«Gazeta de Macau», n.º VI de 7 de Fevereiro de 1824, p. 322
Notícia do redator da »Gazeta de Macau» (1)
“Somos sensivelmente pesarosos de annunciar, que no dia 1.° do corrente mez houve hum incêndio no Vazar, o qual começou ás 10 h. da manhãa, acabando a maior violência das chamas pelas 3 h. da tarde. Deu causa a este desastre hum desafio pueril de duas crianças Chinesas cm acender c atirar mutuamente grandes amarrados de Panchões, como fogo proprio em toda a China da actual época de anno novo, cujo 2.° dia era o de tão infeliz accontecimento. A união das Boticas, ou Lojas Chinesas de venda, os differentes artigos combustíveis, que de ordinário encerrão, e a estreitesa das ruas, ou becos, derão lugar a que o fogo tivesse maior progressão, apesar dos soccorros que não faltarão por parte dos Senhores Governadores Interinos, conjunctamentc com os Mandarins.
He innegavel que tanto a Officialidade como a Soldadesca, os voluntários Paisanos, e alguns estrangeiros se destinguirào no trabalho de derribar os telheiros para obstar o progresso da conflagração, mas não podemos occullar que isto só foi obtido dos Mandarins, (pela sua natural repugnância, e dos Chinas que supersticiosamente o não consentem) pela presença do Illustríssimo Conselheiro e Membro do Governo Sr. Miguel d’Arriaga, á cuja ordem o Mandarim com as lagrimas nos olhos via obrar tudo que ao mesmo parecia convir para a extinção do incêndio. Nós não podemos dar huma idéia mais completa, do modo por que o fogo se estendeo, e a primeira direcçâo que tomou, pela pouca exactidào, que encontramos nas diversas informações recebidas dos Chinas; podendo sómente dizer que elle se dividio em 3 lugares differentes. O numero das Boticas queimadas, huns dizem, que chegaria a 100, outros, a 60, afora 14 ou 16 lançadas abaixo. Aperca avalia-se diversamente, mas suppoem-se como certo, que entre os prédios e effeitos existentes nas I/ojas, passaria de 60, ou de 80 mil patacas. “
(1) Extraída de «Gazeta de Macau», n.º VI de 7 de Fevereiro de 1824, p. 321
26-01-1824 – Nasceu José Maria da Silva, que aos 16 anos foi estudar Gramática Portuguesa no Seminário de S. José e que fundou o jornal «O Independente, em 1867, (1) (2) falecendo em 24-07-1898. (3)
28-05-1847 – A Portaria n.º 20 desta data permite a Ana Faustina dos Santos Freitas conservar a farmácia que foi de seu marido, fornecendo medicamentos ao público por somente um ano, debaixo da direcção de José Maria da Silva e sujeita à vigilância e inspecção do cirurgião –mor de Macau. Depois disso deverá ser mandada fechar, se não for confiada a pessoa legalmente habilitada. (3)
18-06-1869 – Foi suspenso por ordem do Governador, almirante António Sérgio de Sousa, o quinzenário político e noticioso «O Independente» fundado por José da Silva. Este periódico reapareceu e foi suspenso várias vezes, tenho o seu redactor José da Silva sido mais de uma vez agredido, multado e preso pelos seus virulentos artigos de crítica contra a administração pública e ataques pessoais.(3)
(1) José Maria da Silva, redactor, proprietário e responsável de «O Independente» que se auto-intitulava jornal político e noticioso n.º 1 em 04-09-1868 até ao n.º 46 de 20-07-1869. Reaparece a 15-05.1873 (quinzenário inicialmente até 30-04-1874; a partir do n.º seguinte passa a semanário), e suspende a publicação em (?) Julho de 1880. Reaparece a 20-11-1882 até 24-07-1898.
(2) A 17-01-1889, por motivos de saúde, José da Silva passa o jornal a seu filho, Constâncio José da Silva. A 18 de Julho de 1891, José da Silva volta a aparecer como redactor principal.
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, pp. 41. 110 e 188.
