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Extraído de «O Procurador dos Macaístas», Vol. I-n.º 32 de 12 de Outubro de 1844

Manuel Homem de Carvalho (Portugal c.1740-Macau 1800) não era natural de Macau, chegou ao território c. de 1760, tendo depois por via do matrimónio (casamento com Ana de Araújo Rosa, filha mais nova de Simão Vicente Rosa, proprietário da Ilha Verde) integrado na família de Vicente Rosa, uma das figuras mais importantes da cidade. Esteve ligado aos negócios  (comércio e navegação, proprietário do barco «Bons Amigos») e administração nomeadamente vereador do Senado.

31-01-1773 – Manuel Homem de Carvalho (com Bernardo Gomes de Lemos) arrematou em 1 de Setembro de 1813 em leilão por 501 taéis a Ilha Verde por falecimento da Ana de Araújo Rosa que herdou de seu pai Simão Vicente Rosa proprietário da ilha desde 1765. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume I, 2015, p. 295.)

Vicente de Paulo Salatwichy Pitter (Piter) nascido em Macau, em 10 de Janeiro de 1813 (1) e baptizado em 17 do mesmo mês, (2) (3) (4) faleceu em S. Lourenço a 9 de Julho de 1882. Filho de Pedro Alexandre Salatwichy e Josefa Antónia Favacho.

Extraído de «BPMT», VIII-28 de 15 de Julho de 1882, p. 238

Casou em S. Lourenço em 06-11-1849 com Hermelinda Joaquina Cortela Leiria (15-02-1830/2-08-1855) (5) Deste 1.ª núpcias, teve 4 filhos. Tendo enviuvado casou em S. Lourenço, em 16 de Fevereiro de 1858 com a sua cunhada Eugénia Norberta Cortela Leiria (falecida em 5-07-1902) Deste casamento teve 3 filhos.

Formou-se em medicina na Escola Médica de Goa, praticou na Ala de Medicina do Hospital Real obtendo a carta a 23-04-1839. Regressou a Macau foi nomeado cirurgião ajudante interino do Batalhão de linha e exonerado em 02-05-1865 (OFA n.º 14 de 08-07-1865) conservando no entanto as honras de cirurgião ajudante do mencionado batalhão. Foi também facultativo da superintendência da emigração chinesa.

Extraído de «BGM»,  XI-28 de 10 de Julho de 1865, p. 112

Pelos serviços que prestou gratuitamente às guarnições de vários navios de guerra franceses durante a epidemia de cólera-morbus, que assolou a cidade, foi condecorado com o hábito da Legião de Honra. Mais tarde o governo português agraciou-o com os de Cavaleiros da Legião d´Honra de Cristo e da Conceição e depois de Torre e Espada. («O Macaense, de 13-07-1882)

Ficou com o nome para sempre ligado a um famoso preparado medicinal por ele descoberto e manipulado, o «Sin Cap Dr. Pitter» ou «Chá do Dr. Pitter». (6) Tratava-se de uma infusão de oito espécies (plantas) folhas secas e miudinhas, quase todos específicos contra doenças do tubo digestivo, usados em medicina tradicional chinesa, uma infusão «considerada um bom estomáquico e eupéptico, usava-se como profiláctico, após um chá gordo ou lauto banquete, e era também muito estimada em Macau contra afecções gastro-intestinias de diferentes etiologias»  (6)

NOTA: “Aparentemente o apelido Piter parece ser uma corruptela do nome próprio do pai – Pedro ou seja, Pietro em italiano. Assim, Piter terá funcionado como um autêntico patronímico, logo assumido como apelido em detrimento do próprio apelido original da família.” (3)

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/01/10/noticia-de-10-de-janeiro-de-1813-dr-vicente-pitter/

(2) Segundo Jorge Forjaz (3) foi baptizado em S. Lourenço em 04-01-1813.

(3) TEIXEIRA, Pe. – A Medicina em Macau, Volumes III-IV, 1998, pp.138-142

(4) FORJAZ, Jorge – Famílias Macaenses, Volume ii, 1996, pp. 464-465

(5) O Dr. Pitter mandou executar uma linda lápide de mármore e alabastro para sepultura de sua esposa que jaz na parede lateral da igreja do Seminário de S. José, à direita de quem entra pela porta principal.

