Archives for category: Relação Macau – Inglaterra

A 17 de Janeiro de 1802, numa carta de Lord Wellesley, Governador Geral da Índia Inglesa, ao Governador de Macau, anunciava que, na sequência da notícia vinda da Europa em como os portugueses e franceses tinham feito um acordo que comprometia os interesses de Sua Majestade Britânica, dera ordens às forças inglesas estacionadas em Cantão para ocupar Macau e a “rendição de «Macau e sua dependências»deveria processar-se em termos pacíficos” (1)

Embora esta ameaça não fosse concretizada, a Companhia Inglesa das Índias Orientais continuava, na correspondência ao Governador de Macau José Manuel Pinto, a informar que os franceses pretendiam apossar-se do território e que a Inglaterra estava pronta a ajudar. 

A 22 de Março de 1802, dá-se o episódio narrado no jornal “A Liberdade”, mais uma tentativa habilidosa de ocupar o território.

A Liberdade» Ano 1-n.º 7 de 30 de Agosto de 1890.

(1) SILVA, Beatriz Basto da Silva – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.

Extraído de « BGPMTS» I-4 de 11 de NOV 1854.

Sir James Stirling (1791-1865) foi um oficial da Marinha Inglesa e administrador colonial – 1.º governador e Comandante em Chefe da Australia (Oeste). Em 1854 era “Commander in Chief, China and the East Indies Station“.

«HMS Encounter» (1846- 1866) at Ningpo in 1862
https://en.wikipedia.org/wiki/HMS_Encounter_(1846)

«HMS Encounter» que estava estacionada na China para patrulha das suas águas em Abril de 1854 efectuou em operações conjuntas anglo-americanas (HMS Grecian and USS Plymouth) contra as tropas imperiais chineses em Shanghai. De Setembro a Outubro de 1854 integrava o esquadrão naval de 4 navios de guerra comandado pelo então vice almirante Sir James Stirling . A 3 de Novembro de 1854 efectuou ataques aos piratas nas águas perto de Macau. 10 dias depois atacou e tomou uma bateria chinesa na costa  e destruiu vários juncos na Baía de Coloane.

Extraído de «TSYK»,  I- 45 de 11 de Agosto.

MACAO

An alien city rimmed by shallow seas
And purple islands, as the world extreme;
A siren of indolence and ease
Where men live at peace and poets dream
 
Clouds pass, men come and go, the seasons change,
But time moves on, although the clocks pretend,
Her beauty is familiar and strange …
Who, knowing her, shall not proclaim her friend?
 
I shall remember many of her way:
The signbords swingind in the autumn gales,
And on her inlets and tourquoise bays
The idle junks with safron coloured sails.

The yellow hour of twilight that recedes
The darkness burning with unnumbered stars
Dice rolling and men counting little beads,
The show sad songs girls sing to their  guitars.
 
A child cuts firewood in a coblet street
A crowd collects to watch two cricketsfight,
A city sonolent with nooday heat,
Transformed and shadowed with romance by night.
 
These memories and many others such
I shall retain; and underneath their charm
One of a woman I loved too much
And pray  that none may ever come to harm.
                                          Gerald Jollye
 

A baía da Praia Grande, a Igreja da Penha e o Hotel “Boa Vista”
 

Gerard Humphrey Jollye (1921-1950) Como militar britânico, no 1.º Batalhão no Norte de África foi ferido e como membro do Serviço Civil Malaio, morto aos 29 anos de idade, pelos comunistas na insurreição comunista na Malásia, numa emboscada perto de Malaca em 13 de Dezembro de 1950. Esteve em Macau (década de trinta- século XX) como cadete militar, a estudar chinês, hospedado no hotel «Boa Vista»
O Hotel «Boa Vista» que foi comprado em 1932 por Ieong Pat por 55 mil patacas, mas pouco durou como hotel pois em 1934, com um contrato de três anos (1934-1937) esteve alugado ao governo inglês para alojamento dos cadetes dos Serviços de Administração Civil Britânica, que vinham estudar chinês em Macau antes de entrarem no serviço administrativo. Com a invasão da China pelos japoneses, os cadetes regressaram a Hong Kong em 1936.
Segundo Padre Teixeira, «ouve vários romances entre os jovens cadetes e as jovens de Macau mas, como era vedado o casamento, vários corações ficaram partidos na hora da despedida» (1)
Relação dos funcionários ingleses pelo “Indian Office”, publicada no “The London Gazette”, Issue 35279,  19-09-1941 onde consta o nome de “Pte Gerard Humphrey Jollye”

