Navegando na net, encontrei na revista brasileira «médico & saúde», (1) um artigo intitulado: “Pulmão da cidade”
Transcrevo parte do artigo sobre o Jardim Botânico do Rio de Janeiro (Brasil) (2)
“… Há 200 anos, quando dom João, príncipe regente de Portugal, (3) decidiu criar o Jardim da Aclimatação, no Rio de Janeiro, os europeus costumavam levar mudas de espécies encontradas em suas colônias para outras terras, em busca de solos apropriados para o cultivo. O Jardim da Aclimação, que também já foi Real Horto, Real Jardim Botânico e Jardim Botânico do Rio de Janeiro, é hoje o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Ou, simplesmente, o nosso Jardim Botânico… ”
E relacionado com Macau (posto a negrito por mim) a estória/lenda: “A palmeira do príncipe e o olhar dos chineses”
“A principal lenda do Jardim Botânico é sobre a palmeira imperial que dom João teria plantado. “É o que se conta há gerações, uma história reproduzida por historiadores e botânicos sem que exista um só registo do fato, mês ou dia, por quem o teria acompanhado no nobre gesto”, diz Rosa Nepomuceno, no livro «O Jardim de D. João». Na verdade, ter sido ou não plantada por dom João não faz a menor diferença: a palmeira imperial tornou-se o principal símbolo do Jardim Botânico. Outro mistério que perdura por quase 200 anos é a origem do grupo de 300 chineses contratados para cultivar chá em 1814. Dizia-se que eles eram prisioneiros em Macau e haviam preferido o exílio à cadeia. Viveram por 10 anos no Jardim Botânico, isolados pelo idioma e pela cultura. Por causa deles, um dos pontos da Floresta da Tijuca foi batizado de Vista Chinesa“
Antigo postal da Vista Chinesa. Rio de Janeiro (4)
Sobre esta emigração de Macau, sabe-se que foi um projecto económico organizado em 1810 pelo governo de Dom João VI, pelo então Ministro do Reino Conde de Linhares, de modo a introduzir a cultura do chá no Brasil e assim substituir as importações e o monopólio da China. Assim cerca de 300 chineses (plantadores de chá da província de Hubei, famoso pelo seu chá verde), com sementes de chá partiram de Macau no navio Vulcano. Foram colocados na fazenda da família imperial, no Rio de Janeiro (que mais tarde veio a ser o Jardim Botânico Real). Em 10 de Setembro de 1814, desembarcaram no Porto do Rio quatro chineses cultos (provavelmente mestres do processamento de chá) que foram morar na residência do Conde da Barca. Apesar da boa vontade de ambas as partes, o cultivo de chá pelos chineses foi, de modo geral, considerado um fracasso.(5)
Plantação de chá no Jardim Botânico do Rio de Janeiro
Johann Moritz Rugendas (5)
Nesta pintura, vêem-se alguns escravos negros que plantam, orientados por um chinês; à direita, outro chinês, aparentemente mais graduado, conversa com dois ocidentais, um deles sustentando sobre os joelhos grandes folhas de papel; por trás desse personagem sentado, está outro chinês, com um guarda-sol, e ainda outro personagem em traje ocidental, talvez um intérprete (6). Observa-se ainda os morros da cidade do Rio de Janeiro ao fundo.
(1) «médico & saúde», Ano I, número 3 Abr/Mai/Jun 2008 pp. 11-15.
http://old.cremerj.org.br/revistas/pdf/r9.pdf
(2) O Jardim de Aclimatização ou Jardim Botânico do Rio de janeiro foi fundado em 13 de Junho de 1808. Ele surgiu de uma decisão do então príncipe regente português D. João de instalar no local uma fábrica de pólvora e um jardim para aclimatação de espécies vegetais originárias de outras partes do mundo. Hoje o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro – nome que recebeu em 1995, é um órgão federal vinculado ao Ministério do Meio Ambiente e constitui-se como um dos mais importantes centros de pesquisa mundiais nas áreas de botânica e conservação da biodiversidade.
http://jbrj.gov.br/jardim/historia#sthash.OU8NwwjS.dpuf
(3) Futuro rei D. João VI (nome completo: João Maria José Francisco Xavier de Paula Luís António Domingos Rafael de Bragança) (Lisboa, 13 de maio de 1767 — Lisboa, 10 de março de 1826), cognominado O Clemente, foi rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves de 1816 a 1822, de facto, e desde 1822 até 1825, de jure. Desde 1825 foi rei de Portugal até sua morte, em 1826. Pelo Tratado do Rio de Janeiro de 1825, que reconhecia a independência do Brasil do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, também foi o imperador titular do Brasil, embora tenha sido seu filho Pedro o imperador do Brasil de facto. Casou com Dona Carlota Joaquina Teresa Caetana de Bourbon e Bourbon.
D. João, infante, pintura anónima no Museu da Inconfidência
https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_VI_de_Portugal
(4) Postal retirado do Blogue Paulo Cannizzaro: postagem de 16/98/2012 – China e Brasil: o projeto de D. João VI.
http://www.paulocannizzaro.com.br/post.asp?id=58&t=china-e-brasil-o-projeto-de-d-joo-vi
(5) Aconselho a leitura do texto de 2012, de Shu Chang-sheng: “RJ Recebeu os Primeiros Imigrantes Chineses” em
https://oestrangeiro.org/2012/04/12/chineses-no-rio-de-janeiro/
(6) Johann Moritz Rugendas (1802-1858), pintor alemão, durante sua primeira viagem ao Brasil, entre 1821 e 1825, documentou a plantação chinesa de chá no Jardim Botânico do Rio de Janeiro, publicando a gravura em seu livro «Viagem pitoresca através do Brasil», cujo texto faz referência a uma colônia de 300 chineses na cidade. (5)
(7) LEITE, José Roberto Teixeira – A China no Brasil: influências, marcas, ecos e sobrevivências chinesas na sociedade e na arte brasileiras. Editora Unicam, 1999, 288 p. ISBN 85-268-0436-7.