Archives for category: Filmes

Os anúncios de filmes nos cinemas de Macau – CAPITOL e APOLLO – para os dias 3 e 4 de Julho de 1937, publicados na imprensa local.
“On the Avenue” é um filme de 1937, preto e branco,  comédia musical dirigido por Roy Del Ruth e protagonizado por Dick Powell, Madeleine Carroll e Alice Faye. Irving Berlin compôs todas as seis músicas presentes no filme.
O argumento: um produtor da Broadway apresenta um espectáculo satirizando uma das famílias importantes de Nova Iorque. A família que se sentiu atingida, processa o produtor mas com o decorrer do processo, a filha do milionário apaixona-se pelo produtor.
https://pt.wikipt.wikipedia.org/wiki/On_the_Avenue
“Love on the Run” é um filme americano de 1936, uma comédia romântica dirigida por  W.S. Van Dyke e produzida por Joseph L. Mankiewicz, com os actores Joan Crawford, Clark Gable e  Franchot Tone e baseado numa estória de Alan Green e Julian Brodie. Foi o sétimo dos oito filmes com a colaboração entre Crawford and Gable.
https://en.wikipedia.org/wiki/Love_on_the_Run_(1936_film)

No dia 10 de Abril de 1988, organizado pelo Instituto Cultural de Macau, no Teatro D. Pedro V, foi exibido o filme português “O Bobo”, do realizador José Álvaro Morais. Um argumento com base na obra homónima de Alexandre Herculano, que já participara em diversos festivais internacionais e, dias antes, fora exibido no International Film Festival, em Hong Kong. A projecção seguiu-se um debate entre o cineasta e os espectadores. (1)O filme “O Bobo” que se estreou em 1987, mas que por dificuldade de produção, se prolongou por uma década para o terminar, é dirigido por José Álvaro Morais (falecido em 2004), (2) com argumento de Rafael Godinho, baseado na obra de Alexandre Herculano.
Actores:: Fernando Heitor, Paula Guedes, Luís Lucas.
Foi o primeiro filme português a arrecadar o prémio principal de um festival internacional de lista A (Locarno International Film Festival), arrecadando o Prémio do Júri em Locarno., em 1987.
O projecto inicial deste filme, uma adaptação de O Bobo de Alexandre Herculano, tornou-se, com o tempo, uma reflexão sobre a obra literária e a sua representação contemporânea. O filme é fascinante, porque reflecte, na sua construção, a passagem do tempo (acossado por inúmeras dificuldades de produção, o processo de feitura do filme foi longuíssimo) e as transformações da sociedade portuguesa nos anos a seguir ao 25 de Abril de 1974. Um filme fundamental na cinematografia portuguesa dos últimos 30 anos” (Texto: Cinemateca Portuguesa)
(1) Informação de «Revista de Cultura» N.º5 – Abril/Maio/Junho 1988, Instituto Cultural de Macau
(2) Biografia disponível em:
http://www.cineclubejoane.org/infofilmes/Todo%20o%20Jose%20ALVARO%20MORAIS.pdf

A loja comercial, “ Casa Brunswick” estava localizada na Avenida Almeida Ribeiro, n.º 14 (Telefone n.º 293) e vendia discos e grafonolas que na altura (1929) era uma novidade.
A única informação que consegui recolher desta casa comercial, foi a indicação do registo, em 1932 da «Brunswick (sub-Agência)» na mesma Avenida mas com o n.º 8 (Directório de Macau, 1932). No entanto a casa já não figurava no item “Agência de Companhias Estrangeiras” no Directório de 1933, pelo que suponho não ter durado muito a actividade desta casa comercial.

Anúncio publicado no «Jornal de Macau», de 1929.