(4) Por ter sido suspenso, com o mesmo título foi publicado e impresso em Hong Kong, VOL I n.º 1 de 18-09-1869
04-11-1823 – Notícia de que foi preso o Pe. Joaquim José Leite, Superior do Seminário/Colégio de S. José. Pouco depois, e por ter defendido o Superior, por escrito, quase está para acontecer o mesmo ao Pe. Luiz Alvarez Gonçalves; mas é apenas rejeitado como substituto que chegou a ser na liderança do Seminário, sendo esta entregue com o beneplácito do Bispo Chacim ao Rev. Nicolau Rodrigues Pereira de Borja. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, p. 39)
O Padre Joaquim José Leite (lazarista) chegou a Macau no dia 20 de Maio de 1801 e aqui veio a falecer com 89 anos de idade e 52 de residente, a 25 de Junho de1853. No se tempo, o Seminário estava aberto a seminaristas com vocação sacerdotal, mas também à juventude de Macau (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, p. 7)
Anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/pe-joaquim-jose-leite/
Do «Boletim do Sindicato Nacional dos Jornalistas», no n-º especial comemorativo do Tricentenário da «Gazeta», n.º4, Out/Nov/ Dez de 1941, pp. 143-144; 169-170. (1), extraí o seguinte texto sobre a evolução da imprensa escrita em Macau.
No dia 20 de Janeiro de 1824, embarcaram na fragata Salamandra o Comandante dela, Capitão de Mar-e-Guerra Joaquim Mourão Gracez Palha, futuro governador de Macau. (1) Foi muito obsequiado e saudado à hora da partida, tendo a fortaleza de S. Francisco salvado quando, dirigindo-se do Hopu da Praia Grande para bordo, a lancha que o conduzia passou a frente.“ (2) A fragata que esteve em Macau desde 23 de Setembro de 1823 até à partida em 20 de Janeiro de 1824, trouxe uma força de 200 marinheiros e oficiais vindos de Goa, (3) sob o comando do Major João Cabral de Estefique ocupando as fortalezas e impondo um Conselho do Governo. (2) (3) (4)
(1) De 1825 a 1827 é Governador de Macau, Joaquim Mourão Garcês Palha. Teve problemas financeiros e políticos, nomeadamente com as autoridades chinesas quer de Cantão quer de Pequim. Garcês Palha chegou a ser em 1848 governador geral da Índia. (2) Anteriores referências de Joaquim Mourão Garcez Palha em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/joaquim-mourao-garces-palha/
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, pp. 38-40.
(3) De 1 de Julho a 23 de Setembro de 1823, a Cidade de Macau, foi governada exclusivamente pelo Senado. Em 23-09-1823, toma posse, em substituição do Senado, um conselho presidido pelo Bispo D. Fr. Francisco de Nossa Senhora da Luz Chacim, dele fazendo parte p Major João Cabral d´Estefique e um vereador aos meses (liberal). O termo de posse foi lido no Senado, mas a provisão era do Governador de Goa, D. Manuel da Câmara. Exactamente por este motivo, as nomeações não foram bem acolhidas. Entre outras razões, foi invocado que “se o povo de Goa pode dar autoridade, por que o não poderá o de Macau? (2)
(4) “23-09-1823 – Segundo os liberais do Senado, a fragata Salamandra era o centro do alegado movimento despótico e anti-constitucional que ameaçava Macau.” (2)
NOTA: “03-01-1824- Primeiro número do periódico “Gazeta de Macao”, substituto de “A Abelha da China”. Durou até fins de Dezembro de 1826. De periodicidade semanal, era impresso na Tipografia do Governo, a cargo do Leal Senado. O parque tipográfico veio a ser posteriormente emprestado ao Superior do Colégio de S. José, P.e Nicolau Rodrigues Pereira de Borja. (2)
No dia de 23 de Agosto celebra-se a festa litúrgica de Santa Rosa de Lima (1).
Recordo o papel missionário ligado ao ensino do Colégio de Santa Rosa de Lima, em Macau, nomeadamente a acção educativa das Franciscanas Missionárias de Maria transcrevendo parte dum artigo (com fotos) não assinado, publicado no Boletim de Macau (2)
“O Colégio de Santa Rosa de Lima ficou debaixo da direcção das Franciscanas Missionárias de Maria (F.M.M.) (3) a partir de 1903. Foi no dia de 17 de Novembro de 1903, que as Franciscanas chegaram a Macau, tendo assistido ao seu embarque a própria fundadora do seu Instituto, a Reverenda Madre Maria da Paixão. Anos antes havia ela visitado Portugal por ocasião do sétimo centenário de Santo António de Lisboa, pelo qual ela tinha grande devoção, e daí levou gratas recordações do país.