FOTO DO AUTOR 2015

Em cima, em alastro, aparece-nos uma urna encimada pela cruz, com uma caveira e um manto; duas crianças oram junto a uma cruz com uma coroa; na lápide de mármore, estão dois anjos, um com um ramo outro com a coroa do triunfo.(2)

FOTO DO AUTOR 2015

A lápide foi feita em 1860 por A. Bosc, em Nimes, França. Após falecimento em 1855, esteve sepultada no jazigo de família no Cemitério de S. Miguel e depois o bispo autorizou que os ossos fossem transladados para a igreja do Seminário de S. José

FOTO DO AUTOR 2015

(6) “Este famoso chá era ainda preparado em Macau, nos anos 60/70, por D. Maria Tereza Pitter, neta daquele médico. Era vendido em embrulhinhos de papel de seda cor-de-rosa  e apresentava-se sob o aspecto de um pó muito fino , castanho, e fortemente aromático, lembrando o cheiro de limão ou de laranjaAMARO, Ana Maria – Antigas receitas e segredos de Macau. O famoso chá do Dr. Piter e o já esquecido Chá Patrício. Revista da Cultura, Macau, ICM, n.º5, 1988, pp. 25-26 http://www.icm.gov.mo/rc/viewer/30005/1461

No dia 3 de Outubro de 1841 faleceu de febre maligna, no Seminário de S. José, o ilustre sinólogo, padre Joaquim Afonso Gonçalves, da extinta Congregação da Missão ou de S. Vicente de Paula, autor das várias obras destinadas à aprendizagem da língua chinesa, considerado como o primeiro grande sinólogo português em Macau. Foi sepultado no cemitério de S. Paulo e depois transladado para a igreja do Real Colégio de S. José. (1) (2) (3)

padre-joaquim-afonso-goncalvesCerva – Foto MaricelPer – Reverendo Joaquim Afonso Gonçalves (4)

O padre Joaquim Gonçalves nasceu em Tojal, concelho de Cerva, da província de Trás-os-Montes, (5) em 23 de Março de 1781 e foi baptizado na Igreja de S. João de Limões, do arcebispado de Braga. Entrou para a congregação a 17 de Maio de 1799, tomou votos em 1801 (Lazarista) e em 1812, partiu de Lisboa para Macau  onde chegou a 28 de Junho de 1813 (6) com a missão de fundar o Observatório Astonómico de Pequim. No entanto não mais saiu de Macau (excepto um período em Manila para onde fugira pelas suas ideias liberais) tendo ingressado no Real Colégio de S. José, onde aprendeu a língua chinesa tornando-se uma exímio sinólogo e onde ensinou outras matérias: português, gramática, latim, francês, inglês, teologia, aritmética, matemática, álgebra , geometria, música. (6) (7)
padre-joaquim-afonso-goncalves-iiFoi membro da Real Sociedade Asiática de Calcutá. Eleito sócio correspondente da «Academia Real das Sciencias de Lisboa» em 18 de Novembro de 1840, não chegou a receber o diploma, nem o de cavaleiro da ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, cuja mercê lhe fora decretada pelo mesmo tempo. (7)
(1) GOMES, Luís Gonzaga – Efemérides da História de Macau, 1954.
(2) A lápide sepulcral tinha a seguinte inscrição:

D. O. M.
Hic Jacet
Rev. D.Joachim Alph. Gonçalves Lusitanus
Presbyter Congregationis Missionis
In Regali Collegio S.Joseph Macaonensi
Professor Eximius
Regalis Societatis Asiaticae Socius Exter
Pro Sinensibus Missionibus Sollicitus
Perutilia Opera
Sinico, Lusitano Latinoque Sermone
Composuit Et In Lucem Edidit
Moribus Suavissimis, Doctrina Praestanti
Integra Vita, Qui Plenus Diebus
In Domino Quievit, Sexagenário Major
Non. Octobr.
Anno MDCCCXLI
In Memoriam Tanti Viri
Eius Amid Litteraturaeque Cultores
Hunc Lapidem Consecravere (8)