A «Brunswick Records» foi uma das três grandes gravadoras dos Estados Unidos, juntamente com «Victor» e «Columbia Records», nas décadas de 30 a 70, do século XX.
A companhia começou primeiramente produzir fonógrafos em 1916, no Canadá e com a fidelidade de áudio dos primeiros anos de 1920, os discos Brunswick, acusticamente gravados, estavam acima da média para a época.
Em 1930 a «Brunswick-Balke-Collender» vendeu a patente para a «Warner Brothers», que no ano seguinte o passou para a «American Record Corporation». Em 1932 a filial britânica da «Brunswick» foi vendida à «Decca Records». Em 1973, todas as empresas que pertenciam à «Music Corporation Of America» – inclusive a «Decca», a «Uni Records» e a «Kapp Records» – foram transformadas na «MCA Records». (1)
É de notar que a maioria dos discos referidos no anúncio estão associados a canções-temas dos filmes que na altura eram ainda mudos.
Das canções enumeradas no anúncio, o n.º 40432 – “Ramona (cantado)” , o n.º 40476 – “Gallito e o n.º 403 74 –“Juventuded que vás” estão referidas na lista das gravações elaborada por Ross Laird – Brunswick-Balke-Collender Company e  Brunswick Radio Corporation.
Brunswick Records New York sessions, 1916-1931” (disponível na net)
A melodia n.º 40476 – “Gallito” é um “paso doble flamenco. (2)
A canção n.º 40432 – “Ramona” foi cantada por GENE AUSTIN (1900 -1972), compositor e cantor, um dos primeiros chamados “crooners”, muito popular nas décadas de 20-30 (século X). As suas composições “How Come You Do me Like You Do?” (1924) ; “When My Sugar Walks Down the Street” (1924)  “The Lonesome Road” (1929) e “Ridin Around in the Raian “ (1934) foram êxitos na rádio e nos discos. (3)
A canção “Ramona” é de 1928 e foi composta por Mabel Wayne com letra de L. Wolfe Gilbert .(4) É canção-tema do filme “Ramona” de 1928, dirigido por Edwin Carewe (5)
A canção ”Juventud que te vás” um “charleston foi muito popular na voz duma das    melhores mezzo-sopranos de Cuba (zarzuela, ópera e concertos), Tomasita Nunez (1901-1980). (6)

A canção N.º 40485 – “Angela Mia” é um “foxtrot”, gravado em 21 de Abril de 1928 (“Victor” 21338), música de Erno Rapée, letra de Lew Pollack. (7)
Foi a canção-tema do filme “Street Angel” de 1928 (produção de William Fox) com os actores Janet Gaynor (1906-1984) (8) e Charles Farrell (1902-1990).
A canção n.º 3129 – “Napolitan Nights”, de 1928, é cantado por James Melton. (9)
Canção-tema do filme “Fazil” de Howard Hawks, de 1928. (10)
(1) https://en.wikipedia.org/wiki/Brunswick_Records
(2) Gallito, Paso Doble Flamenco de Santiago Lope interpretado ao piano  por H. Asborno
https://www.youtube.com/watch?v=V57n6NP8Mnw
Gallito, Paso Doble Flamenco de Santiago Lope interpretado pela Banda de Almenara
https://www.youtube.com/watch?v=xB7ux-ONLUM
(3) https://www.google.pt/search?q=Gene+Austin&oq=Gene+Austin&aqs=chrome..69i57j0l5.13143j0j8&sourceid=chrome&ie=UTF-8
Gene Austin – My Blue Heaven (1927)
https://www.youtube.com/watch?v=5w-_xbBmXJ4
Gene Austin – Forgive Me (1927)
https://www.youtube.com/watch?v=APn30l293wA
(4) Disco gravado em 2 de Abril de 1928. O lado B. do disco “Girl of My Drams” foi também muito popular.
“Ramona” (1928) pela orquestra “Brunswick Hour Orchestra”
https://www.youtube.com/watch?v=gpZF0QDRkfA
Ramona” foi n.º 1 do ano de 1928 – a canção gravada mais popular (a 2.º mais popular foi a célebre canção “Sonny Boy” de Al Jolson). Foi canção-tema do filme “Ramona” protagonizada por Dolores del Rio. Existem várias versões desta canção.
https://en.wikipedia.org/wiki/Gene_Austin#/media/File:Gene_Austin_01.jpg
(5) “Ramona”, filme de 1928, mudo, drama dirigido por Edwin Carewe com os actores Dolores del Rio e Warner Baxter
https://en.wikipedia.org/wiki/Ramona_(1928_film)
(6) Tomasita Nunez –Sin Encontrarte

Tomasita Nunez –Por Eso Te Quiero

(7) Versões disponíveis na net:
“Angela Mia”, cantado por James Melton
https://www.youtube.com/watch?v=HXTkmu6wpOo
Ângela mia (My Angel), com Francisco Alves acompanhado por Simão Nacional Orquestra.
https://www.youtube.com/watch?v=Fj7yUSACJsQ
Paul Whiteman – My Angel (Angela Mia) (1928)
https://www.youtube.com/watch?v=fJLFukGTVgE
“Angela Mia” cantdo por Harold Scrappy Lambert
https://www.youtube.com/watch?v=Tf6kxC3avTM
(8) Janet Gaynor foi a primeira actriz a receber o Óscar de melhor actriz principal em 1928, por três filmes: “7th Heaven” (1927), “Sunrise: A Song of Two Humans” (1927), e “Street Angel”l (1928) (foi a única vez que uma actriz recebeu este galardão por múltiplas participações)
(9) “Napolitan Nights”, cantado por James Melton
https://www.youtube.com/watch?v=7YtsHahgXzk
(10) “Fazil”, de 1928, filme mudo, drama, dirigido por Howard Hawks, Com os actores Charles Farrell (1902-1990). e Greta Nissen

