Continuação da leitura de Francisco de Carvalho e Rego, publicado em anterior post (1):
As três curvas da Baía da Praia Grande (final da década de 40, século XX)
“… Então, o cunho português desaparecia, surgindo o aspecto de um a pequena cidade chinesa, que a avenida marginal do Porto Interior revelava aos olhos cobiçosos do observador.
O peixe estendido pela via pública, exposto ao Sol, na salga que o chinês faz a capricho, espalhava pelo ar um aroma desagradabilíssimo que, de mistura com o cheiro de hortaliças salgadas, do balichão e outros produtos da indústria explorada, confundia e perturbava quem a ele não estivesse acostumado.
Altos rickshaws, pintados a vermelho, com aros de ferro nas rodas, cruzavam a rua em correria, sem que os peões se afastassem, apesar dos altos gritos dos cúlis.
O casario baixo e sujo igual em toda a Avenida marginal, sendo os baixos utilizados para comércio e o primeiro e único andar para moradia.
Junto ao cais de desembarque viam-se muitos rickshaws, e cúlis segurando longos e grossos bambus, prontos para a descarga.
Serviço da polícia marítima, rudimentaríssimo, era feito nos cais por um ou outro indiano, auxiliado pelos chamados loucanes, que vestiam uniforme curiosíssimo, com meias brancas por fora das calças e pequenos chapéus feitos de filamento de bambu.
O policiamento das ruas pertencia aos soldados de infantaria que, de grandes chapéus de aba larga, se lobrigavam de quando em vez, aqui, ali, ou acolá.
Desse cais do porto interior caminhava-se para o coração do bairro chinês e, por ruas tortuosas, vinha dar-se ao Largo do Senado, onde o edifício da Câmara mais e melhor nos fazia lembrar que tínhamos deixado a China e regressado a Portugal.
Só faltava o pelourinho!”…”
continua
Balichão – tempero para guisados ou acepipes; molho composto de camarões pequenos, esmagados com sal, pimenta, malagueta, aguardente e aromatização com folha de louro (2)
Cúlis do inglês coolie – Cule- trabalhador chinês: carregador (carregava aos ombros os palanquins, liteiras) estivador, puxador de carroças e riquexó, condutor de triciclo, etc (2) Ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/cules/
Loucanes – assim denominados os “marujos chineses”.
Riquexó, “rickshaw” ou jerinchá – é o meio de transporte humano em que uma pessoa puxa por uma carroça de duas rodas. Ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/riquexos/
(1) REGO, Francisco de Carvalho e – Macau … há quarenta anos in «Macau». Imprensa Nacional, 1950, 112 p.
(2) (BATALHA, Graciete – Glossário do Dialecto Macaense, 1988 e Suplemento ao Glossário do dialecto Macaense, 1988.
[…] em https://nenotavaiconta.wordpress.com/2017/08/10/leitura-macau-ha-cem-anos-a-chegada-i/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2017/08/16/leitura-macau-ha-cem-anos-a-chegada-ii/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/francisco-de-carvalho-e-rego/ (3) O Sr. Farmer comprou o […]