ARESTA, António – Joaquim Afonso Gonçalves, professor e sinólogo, 2000.
file:///C:/Users/ASUS/Downloads/Joaquim%20Afonso%20Gon%C3%A7alves,%20professor%20e%20sin%C3%B3logo.pdf
(3) A sua Necrologia saiu no Diario do Governo, n.º 20, de 24 de Janeiro de 1842.
padre-joaquim-afonso-goncalves-iii(4) http://fotos.sapo.pt/abraaomendes/fotos/?uid=yYrTOu2VkzR5fz7rrZD6#normal
(5) O Padre Joaquim Afonso Gonçalves terá nascido no lugar de Tojais, da antiga Freguesia dos Limões do antigo Concelho de Cerva, em 23-03-1781. Actualmente tudo isto pertence ao Concelho de Ribeira de Pena.
http://geneall.net/pt/forum/158263/joaquim-affonso-goncalves-p-e-1781-1841/
(6) Do Boletim do Governo de Macau:
padre-joaquim-afonso-goncalves-iv(7) PEREIRA, A. Marques – Ephemerides Commemorativas da História de Macau e das Relações da China com os Povos Christãos, 1868.
(8) Tradução: “A Deus Ótimo e Máximo. Aqui Jaz o Reverendo Sr. Joaquim Afonso Gonçalves, Português, Sacerdote da Congregação da Missão, exímio professor Real Colégio de São José, membro estrangeiro da Real Sociedade Asiática. Solicito pelo bem das missões chinesas, compôs e publicou obras muito úteis nas línguas sínica, latina e portuguesa; foi de costumes irrepreensíveis e exímios pela doutrina, sendo de vida ilibada; cheio de dias, descansou no Senhor, em 3 de Outubro de 1841, aos 60 anos de idade. Os seus amigos e discípulos dedicaram esta lápide em memória de tão ilustre Varão”.
TEIXEIRA, Padre Manuel – Vultos Marcantes em Macau, 1982.
Alguns trabalhos académicos sobre a importância do trabalho do padre Joaquim Gonçalves.,  no âmbito do português-chinês, acessíveis na net:
BARROS, Anabela Leal de – Referências interculturais oitocentistas nas obras metalinguísticas em Português e Chinês do P.e Joaquim Gonçalves, 2014.
http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0807-89672014000100005
CEN, Ana Ng – Alguns aspectos da variação linguística num manuscrito e no impresso Arte China de Joaquim Gonçalves.2015.
http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/34274?locale=en
LEVI, Joseph Abraham – Padre Joaquim Afonso Gonçalves (1781-1834) and the Arte China (1829) an innovative linguistic approach to teaching chinese grammar (2007)
https://books.google.pt/books?id=5Oo3CfOuiBcC&pg=PA211&lpg=PA211&dq=Joaquim+Afonso+
Referência anterior neste blog:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/padre-joaquim-afonso-goncalves/

Mapa Macau Ilha Verde 1622Mapa de Macau no séc. XVII (depois de 1622)

Ilha Verde (n.º 17) 
(Fac-simile reduzido da estampa «da Ásia Portuguesa» Tomo III, de Manuel Faria e Souza)

No dia 15 de Março de 1828, no escritório do tabelião José Gabriel Mendes é feita a escritura de compra da Ilha Verde, assinada pelo Pe. Nicolau Rodrigues Pereira de Borja (superior do Seminário de S. José) por parte do Seminário de Macau, a Bernardo Gomes de Lemos, que era coproprietário dessa ilha com Manuel Homem de Carvalho (1); o preço foi de duas mil patacas, nelas sendo empregue parte do dinheiro que recebeu da venda de bens da Missão Portuguesa de Pequim (2) (3)
A 22 do mesmo mês se relatam mais pormenores: tem 3.300 «paos» ou «côvados» chineses, medidos por cima do alicerce do muro velho, em circuito. A Ilha tinha casas e árvores de fruto e a venda ao Seminário permitiu resguardá-la da ocupação abusiva de chineses que já por lá iam armando barracas clandestinas, ameaçando, aos poucos, tomar domínio dela (2)

Macau visto da Lapa 1751 (Ou Mun Kei Lok)Macau vista da Lapa c. 1751

A Ilha Verde no canto inferior esquerdo
(Livro: OU-MUN KEI-LEOK, 1950)

Recorda-se que a Ilha Verde foi ocupada em 1603 ou 1604 pelos jesuítas que a conservaram em seu poder até à data da sua expulsão de Macau, em 1762. Os Jesuítas foram presos no dia 05-07-1762, às ordens de Pombal, transmitidas a Macau pelo vice rei da Índia, D. Manuel de Saldanha de Albuquerque, conde de Ega. Entre os presos encontrava-se também o encarregado da Ilha Verde, o Irmão João Álvares. Com a expulsão dos jesuítas, a Ilha Verde passou para Simão Vicente Rosa, (4) que após disputa com o Senado, aceitou-a em 14-04-1766 por 6.147 taéis que era a quantia que os Colégios de S. Paulo e S. José lhe deviam. (5)