A paixão pelo cinema desde miúdo levou-me a ver, quando era possível e o dinheiro chegava, todo o tipo de cinematografia. E da minha avó herdei o gosto pelos “filmes de Hong Kong” predominantemente cantonense das décadas de 50 e 60 que passavam principalmente nos teatros que frequentava, “Oriental” e  “Cheng Peng” (menos o “Alegria”).
E sem dúvida um dos ídolos deste cinema é (era) o actor LAM KA SING
Lembrei-me dele ao ter encontrado este recorte no meu dicionário escolar.
林家聲   Lam Ka-Sing  (aliás Lam Kar-Sing, Lam Ga-Sing)
Actor/cantor de ópera chinesa (cantonense, em Macau conhecido como “Auto China“)), Lam Ka-Sing nasceu em Hong Kong, em 1933 (nome de nascimento Lam Man Shun) e faleceu em Hong Kong a 5 de Agosto de 2015. Com a família foi para Guangzhou (Cantão) durante a ocupação japonesa de Hong Kong, na II Guerra Mundial. Aí estudou ópera cantonense (canto e representação). (1) Após a Guerra, regressou a Hong Kong continuando a aperfeiçoar-se. Iniciou a carreira de actor em cinema no filme “Prostituting to Raise the Orphan”, em 1947. Fez cerca de 301 (o último em 1967). Actuou em numerosas peças teatrais (formou a sua própria companhia de ópera cantonense – a última «tournée» em Hong Kong e Estados Unidos foi em 1993, tenho fixado a sua residência em Canadá após esta data). Regressou a Hong Kong em 2009. Em 2010 foi agraciado como Doutor Honorário pela «Hong Kong Academy for Performing Arts» e em 2012 recebeu a «Silver Bauhinia Star» (2)
Alguns actores/actrizes deste tipo de ópera chinesa, de Hong Kong, eram muito populares em Macau por isso actuavam neste território, em espectáculos no Teatro Cheng Peng ou (muitas vezes) em palcos improvisados e montados para as festas por exemplo (por mim presenciados) nas comemorações anuais do Templo de Deus da Terra (na Horta da Mitra – Cheok Chai In) (3) ou em espectáculos para angariação de fundos para associações ou auxílios aos pobres. (4)
O exemplo é esta fotografia tirada no Teatro Cheng Peng e publicada no Boletim Geral do Ultramar, em 1956, onde a «estrela» Hung Sin Nói (5) e o «galã» Iam Kim Fai (6) (actriz que fazia quase sempre o papel masculino, aliás muito vulgar na ópera cantonense) estavam em Macau, numa das suas digressões que as companhias de ópera chinesa (algumas exclusivamente de actrizes)  faziam à China, e outros países com comunidades cantonenses.
(1) Ópera Cantonense (粵劇) é uma da óperas chinesas originária do Sudeste da China, na província de Guangdong , muito popular nesta província e em Guangxi nas comunidades chinesas de Hong Kong (onde tem uma escola superior desta arte), Macau e no sudeste asiático. É uma arte tradicional chinesa bastante complexa envolvendo música, canto, artes marciais, acrobacia e representação. Existe dois géneros principais da ópera cantonense: a MOU (武, “artes marciais”) focando os aspectos da guerra, com personagens guerreiras (generais e soldados), e envolvendo cenas/acções da guerra com armamento e armaduras; a MAN (文, mais clássica), envolvendo a cultura chinesa – poesia, literatura.
粵劇 – mandarim pīnyīn: yuè jù; cantonense jyutping: jyut6 kek6
(2) http://www.scmp.com/news/hong-kong/education-community/article/1846733/cantonese-opera-master-lam-ka-sing-dies-hong-kong
A Filmografia deste actor de 1947 a 1967  (301 filmes) em:
http://hkmdb.com/db/people/view.mhtml?id=1332&display_set=eng
(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2017/02/27/noticia-de-27-de-fevereiro-de-2017-tou-tei-o-deus-da-familia/
(4) Há descrições de palcos improvisados para a ópera chinesa por exemplo um que se “montou” nos terrenos das corridas de cavalos (actual, canídromo) entre 1935-1942 e que colapsou ao fim de 5 dias. O Teatro chinês “Cheng Peng” (7) durante a guerra no Pacífico tinha frequentemente ópera chinesa com os artistas de Hong Kong e Guangdong fugidos da ocupação japonesa. Consta-se que os melhores cantores eram bem pagos (para aquele período) e a mais conhecida Tam Lan Hing –譚蘭卿 (8) que chegou a Macau em 1942 (e diziam as más línguas de Macau que “engordou” no período da guerra) ganhava “um tael de ouro por um dia de actuação
https://en.wikipedia.org/wiki/Yam_Kim-fai
Hung Sin Nui em 1956 no filme “The Peach-Blossoms Are Still in Bloom”
(5) Hung Sin Nui 紅線女 (1924-2013) aliás Hong Sin-loi, Hong Xian-nu – uma das  grandes estrelas da ópera cantonense e actriz de cinema na China e Hong Kong (106 filmes)
Filmografia e biografia em
http://www.hkmdb.com/db/people/view.mhtml?id=1365&display_set=eng

