Relatório do Director das Obras Públicas da Província de Macau e Timor José Maria de Sousa Horta e Costa (1) relativo ao ano de 1885 e datado de 1 de Julho de 1886. (2)
1885– “No jardim da gruta de Camões, fizeram-se trabalhos mais importantes. Levantou-se um grande muro, que abatera com as chuvas em que se despenderam $430,00. Abriram-se novas ruas, construiu-se um pequeno jardim com canteiros limitados por pedras britadas e de cores differentes, compraram-se em Cantão muitas plantas para o adornar, bettonaram-se muitas ruas, empregando uma dosagem tal, que resistisse ás chuvas, como de facto tem succedido, construiu-se um viveiro com canteiros limitados de tijolo vermelho, levantou-se provisoriamente um kiosque de bambú e óla para a banda de musica, mandaram-se fazer 20 bancos de madeira, que custaram $120,00, picaram-se todos os degráos de cantaria ali existentes, e fizeram-se outros trabalhos para adorno e embellezamento.
Este sítio, ultimamente adquirido pelo governo, não só pela tradição historica, que lhe está ligada, mas por ser um dos pontos mais bellos e pittorescos de Macau, merece que se lhe preste uma grande attenção, e não hesito em confessar, que esta direcção não tem tempo nem pessoal para cuidar devidamente.
É n’este sitio, que se ergue a gruta, onde, si vera est fama, o nosso eminente epico, Luiz de Camões, compôz parte do seu magnifico poema, conhecido hoje em todo o mundo civilizado, e traduzido em quasi todas as linguas.
Esta gruta formosissima achava-se precedida por um portico de alvenaria, e tapada com uma grade de madeira, que a desfeiavam bastante, e sobre ella levantava-se um kiosque de pouco gosto e em máo estado. Tudo isto foi arrancado, conservando-se apenas a obra da natureza, devendo mais tarde este local ser devidamente adornado.
O que ha a fazer aqui? Muito, mas a verba distribuida é tão pequena, que pouco sobrará depois de pagar as despezas ordinarias. E é pena isto. (3) Ha aqui local proprio para se construir um lago, cujas aguas, subindo por meio de bombas, de poços existentes ali, desçam depois formando repuxo. Tem espaço para reter alguns animaes mais raros, e tornar-se assim de curiosidade zoológica, e o viveiro, já mencionado, e magnificamente disposto para ali se dislfibuirem, por classes e familias, differentes plantas, podendo fazer-se assim um attencioso estudo da flora da colonia, o que com certeza é util e instructivo.
Apezar porém de tudo isto, da falta de meios, de tempo e de pessoal, eu jamais descurarei este local, que a cidade de Macau tanto deve appreciar, e que por tantos motivos lhe deve ser caro”.
(1) José Maria de Sousa Horta e Costa que esteve em Macau como Director das Obras Públicas em 1886 (na altura tenente de Engenharia) viria a ser nomeado governador de Macau (1894 – 1896). Ver anteriores referências  em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jose-maria-horta-e-costa/
(2) José Maria de Sousa Horta e Costa, Director das O. P. — Relatório da Direcção das Obras Públicas da Província de Macau e Timor relativo ao Ano de 1885, datado de 1 de Julho de 1886 — pág. 356 in Boletim da Província de Macau e Timor, de 14 de Setembro de 1886 — Suplemento ao n. ° 36)
(3) O mesmo Director, no Relatório de 1886, voltaria a falar do mesmo jardim.
“1886 – Nos jardins do Chunambeiro, de S. Francisco e da Gruta pouco ou nada se fez de novo. Apenas n’este ultimo se construiu um pequeno tanque onde a agua, vindo d’um reservatorio collocado a grande altura, cahe em forma de repuxo. A despeza pois feita este anno nos jardins foi apenas a despeza de conservação“.
José Maria de Sousa Horta e Costa, Director das O. P. – Relatório Sobre Obras Públicas relativo ao Ano de 1886, datado de 30 de Junho de 1887 –pág. 370 — in Boletim da Província de Macau e Timor, de 3 de Novembro de 1887)