BOM CARNAVAL PARA TODOS
No dia 27 de Fevereiro de 1968, (DIA DE CARNAVAL) realizou-se no Teatro D. Pedro V uma récita em «patois», cujo relato inicial publiquei no ano passado (2017) (1)
“Depois, irrompeu pela plateia a Tuna, marchando e executando antigas marchas populares do Carnaval (marchas duma animação típica e inconfundível, que faziam as delícias da sociedade macaense de há trinta anos ou quarenta anos e têm, hoje, o gosto amargo duma saudade…). As 11 figuras que a formavam tomaram o seu lugar entre o palco e a primeira fila da plateia. E tocou, preenchendo os breves intervalos de cada número da representação. Reconhecemos neles os nomes de Francisco Freira Garcia, Mário Nogueira, Américo Vital, Manuel Rego, Luís A. da Rocha, Eduardo Siqueira, F. Siqueira, Domingos de Assunção, Filomeno da Rocha, António A. Amante e João Baptista M. K. Lam. Tocaram e agradaram plenamente, e fizeram o «milagre» de ressuscitar, ao som das violas e bandolins, uma época que já lai vai e não volta mais.
Três peças cómicas de um acto subiram à cena.
Na primeira, «Velho sevadízio», actuaram Lobato de Faria (já conhecido no meio local), no papel de velha «rabujenta» e «pelizona»; «Giga» Robarts (outra figura já evidenciada nas anteriores récitas), no papel de «Mena » linguareira e sem-papas na língua, e Tranquilino da Silva (para nós uma revelação), no papel de «Chencho, um tipo antigo de abastado cidadão macaense. O diálogo, fluente e pitoresco, entre as três personagens foi acompanhado com ao mais vivo interesse pela assistência. Risos não faltaram e gargalhadas também. Um trio modelar, no género. Nem sequer faltou, na cena final, um polícia (Alberto Alecrim, que apenas entremostrou – nesta cena – o seu papelão de cómico nato e consumado.
«Já fazê asnéra» deliciou a assistência dum «menino bonito» que se enamorou da «bicha» da vizinha do lado. Santos Ferreira, no papel da «bicha» foi simplesmente impagável. Álvaro da Silva, no papel de «senhora» à moda antiga, distinguiu-se pela sobriedade com que interveio e largou das «suas» (em «patois» de pura gema»). Maria Machado Correia Marques, no papel da mãe do «menino bonito» , revelou-se uma artista da primeira plana. Naturalidade e presença de espírito. Fala o «patois» com uma fluência antiga. E a senhora de Tranquilino da Silva, como «menino bonito», fez maravilhas. Só vista e ouvida. O quadro foi harmonioso. Completo. Evidentemente que fez rir toda a gente.
E «Chico vai escola» deu-nos um diálogo de típico sabor local. Alberto Alecrim (o professor) confirmou as suas qualidades, de actor nato e consumado. A sua actuação em português, a contrastar com a actuação de Tarcício da Luz (Chicho), este no papel de matriculando, um «pitoresco» dialecto macaense, foi magistral. Chicho, por seu turno, mostrou dotes até então desconhecidos do grande público. Duma calma e duma espontaneidade raras, representa bem. O seu «patois» e a sua mímica têm piada, mesmo muita piada, como depois confirmou, exuberantemente, noutros números em que interveio. Foi a a revelação da noite. ….” continua
Na primeira fila: (da esq. para a dta): Mário José Nogueira, Filomeno Rocha, e os irmãos Siqueira.
(1) Continuação do artigo iniciado em 27 de Fevereiro de 2017, extraído de TEIXEIRA, P. Manuel – O Teatro D. Pedro V, 1971; ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2017/02/27/noticia-de-27-de-fevereiro-de-1968-recita-de-carnaval-no-teatro-d-pedro-v/
As fotos foram retiradas da Revista «MacaU», II série, n.º 13 de Maio de 1993, pp. 44 e 49