(6) Yam Kim Fai 任劍輝 – Ren Jianhui (1913-1989) actriz /cantora da chamada nova ópera cantonense. Filmes desde 1937 a 1968 num total de 300 filmes onde na maioria actuou em papéis masculinos.
Filmografia e biografia  em:
http://www.hkmdb.com/db/people/view.mhtml?id=499&display_set=eng
(7) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2011/12/28/cinemas-de-macau-i/

(8) 譚蘭卿  Tam Lan Hing   aliás Tam Shui-Fan (1908 – 1981)
Filmografia (1935-1969 – 187 filmes) e biografia em:
http://hkmdb.com/db/people/view.mhtml?id=133&display_set=eng

23OUT1936 China Clipper em Macau I23-10-1936 – Chegou o primeiro hidro avião da »Pan American Airways» (1) em viagem de experiência. Foi um «Philippine Clipper” (2) de quatro motores e vinte e cinco toneladas de peso que vindo de Manila, (rota S. Francisco – Manila – S. Francisco) sobrevoou por duas vezes a cidade e pousou nas águas do Porto Exterior. À tarde partia para Hong Kong.  (3)
23OUT1936 China Clipper em Macau II(1) O contrato foi celebrado em 21 de Outubro de 1936 entre o Governo Português e a «Pan-American Airways», pelo qual os aviões desta empresa aérea ficaram com o direito de utilizar o aeroporto de Macau, no Porto Exterior, o que fizeram com regularidade (desde 28 de Abril de 1937) até Março de 1939. No princípio desse ano (o Despacho n.º 21 de 18-01-1936, já anunciava a chegada, para breve, do 1.º hidroavião) a «Pan-American Airways Company» da carreira de S. Francisco, abria um escritório em Macau e preparava um posto meteorológico e de radar na Colina da Penha. Em 16 de Outubro constituía a “Sociedade Aeroportos Pan Americana de Macau, Limitada” com sede no Pavilhão de Abrigo do Porto Exterior (Hangar) (2)
“Manila was Pan Am’s first air terminus, not the British crown colony of Hong Kong, because His Majesty’s government refused Trippe landing rights. In fact, one of their own carriers, Imperial Airways, had plans to develop the territory, and the British were not about to let an impudent Yankee in.
But Juan Trippe was an old hand at overcoming obstacles. He simply entered into negotiations with the Portuguese for landing rights at nearby Macao. When Lisbon granted these rights in 1936, the British reluctantly allowed Pan Am to use Hong Kong as well. The first passenger flight to Hong Kong scheduled for 21 October 1936.
http://www.historynet.com/martin-m-130-flying-boat-china-clippers-trans-pacific-flights.htm
(2) A base da «Pan Am Philippine» estava em Cavite, na Baía de Manila. O avião era um “China Clipper“. Pode-se ver o seu voo inaugural em 21 de Outubro de 1936 no trajecto Honolulu -Manila em:
http://www.yourepeat.com/watch/?v=FBLP3VKnZcQ
CARTAZ China Clipper 1936Idêntico hidro-avião “China Clipper”, foi “protagonista” do filme do mesmo nome:  “China Clipper”, de 1936, realizado por Frank McDonald para a Warner Brothers e protagonizado por Pat O´Brien, Beverly Roberts e Humphrey Bogart.
O filme dramático tem por base, a vida de Juan Trippe, no tempo da fundação da «Pan American Airways», em 1927. Ver “trailers” do filme em:
https://www.youtube.com/watch?v=ILa3z3wdcoo
https://www.youtube.com/watch?v=KKq1WUmjSBw
Poster retirado de:
https://en.wikipedia.org/wiki/China_Clipper_(1936_film)#/media/File:ChinaClipper.jpg
(3) GOMES, Luís G. – Efemérides da História de Macau, 1954 e SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 4, 1997.
“Mais de duas mil pessoas estiveram presentes na amarragem. Os passageiros saídos do avião prateado, pilotado pelo próprio fundador  patrão da companhia Juan Trippe, foram quase levados em ombros até aos sítios que Macau tinha para mostrar: a gruta de Camões, o farol da Guia, o templo da Barra… Depois às três e meia da tarde, após um banquete oferecido à tripulação e passageiros,  o «Phillippine Clipper» partiu para Hong Kong ” (, Luís Andrade de – Avião em Macau Um Século de Aventuras, 1990″)
Sobre este  tema, nas minhas anteriores postagens, ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/transportes-aereos/

