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Continuação dos apontamentos que o Governador Álvaro de Mello Machado deixou escrito no seu livro “Coisas de Macau” (1913), nas pp. 113- 115, (1) (2) neste caso sobre os “Divertimentos” que nesse ano, existiam em Macau.

“Os bailes, ou melhor as soirées, constituem o divertimento predilecto dos rapazes e raparigas de Macau, e quasi a única manifestação externa da vida dos clubs. Apesar da predilecção que todos teem por este género de passatempo, eles não são todavia muito frequentes, porque os clubs, segundo a regra geral dos estabelecimentos congeneres  portuguezes, teem pouco dinheiro e não podem portanto abalançar-se a grandes despezas.

Além do club dos sargentos, de que estes militares exclusivamente podem ser sócios, e cuja existência é imprescindível, visto que eles não teem entrada em qualquer dos outros, existem dois clubs na colonia: O Grémio Militar, de que todos são sócios – e o Club de Macau, que toda a gente frequenta também.

Para as festas de um são invariavelmente convidados todos os sócios do outro; de fórma que, nem mesmo o pretexto da separação de classes sociaes explica esta dispersão de esforços, que se pudessem conjugar-se, dariam certamente a um centro de reunião menos modesto.

Mas onde se encontram portuguezes, só muito excepcionalmente existem, união, acordo de ideias e de actos; e portanto não é de admirar, que suceda com os clubs, o que sucede com os tennis, e mais ou menos se observa em todas as manifestações da via portugueza.

Além d´estas fontes de distracção, apenas um outro pic-nic, a qualquer ponto próximo da China, uma ou outra récita de amadores, um cinematographo instalado n´um barracão de madeira, (3) onde por vezes aparecem desengraçadas cançonetistas inglesas, e a vida de sociedade comezinha, com os seus chás, os serões e modestas partidas de bridge, perfazem um pequeno numero de objectivos para o esforço de quebrar a monotonia da vida habitual. Para quem deseje observar a vida chineza de Macau, não deixa de ser interessante aproveitar as distracções próprias a essa parte da população, constituída pelos residentes chinezes; e então, se não sentir por ellas uma instinctiva repugnância, poderá ter ocasião de vêr dispender muito dinheiro, e de entrar em contacto com esse viver absolutamente desconhecido para a maior parte dos europeus, e por vezes curioso devéras.”

(1) MACHADO, Álvaro de Mello – Coisas de Macau. Livraria Ferreira, 1913, 153 p. https://nenotavaiconta.wordpress.com/2021/02/19/leitura-coisas-de-macau-de-alvaro-de-mello-machado/

(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/alvaro-de-melo-machado/

(3) Já havia em 1919 um muito regular em alvenaria, na Avenida Almeida Ribeiro, no local onde hoje se ergue o Edifício Banco Tai Fung, do lado norte do Hotel Central, para onde foi transferido o Teatro Vitória, inaugurado em Janeiro de 1910 na Calçada do Tronco Velho e só em 8 de Janeiro de 1921, seria transferido para a Avenida de Almeida Ribeiro, tendo sido a primeira sala de cinema de Macau a projectar filmes sonoros. Em 1935 o teatro encerrou temporariamente, tendo as suas instalações sido convertidas em casino devidamente apoiado por um restaurante e um clube nocturno. Em 1938 voltou a funcionar como cinema com uma capacidade de 809 lugares, e encerrou definitivamente a 20 de Dezembro de 1971. (As Ruas Antigas de Macau, p. 31)

A começar em 11 de Janeiro de 1967, no teatro Nam Van, o espectáculo para maiores de 17 anos “The Forbidden Universe”, “traduzido” em Macau para “Viagem à Volta do Mundo” (?) – “viagem feita por um indivíduo à volta do mundo à procura de belezas feminina”

Filme italiano de 1964, “Universo Proibito” (também conhecido como “Mondo Balordo”– “A Fool’s World”) dirigido por Roberto Bianchi Montero (1) no estilo documentário (pseudo-documentário – documentário de ficção) ) focando  actuações internacionais dos clubes nocturnos e seus artistas.

The artwork is based on the original Italian poster image by “MOS”, aka Mario De Berardinis.

