Está incorrecta a data de 1897 pois a ilustração data (pelo menos) de 1864.
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/11/23/macau-em-1864-vista-da-praia-grande-do-porto-exterior/
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/04/28/leitura-historia-das-colonias-portugue-sas-de-rocha-martins/
Notícia de 7 de Outubro de 1828 – O mandarim tchó-t´ong (1) proibiu as lojas chinesas de vender vinho aos escravos negros e marinheiros, por o Procurador da Cidade ter pedido a prisão dos donos de quatro lojas da Prainha, cujo negócio principal era o de fazer embarcar mouros e marinheiros criminosos, em navios que os levavam para fora de Macau, a troco dos furtos com que estes pagavam a sua liberdade.
GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954
(1) Tchó-t’óng ou Tso-tang ou Zuotang – Além da constante intervenção política do Mandarim da Casa Branca (Qianshan) do Distrito de Xiangshan e do Mandarim do Hopu (alfândega Chinesa), em 1736, as autoridades chinesas impuseram um mandarim local, Zuotang, residente a norte da Península de Macau, que passou a exercer plena autoridade, a partir de 1797. No século XIX, com o governador português, João Ferreira do Amaral, este poder dos mandarins foi drasticamente reduzido.
Mapa de Macau no séc. XVII (depois de 1622)
Ilha Verde (n.º 17)
(Fac-simile reduzido da estampa «da Ásia Portuguesa» Tomo III, de Manuel Faria e Souza)
No dia 15 de Março de 1828, no escritório do tabelião José Gabriel Mendes é feita a escritura de compra da Ilha Verde, assinada pelo Pe. Nicolau Rodrigues Pereira de Borja (superior do Seminário de S. José) por parte do Seminário de Macau, a Bernardo Gomes de Lemos, que era coproprietário dessa ilha com Manuel Homem de Carvalho (1); o preço foi de duas mil patacas, nelas sendo empregue parte do dinheiro que recebeu da venda de bens da Missão Portuguesa de Pequim (2) (3)
A 22 do mesmo mês se relatam mais pormenores: tem 3.300 «paos» ou «côvados» chineses, medidos por cima do alicerce do muro velho, em circuito. A Ilha tinha casas e árvores de fruto e a venda ao Seminário permitiu resguardá-la da ocupação abusiva de chineses que já por lá iam armando barracas clandestinas, ameaçando, aos poucos, tomar domínio dela (2)
A Ilha Verde no canto inferior esquerdo
(Livro: OU-MUN KEI-LEOK, 1950)
Recorda-se que a Ilha Verde foi ocupada em 1603 ou 1604 pelos jesuítas que a conservaram em seu poder até à data da sua expulsão de Macau, em 1762. Os Jesuítas foram presos no dia 05-07-1762, às ordens de Pombal, transmitidas a Macau pelo vice rei da Índia, D. Manuel de Saldanha de Albuquerque, conde de Ega. Entre os presos encontrava-se também o encarregado da Ilha Verde, o Irmão João Álvares. Com a expulsão dos jesuítas, a Ilha Verde passou para Simão Vicente Rosa, (4) que após disputa com o Senado, aceitou-a em 14-04-1766 por 6.147 taéis que era a quantia que os Colégios de S. Paulo e S. José lhe deviam. (5)
Panorama da cidade e do porto interior (cerca 1900)
A Ilha Verde ao fundo
(1) Em 1 de Setembro de 1813, por morte de Ana Araújo Rosa, proprietário da llha Verde, que herdara do seu pai Simão Vicente da Rosa, em 31-01-1773, foi essa ilha vendida em leilão e arrematada por 501 taéis, por Manuel Homem de Carvalho e Bernardo Gomes de Lemos. Margarida Rita de Carvalho Milner processou os dois compradores da Ilha Verde, Manuel Homem de Carvalho e Bernardo Gomes de Lemos, em 22-08-1814, sob o pretexto de dever ser ela a proprietária dessa ilha, como neta do antigo dono, Simão Vicente da Rosa, mas o ouvidor, Miguel de Arriaga Brum da Silveira confirmou a venda como legalmente feita, em 18 de Abril de 1822 (GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau; SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3)
(2) Fevereiro de 1805 – Perseguição na China contra os cristãos. A 12 de Outubro foi expulso de Pequim o Bispo D. Veríssimo Monteiro da Serra, que conseguiu vender as alfaias da igreja e da casa, os instrumentos de matemática, os livros e algumas casas. O produto dessa venda, 66.800 reis, em metal, foi entregue a D. Nicolau Pereira Borja, quando D. Veríssimo voltou a Macau em 1927. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3).
(3) Luís G. Gomes refere na sua “Efemérides da História de Macau, a data de 22-02-1828 para compra da Ilha verde, no rio de Macau, pelos padres do seminário diocesano de S. José.
(4) Sobre Simão Vicente da Rosa, ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/simao-vicente-da-rosa/
(5) TEIXEIRA, Manuel – Macau e a sua Diocese I – Macau e as suas Ilhas
NOTA: referências anteriores à Ilha Verde em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/ilha-verde/
“8 de Março de 1828 – Officio do mandarim de Hain-chan (Heong-Sán) ao procurador da cidade de Macau, intimando-lhe que prohibisse aos residentes ingleses renovarem à sua custa, como intentavam, a estrada do campo de Mong-há, e passearem nella a cavallo pois com taes concertos e passeios afrontavam as sepulturas dos chinas e as barracas dos pescadores.” (1)
Padre Manuel Teixeira contesta esta informação, copiada de A. Marques Pereira e repetida por outros historiadores (Bento da França, Levy Gomes, Rocha Martins e Montalto de Jesus.)
