Em 1 de Março de 1926, faleceu em Macau, por tuberculose pulmonar, Camilo Pessanha (1)
Acerca desse falecimento, o «Diário de Lisboa» (Portugal) publicava no dia 3 de Março de 1926, na sua página 4, na rubrica “UMA FIGURA”, um artigo intitulado:
Morreu
EM MACAU
O grande poeta
Camilo Pessanha
“Morreu um poeta, um grande poeta português – Camilo Pessanha. A notícia veio de longe, do extremo oriente, de Macau, que é ainda português, saudade das descobertas, que ficou perdida em mares e terras que se perderam para nós. Camilo Pessanha, que não cabe nas linhas fugidias de uma reportagem como esta, era, sem dúvida, o mais bizarro, o mais complexo, o mais extraordinário temperamento lírico do seu tempo. Em Portugal o nome de Camilo Pessanha era sagrado para os raros que o conheciam.
Havia quem guardasse os seus sonetos, como maravilhas. Quem os recitasse baixinho, como orando o divino mistério trágico do destino.
Ninguem como ele encontrava rimas insolentes de côr, ideias inspiradas na sombra, pela nevropatia de um genio que ardia em fogos imortais. «Tatuagens», «Volta no lar», «Coimbra» e tantíssimos outros versos são monumentos inolvidáveis de belesa, em que a língua, em assomos de emoção, de sonho e de clarividência atinge o espaço em toda a altura.
Camilo Pessanha deixa uma obra fragmentada. Dele conhece-se apenas um livro: «Clepsydra», publicado pelos seus amigos. A maior parte dos seus versos eram-lhe roubados. Muitos outros, espantosamente belos, rasgou-os ele, em frenéticos delírios de ansiedade.
A figura de Camilo Pessanha é extraordinária – extraordinária sem exagero. Vinte anos de Oriente, onde ele morreu, envolveram no em grandeza, em ficção, em espanto. A sua biografia é um mosaico raro, policromo, fascinante de histórias singulares, de detalhes curiosíssimos. A sua vida era outra vida. A sua alma – outra alma. Vida e alma que acordaram as grandes irrealidade do opio, – sonambulismo espiritual de formidável creação… “
Em um Retrato
De sob o cômoro quadrangular
Da terra fresca que me há de inumar,
E depois de já muito ter chovido,
Quando a erva alastrar com o olvido,
Ainda, amigo, o mesmo meu olhar
Há de ir humilde, atravessando o mar,
Envolver-te de preito enternecido,
Como o de um pobre cão agradecido.
Camilo Pessanha, in “Clepsidra”
(1) Ver referências anteriores em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/camilo-pessanha/
[…] (1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2017/03/01/noticia-de-1-de-marco-de-1926-uma-figura-morreu-o-gr… (2) A Biblioteca Nacional (BN) adquiriu em 2009, dez cartas enviadas por Camilo Pessanha ao seu amigo Carlos Amaro, um acervo que esteve durante décadas na posse de uma filha do destinatário que morreu em 2008. https://www.publico.pt/temas/jornal/dez-cartas-de-um-pessanha-na-meiaidade-17911907 (3) “Em Macau, Camilo Pessanha habita durante inúmeros anos no número 75 da Rua da Praia Grande, juntamente com a sua companheira, a filha desta (Kuoc Ngan-Yeng, mais conhecida por Águia de Prata) e o filho de Pessanha, João Manuel, o qual daria ao autor uma neta, a D. Maria do Espírito Santo Manhão. Foi contudo com Águia de Prata que Pessanha estabeleceu uma relação mais próxima e com ela viveria até à morte, deixando-lhe a maior parte dos seus bens em testamento.” http://cvc.instituto-camoes.pt/sabermaissobre/cpessanha/02macau.html (4) “Em Portugal, Camilo Pessanha frequenta o “Café Martinho”, o “Royal”, o “Restaurant Londres”, a “Cervejaria Trindade” e outros espaços onde se reuniam os artistas e intelectuais do início do século XX….” http://cvc.instituto-camoes.pt/sabermaissobre/cpessanha/02macau.html (5) José Bento de Araújo (1851-1924) – cavaleiro tauromáquico, que se Iniciou na arte de tourear numa vacada, realizada em 1874 na praça da Junqueira, toureou em Sacavém, e mais tarde em Lisboa, na antiga praça do Campo de Santana, onde trabalhou por muitos anos. Em 1892 foi para França, entrando em diversas corridas, em diversas cidades como Paris, Nimes, Avignon, Marselha e depois em muitas corridas em Espanha. Na praça do Campo Pequeno tem continuado com os seus trabalhos tauromáquicos, sendo sempre muito aplaudido. Já esteve no Brasil, onde, em, companhia do falecido cavaleiro, Alfredo Tinoco, causou entusiasmo numas touradas no Rio de Janeiro. http://www.arqnet.pt/dicionario/araujbento.html (6) Fernando de Oliveira (1859-1904 – cavaleiro tauromáquico experiente) que actuou na corrida inaugural, a 18 de agosto de 1892, passaria à história por ter protagonizado um momento trágico na festa dos toiros e, em particular, na história da Monumental do Campo Pequeno; na tarde de 12 de Maio de 1904, rematava um ferro à tira, no «Ferrador», da ganadaria Marquês de Castelo Melhor, quando foi derrubado do cavalo, tendo ficado à mercê do toiro que o atingiu com uma cornada fatal. Em consequência, sofreu uma fratura do crânio e morreu a caminho do Hospital de São José. https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernando_de_Oliveira_(cavaleiro_taurom%C3%A1quico) […]