Archives for posts with tag: 1635

SETEMBRO de 1631– Vindo de Canará, onde servia como Capitão-Mor da Armada, encontra.se desde Setembro em Macau, o novo Capitão-Mor, Manuel da Câmara de Noronha que exerce o cargo por 6 anos. (1) (2) No seu tempo teve que lidar com as ordens de Goa, a reacção do Senado de Macau, agitação quase a chegar ao motim … mas conseguiu, até 1637 (fim do seu mandato) a prosperidade do comércio entre o entreposto que governava e Nagasaqui, (3)

(1) 1630 – Depois de curto período de vagatura, entra como Capitão-Geral de Macau D. Jerónimo da Silveira que teve embora na curta duração do seu mandato, boas relações com a população. Foi no seu tempo uma representação do Rei de Portugal para, no Japão, tentar melhorar as relações, que estavam tensas. (4) A meio deste ano, D. Jerónimo delegaria o cargo no irmão, D. Gonçalo. (5) Em 1631, o Vice-Rei da Índia, cedendo a pressão de intrigas, substitui o capitão geral de Macau e nomeou o seu parente D. Manuel da Câmara de Noronha. D. Jerónimo da Silveira não sobreviveria a um ataque holandês no regresso de Macau a Goa, por alturas do Estreito de Singapura. (3)

(2) 11-11-1630 – Manuel da Câmara Noronha que governou depois Macau de 1621-1636 atacou valorosamente com a sua galé e incendiou uma nau dinamarquesa, armada com 20 peças grossas, na costa de Cochim. Durante o seu governo, chegou a Macau, em 1635, a primeira nau inglesa London, fretada pelo Vice-Rei da Índia, a qual regressou a Goa, carregada de artilharia da fundição do célebre Manuel Tavares Bocarro. (3)

(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia de História de Macau, Volume I, 2015, pp. 145-146 – 147-148-149)

(4) 1631 – Partem de Macau para Nagasaqui cinco galeotas mas duas perdem a viagem. (3)

1632-Uma galeota, a Nossa Senhora do Rosário, perde a viagem ao Japão. (3)

1633- Grande colapso financeiro dos mercadores portugueses de Nagasaqui. Uma das galeotas de Lopo de Sarmento afunda-se durante a viagem. (3)

1634- Partiram 5 galeotas mas uma foi capturada pelos piratas chineses  e 3 forçadas a regressara Macau. Manuel Ramos foi enviado para Macau para administrar as viagens do Japão como representante do Tesouro Real. Fim do contrato de Lopo Sarmento. Concedida audiência a D. Gonçalo da Silveira. (3)

(5) 20-07-1630 – D. Jerónimo da Silveira propôs, na casa da Câmara o seu irmão D. Gonçalo da Silveira para o substituir no posto da Capitão-Geral, proposta esta que foi aceite por unanimidade. (GOMES, L.G. -Efemérides da História de Macau, 1954).

01-12-1630 – Posse do capitão-geral D. Gonçalo da Silveira (3)

01-12-1632 – D. Gonçalo da Silveira fez a entrega da capitania-geral de Macau a Manuel da Câmara de Noronha (3)

“O cronista António Bocarro escreve: «Os casados que tem esta cidade são oitocentos cinquenta Portugueses e seus filhos que são muito mais bem dispostos, e robustos, que nenhuns que haja neste Oriente, os quais todos tem uns por outros seis escravos de armas de que os mais e milhores são cafres e outras nações com que se considera que assim tem balões (1) que eles remam pequenos em que vão a recrear-se por aquelas Ilhas seus amos poderão também ter manchuas (2) maiores que lhe servirão para muitas coisas de sua conservação e serviço de Sua Magestade.

Além deste número de casados Portugueses, tem mais esta cidade outros tantos casados entre naturais da terra, Chinas cristão que chamam jurubassas (3), e outras nações todos cristãos e assim os Portugueses como estes, tem suas armas mui boas de espingardas, lanças e outras sorte delas, e raro é o Português que não tem um cabide de seis ou doze mosquetes e pederneiras e outas tantas lanças porque os fazem dourados que juntamente lhe servem de ornamento das casas.