No verso do folheto, o argumento do filme, em chinês. (2)

(1) Roberto Bianchi Montero, (1907-1986), italiano; director e argumentista de filmes de várias temáticas, a maioria de baixo orçamento, do género melodrama, “spaghetti westerns”, comédias “sexy” ao estilo italiano. Filmografia: director (63); argumentista  (34); actor (17) e produtor(1). (https://m.imdb.com/name/nm0080576/filmotype)

(2) Recordo que a partir de 1 de Novembro de 1966, o Teatro Nam Van passou a emitir no mesmo folheto, o resumo do filme em duas versões: em português (frente) e em chinês (no verso). Digo duas versões pois não eram a tradução uma da outra, o que leva a pensar serem de autoria diferente. Antes dessa data o mesmo teatro publicava dois folhetos independentes: um em português e outro em chinês. https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/11/07/folheto-de-cinema-teatro-nam-van-iii/

A começar em 16 de Julho de 1959, “O engraçado filme metrocolorido e em cinemascópio”- “O Jogo do Casamento” (“The Mating Game”)

O interesse deste folheto está no cabeçalho com o seguinte formato desde Junho de 1956 até Junho de 1959,

e a partir de Julho de 1959 ´o “design” apresenta-se com o anúncio “Ar Condicionado”, o que se pressupõe que a partir desta data foi instalado o aparelho condicionado neste teatro.

The Mating Game “ filme de 1959 da «MGM», dirigido por George Marshall, com os actores Debbie Reynolds, Tony Randall e Paul Douglas (no seu ultimo filme). (1) A canção do filme é cantada por Debbie Reynolds (2). https://en.wikipedia.org/wiki/The_Mating_Game_(film)

(1) Paul Douglas Fleischer (1907 – 11/09/1959), actor Americano conhecido como Paul Douglas entre 1936 e 1959 faleceu durante as filmagens dum episódio duma série de televisão. https://en.wikipedia.org/wiki/Paul_Douglas_(actor)

(2) https://www.youtube.com/watch?v=xTmwRRhGwys https://www.youtube.com/watch?v=qezsgkyPyYA

BREVEMENTE: “North West Mounted Police” filme americano de 1940, um “western épico”, produzido e dirigido por Cecil B. DeMille, com os actores: Gary Cooper, Madeleine Carroll, Paulette Goddard, Preston Foster, Robert Preston, Akim Tamiroff, Lon Chaney Jr. e George Bancroft. Argumento de Alan Le May, Jesse Lasky Jr., e C. Gardner Sullivan, baseado na novela de 1938 “The Royal Canadian Mounted Police” de R. C. Fetherstonhaugh. É o primeiro filme em Technicolor do realizador Cecil B. DeMille

Nos “Oscar 1941” (EUA), o filme venceu na categoria de melhor montagem. Foi indicado para as categorias de melhor direção de arte colorida, melhor fotografia colorida, melhor trilha sonora original e melhor som. https://en.wikipedia.org/wiki/North_West_Mounted_Police_(film)

Leitura de mais uma crónica de Henrique de Senna Fernandes (1)

“Em Fevereiro, aparece anunciado no Vitória um filme que causa engulhos. Correu pela cidade que a película estava recheada de escabrosidades e indecências. Intitulava-se “Modern Womanhood” (2) que os anúncios traduziram para português “A Mulher Moderna”, acrescentando “um filme educativo” e logo, mais severamente, “não é permitida a entrada de menores”. Pairou, por este motivo, um ar de escândalo, em volta da fita, cujos actores não eram conhecidos ou cujos nomes nem eram mencionados. Houve, assim, uma pré-exibição para os censores, transformados em pilares da moralidade da sociedade macaense. O “Jornal de Macau” de 2 de Fevereiro transcreve a seguinte notícia: “

Assistimos ao ensaio desta fita para a qual foram convidadas as autoridades, polícias, médicos e imprensa portuguesa e chinesa. O filme é interessantíssimo, mostrando a formação da mulher moderna e os vários costumes dos povos. Produção de uma empresa russa (nós diríamos hoje, com mais franqueza, soviética), mostra o cuidado que as autoridades têm pelo desenvolvimento da presente geração, especialmente das mulheres. O filme, focando assunto delicado, não contém todavia escabrosidades, sendo porém conveniente não ser visto por menores dum e doutro sexo, cujas cabecinhas poderiam tirar conclusões temerárias que o filme em si verdadeiramente não contém.