Assim não recusou o pedido (insistente) de D. João Paulino de Azevedo e Castro, para a vinda de um grupo de Religiosas para Macau. Foram instaladas na primitiva habitação das monjas de Santa Clara (4) (5) e, transformado o mosteiro em colégio de educação feminina, com o nome de Santa Rosa de Lima. Assim decorreram anos, quando em 1910, as Religiosas se viram obrigadas a tomar outro rumo, deixando atrás de si uma obra.
Retomaram esse lugar, quando D. José da Costa Nunes desejando haver uma casa de educação onde fossem instruídas meninas de origem portuguesa, resolveu fazer de Santa Rosa de Lima, um centro intelectual e religioso, admitindo alunas de todas as nacionalidades, qualquer que fosse a crença que professassem. Assim em 1932 era entregue a direcção às F.M.M. este estabelecimento, que, pouco a pouco, vai ampliando e remodelando surgindo do antigo edifício, um novo que foi inaugurado no dia de 24 de Março de 1934. Posteriormente, foi construída a igreja de Santa Clara que liga o Convento com o Colégio, benzida e inaugurada no dia 25 de Outubro de 1936, festa de Cristo Rei.
No ano lectivo de 1955/1956 estavam inscritas um total de 929 alunas inscritas nas três sessões de ensino, (6) respectivamente: secção portuguesa com 220; secção chinesa com 355 e secção inglesa com 354. Os Cursos Secundários das Sessões Chinesa e Inglesa estavam oficialmente reconhecidos, dando o primeiro ingresso às Universidades da Ilha Formosa e o segundo à Universidade Católica de Washington.
Há ainda uma escola gratuita primária, para meninas pobres, chinesas, cujas aulas eram diários das 5 h às 7h da tarde. Essas aulas eram frequentadas por 158 crianças. Ministrava-se no Colégio o ensino de línguas estrangeiras, assim como o da música, tendo muitas alunas feito os exames do «Trinity College of Music» em Hong Kong.”
(1) Rosa de Lima (Lima, 20 de abril de 1586 – Lima, 30 de agosto de 1617), nome de baptismo de Isabel Flores y Oliva, foi uma mística da Ordem Terceira Dominicana, beatificada em15 de Abril de 1668 por Papa Clemente IX e canonizada em 2 de Abril de 1671, Roma por Papa Clemente X. Santa Rosa é a primeira santa nativa da América e padroeira do Peru.
(2) Macau, Boletim Informativo da Repartição Provincial dos Serviços de Economia e Estatística Geral, Ano III, n.º 60, de 31 de Janeiro de 1956, pp. 8-9.
(3) 4-10-1903 – Partiram para Macau, vindas da Europa, (chegaram a 17-11-1903), as religiosas Missionárias Franciscanas de Maria, para dirigirem o Colégio de Sta. Rosa de Lima (iniciativa de D. João Paulino de Azevedo e Castro (1902-1918) para educação de pensionistas, e órfãs, esta gratuitamente). Acolhia, como internas, raparigas de vários pontos do Extremo Oriente – incluindo Tailândia. Depois de um interregno (1916-1932), voltaram, já em tempo de D. José da Costa Nunes. Em 1933 abriu a secção chinesa. Em 1936 é inaugurado o novo Colégio-Sede, resultante de ampliação. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume III, 2015, p. 17)
(4) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/convento-de-santa-clara/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/igreja-de-santa-clara/
(5) Até 1903, era dirigido pelas Filhas Canossianas da Caridade desde 1889. Antes das canossianas, o colégio, naquela altura chamado de recolhimento, albergou as clarissas, cujo convento foi destruído por um incêndio em 1824. As irmãs foram albergadas no Recolhimento de Santa Rosa de Lima. Com o falecimento da última clarissa em 1875, o recolhimento passou a chamar-se de Colégio de Santa Rosa de Lima.
(6) As línguas de ensino do colégio foram o português, o Inglês e o cantonense. O ano lectivo 1992-1993 foi o último ano do ensino em português do Colégio Santa Rosa Lima.