(1) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia de Macau, Volume I, 1997

Data atribuída à chegada de Peter Mundy a Macau, o dia 5 de Julho de 1637 (1) (2) (3). No entanto, a frota onde vinha Peter Mundy) do capitão John Weddell e Nathaniel Mountney, comandantes da esquadra de quatro navios e duas pinaças enviada a Cantão em 1637 pela Courteen Association (com licença régia concedida em 1635 pelo rei inglês Carlos I) (4), chegou à Ilha da Montanha no dia 27 de Junho de 1637 e já no dia 28 de Junho, o próprio Peter Mundy com John Mountney e Thomas Robinson foram enviados à terra numa lancha com as cartas do rei e do Almirante dirigidas ao capitão General de Macau, Domingos da Câmara de Noronha para obter autorização para ancorar na Ilha da Taipa.
A tripulação dos navios estrangeiros estavam proibidos de ir à terra nem eram permitidas visitas a bordo – interditos todos os contactos dos estrangeiros com os locais – com excepção dos convites oficiais por parte as entidades de Macau (e nessa qualidade Peter Mundy pode visitar e descrever no seu diário (5) as impressões de Macau, bem como desenhos) ou a visita à frota inglesa do Procurador de Macau (no dia 28 de Junho de 1637) e do mandarim chinês no dia 1 de Julho.
Peter Mundy terá visitado ao Igreja e Convento de S. Paulo no dia 07-07-1637 (6)
Mais um pequeno extracto do diário (7) correspondente ao dia 8 de Outubro aquando da visita à cidade a convite do governador e do Conselho da Cidade a 4 individualidades, o comandante Weddell, o pastor, Cristopher Parr (comissário do Dragon) e Peter Mundy tendo este descrito o jantar “numa bela casa ricamente mobilada com baixela de prata, biombos, cadeiras, alcovas, tapeçarias …(…)
O nosso jantar foi servido em baixela, sendo a meu ver muito bom e saboroso; mas a maneira de servir era muito diferente da nossa, pois a cada pessoa era servida uma porção igual de cada espécie de carne, trazida em duas salvas de prata, sendo repetidas algumas vezes, pois antes de acabar um prato, já estava outro pronto para ser servido. O mesmo sucedia com as bebidas: cada um tinha uma taça de prata numa bandeja; apenas esvaziada, era de novo cheia com excelente e bom vizinho português pelos serventes que ali estavam prontos para esse fim. Havia também variada e boa música de canto, harpa e guitarra… (…)
… Neste lugar há muitos homens ricos, trajando à maneira de Portugal. As suas mulheres, como as de Goa, vestem-se com saraças e condês, (8) este sobre a cabeça e as outras do meio do corpo até aos pés, e andam calçadas de chinelas chatas, É este o trajo ordinário das mulheres de Macau. Só as de melhor categoria são transportadas em cadeiras à mão, como as cadeirinhas em Londres, todas totalmente cobertas algumas das quais são muito caras e ricas, trazidas do Japão. Mas quando saem sem elas, a patroa dificilmente se distingue da criada ou escrava pela aparência exterior, todas inteiramente cobertas, mas as suas saraças ou (?chailes) são de melhor qualidade. “(3)
No Volume III, Part. II do mesmo livro, logo no início, o autor descreve a partida de Macau: Dezembro de 1637/ Janeiro de 1638
(1) GOMES, Luís Gonzaga – Efemérides da História de Macau, 1954.
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Vol 1, 1997.
(3) TEIXEIRA, P. Manuel – Macau através dos séculos, 1977).
(4) Terá sido a primeira embaixada britânica de comércio à China. Em 13 de Julho de 1635, após autorização aos ingleses de comerciar nos portos portugueses, dava entrada em Macau, o primeiro barco inglês. (2)
(5) Peter Mundy (1600-1667?) natural da Cornualha, mercador, viajante, é considerado um dos mais famosos viajantes ingleses pelas suas muitas viagens pela Europa e Àsia.
Sir Richard Carnac Temple (1850-1931) e Miss Lavinia Mary Anstey editaram (adaptação e comentários) com o patrocínio da Hakduyt Society, em 1907, os diários de Peter Mundy com o título “The Travels of Peter Mundy in Europe and Asia (1608-1667)”  em 5 volumes.
As referências a Macau encontram-se principalmente no Vol. III, Part. 1:
Imagens extraídas de:
https://archive.org/stream/travelsofpetermu31mund#page/n7/mode/2up
(6) A data provável da conclusão da fachada de pedra da Igreja da Madre de Deus (SD. Paulo é de 1637.
(7) Ver anteriores referências a Peter Mundy em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/peter-mundy/
(8) O Condê era uma espécie de véu que cobria a cabeça e o tronco e a saraça um vestido de linho fino, que se segurava ao condê e ia da cintura aos pés. Quando o condê caía, apareciam as imodestas O bispo D. Alexandre Pedrosa Guimarães condenou este trajo em 1779, pois dizia ele, quando o condê «cai, se descompõem indecorosamente nos lugares mais modestos» (3)
No Volume III, Part. II do mesmo livro, logo no início, o autor descreve a partida de Macau: Dezembro de 1637/ Janeiro de 1638.
Imagens extraídas de:
https://archive.org/stream/travelsofpetermu32mund#page/n7/mode/2up

