Continuação de (1)
“À tardinha, e até pela noite fora, os cozinheiros vendedores de sopa de fitas (Van-tan-min) (2) são os mais frequentes e agregam o maior número de clientes, incluindo macaenses e metropolitanos. É, certamente , o manjar chinês de maior consumo e o preferido pelos portugueses. Na realidade, o delicioso Van-tan-min tem a propriedade de conquistar à primeira prova o metropolitano recém-chegado, forçando-o a ser um consumidor incondicional. A tijelinha com caldo de camarão, coberta de massa em fitas e camarão enrolado em massa e gema de ovo, com alguns temperos, tem o condão especial de deleitar todos os paladares. Durante os meses cálidos – e eles constituem a maioria do ano – juntam-se ao entardecer, conservando-se pela noite fora, em redor do campo da Bolinha, à Praia Grande, (3) algumas dezenas de cozinheiros ambulantes com os mais variados petiscos.
O vendedor da saborosa e apreciada sopa de fitas (Van-tan-min)
Aí se vêem também, com a sua bancada própria, os bruxos ou adivinhos que à guisa de ciganos, lêem o futuro na palma da mão.
É sem dúvida, neste local que se faz a maior concentração de cozinheiros ambulantes. Alguns mais completos possuem um carro, género bancada, com quatro rodas de ferro, e estabelecem ali o seu paradeiro durante os meses calmos. De inverno estacionam em locais onde se realizem espectáculos desportivos.
Os vendedores de chás medicinais prontos a beber, para tratamento de qualquer órgão: estômago, fígado, rins, etc., encontram-se sempre no referido local e normalmente têm regular clientela. Os vendedores e propagandistas chamam a atenção do público fazendo tilintar campainhas ao mesmo tempo que reclamam, gritando, a eficácia do uso dos seus produtos.
Homens e mulheres, adultos e crianças, todos recorrem aos cozinheiros ambulantes
Os cozinheiros ambulantes encontram-se enfileirados e, como a permanência é longa, quase todos põem pequenas mesas com bancos baixos em redor da improvisada cozinha. Como a população chinesa janta, por norma, entre as 17 h. e 18 h., é vulgar depois das 20 horas encontrar-se em volta dos cozinheiros , numerosa clientela saboreando os petiscos predilectos. Ali se vêem os cozinheiros de Van-tan-min, de caril, de cabeça de porco e miudezas cozidas, de frituras de choco e batata doce, de camarão, pimentos, etc. …(…)
É bem rudimentar, por vezes, o «trem de culinária» dos cozinheiros ambulantes
Na Praia Grande, junto ao Campo da Bolinha, o tilintar das campainhas, os pregões estridentes, a vozearia confusa continuam, continuam sempre, até desfalecerem a pouco e pouco pelo adiantado da noite e só ao perceber no recinto um ou outro noctívago consumado que apenas se retira quando os últimos cozinheiros recolhem a casa.”
Artigo não assinado de «MACAU B. I., 1953».
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2016/05/10/os-antigos-cozinheiros-ambulantes-de-macau-1953-i/
(2) Sopa de fitas : Van- tan-min (wantan min) – 雲吞麺 (mandarim pinyin: yúntūn miàn; cantonense jyutping: wan4 tan1 min6.
(3) O campo da bolinha era o antigo Campo Desportivo dos Operários, hoje onde está o Hotel Grand Lisboa.