William Holden 1954WILLIAM HOLDEN, em 1954

Esteve em Macau em visita particular de algumas horas, o actor do cinema americano William Holden, (1) que em 1953, ganhou um «Oscar» pela sua brilhante actuação no filme ‘Stalag 17». (2) Almoçou na residência do sr. Dr. Pedro José Lobo, Chefe dos Serviços Económicos e proprietário da Emissora Vila Verde.

MBI, 1954, n.º21 William Holden IÀ tarde deu um passeio pela cidade e apresentou cumprimentos a o Governador da Província, Almirante Joaquim Marques Esparteiro.

MBI, 1954, n.º21 William Holden II

À noite, o capitalista chinês, sr. Ho Yin, representante em Macau da «Paramount», companhia a que pertence aquele actor, ofereceu-lhe no Hotel «Kuoc Chai» um jantar à chinesa, a que assistiram vários jornalistas.

MBI, 1954, n.º21 William Holden IIIWilliam Holden, falando com o correspondente em Macau do «Hong Kong Standard» disse: “Sinto-me feliz em ter visitado esta encantadora cidade e tenho realmente pena daquelas pessoas que passam por Hong Kong e não têm oportunidade de vir até Macau. Apreciei, sobretudo, a vossa hospitalidade. Há muitos lugares em Macau tais como Ruínas de S. Paulo e o Pagode de Mong Há, que merecem ser visitados. Devo acrescentar que toda a cidade é maravilhosamente bela».

(1) William Holden, nome artístico de William Franklin Beedle Jr. (1918 — 1981), actor norte-americano. Nesse ano de 1954, filmaria três dos seus filmes mais conhecidos: “Sabrina” (com Audrey Hepburn e Humphrey Bogart); “The Country Girl” (com Grace Kelly e Bing Crosby) e “The Bridges at Toko-Ri” com Grace Kelly e Fredric March). Dois dos seus filmes estão relacionados com Hong Kong (alias desde a década de 50, William Holden tinha um apartamento em Hong Kong onde ficava entre as viagens que fazia aos países do Sudoeste Asiático): “The World of Suzie Wong” (1960) (3) e “Love is a Many Splendored Thing” (1955) (4)

Stalag 17
(2) Sob a batuta de Billy Wilder  com quem já trabalhara no excelente filme de 1950 (“Sunset Boulevard”), William Holden foi perfeito na sua interpretação do cínico sargento Sefton em “Stalag 17”.
(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/05/folheto-de-cinema-teatro-apollo-iv/
(4) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/11/10/leitura-a-colina-da-saudade/

Notícia e fotos do «Macau Boletim Informativo»,  1954

Por ter apresentado o saco de compras da Livraria Siu Siu (1), lembrei-me destes cinco marcadores de livros que foram comprados pela minha irmã, muito possivelmente nessa livraria.

Não estão em boas condições, contêm manchas de humidade e pequenas falhas nas fotos mas mesmo assim, dão-nos uma ideia dos “ídolos” cinematográficos da juventude de Macau, na década de 60.

Marcadores de livrosSANDRA DEE, ELIZABETH TAYLOR, SANDRA DEE, GINA LOLLOBRIGIDA e TROY DONOHUE

Quatro “estrelas” populares nessa década (três infelizmente já desaparecidas), duas mais consagradas, Elizabeth Taylor e Gina Lollobrigida e outras duas, surgidas no final dos anos 1950 e popularizadas entre os adolescentes na década de 60: Troy Donahue e Sandra Dee.

