Celebra-se hoje, em Macau, a festa da deusa A-Ma.
Publico assim um folheto turístico do Templo A-MA, editado pelo Museu Marítimo (creio, na década de 20 deste século), em trilingue (chinês, português e inglês).
Dimensões: capa: 30 cm x 14 cm
Continuação da postagem anterior (1), leitura do texto referente à festividade no pagode HONG CHAN KUAN MIU, publicado no jornal «O Independente», Vol I, n.º 16 de 18 de Dezembro de 1868, p. 135.
O pagode Hong Chan Kuan Miu 康真君廟 deu nome ao Largo do Pagode do Bazar, que fica entre a Rua de Cinco de Outubro (outrora Rua Nova de El-Rei) e a Rua do Guimarães. O Largo tem de um lado o pagode e do outro a Rua de Miguel Aires. O pagode do Bazar da toponímia local é precisamente o templo Hong Chan Kuan Miu. O templo foi construído em 1792 e no reinado de Daoguang (1820-1850) foi ampliado. O Pagode é vulgarmente conhecido por Hong Kong (Kung) Miu 康公廟 (1) (2)
Extraído de «O Independente», Vol I, n.º 16 de 18 de Dezembro de 1868, p. 135.
(1) TEIXEIRA, Padre Manuel – Pagodes de Macau, 1982, p.153 (2) https://www.youtube.com/watch?v=AAO6oF_Xp7g
Em 9 de Fevereiro de 1946, no fim da tarde, a seita de Lei Peng Su rapta FuTak Iam, (1) que estava no templo de Kun Iam, a conversar com o bonzo do Pagode e mantem-no sequestrado cerca de cinquenta dias, numa casa da Rua Bispo de Medeiros, à espera que a sua família pague o resgate. Foram seis os pistoleiros comandados por Mak Va Ian, “bem vestidos, de cabelo cortado à escovinha e fortemente armados “ (segundo o bonzo que foi testemunha do rapto) (2)
Para demonstrar que se tratava de um rapto espectacular e sujeito a todas as consequências, os raptores cortaram uma orelha a Fu e enviaram-na à família, que cedeu à pressão fazendo a entrega de uma elevada quantia em notas do BNU (3) (4)
As investigações apontaram para uma enorme cabala de que foram mentores agentes e graduado da PSP. “Segundo as declarações feitas mais tarde por alguns dos arguidos, do «bolo» couberam duzentas mil patacas a Sebastião Voltaire Morais, chefe da P.S.P., e cem mil a Lei Pung Su, chefe da quadrilha – os restantes negam ter recebido algum dinheiro.” (5)
(1) Fu Tak Iam 傅德蔭 (1895-1960) foi o maior acionista da sociedade Tai-Heng Limitada (também referida como Tai Hing) concessionária do jogo no Hotel Central, constituída em 20 de Abril de 1937 (ano que chegou a Macau, proveniente de Cantão) com o capital social de um milhão de patacas, das quais seiscentas e trinta e nove mil foram por ele subscritas. Era dono da ponte cais n.º 16 e do navio Tai Loy, de estabelecimentos comerciais e industriais e de prédios urbanos. A partir de 1947, principal sócio do banco Tai Fung. (3)
Foi condecorado em nome do Presidente República (general Craveiro Lopes) com o grau de Oficial da Ordem Militar de Cristo, em 27 de Junho de 1952 aquando da visita do Ministro do Ultramar, Sarmento Rodrigues a Macau. Morreu em Hong Kong em Novembro de 1960.
Anteriores referências neste blogue em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/fu-tak-iam-fu-laorong/
Aconselho leituras de: a) Programa da TDM – Canal Macau, 17 Outubro 2019 – Livros com João Guedes – The Fu Tak Iam Story , disponível em https://www.youtube.com/watch?v=OMFpG4h0kbI b)ttps://hojemacau.com.mo/2018/02/02/casinos-familia-de-fu-tak-iam-primeiro-magnata-do-jogo-cria-fundacao-em-macau/
(2) “A acção do rapto é tão rocambolesca que um dos automóveis utilizados se avaria na Rua Horta e Costa, tendo os raptores tempo para o reparar sem que ninguém se aperceba do que acontece” (5).