Tem além disto esta cidade muitos marinheiros, pilotos e mestres Portugueses os mais deles casados no Reino, outros solteiros que andam nas viagens de Japão, Manila, Solor, Macassar, Cochinchina, destes mais de cento e cinquenta, e alguns são de grossos cabedais de mais de cinquenta mil xerafins que por nenhum modo querem passar a Goa por não lançarem mão deles ou as justiças por algum crime (4), ou os V. Reis para serviço de Sua Magestade e assim também muitos mercadores solteiros muito ricos em que militam as mesmas razões.

Tem mais esta cidade capitão geral que governa as cousas de guerra com cento e cinquenta soldados em que entram dois capitães de infantaria, e outros tantos alferes e sargentos, e cabos de esquadra, e um ajudante, um Ouvidor, um meirinho que administra justiça; vence o Ouvidor cem mil réis de ordenado consignados na alfândega de Malaca. E ministros eclesiásticos tem um Bispo que hoje é morto (5) e ainda não está provido (6), que vence dois mil xerafins de ordenado pagos na alfândega de Malaca» (7).” (8)

(1) O balão era uma espécie de almadia na Malásia, escaler ou galeota na Índia.

(2) Manchua era uma embarcação leve na Àsia.

(3) Juru-mestre; bahasá-língua, i. e., «mestre da língua» ou intérprete.

(4) Vê-se que havia cá vários criminosos fugidos da Índia.

(5) D. Diogo Correia Valente, S.J. falecido a 22 de Outubro de 1633.

(6) A diocese ficou vaga até 1690, em que foi nomeado bispo D. João do Casal que governou até 20 de Setembro de 1735, em que faleceu com 94 anos de idade. Ver: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/d-joao-do-casal/

(7) Bocarro, citado por C. R. Boxer, Macau na época da Restauração, pp. 28-29.

Ver anteriores referências: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-bocarro/

(8) Extraído de TEIXEIRA, P. Manuel – Macau Através dos Séculos, 1977, pp. 16-17

A 13 de Julho de 1635, aportou a Macau o “London” o primeiro navio inglês que veio à China. (1) O investigador Rogério Puga (2) refere a data de 23 de Julho:  “Após a suposta estada do escocês William Carmichael em Macau, um grupo de ingleses, acompanhados pelo feitor português Gaspar Gomes, parte, por proposta do vice-rei Conde de Linhares, de Goa a bordo do London em Abril de 1635 (sob o comando de Mattthew Willis)  e chega à China a 23 de Julho, sendo recebidos com relutância quer pelos feitores portugueses que com eles viajam, quer pela oligarquia local. Gomes deve assegurar-se de que os marinheiros ingleses não causam distúrbios, não ofendem os residentes durante celebrações religiosas, ou bebem demasiado álcool, punindo severamente qualquer ofensa. De início não são os residentes de Macau que dificultam o desembarque dos ingleses, mas sim os portugueses que que viajem no London, travando as duas partes uma luta de interesses que termina duas semanas mais tarde, quando os agentes e três empregados da E.I.C. (“East India Company“) são autorizados a estabelecerem-se em terra- O vice-rei de Goa havia proibido secretamente o desembarque” (3)

A primeira viagem comercial dos ingleses à China seria em 1637 quando Carlos I envia à China o Cap. John Weddell para abrir comércio com o Império do Meio; essa expedição de três navios chegaram a Macau em 1637; daqui seguiu para Cantão, onde tentou entrar pela força. Mas aos 6 meses de tentativas inúteis, retirou-se. Dado à falta de tacto deste homem, os ingleses tiveram de esperar quase um século. (4) Só em 1715, os ingleses foram autorizados a construir nos subúrbios de Cantão e nas margens do rio uma feitoria e ali iam comerciar todos os anos os navios britânicos

(1) Segundo A. Marques Pereira (“Ephemerides Commemorativas…”) data retirada de “Chronology”

(2) Anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/rogerio-miguel-puga/

 (3) PUGA, Rogério Miguel – A Presença Inglesa e as Relações Anglo Portuguesas em Macau (1635 -1793). 2009, pp. 41-42

CAPA

Este livro editado pelo Centro de História de Além-Mar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa/Universidade dos Açores e pelo Centro Científico e Cultural de Macau, I.P. foi publicado em 2009, 207 p. (ISBN 978-989-95563-4-8), 24 cm x 17 cm.