Panorama cidade e Ilha Verde 1900Panorama da cidade e do porto interior (cerca 1900) 

A Ilha Verde ao fundo 

(1) Em 1 de Setembro de 1813, por morte de Ana Araújo Rosa, proprietário da llha Verde, que herdara do seu pai Simão Vicente da Rosa, em 31-01-1773, foi essa ilha vendida em leilão e arrematada por 501 taéis, por Manuel Homem de Carvalho e Bernardo Gomes de Lemos. Margarida Rita de Carvalho Milner processou os dois compradores da Ilha Verde, Manuel Homem de Carvalho e Bernardo Gomes de Lemos, em 22-08-1814, sob o pretexto de dever ser ela a proprietária dessa ilha, como neta do antigo dono, Simão Vicente da Rosa, mas o ouvidor, Miguel de Arriaga Brum da Silveira confirmou a venda como legalmente feita, em 18 de Abril de 1822 (GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau; SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3)
(2) Fevereiro de 1805 – Perseguição na China contra os cristãos. A 12 de Outubro foi expulso de Pequim o Bispo D. Veríssimo Monteiro da Serra, que conseguiu vender as alfaias da igreja e da casa, os instrumentos de matemática, os livros e algumas casas. O produto dessa venda, 66.800 reis, em metal, foi entregue a D. Nicolau Pereira Borja, quando D. Veríssimo voltou a Macau em 1927. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3).
(3) Luís G. Gomes refere na sua “Efemérides da História de Macau, a data de 22-02-1828 para compra da Ilha verde, no rio de Macau, pelos padres do seminário diocesano de S. José.
(4) Sobre Simão Vicente da Rosa, ver anteriores referências em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/simao-vicente-da-rosa/
(5) TEIXEIRA, Manuel – Macau e a sua Diocese I – Macau e as suas Ilhas
NOTA: referências anteriores à Ilha Verde em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/ilha-verde/    

Nasceu em Macau, o doutor Vicente de Paulo Salawitchy Pitter, Cavaleiro da Legião d´Honra de Cristo e da Conceição. Deixou o seu nome ligado a um preparado medicinal, por ele descoberto e confeccionado, chamado Sin-câp do Dr. Pitter, remédio composto de plantas medicinais, muito usado em Macau, noutros tempos, para perturbações gástricas, constipações, etc.”  (1)

O chá do Dr. Pitter ou chá sin-cap era o chá mais popular e mais famoso entre a população portuguesa de Macau até meados do século XX. para os “problemas do estômago”. A receita, por ser um segredo de família foi guardado durante muito tempo. (2) (3). Na verdade  era um preparado de oito espécies (plantas), todas elas utilizadas na Medicina Tradicional Chinesa, e com acção comprovada no tubo digestivo.
(1) GOMES, Luís G. Efemérides da História de Macau. Notícias de Macau, 1954, 265 p.
(2)  “…o chá sin-cap era uma especialidade de muito apreço no meio de Macau. A designação macaense, não seria, pois, mais do que uma corruptela de scented caper, uma vez que o termo sin-cap não é considerado, pelos sinólogos, um vocábulo chinês, nem sequer conhecido fora do comércio que mais está em contacto com pessoas de hábitos macaenses. Um dos propagandistas desse chá sin-cap, se é que não foi o seu autor era um cirurgião, o Dr. Vicente Pitter, de origem estrangeira, mas nascido e velho residente em Macau, onde pelo casamento esteve ligado a família portuguesa”
SOARES, José Caetano – Macau e a Assistência. Edição da Agência Geral das Colónias, 1950
(3) “A família do Dr. Pitter sabia preparar um sin-cap especial em pó. Quando elle vivia, iamos jantar em casa d´elle no dia do seu aniversário ou de qualquer pessoa da família, e obrigava-me a tomar uma cháavena de sin-cap, logo depois de um lauto jantar…”
Carta do macaense Francisco Pereira Marques ao seu primo João Feliciano Marques Pereira (1863 -1909)
NOTA: Informações recolhidas do artigo de AMARO, Ana Maria – O famoso Chá do Dr. Pitter e o já esquecido Chá Patrício. Revista de Cultura, n.º 5, Ano II, 2.º Volume