(3) JORGE, Cecília; COELHO, Rogério Beltrão – Roque Choi Um Homem dois sistemas. Livros do Oriente, 2015, pp. 44-49)
(4) “As exigências dos raptores vão mais longe. Obrigam Fu, ainda em cativeiro, a escrever uma carta ao Governador propondo medidas para facilitar a vida das seitas e, já em liberdade, exigem mais dinheiro, sob pena de correr perigo a vida de Ho Yin, na altura sócio de Fu, que também tinham em seu poder” (3)
“Os raptores obrigam Fu a escrever uma carta ao governador dando-lhe «sugestões» para o comportamento dos polícias. Segundo a missiva, o governador não deveria autorizar rusga na cidade apoiada por soldados africanos, os únicos temidos pela quadrilha” ” (5)
(5) SÁ, Luís Andrade de – A História na Bagagem, Crónicas dos Velhos Hotéis de Macau, ICM, 1989, pp. 135-139
No dia 3 de Setembro de 1839, reinado de Daoguang, o comissário Imperial Lin Zexu (1) acompanhado por Deng Tingzhen, (que era nesse ano Vice-Rei de Liangguang – Guangdong e Guangxi), que chegaram a Cantão em Março desse ano, vieram da Casa Branca/Qianshan (2) para Macau, acompanhados por centenas de soldados, através da Porta do Cerco. À espera do Comissário Imperial Lin Zexu estavam o Procurador José Baptista de Miranda e Lima, com o grau de mandarim outorgado pelo Imperador Wan-Li (1573-1620) (e não, o então Governador Adrião Acácio da Silveira Pinto – 1837-1843) e uma guarnição de cem soldados alinhados ao longo dos dois lados da rua e três bandas de música.
Lin Zexu declarou a Miranda e Lima a proibição do armazenamento e comércio de ópio dentro da cidade e se fosse encontrado algum estrangeiro com essa substância, deveriam reportar às autoridades chinesas e prenderem-no. Em nome de Macau, o Procurador concordou e prometeu cooperar com o Governo do Império Celeste, aceitando ficarem os portugueses neutrais no conflito sino-britânico e não permitir às forças invasoras inglesas usarem como base Macau durante o conflito.
Lin Zexu e o Vice-Rei de Liangguang, Deng Tingzhen apenas ficaram umas horas em Macau, pois ao meio-dia desse dia o Comissário retornou para Casa Branca/Qianshan, sendo acompanhado pelos portugueses até à Porta do Cerco.
Em Macau, existe um Memorial no Templo de Lin Fong fundado em 1997 e uma Fundação Lin Zexu, criada em 1998, para promover e estudo da sua actuação nas guerras de ópio e sua relação com o território (3)
https://en.wikipedia.org/wiki/Lin_Zexu
(1) Lin Zexu (1785-1850) (Lin Tse-hsü; Yuanfu) , comissário imperial da dinastia Qing, vice-Rei de Liangguang (Guangdong e Guangxi) no ano de 1840, sucedendo a Deng Tingzhen vice-Rei de 1836 a 1839), governador geral, conhecido pelor seu papel na Primeira Guerra do Ópio de 1839–42. O Imperador Daoguang apoiou as políticas de linha dura defendidas por Lin, mas depois culpou-o pela guerra desastrosa para a China.
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/qianshan-casa-branca/
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume II, 2015, p. 87)
Sobre este assunto aconselho leitura de José Simões Morais em: https://hojemacau.com.mo/2016/05/02/lin-zexu-visita-macau/
À mesa onde, em Julho de 1844, foi assinado o tratado comercial sino-americano (3)
(1) Coleccão Macau – LH105; 17,5 cm x 12,5 cm. Anteriores referências a esta mesa em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/tratado-de-wanghia/
(2) 譚永強 – mandarim pīnyīn: tán yǒng qiáng; cantonense jyutping: taam4 wing5 koeng4
(3) Macau, suplemento da revista «Via Latina», Maio 1991, p. 60