Hoje e amanhã (4 e 5 de Março) em Macau realizam-se mais uma vez a procissão do Senhor Bom Jesus dos Passos, a grande manifestação de fé da comunidade macaense, residente e da diáspora.

A Procissão do Senhor dos Passos devia ter sido implantada em Macau logo nos primórdios de fixação dos portugueses nestas paragens do mundo. Uma transposição exacta duma prática religiosa que vigora ainda nas mais diversas terras metropolitanas, com as mesmas manifestações exteriores e até na forma como se realiza o cumprimento das promessas, hoje abolido, porque já não se observam as pessoas penitentes descalças debaixo do andor, como noutros tempos, embora se via ainda na década de 60 (século XX) perdida na multidão uma ou outra mulher que se descalça para cumprir o voto feito em momentos de extrema aflição, voltada para a misericórdia do Bom Jesus dos Passos.
Domina no cortejo a cor preta ou cores de acentuada tonalidade discreta, pois seria uma discordância com o espírito que domina todo acontecimento se o berrante ou as cores mais vivas impusessem a sua presença.
O silêncio, que agora se não observa com o rigor doutros tempos, constitui igualmente uma nota característica de todo o aparato que atrai ainda hoje em dia uma grande multidão de fiéis que nele se incorporam, depois de grande parte deles ter assistido à novena que precede o acontecimento e que decorre na igreja de Santo Agostinho. (1)
É pena que por imposições aceitáveis do trânsito que se intensifica cada vez mais, com o crescente aumento dos veículos em circulação, as ruas do itinerário não possam ser ocupadas literalmente pelos que se integram nesta tão devota procissão, a lembrar velhos tempos de fervor religioso entre a gente portuguesa de ambas as bandas dos oceanos, hoje já bastante arrefecido não só pela mudança de atitudes como pela recessão que a própria Igreja está a decretar sobre as prácticas que comportam muito exteriorização com detrimento duma vida interior mais consciente. Compreende-se… (2)
(1) Este ano, devido às obras realizadas na Igreja de Santo Agostinho, a procissão com o andor sairá da Igreja de S. Domingos no dia 4 de Março para a Sé Catedral e regressará, no dia 5, à mesma Igreja. Por isso, o trajecto habitual da procissão sofrerá, este ano, alterações.
(2) Fotos e 1.ª parte do texto (com adaptação) não assinado de M.B.I.T., 1974.