Neste dia, 29 de Maio de 1987, o Correio de Macau / CTT pôs em circulação o sobrescrito, obliteração de 1.º dia de circulação e dois selos com o motivo “Festividade do Barco Dragão”
Os selos têm o valor de 50 avos e 5 patacas.
O desenho é de Ng Wai Kin.
FESTIVIDADE DO BARCO-DRAGÃO
A Festividade do Barco-Dragão é uma das mais populares festas chinesas, celebrando-se todos os anos no dia cinco da quinta Lua. (1)
Esta tradição tem a sua origem num facto ocorrido numa época agitada da vida política chinesa, entre os anos de 402 a 201 A.C.. Por esta altura, os conselheiros do imperador Uái (2) queriam convencê-lo a fazer guerra, para assim adquirir mais riquezas e poder. Esta atitude dos conselheiros tinha, porem, a desaprovação do ministro Uat Hun que, em vão, tentou dissuadir o imperador daquela ideia. Uat Hun (3) admitiu, então, a hipótese de pôr fim à sua própria vida, em sinal de protesto. Permeável à nefasta influência dos seus conselheiros e inamovível na sua intenção de fazer a guerra, o imperador continuava a preparar a ofensiva, procedimento que desgostou profundamente a Uat Hun que, perante tal atitude, se lançou ao rio Mek Lo.
Sensibilizado com o sucedido, o imperador caiu em si e apercebeu-se que acabara de perder o seu mais competente ministro. Ordenou, então, que todos os barcos procurassem o cadáver de Uat Hun, para que fosse recolhido e levado para o palácio Imperial. No entanto, as longas buscas levadas a cabo pelos barcos revelaram-se infrutíferas, pois o corpo do ministro sumiu-se nas águas agitadas do grande rio.
Durante a noite, encontrando-se o imperador amarguradamente triste, recebeu a visita do espírito de Uat Hun, lamentando-se que andava com fome. Logo o monarca deu ordem para que os barcos lançassem arroz cozido nas águas do rio. No entanto, o espírito do seu ministro voltou a procurá-lo para lhe dizer que um mostro aquático devorara toda a comida do rio e que brevemente iria também engolir o seu corpo. Pediu, então, ao rei que mandasse embrulhar a comida num tecido de seda atado com fios de cinco cores visto ser esta a única forma de a preservar contra a voracidade do monstro. E foi assim que sobreviveu, até hoje, o costume de lançar todos os anos, na época da Festividade, às águas dos rios, arroz glutinoso, cozinhado com vários recheios, envolvido em folhas de bambu, aos quais se dá o nome de tchông.(4)
Em Macau, durante as celebrações da Festividade do Barco-Dragão, vêem-se em quase todas as lojas compridas canas de bambu, tendo pendentes estes tchông que são saboreados por todos os chineses.
Actualmente, o mito de Uat Hun dá lugar ao desporto. As regatas de barcos em forma de dragões são organizadas com o fim de simular a procura do cadáver do estadista deificado. Assim, têm-se realizado em Macau, coma presença de equipas da Austrália, Hong Kong, Japão, Malásia, Singapura, China e Macau, as Regatas Internacionais de Barcos-Dragão, integradas nas Festividades do dia cinco da quinta Lua.
O tambor usado nos barcos das regatas, será para coordenar os movimentos dos remadores, mas também para assustar o monstro e evitar assim que devore o cadáver de Uat Hun!”
Dr. Jorge Cavalheiro (Instituto Cultural de Macau)
(Retirado da Brochura/lembrança distribuído aquando do lançamento do envelope com bloco de selos.)
(1) Festival do Barco Dragão, ou Festa de Duan Wu (端午节/端午節). Este ano, 2017, a festividade é celebrada a 30 de Maio.
(2) Rei Huai (楚懷王- Chǔ Huái Wáng) do estado de Chu de 328 a 299 aC., no período dos Estados Guerreiros.
(3)
Pintura de Qu Yuan
https://pt.wikipedia.org/wiki/Qu_Yuan
Qu Yuan (屈原- Qū Yuán) vivia no reino de Chu (c. 340 -278 a.C.) no Período dos Estados Guerreiros (476 A.C. – 221 A.C.) estadista, poeta, diplomata, ideólogo e reformador. A sua obra está principalmente compilada numa antologia poética denominada «Elegias de Chu». Considerado o primeiro poeta chinês importante na história da literatura da China.
(4) Zongzi (粽子) ou zong (粽) – tradicional bolo chinês feito com arroz glutinoso (com recheio variado) embrulhado por uma folha de bambu, cozinhado a vapor.