Elizabeth Taylor (1932- 2011 ) actriz norte americana, nascida em Inglaterra, desde os 10 anos de idade em filmes infanto-juvenis (estreia em 1943 em “Lassie”). Talentosa (e famosa também pelos oito casamentos) nomeada 5 vezes para o óscar, vencendo dois: “Butterfield 8” (1960) e “Who´s Afraid of Virginia Woof?” (1966). Na década de 60 foi considerada a 4.ª ” the biggest box-office” e a melhor em 1961

Gina Lollobrigida (1927 – ) actriz italiana , com uma carreira internacional a partir de 1951 em filme ligeiros e comerciais com a série “Pão, Amor e...”. Posteriormente entra no cinema norte-americano. De deslumbrante beleza “La donna piú bela del mondo” mas de recursos de representação bastante limitados, soube, no entanto, tirar proveito da sua popularidade para uma carreira cinematográfica até 1997.
Sophia Loren, actriz italiana e sua rival, disse um dia: “Sua personalidade é limitada . Ela é boa como uma camponesa mas incapaz de interpretar uma senhora”

A Summer Place

Troy Donohue (1936-2001), protagonista de dois filmes de Delmer Daves “A Summer Place” (1959) com Sandra Dee e “Parrish” (1961) com Claudette Colbert) e “Imitation of Live” (1959) – melodrama dirigido por Douglas Sirk com Lana Turnere Sandra Dee.

Sandra Dee (1942- 2005) actriz norte americana, ficou famosa pelos seus papéis de adolescente ingénua, tal como “Imitation of Life” (1959), “A Summer Place” (1959), “Gidget” (1959) e em duas sequências no filme “Tammy”

http://www.imdb.com/title/tt0053320/?ref_=ttmd_md_nm
(1) Ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/04/28/saco-de-compras-livraria-siu-siu/

Exibiram-se nestes dias, os filmes (mudos) portugueses – “O Soldado desconhecido” (1) e “A Rosa do Adro” (2)  no Teatro D. Pedro V.

Lembrar também que foi nesse ano de 1924, realizado  uma curta metragem em Macau (documentário, mudo) com o título «Macau» produzido e realizado por M. Antunes Amor, infelizmente desaparecido. (3)

(1) “Raul de Caldevilla (1877-1951) acaba por se envolver no cinema como profissional e, com importantes apoios bancários, funda no Porto uma empresa, no nº 32 da Rua Formosa, a Raul de Caldevilla & Cia. Lda., que ficará conhecida por Caldevilla Film (1916), São sócios seus Eduardo Kendall, João Manuel Lopes de Oliveira e António de Oliveira. É gerente da firma até 1922. A empresa começa a produzir documentários. Um motivo badalado dá origem a um primeiro filme: Homenagem ao Soldado Desconhecido, rodado a 9 de Abril de 1921, sobre a chegada do Soldado Desconhecido a Lisboa e trasladação para a Batalha. Castello Lopes estreou-o a 12 de Abril, no “cinema Condes”, em Lisboa. O filme, reportagem da Invicta Film,  incluia as cerimónias no Havre, em Lisboa e na Batalha; chegada do Marechal Joffre, o cortejo em Lisboa, recepção na Batalha e aspectos de Leiria; estreia no Porto: Jardim Passos Manuel, em 13 de Abril” .http://pt.wikipedia.org/wiki/Raul_de_Caldevilla e http://cvc.instituto-camoes.pt/cinema/cronologia/cro023.html
 Poderá ver este documentário em: http://www.cinemateca.pt/Cinemateca-Digital/Ficha.aspx?obraid=2747&type=Video
(2) Trata-se do filme mudo «A Rosa do Adro», uma das primeiras produções de Georges Pallu, de 1919, (adaptação do romance de Manuel Maria Rodrigues) (75 m). Teve estreia em Portugal,  no cinema Olympia, em 27 de Outubro com Duarte Silva, Maria de Oliveira, Carlos Santos e Erico Braga.
“«A Rosa do Adro» foi um enorme sucesso (talvez o maior da Invicta) e circulou comercialmente, pelo menos, em França e no Brasil. Para o perfil de Rosa do Adro, Pallu escolheu uma estreante sem experiência de teatro ou de cinema – Maria de Oliveira, na vida real professora da filha do realizador. João Bénard da Costa considera-a, em certo sentido, como a primeira actriz cinematográfica portuguesa (Histórias do Cinema).