Refere Padre Teixeira (2) que as chapas originais não tinham esse teor, mas conclui no entanto, por fim que a chapa de 23 de Maio de 1828 dizia «… rigorosas prohibições, para q. os Estrangeiros saiba daqui por diante, q. nos muros da Cidade se comprhendem os limites das suas habitaçoens, dentro das quaes habitarão socegamente e q se alguém se atreve a continuar a obra do sobred.º caminho, sera rigorozamt. e agarrado e castigado. »
Assim a chapa de 02-02-1828 diz:
« os europeus não podem andar ali a cavalo, nem os chinas abrir sepulturas para não impedir os ingleses de concertar esse caminho , que é para o bem comum.»
“Macau from the Forts of Heang-shan 1839 & 1842” (3)
A de 12 de Abril de 1828, o mandarim de Heong San, de apelido Li, publicou um edital para os chinas de Macau, dizendo que ordenara ao procurador «fizesse para a obra, q os Ingleses estavão fazendo no caminho fora da Cidade para os seus passeios a cavallo, obstando deste modo aos Chinas abrirem ali sepulturas»
O procurador respondera que esse «caminho tem sido desde tempos, huma estrada publica, tanto para os chinas como para os Europeus, e como com o andar do tempo, tem sido arruinado, e entupido de pedras, e lodo, fazendo-se assim difficultozo de se passar, os Inglezes tinham recorrido a elle, e ao Senado, pedindo-lhes permitissem concerta-lo,e q vendo elle Procurador e o Senado, q este concerto era mt.º útil, tanto para os Europeus, como para os China, sem obstáculo algum a estes para abrirem sepulturas, o tinhão permitido e q esperava por tanto da minha parte mandar aos chinas, q não fizessem sepulturas ao lado do caminho, para não servirem de obstáculo aos caminhantes……»
Finalmente a chapa de 23 de Maio, o mandarim da Casa Branca e o mandarim de Hian-san publicaram um edital «alguns inglezes estavam fabricando uma estrada fora da Porta da Cidade desde Cano Real, athé atrz do Pagode de Mohá… não hera hum caminho plano, nem largo, mas sim huma pequena estrada, em cujos lados se achavão sepulturas fabricadas, e que o caminho , q. tudo havia embaraço…»
Acharam que aos portugueses primitivos que aqui vieram «se concedera somente habitarem dentro dos muros da Cidade (4) como pois se podia consentir, q elle representassem q. o caminho q hia abrir-se, era hum caminho antigo»
(1) A. Marques Pereira (1839-1881) na sua “Efemérides Comemorativas da História de Macau e das Relações da China com os Povos Cristãos “ (1868), citado por GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau
(2) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau Volume I
(3) Rise & Fall of the Canton Trade System Gallery: PLACES
href=”http://ocw.mit.edu/ans7870/21f/21f.027/rise_fall_canton_04/
(4) A cidade estava amuralhada, estendendo-se os muros desde a Porta de St.º António até à Fortaleza do Monte, e desta até à Colina de S. Jerónimo (Hospital S. Januário), ficando a Fortaleza da Guia fora das muralhas.
NOTA: a 27 de Fevereiro de 1847, o governador Ferreira do Amaral mandou abrir 3 estradas: uma desde a Porta de S. João até ao Pagode; outra rodeando a colina de Mong Há e a terceira desde a Porta de St.º António, indo fazer a ligação com a primeira junto ao Pagode e seguindo até à Porta do Cerco. Foram removidas cerca de 700 sepulturas. Daí a aversão dos chineses para com este governador e dois anos mais tarde a sua cabeça rolaria pelo chão.
“25-09-1828 – Os Chineses de Mong-há foram proibidos, por edital do mandarim da Casa Branca, de atirar pedras às casas vizinhas e ao Forte de Sto António e de cometer distúrbios para exigirem a abertura das Portas do Campo, antes do tempo determinado, as quais há mais de dois séculos, eram abertas às 5.00 horas da manhã e fechadas às 20.00 horas, conservando-se as chaves em poder do Governo.” (1)
«tendo vós já cometido hum semelhante atentado; os cabeças das ruas, terão todo o cuidado de prender os infractores desta minha ordem, e remeter ao Mandarim. Cso-Tam, para os castigar: os cabeças das ruas, q. forem cúmplices neste crime, serão tbm rigorosamente castigados; e os soldados, q. estiverem de vigia às Portas, não poderão motivar desordem, q. deverão então ser castigados » (Arquivo da Procuratura)» (2)
(1) GOMES, Luís Gonzaga – Efemérides da História de Macau.
(2) TEIXEIRA,, Pe. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I.
“O objectivo das muralhas da cidade, que quase circundavam a primitiva cidade, tinham como função principal proporcionar forças defensivas com capacidade de resistir a um assalto directo da infantaria inimiga. Também protegiam a cidade durante a noite, oferecendo segurança contra os piratas e bandos de assaltantes que infestavam os arredores de Macau.
Estas muralhas estavam fornecidas de duas portas.
A do lado Nascente, perto da actual Igreja de Sto. António, chamava.se porta de Sto. António ou Sto. Antão, enquanto que a de Sudeste, perto da Igreja de S. Lázaro, era conhecida por porta do Campo. Estas portas estavam fechadas à noite, abrindo-se e fechando-se às mesmas horas. Na porta de Sto. António existia um posto alfandegário.”
GRAÇA, Jorge – Fortificações de Macau. Concepção e História.