É claro que o Vitória encheu-se de senhoras e cavalheiros interessados em saber o que era “uma mulher moderna”. Houve quem se escandalizasse, pronunciando a crónica expressão: “Que horror!”. Que diriam essas mesmas pessoas se vissem os filmes que hoje por ali abundam, em especial, “Deep Throat” (A Garganta Profunda) (3) que corre mundo, exibido nas melhores casas de espectáculo das grandes cidades, onde papás e mamãs circunspectos vão receber a sua educação pornográfica, sem murmúrio nem protesto, até com laivos de admiração?!.

(1) FERNANDES, Henrique de Senna – O cinema em Macau III http://www.icm.gov.mo/rc/viewer/30023/1797

(2) Não consegui descobrir  qualquer informação deste filme.

(3)  “Deep Throat” filme pornográfico americano de 1972 de grande êxito commercial, escrito e dirigido por Gerard Damiano, com a actriz Linda Lovelace. https://en.wikipedia.org/wiki/Deep_Throat_(film)

Bilhete de cinema do teatro Apollo, n.º 01073 para a sessão das 14.30 horas, 1.ª classe ($1.70 pts). Fundo amarelo; em azul, a data «1 JAN 1968»

imensões: 11,8 cm x 7 cm Marcação do lugar (a vermelho) C 13
Verso do bilhete – em branco

The Dirty Dozen” é um filme de guerra rodado em 1967 com os actores: Lee Marvin Ernest Borgnine, Charles Bronson, Jim Brown, John Cassavetes, George Kennedy, Robert Ryan, Telly Savalas, Robert Webber, Donald Sutherland, Clint Walker, Ben Carruthers e Stuart Cooper. O argumento é baseado no livro de 1965 de E. M. Nathanson. Dirigido por Robert Aldrich, rodado no Reino Unido (estúdos MGM-British Studios) para a MGM. Grande sucesso commercial (orçamento: $5.4 milhões dólares; receita: $45.3 milhões dólares). Candidato a 4 óscares na 40ª Academia Americana em 1968, ganhou um: ”Best Sound Editing”. https://en.wikipedia.org/wiki/The_Dirty_Dozen

Trailers: https://www.youtube.com/watch?v=ff1V6ywnWcY https://www.youtube.com/watch?v=mMY-Bi646-M https://www.youtube.com/watch?v=W_0FrTMGF9s

Bilhete de cinema do dia 25 de Dezembro de 1961 do Teatro “VITORIA” 院戲大利多域, n.º 0064, para a sessão das 14.30 horas (2.ª galeria – 2 B) do filme “The Guns of Navarone”($1.80 pts).

Lápis vermelho com a marcação do lugar G 13 (?); 11,5 cm x 7 cm¸ fundo branco; impresso a vermelho/preto
Verso do bilhete com carimbo no lado esquerdo – metade do selo de verba

The Guns of Navarone” (“Os Canhões de Navarone”) é um filme de guerra, de 1961, ficcionado num episódio da 2.ª Guerra Mundial, realizado por J. Lee Thompson, com argumento de Carl Foreman  (também produtor do filme) , baseado no livro de Alistair MacLean, de 1957. Actores: Gregory Peck, David Niven, Anthony Quinn, Stanley Baker, Anthony Quayle, Irene Papas, Gia Scala, James Darren e Richard Harris. Música do compositor e arranjos de canções tradicionais gregas de Dimitri Tiomkin. Nomeado para 8 Óscares da Academia Americana, ganhou um: melhor efeitos especiais: Bill Warrington e Chris Greenham.

Trailers: https://www.youtube.com/watch?v=0ORnL9WmOEo https://www.youtube.com/watch?v=6f_vl40sN6g https://www.youtube.com/watch?v=AjMrIj9cO68

(1) 院戲大利多域mandarim pīnyīn: yuàn xī dà lì duō yù; cantonense jyutping: jyun2 hei3 daai6 lei6 do1 wik6

A começar em 22 de Dezembro de 1965, no teatro Apollo, o filme “That Man in Istanbul”, com as três sessões diárias habituais. Filme escolhido para a época natalícia (espectáculo para maiores de 12 anos) pois esteve em cartaz mais de uma semana.

“That Man in Istanbul”, filme (comédia sobre espionagem), de 1965, coprodução internacional, língua inglesa, distribuído nos EUA pela “Columbia Pictures, dirigido por Antonio Isasi-Isasmendi, com os actores Horst Buchholz, Sylva Koscina, Mario Adorf, Perrette Pradier, Ángel Picazo e Klaus Kinski.

