ÚNDE TA VAI, QUIRIDA?

Macau di nosso coraçám,
Alma di nosso vida,
Únde vôs ta vai, quirida,
Assi metido na iscuridám?

Qui di candia pa lumiá vôs?
Quelê-môdo vôs pôde andá?
Cuidado, nom-mestê tropeçá!
Vôs cai, nôs cai juntado co vôs.

Macau di rosto tristónho,
Únde têm vôsso alegria?
Quim já suprá vôsso candia
Largá vôs na treva medonho?

Ventania fórti ta zurní,
Tempo ta fazê coraçám esfriado;
Na fugám, fôgo apagado,
Amôr tamêm pôde escapulí.

Nom-têm calôr, bom-têm luz
Mâz fé sã nom-pôde falta.
Dios Misericordios logo achá
Unga Cirineu pa vosso cruz!

Verão portuguesa:
ONDE VAIS, QUERIDA

Macau do nosso coração,
Alma da nossa vida,
Onde vais, querida,
Tão cercada de escuridão?

Onde está a vela para te alumiar?
Como podes caminhar assim?
Cuidado, não tropeces!
Caindo tu, cairemos todos contigo.

Macau de semblante tristonho,
Onde para a tua alegria?
Quem foi que te soprou a vela
E te deixou nessas medonhas trevas?

Fustigam ventos fortes
E o tempo vai arrefecendo o teu coração;
Com o fogo apagado na lareira,
Até o amor acabará por sumir.

Não há calor, não há luz,
Mas fé não poderá faltar
Deus Misericordioso descobrirá
Um Cirineu para a tua cruz!

FERREIRA, José dos Santos – Poema na Língu Maquista, 1992