09-09-1607Tentativa holandesa para atacar e tomar Macau: oito navios holandeses, o “Orange” (capitânea), o “Maurício”, o “Erasmo”, o “Eunhice”, o “Delft”, o “Pequeno Sol”, o “Pombinha” e um iate, com uma tripulação de 551 homens e comandados pelo almirante Cornelis Matelieff, foram escorraçados das águas de Macau, por seis navios portugueses, tendo o inimigo perdido uma das naus e o iate” (1). “Assim se gorou a tentativa de impedir a largada da Nau do Trato para Nagasaqui” (2) (3) (4)

“Mauritius”, desenho de Hendrick Cornelisz em 1600
https://en.wikipedia.org/wiki/Cornelis_Matelief_de_Jonge

Na verdade nesse dia não houve batalha naval e explica-se pelo seguinte:
O almirante Cornelis Matelieff de Jonge (5) e a sua armada chegaram ao rio das Pérolas no dia 28 de Agosto de 1607, fundeando ao largo onde pudesse avistar a cidade de Macau, O capitão aguardou pela resposta a uma carta que enviou ao Mandarim de Cantão solicitando-lhe autorização para se dirigir para lá com os seus navios. Mas este (muito possivelmente subornados pelos portugueses) não lhe respondeu. No dia 9 de Setembro os seis navios de alto bordo portugueses acompanhados por três fustas (6) navegaram em direcção à armada holandesa e aguardando ventos mais favoráveis para atacar. Ao amanhecer do dia 10 de Setembro, o “Eendracht” encalhou e o “Erasmus” acorreu em seu auxílio para não ser assaltado pelos fustas portugueses. Como não foi possível desencalhar o “Eendracht”, Matelieff deu ordem para que fossem retiradas dele a artilharia e a guarnição e provavelmente para que fosse queimado. Nessa noite devido à inferioridade numérica da armada holandesa e o facto de os navios holandeses já terem a bordo carga valiosa, o capitão decidiu não dar combate aos portugueses, tenho partido no dia seguinte. Ainda foram perseguidos pela armada portuguesa que desistiu da perseguição nos dia 12, já que os galeões portugueses tinham menor velocidade e menor capacidade para bolinar. (7)
(1) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954.
(2) PIRES, Benjamin. V.- Taprobana mais além… presenças de Portugal na Ásia, 1995. p. 234,  in SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume I, 2015, p. 67.
(3) Saturnino Monteiro tem outra opinião: “Naquela cidade (Macau) estava, nessa altura, preparando-se para seguir para o Japão, a nau de André Pessoa, que ali tinha chegado acompanhada por cinco dos galeões que haviam combatido com os holandeses em Pulo Butum. É de supor que, por intermédio de navios vindos de Chinchéu, os portugueses tenham sido informados da presença da armada holandesa no estreito da Formosa, o que os levou de imediato a sustar a saída da nau, que, por este facto, acabou por deixar a monção, ficando sem efeito a viagem ao Japão.“
MONTEIRO, Saturnino – Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa Volume V (1604-1625), 1994.
(4) Foi a 3.ª tentativa dos holandeses invadirem Macau após os primeiros navios holandeses terem aparecidos na costa de Macau em 1599: a 1.ª tentativa foi em 27 de Setembro de 1601; a 2.ª em 30 de Julho de 1603 e a 3:º em Setembro de 1607. Em 1609, os holandeses tomam parte de Ceilão e estabelecem a primeira feitoria no Japão e em, 1610, devida à intriga holandesa, dá-se o fim do comércio de Macau com o Japão, embora o corte não fosse definitivo. Há uma nota datada de 1620:
28-07-1620 – Foi atacado por holandeses o patacho S. Bartolomeu, capitaneado por Jorge da Silva, quando seguia na sua viagem para o Japão. Os negociantes que iam nela prometeram construir uma ermida a Nossa Senhora da Penha de França, no caso de saírem salvos do ataque, promessa que cumpriram, entregando a sua oferta ao prior do Convento dos Agostinhos, Simão de Santo António e ao Procurador do mesmo Convento, Fr. Aurélio Coreto”. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 1, 1997).