Conracapa

Posteriormente foi publicado a versão inglesa (tradução suportada pela Universidade de Macau) com edição da Royal Asiatic Society Books/ Hong Kong University Press, em 2013 “The British Presence in Macau 1635-1793”.208 p. ISBN 978-988-8139-79-8; 23, 5 cm x 15,5 cm.

A versão inglesa está acessível para leitura em: https://hkupress.hku.hk/pro/con/878.pdf

Contracapa

(4) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol. I e Vol. 2, 1997.

Data atribuída à chegada de Peter Mundy a Macau, o dia 5 de Julho de 1637 (1) (2) (3). No entanto, a frota onde vinha Peter Mundy) do capitão John Weddell e Nathaniel Mountney, comandantes da esquadra de quatro navios e duas pinaças enviada a Cantão em 1637 pela Courteen Association (com licença régia concedida em 1635 pelo rei inglês Carlos I) (4), chegou à Ilha da Montanha no dia 27 de Junho de 1637 e já no dia 28 de Junho, o próprio Peter Mundy com John Mountney e Thomas Robinson foram enviados à terra numa lancha com as cartas do rei e do Almirante dirigidas ao capitão General de Macau, Domingos da Câmara de Noronha para obter autorização para ancorar na Ilha da Taipa.
A tripulação dos navios estrangeiros estavam proibidos de ir à terra nem eram permitidas visitas a bordo – interditos todos os contactos dos estrangeiros com os locais – com excepção dos convites oficiais por parte as entidades de Macau (e nessa qualidade Peter Mundy pode visitar e descrever no seu diário (5) as impressões de Macau, bem como desenhos) ou a visita à frota inglesa do Procurador de Macau (no dia 28 de Junho de 1637) e do mandarim chinês no dia 1 de Julho.
Peter Mundy terá visitado ao Igreja e Convento de S. Paulo no dia 07-07-1637 (6)
Mais um pequeno extracto do diário (7) correspondente ao dia 8 de Outubro aquando da visita à cidade a convite do governador e do Conselho da Cidade a 4 individualidades, o comandante Weddell, o pastor, Cristopher Parr (comissário do Dragon) e Peter Mundy tendo este descrito o jantar “numa bela casa ricamente mobilada com baixela de prata, biombos, cadeiras, alcovas, tapeçarias …(…)
O nosso jantar foi servido em baixela, sendo a meu ver muito bom e saboroso; mas a maneira de servir era muito diferente da nossa, pois a cada pessoa era servida uma porção igual de cada espécie de carne, trazida em duas salvas de prata, sendo repetidas algumas vezes, pois antes de acabar um prato, já estava outro pronto para ser servido. O mesmo sucedia com as bebidas: cada um tinha uma taça de prata numa bandeja; apenas esvaziada, era de novo cheia com excelente e bom vizinho português pelos serventes que ali estavam prontos para esse fim. Havia também variada e boa música de canto, harpa e guitarra… (…)
… Neste lugar há muitos homens ricos, trajando à maneira de Portugal. As suas mulheres, como as de Goa, vestem-se com saraças e condês, (8) este sobre a cabeça e as outras do meio do corpo até aos pés, e andam calçadas de chinelas chatas, É este o trajo ordinário das mulheres de Macau. Só as de melhor categoria são transportadas em cadeiras à mão, como as cadeirinhas em Londres, todas totalmente cobertas algumas das quais são muito caras e ricas, trazidas do Japão. Mas quando saem sem elas, a patroa dificilmente se distingue da criada ou escrava pela aparência exterior, todas inteiramente cobertas, mas as suas saraças ou (?chailes) são de melhor qualidade. “(3)
No Volume III, Part. II do mesmo livro, logo no início, o autor descreve a partida de Macau: Dezembro de 1637/ Janeiro de 1638
(1) GOMES, Luís Gonzaga – Efemérides da História de Macau, 1954.
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol 1, 1997.
(3) TEIXEIRA, P. Manuel – Macau através dos séculos, 1977).
(4) Terá sido a primeira embaixada britânica de comércio à China. Em 13 de Julho de 1635, após autorização aos ingleses de comerciar nos portos portugueses, dava entrada em Macau, o primeiro barco inglês. (2)
(5) Peter Mundy (1600-1667?) natural da Cornualha, mercador, viajante, é considerado um dos mais famosos viajantes ingleses pelas suas muitas viagens pela Europa e Àsia.
Sir Richard Carnac Temple (1850-1931) e Miss Lavinia Mary Anstey editaram (adaptação e comentários) com o patrocínio da Hakduyt Society, em 1907, os diários de Peter Mundy com o título “The Travels of Peter Mundy in Europe and Asia (1608-1667)”  em 5 volumes.
As referências a Macau encontram-se principalmente no Vol. III, Part. 1:
Imagens extraídas de:
https://archive.org/stream/travelsofpetermu31mund#page/n7/mode/2up
(6) A data provável da conclusão da fachada de pedra da Igreja da Madre de Deus (SD. Paulo é de 1637.
(7) Ver anteriores referências a Peter Mundy em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/peter-mundy/
(8) O Condê era uma espécie de véu que cobria a cabeça e o tronco e a saraça um vestido de linho fino, que se segurava ao condê e ia da cintura aos pés. Quando o condê caía, apareciam as imodestas O bispo D. Alexandre Pedrosa Guimarães condenou este trajo em 1779, pois dizia ele, quando o condê «cai, se descompõem indecorosamente nos lugares mais modestos» (3)
No Volume III, Part. II do mesmo livro, logo no início, o autor descreve a partida de Macau: Dezembro de 1637/ Janeiro de 1638.
Imagens extraídas de:
https://archive.org/stream/travelsofpetermu32mund#page/n7/mode/2up

