“Festa de arromba, porém, e que ficaria a marcar, foi a que o governador, Visconde de S. Januário deu, no dai 31 de Outubro, para assinalar o aniversário natalício do rei D. Luís, para a qual se tinham efetuado, com a devida antecedência, todos os preparativos, para que nada faltasse ao luzimento que se lhe pretendia imprimir. Era, portanto, esperada com grande ansiedade, na cidade, não se falava noutra coisa, e, efectivamente, a sua realização excedeu toda a expectativa.
Nessa noite, a Praia Grande, desde o largo do Chunambeiro (hoje Praça Lobo d´Avila) até ao quartel do batalhão, mostrou-se garridamente engalanada, sendo uma fita continua de balões multiformes e multicores, e as fachadas das moradias ao longo dessa avenida apresentavam-se primorosamente iluminadas, diligenciando os seus proprietários por se superarem uns aos outros em riqueza de ornamentação, originalidade e bom gosto, sendo de destacar o palácio do Barão do Cercal, que tinha no centro da elegante varanda uma luz eléctrica – autêntica novidade para a época – levando as espias até ao topo do mastro do consulado – era ele cônsul da Itália – balões de variedades cores.
Macau – Praia Grande
Fotografia de John Thomson, 1870 (1)
https://wellcomelibrary.org/item/b11767042#?c=0&m=0&s=0&cv=0&z=-0.3509%2C0.0056%2C1.789%2C0.8411
Na residência de B. E. Carneiro via-se o retrato de D: Luís a óleo, encaixilhado numa cercadura de cristal policromo e lanterninhas de diversas cores dispostas em arco nas janelas.
A varanda de Bernardino de Sena Fernandes. De todas a que mais sobressaía na Praia Grande, estava enfeitada com as letras V. L. I., encimadas por uma estrela, constituindo também atracções que obrigavam os transeuntes a deter-se para as admirar, as residências do Visconde do Cercal, cônsul do Brasil, a do Sr. Garcia e a do cidadão britânico Deacon, cônsul de Portugal em Cantão.
No mar, a iluminação mais surpreendente era a da lancha a vapor dos agentes de emigração, brilhantemente decorada à veneziana, e dois grandes lustres espargiam intensa luz em frente do peristilo do Palácio do Governo
Era tão grande a concorrência nas ruas, que as cadeirinhas – meios de transporte usados nessa época – dificilmente conseguiram prosseguir o seu caminho, obrigadas constantemente a longos compassos de enervante espera.
No Palácio do Governo, com o salão recentemente ampliado e intensamente iluminado por grande profusão de luzes e reflexos de cintilantes cristais dos lustres e candelabros bem como dos grandes espelhos que ornamentavam as suas paredes, iniciou-se o baile, a preceito, com a esposa do Governador de Hong Kong, sir Arthur Kennedy e este com a esposa de Carlos Correa Paes d´Assumpção.
O jardim, onde se armou um pavilhão chinês e se serviam refrescos, estava um brinquinho. As três salas contíguas ao salão do dossel estavam, porém, mobiladascomo nos anos anteriores, mas com mais profusão de luzez, tendo a segunda das salas sido toda forrada de branco e preparada para valsas e polcas. No elegante bufete, caprichosamente ornamentado e disposto, serviam-se, interminavelmente, os mais finos vinhos e gelados.
Lauta e rica fora a ceia com que pelas duas horas de manhã, se banqueteavam os convivas.”
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(1) John Thomson (1837-1921) efectuou a sua primeira visita à China entre 1868 e 1872, registando a vida e os costumes locais através da fotografia. Tirou mais de 200 fotografias obtidas compreendendo tiradas em Macau, Hong Kong, Guangzhou, Shantou, Fuzhou, Xiamen, Taiwan, Shanghai, Ningbo, Nanjing, Sichuan, Tianjin, Beijing e Pequim, entre outros locais.
http://www.gcs.gov.mo/showNews.php?DataUcn=78902&PageLang=P
Ver referências anteriores em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/john-thomson/
(2) GOMES, Luís Gonzaga – Páginas da História de Macau, 2010, p.301
Referências anteriores em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/08/leitura-a-vida-em-macau-no-ano-de-1872-i-outubro/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/17/leitura-a-vida-em-macau-no-ano-de-1872-ii-17-de-outubro/
[…] (2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2019/10/31/noticia-de-31-de-outubro-de-1872-leitura-a-vida-em-m… […]