Retrato de Cornelis Matelief de Jonge, pintura de Pieter van der Werff, c. 1700
Propriedade de Rijksmuseum

(5) Cornelis Matelieff de Jonge,(1569-1632) almirante holandês ao serviço da “Companhia Holandesa das Índias Orientais” (formada em 1602, dois anos depois da formação da “Companhia Inglesa das Índias Orientais” com o objectivo de conquistar supremacia face a ouros países europeus da rota comercial com o Oriente.), recebeu instruções de conquistar Malaca aos portugueses, mas a armada de Matelieff foi afugentada do estreito de Malaca pela esquadra do vice-rei D. Martim Afonso entre 17 a 24 de Agosto de 1606 (Batalha do Cabo Rachado). Mas por um erro estratégico do vice-rei (divisão da armada em duas esquadras) entre 27 a 28 de Outubro de 1606, deu-se a Batalha da Ilha das Naus, uma das mais importantes da História marítima portuguesa (marca a decadência de Portugal como a grande potência naval no Oriente) em que a armada holandesa impôs uma severa derrota aos portugueses.. Posteriormente, de 8 a 13 de Dezembro de 1606, deu-se a Batalha de Pulo Butum em que a esquadra de D. Álvaro de Meneses derrotou Matelieff, repondo o equilíbrio naval existente na altura.
MONTEIRO, Saturnino – Batalhas e Combates da Marinha Portuguesa Volume V (1604-1625), 1994.

A armada de Matelieff, desembarcando tropas em Malaca, em 1606
https://pt.wikipedia.org/wiki/Cornelis_Matelieff_de_Jonge

(6) Embarcação comprida, de fundo chato, de vela e remos, de um ou dois mastros.
(7) “Setembro de 1607. — O Almirante Cornélio Metelieff tinha partido para ir soccorrer Ternate em 3 de Maio de 1607 com uma frota de oito navios; o Orange (capitanea), o Mauricio, o Erasmo, o Enchuise, o Delft, o Pequeno Sol, o Pombinho, e um hiate — com uma tripulação de 5 5 1 homens, sendo 4S1 brancos e 50 negros. Depois de ter estado,sem conseguir grande cousa, em Tidore e em Ternate, e construído com grande difficuldade um forte n’este ultimo logar, seguiu MateliefF para os mares da China em 29 de Junho do mesmo anno de 1607.
Não é meu propósito dar conta do que aconteceu n’esta viagem, porque brevemente a transcreverei n’estes Annaes, devidamente traduzida. E, por isso, basta indicar, por agora, que Metelieff chegou a 28 de Agosto ao rio de Cantão, e que, depois de longas negociações com os mandarins, que o cançaram com os costumados subterfúgios e lentidões desesperadoras da diplomacia chineza, teve em 9 de Setembro seguinte de fazer frente a 6 navios portuguezes sahidos de Macau.
Estavam os hollandezes fundeados junto á ilha de Lenteng-Van ou Lin-Tin. Fez o almirante falia aos marinheiros e preparou-se para o combate. Mas isso não impediu que a frota holandeza fugisse vergonhosamente de vir ás mãos com os portuguezes até que, no dia 12, se afastaram das aguas de Macau, depois de terem perdido um navio, o vacht que acompanhava a esquadra, e que foi mettido no fundo pelos próprios hollandezes, segundo diz a narrativa por elles feita. Com mais alguma determinação da parte dos portuguezes, os tres grandes navios ficariam prisioneiros e poderiam os nossos entrar em Macau com mais esse tropheu de victoria alcançada contra esses corsários que nunca conseguiram apoderar-se da cidade do Santo Nome de Deus em todas as repetidas tentativas que para isso fizeram.
Hollandezes contra Macau”Ta Ssi Yang Kuo Archivos E Annaes Do Extremo Oriente Portuguez 1899-1900 Série I – Vols. I e II, edição 1984, pp. 255-256.