Foi reformada, nesta data,  a estadia de chineses residentes na cidade, proibindo-se aos proprietários de lhes alugar os seus chales, boticas e casas, a não ser àqueles que negociassem em comestíveis e aos artífices, devendo ser aquarteladas o mais possível no bazar, sendo ao mesmo tempo ordenada a construção duma muralha, desde as casas de António José da Costa até ao gudão (armazém) da Praia Pequena, a fim de se evitarem os contínuos embarques e desembarques dos chineses na cidade. Foram também proibidos o estabelecimento de quaisquer lojas chinesas de comestíveis ou bebidas fora do bazar e o aluguel de lojas situadas nas praias (1)
Recorda-se que D. Francisco Mascarenhas, Fidalgo da Casa Real, Capitão-Geral e primeiro Governador da Cidade de Macau, funções que assumiu em 17 de Julho de 1623, foi quem mandou cercar a cidade com uma muralha e aperfeiçoou o sistema de fortificação. Posteriormente foram-se acrescentando outras mais pequenas e “interiores” .

Mapa Macau Barreto Resende 1635As muralhas já existentes em Macau depois de 1630
Planta de Macau desenhada por Barreto de Resende para uma das vias originais do Livro das Fortalezas da Índia Oriental do cronista António Bocarro (ms. Goa, 1635) (2)

(1) GOMES, Luís Gonzaga – Efemérides da História de Macau.
(2) http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-218-53.htm-
Este mesmo mapa já publicado em anterior “post” (embora “a preto e branco”) com indicação de «Macau em 1632» :
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/11/09/leitura-ragionamenti-di-francesco-carletti-fiorentino-sopra-le-cose-da-lui-vedute-ne%C2%B4suoi-viaggi-si-dell%C2%B4indie-occidentali-e-orientali-come-d%C2%B4altri-paesi/