“22-08-1895 – Neste dia apareceu o benzedeiro Lai Chan Pac Choy a bordo da lancha de Ho Seng Ly que se achava doente. Depois do ajuste, deu princípio à cura, começando por bater cabeça aos ídolos de bordo e deu ao doente um pó para tomar, o que ele fez. Mas piorou e morreu pouco depois! O benzedeiro foi preso.
A 26-08-95, o Administrador Capitão Canavarro (1)  oficiava ao Delegado de Procurador da Coroa e fazenda:
1.º – O falecido andava doente à mais de 10 dias e era fumista d´opio.
2.º – Os simptomas que apresentava era ter muito calor no corpo.
3.º – Quando tomou os remedios a que se atribue a morte, foi depois de dez dias de doença, tendo antes tomado outros remedios cazeiros.
4.º – Depois de tomar o remedio, duas horas pouco mais ou menos, o falecido sentiu-se muito afflicto, fez esforços para vomitar, não teve dierrea e dizia que sentia muito calor no peito.
5.º – Não houve muitas convulsões.
6.º – O tempo decorrido depois de tomar os remedios e morte foi, como disse, duas horas pouco mais ou menos.
7.º – Não pode saber ao certo o nome do medicamento, aquelle a que se atribue a morte, segundo diz o marinheiro de bordo por nome Hung a Cao, foi levado pelo benzedeiro e por elle administrado ao doente.” (2)
Já em 1880, o tenente José Correia de Lemos, (3) Administrador do Concelho das Ilhas que bem conhecia os costumes e superstições do seu Concelho, define assim “os benzedeiros”, num relatório datado de 20 de Julho de 1880:
Os benzedeiros são com effeito uns embusteiros que se dizem com poder de descobrir remedios para enfermidades cridas incuráveis, segredos que se julgavam impenetráveis etc, chamando em seu auxílio os espíritos maus e as almas dos defundos, no que tudo creem os pobres pescadores. Mas tal crença está já tão enraizada no animo d´esta gente que absurdo seria fazer desaparecer da sociedade semelhantes especuladores.
Os benzedeiros habitam no mar e todos eles são pescadores.
A gente da terra, menos ignorante e mais sensata, não se deixa levar dos embustes dos benzedeiros, e não me consta que eles sejam chamados, mesmo para as doenças graves.
Os benzedeiros, somo disse, são pescadores, e dez lorchas sei eu que pagam aos mandarins, pelo exercício público da sua profissão, a quantia de vinte taeis de prata, cada um por anno.
O encarregado de receber este tributo é o cabeça de pescadores.
As autoridades chinesas, tão atiladas que são neste ponto chamadas para exemplo, prohibem pois em terra oque no mar permitem mediante um tributo elevado, do que lhes resulta um avultado interesse.” (2)
Comentário do Padre Teixeira: “ Os pobres pescadores metiam-se cegamente nas mãos destes curandeiros que, sem estudos nem conhecimentos médicos, diveriam antes ser chamados coveiros.
(1)  José de Sousa Carneiro Canavarro- administrador das Ilhas de 15/02/1890 a 1/11/1902.
(2) TEIXEIRA, Padre Manuel- Taipa e Coloane, 1981, pp. 157-160
(3) José Correia de Lemos– administrado das Ilhas de 5/5/1879 a 13/01/1890.