Continuação da estória histórica e policial sobre o roubo e depois a devolução ao seu proprietário – Leal Senado – de dois raros desenhos de George Chinnery, seis anos depois de terem desaparecidos misteriosamente em Nova Iorque,

 “Quanto aos presumíveis inquilinos do apartamento (onde foram encontrados os desaparecidos desenhos) as pistas encontradas pela polícia nova-iorquina eram mínimas – apenas alguns livros escritos em português tinham deixados para trás. Depois de contactarem a Galeria de Arte que inicialmente vendera os desenhos ao Leal Senado, os funcionários do «Art Loss Register» descobriram a identidade dos proprietários das obras de arte. O Leal Senado enviou prontamente um técnico especializado a Nova Iorque a fim de verificar, in loco, a autenticidade dos desenhos, mas o regresso definitivo das duas peças artísticas a Macau ficaria adiado. A partir daí começou um longo e intricado processo legal até que os desenhos pudessem voltar às mãos do legítimo proprietário. (…)

George Chinnery, Vista da Rua perto da Igreja de S. Lourenço, lápis sobre papel, 1839

Um golpe de sorte

 “ Em 1994, decorridos seis anos sobre o misterioso desaparecimento e conservados em duvidosas condições, ninguém esperaria que os desenhos de Chinnery regressassem às mãos do Leal Senado de Macau em óptimas condições. M, afortunadamente, o amadorismo dos larápios não teve outras consequências que não a troca das molduras que acompanhavam os desenhos. É que, certamente na esperança de puderem transacionar os desenhos no mercado negro sem denunciarem a sua origem, os ladrões optaram por retirar os trabalhos das respectivas molduras. Até, porque, pouco convenientemente, ambas as molduras apresentavam, no verso, o selo da Galeria londrina que os vendera. Gorada a incursão nos circuitos marginais, os autores do furto viram-se obrigados a retrocederem nas intenções e voltaram a colocar os desenhos nas molduras, acabando por trocá-las inadvertidamente. Foi ainda assim, com os desenhos certos nas molduras erradas que o Leal Senado recebeu de volta as preciosas obras-primas de Chinnery, o pintor que transportou para as suas telas significativas vivências da história de Macau.”

Extraído de CUNHA, Luís (texto) em “Leal Senado, Uma Experiência Municipal (1989-1997)”, edição Leal Senado de Macau, 1997, pp. 65-66