A Rosa do AdroA Rosa do Adro, de Georges Pallu (Col. Cinemateca Portuguesa)

http://www.amordeperdicao.pt/basedados_filmes.asp?filmeid=265

 Uma nova versão foi filmada em 1937, em Ponte de Lima,  com realização de Chianca Garcia, produção de Artur Duarte e com os actores, Maria Lalande, Oliveira Martins e Tomás Macedo. Estreia 3 de Fevereiro de 1938 no cinema Trindade, 92 minutos.
http://www.imdb.com/title/tt0030697/
(3) Referente a Manuel Antunes Amor ver
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/04/23/leitura-macau-a-cidade-mais-pitoresca-do-nosso-dominio-ultramari-no-ii/
Como NOTA, há uma entrada de 08-02-1924 na “Cronologia” da Beatriz Basto da Silva em que se salienta um “Pedido de L. Maria Borges, Gerente da Empresa Cinematográfica «Macaense» para lhe ser concedido o exclusivo da exploração da indústria cinematográfica nesta colónia
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7)

“É inaugurada, como forte sinal de vitalidade, a Exposição Industrial e Feira de Macau, ideia do Governador Rodrigo Rodrigues, só exequível no Governo interino do Almirante Hugo de Lacerda. (1).

ILUSTRAÇÃO 1919 n.º 25 Exp. Ind.e Feira de Macau 1926 MAPAO local da Feira foi o então espaço livre (8 hectares de várzeas), na continuação da Avenida Conselheiro Ferreira de Almeida a caminho de Mong Há, logo depois de cruzar a Avenida Horta e Costa, onde havia uma pequena lagoa (mesmo em frente à entrada do Kum Iam Tong), que emprestou beleza ao recinto, sobretudo com as iluminações nocturnas e com engalanados barcos de onde os estudantes do liceu ofereceram uma serenata.

O importante e concorrido certame acompanha o desenvolvimento industrial da I República (1910-1926) em Portugal. A atestá-lo mencionam-se entre outros ramos, a pesca e a conserva de peixe, tradicional e em lata, os curtumes e o calçado, os fósforos e panchões, papel e tabaco, actividade têxtil (seda, algodão), etc. (2)

ILUSTRAÇÃO 1919 n.º 25 Exp. Ind.e Feira de Macau 1926 IO Pavilhão da Casa Portuguesa

Dos 650 inscritos, estiveram presentes 597 expositores (os mais numerosos: carpintaria e marcenaria: 57; sapatarias: 51; ourives: 30; alfaiates: 28; vinhos chineses e estrangeiros: 28; papelarias: 21; trabalhos em bambú: 20), sendo 540 de Macau e os restantes de Hong Kong e de outras procedências. Os produtos expostos atingiram um valor aproximado de $ 1000.000,00 (3)

  ILUSTRAÇÃO 1919 n.º 25 Exp. Ind.e Feira de Macau 1926 IIO lago e o moinho holandês (4)

Num dos 60 pavilhões, o pavilhão «Portugal-Oriente», salientam-se produtos vinícolas (vinhos portugueses e conservas com 10 expositores) barracas de tiro ao alvo, roleta com prémios, loto, animatographo (1 expositor  classificado como “filmagem cinematográfica”), etc. A Feira durou mais de um mês (fechou a 12 de Dezembro) e apenas como referência estatística, em 3 dias, só no Parque de Diversões foram registados 15 000 visitantes. Estes, no total, foram 289 537, supondo-se que cerca de 50 000 fossem forasteiros. (2)

 ILUSTRAÇÃO 1919 n.º 25 Exp. Ind.e Feira de Macau 1926 IIIOutro aspecto do lago e do moinho holandês

Foi feito um opusculo, em Macau, publicado em português e inglês, da autoria de João Carlos Alves e João Barbosa Pires, pela Tip. Mercantil, em 1927. (3) (5)

 ILUSTRAÇÃO 1919 n.º 25 Exp. Ind.e Feira de Macau 1926 IVFerry Wheel (Grande roda)

(1) Sobre este almirante: Hugo Carvalho de Lacerda Castelo Branco, ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/05/27/leitura-a-necessaria-morigera-cao-dos-costumes/
(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7)
(3) ALVES, João Carlos; PIRES, João Barbosa – Macau e a sua Primeira Exposição Industrial e Feira. Com uma breve notícia do Porto. Macau, 1927. Tip. Mercantil da N. T. Fernandes e Filhos, 39 pp., 23 cm.
(4) Segundo informações da revista “Ilustração”, donde foram retirados estas fotos, “o rendimento diário do aluguer de sete barcos em serviço neste lago é de cerca 1 200$00.”~
(5) Sobre a Tipografia Mercantil da N. T. Fernandes e Filhos, ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/04/04/anuncios-tipografia-mercantil-de-n-t-fernandes-e-filhos/

13-01-1924 – Esteve de visita a Macau o conhecido romancista espanhol Blasco Ibanez“. (1)
Blasco IbanezVicente Blasco Ibánez (1867-1928), escritor (2), jornalista e político espanhol, deixou um relato da sua viagem, à volta ao mundo, iniciada em 1923, publicado em livro (três volumes). O 1.º volume é dedicado aos “Estados Unidos-Cuba-Panamá-Hawai-Japão-Corêa-Mandchúria“. O 2.º Volume é referente a “China-Macau-Hong-Kongo-Filipinas-Java-Singapura-Birmânia-Calcutá“.

