“11-03-1929 – Nesta data, no Tanque do Mainato, perante uma comissão de pessoas nomeadas pelo Governo, queimaram-se os exemplares apreendidos da 2.ª edição do livro “Historic Macao” de Montalto de Jesus, por ter advogado, no último capítulo, que a colónia de Macau fosse administrada pela Sociedade das Nações” (1)

C. A. Montalto de Jesus (Hong Kong 1863- Hong Kong 1927) publicou o livro «Historic Macao», em Hong Kong no ano de 1902, tornando-se desde logo num livro de leitura obrigatória para quem quisesse estudar e compreender a História de Macau. (1)

A apreensão e destruição do livro, em Macau, em 1926, por decisão judicial foi devido à publicação da 2.ª edição, publicada em Macau (2) em que o autor incluiu três capítulos finais sobre a situação de Macau (muito crítico à governação do Território), (3) advogando uma “autodeterminação de Macau”, sob a tutela da Liga das Nações.

(1) TEIXEIRA, P. Manuel – Toponímia da Macau, volume I, 1997, p. 420

(2) JESUS, C. A. Montalto de – Historic Macau. International Traits in China old and New. Second Edition, revised and enlarged, nineteen illustrations. Macao, Salesian Printing Press and Tipografia Mercantil, 1926.

(3) ”15-06-1926 – Apreensão do livro «Macao Historic» da autoria Montalto de Jesus (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume , 2015, p. 184.) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/06/15/noticia-de-15-de-junho-de-1926-historic-macao/

Referências anteriores a Montalto de Jesus: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/c-montalto-de-jesus/

NOTA: “CARLOS MONTALTO DE JESUS (1863-1927), um grande e injustiçado historiador de Macau, nas palavras do investigador António Aresta, foi o autor de Historic Macau (1902), uma das mais conhecidas obras sobre a História do território. Montalto de Jesus, que viveu em Hong Kong e em Xangai, escreveu, entre outras obras, The Rise of Shangai (1906) e Historic Shangai (1909). Homem culto, tornou-se sócio correspondente da Sociedade de Geografia de Lisboa a 9 de Novembro de 1896 e foi um activo militante do Partido Republicano.

Na introdução à versão portuguesa, com o título de Macau Histórico, o historiador Carlos Estorninho classificou-a como a glória e o martírio de Montalto de Jesus. Glória, porque constituiu a sua consagração como historiador e como macaense, granjeando-lhe o respeito da crítica e das autoridades de Macau, que consideraram o livro como o melhor trabalho de conjunto sobre o estabelecimento português na China Meridional. Em versão inglesa para garantir uma maior divulgação internacional e o conhecimento do seu conteúdo pelas numerosas comunidades portuguesas de Hong Kong, Xangai e de outras cidades portuárias da região, o livro foi um best-seller e a edição esgotou-se em pouco tempo. Martírio, porque a 2.ª edição, publicada em Macau em 1926 e igualmente em inglês, incluía uns capítulos com críticas a um regime colonial míope e alusões à trágica situação em Portugal, defendendo o autor que Macau fosse colocado sob a tutela providencial da Liga das Nações como salvaguarda contra mais ruína, o que provocou o repúdio dos que consideraram esta proposta como uma grave ofensa aos valores pátrios. As autoridades de Macau ordenaram a apreensão e a destruição pelo fogo dos exemplares existentes no território. Outros ventos, que não os da República que ele tanto prezava – apesar da decepção que sentiu quanto ao rumo que este regime tomou em Portugal e na China -, sopravam então em Macau, como consequência do novo quadro político saído da revolução de 28 de Maio de 1926.”

OLIVEIRA, Celina Veiga de – Macau e o Povo em Diáspora. Administração n.º 111, vol. XXIX, 2016-1.º, 189-197 pp 194-195

C. A. MONTALTO DE JESUS

FELLOW OF THE GEOGRAPHICAL SOCIETY OF LISBON

MEMBER OF THE CHINA BRANCH OF ROYAL ASIATIC SOCIETY

HONG KONG

KELLY & WALSH, LIMITED

PRINTERS & PUBLISHERS

1902

Leitura sugerida: RICARDI, Alexandre – Glória e danação: quando o fazer história torna-se a ruína de um cientista in http://www.snh2015.anpuh.org/resources/anais/39/1437620228_ARQUIVO_ApresentacaoAlexandreRicardi.pdf