Do mesmo filme, apresento um bilhete de cinema do dia 27 de Dezembro de 1965 do Teatro “APOLLO”  院戲大安平(1), N.º 043, para a sessão das 19.30 horas (1.ª galeria) ($ 2.00 pts).

Bilhete – fundo azul claro (letras vermelho + preto); 10,8 cm x 8 cm
Verso – lápis azul a data e a marcação do lugar J 11 (?)

Trailer do filme: https://www.youtube.com/watch?v=3LEy2G0DHfg

 (1) 院戲大安平 mandarim pīnyīn: yuàn xī dà ān píng; cantonense jyutping: jyun2 hei3 daai6 on1 peng4

Bilhete de cinema para o dia 25 de Outubro de 1964, com o n.º 0397, do Teatro Império, sessão das 14.30 h, 1.ª classe; preço: $ 1.80; marcação de lugar manual a vermelho – C 13

Filme: “The Fall of the Roman Empire

12,2 cm x 8,2 cm; fundo amarelo; impresso a azul/preto
Verso do bilhete com a marca no canto inferior esquerdo – metade do selo de verba

The Fall of the Roman Empire” é um filme americano, de 1964, do género épico, baseada numa obra falsamente histórica, como a maioria dos chamados filmes históricos de Hollywood. Dirigido por Anthony Mann e produzido por Samuel Bronston, com argumento de Ben Barzman, Basilio Franchina e Philip Yordan.  O filme tem uma constelação de “estrelas” nomeadamente Sophia Loren, Stephen Boyd, Alec Guinness, James Mason, Christopher Plummer, Mel Ferrer, Omar Sharif,  John Ireland e Anthony Quayle. Música de Dimitri Tiomkin (ganhou em 1965 o “Globo de Ouro” melhor música original)

https://en.wikipedia.org/wiki/The_Fall_of_the_Roman_Empire_(film)

 “Trailers”: https://www.youtube.com/watch?v=yJlxa64mKro https://www.youtube.com/watch?v=uKOJtWvSpi4 https://www.youtube.com/watch?v=topkPEonxXs

Marcação de lugar S13

Bilhete de cinema (12,5 cm x 7,7 cm) do Teatro Apollo, n.º 000026, 2.ª Classe ($1.20), para o dia 29 de Setembro de 1964, sessão das 2.30 horas (14h30). Filme: “The Great Escape”

Verso do bilhete – carimbo do “SELO DE VERBA – PROVÍNCIA DE MACAU”

“A Grande Evasão”, filme de 1963 da «United Artists», produzido e realizado por John Sturges, com um vasto elenco de actores conhecidos nomeadamente Steve McQueen, James Garner, Richard Attenborough, James Donald, Charles Bronson, Donald Pleasence, James Coburn, Hannes Messemer, David McCallum, Gordon Jackson, John Leyton e Angus Lennie

Baseado no livro de Paul Brickhill de 1950 sobre a fuga dos prisioneiros de guerra dos Aliados dum campo de concentração em Sagan (hoje, Zagan), na Polónia. https://en.wikipedia.org/wiki/The_Great_Escape_(film)

Trailers: https://www.youtube.com/watch?v=r9Q_WESQUVw https://www.youtube.com/watch?v=xkwmIDx9RwQ

Bilhete de cinema (12,3 cm x 7,7 cm) do Teatro Império, N.º 000488, 2.ª Classe ($1.10), para o dia 18 de Agosto de 1965, sessão das 14.30 horas. Filme: “In Harms Way”. No canto superior direito – metade do selo de verba (1)

“In Harm’s Way”, filme de “guerra” (o envolvimento da marinha Americana no início da II guerra mundial, em 1941) de 1965, produzido e dirigido por Otto Preminger com os actores principais John Wayne, (2) Kirk Douglas e Patricia Neal. Produzido com o sistema “Panavision gear”, é um dos últimos filmes de “guerra”a «preto e branco». Argumento de Wendell Mayes, baseado no livro de 1962 de James Bassett. https://en.wikipedia.org/wiki/In_Harm%27s_Way

(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/selo-de-verba/

(2) John Wayne (1907 –1979), em Setembro de 1964, após conclusão das filmagens deste filme, foi lhe diagnosticado cancro do pulmão tendo sido operado (extracção do pulmão esquerdo e duas costelas).

Trailers do filme: https://www.youtube.com/watch?v=Nnaf9Nneb7A https://www.youtube.com/watch?v=nc_IXNH5nA8 https://www.youtube.com/watch?v=yXzNQHNsQHk