IBANEZ A Volta ao Mundo capaIBANEZ A Volta ao Mundo lombadaO 3.º Volume (que não possuo) é dedicado a “Índia-Ceilão-Sudão-Núbia-Egito”.
Possuo os dois primeiros volumes, ambos de 2.ª edição, publicados em 1944. A 1.ª edição dos três volumes é de 1931, da mesma editora.
Do 2.º Volume (3) e com referência a Macau, logo no início do capítulo XIII – “Viagem a Macau“,  transcrevo:
Às primeiras horas da manhã, embarcámos para Macau. Vemos em frente do vapor numerosos grupos de chineses. Uma força de polícia regula-lhes a entrada , um a um, na prancha que liga o barco ao cais. São todos revistados, da cabeça aos pés e só podem passar para diante quando o agente industânico está convencido de que não levam sequer o mais pequeno canivete. Como êstes homens amarelos se parecem todos uns com os outros pelo fato azul e pelos rostos quási iguais, é difícil  distinguir um cooli pacífico que vá tratar dos seus negócios a Macau, de um pirata que prepare com os companheiros o ataque ao vapor, a meio da viagem…(…)
            Macau, que primitivamente se chamou Cidade do Santo Nome de Deus na China, e depois viu substituído êste nome pelo de Macau, de origem indígena, seria grandemente exótica se de repente se pudesse transladar para as proximidades de Lisboa. Vista aqui, depois de se haverem visitado as principais cidades do litoral chinês, faz lembrar o antigo Portugal e parece emanar dela um longínquo sopro do nosso hemisfério…(..)
            O governador actual, o doutor Rodrigo Rodrigues, (4) é um médico que gosava merecida reputação na pátria antes de entrar na vida política, republicano como os que desinteressadamente combateram a monarquia e que depois tendo triunfado, tiveram de abandonar as suas antigas profissões para servirem a nova República portuguesa.
            Durante as horas passadas em Macau pude apreciar o que o meu amigo Rodrigues tem feito em alguns anos de govêrno. Uma cobrança de impostos, bem administrada, deu o suficiente +ara a construção de um pôrto grandioso, no qual poderão fundear transatlânticos de grande tonelagem…..”.
…………………………………………………………..continua
(1) GOMES, Luís G. Efemérides da História de Macau. Notícias de Macau, 1954, 267 p.
(2) Foi um grande e fecundo romancista (quatro dezenas de livros publicados), tornando-se mundialmente conhecido devido à transposição das suas obras para o cinema.  Dois dos livros mais conhecidos:
Rodolfo ValentinoOs Quatro Cavaleiros do Apocalipse“, que não é das suas melhores obras, foi levado ao cinema (“The Four Horsemen of the Apocalypse) por um realizador medíocre, Rex Ingram, em 1921, mas tornou célebre, Rodolfo Valentino, como uma estrela mundial (foi a película mais rentável do cinema mudo); posteriormente outra versão (fracasso económico nas bilheteiras) de Vicent Minnelli, em 1962.

Blood and SandSangue e Areia” também outro êxito de Rodolfo (“Blood and Sand“), filme de 1922, de Fred Niblo e outra nova versão em 1941 de Rouben Mamoulian, com Tyrone Power, Rita Hayworth e Anthony Quinn.
Muitos dos seus livros foram passados para o cinema quer em Hollywood quer no cinema hispano-americano/espanhol.
Como curiosidade, dado o prestígio do romancista, após o êxito dos filmes, a Metro utilizou a adaptação dos romances, “Entre Laranjeiras” e “Terra de Todos” para lançar Greta Garbo nos Estados Unidos.
(3) IBANEZ, V. Blasco – A Volta ao Mundo, Volume II, 2.ª Edição. Livraria Peninsular Editora, Lisboa, 1944, 363 p. Tradução de Agostinho Fortes.
(4) Governador Rodrigo José Rodrigues de 5 de Janeiro de 1923 (auto de posse) a 18 de Outubro de 1925 ( tomada de posse de Manuel Firmino de Almeida Maia Magalhães)
NOTA : Um trecho do livro citado, referente à visita que o autor fez à Gruta de Camões, encontra-se no Blogue Caderno do Oriente:
http://caderno-do-oriente.blogspot.pt/2010/06/blasco-ibanez-no-jardim-e-gruta-de.html