VIEW OF MACAO
A panorâmica da baía da Praia Grande vendo-se à esquerda o Forte de Nossa Senhora da Penha de França (demolido em 1892) (1), a meio, a Fortaleza de S. Paulo do Monte e à direita, a Fortaleza de Nossa Senhora da Guia.

Este desenho foi publicado, em 1842, no “The Illustrated London News” (2) acompanhado de uma informação: carta enviada de Macau por um oficial inglês relatando a expedição britânica na chamada I Guerra do Ópio entre 1839 e 1842, nomeadamente a ocupação de Ningpo (Ningbo) em 1842, pelas forças expedicionárias inglesas, na sequência das hostilidades entre a Grã-Bretanha e a China iniciada em 1839 e concretizada pela invasão inglesa em Agosto de 1841 – expedição comandada pelo General Sir Hugh Gough e o Almirante Parker, com dois navios de 74 canhões e sete outros navios, dois barcos a vapor e barcos de transporte de carga e tropas (cerca de 3500 militares). A expedição partiu de Hong Kong, ocupando Amoy (Xiamen) em 27 de Agosto, Ting-hai (Dinghai) (capital de Chusan/Zhoushan) em 1 de Outubro, Chinghai em 13 de Outubro e Ningpo em 7 de Maio. O tratado da paz (Tratado de Nanking) foi assinado em  29 de Agosto de 1842 e Ningpo foi um dos portos abertos ao comércio estrangeiro. (3)

Assinatura do Tratado de Nanking (4)
Pintura do Capitão John Platt. Gravado por John Burnet.

(1) GRAÇA, Jorge – Fortificações de Macau, 1984.
(2) O primeiro jornal ilustrado semanal do mundo, publicado em Londres, com desenhos (não havia ainda fotografias) que se publicou regularmente desde 1842 até 1971 e depois sem periodicidade regular até 2003 (data final da publicação).
https://pt.wikipedia.org/wiki/The_Illustrated_London_News
(3) DENNYS, Nicholas Belfield – The Treaty Ports of China and Japan: a complete guide to the Open Ports of those countries, together with Peking, Yedo, Hongkong and Macao. Cambridge University Press 2012, ISBN 078-1-108-04590-2
(4) https://en.wikipedia.org/wiki/Treaty_of_Nanking#/media/File:The_Signing_of_the_Treaty_of_Nanking.jpg