“Os principais pagodes de Macau são o da Barra e o da Porta do Cerco e o de Matapan.
A religião budista é a que principalmente domina na China, apesar de ter sido primitivamente muito perseguida como contrária às leis estabelecidas. É muito grande o número dos seus deuses. Existe um céu, um purgatório e um inferno. Conforme os presentes que se fazem aos deuses e a prática das virtudes, assim se tem a certeza de ir para um ou outro deste lugares. Acreditam na metempsicose, e, assim, há casos de fanáticos que se matam para voltar à terra transformados em mandarins. Como exemplo, e bem frisante, bastará, sem mais comentários, traduzir literalmente do Chinese Times, excelente jornal inglês que se publica em Tien-Tsin, a seguinte notícia que lemos na sua curiosa secção «Local and General from Sih-Pao» (jornal china):«A mulher de um homem chamado Liu, empregado nas Obras Públicas e que vivia dentro da porta de Hsuan-Wu-Men deu à luz um filho em condições verdadeiramente maravilhosas. Logo que nasceu principiou a falar inteligivelmente dizendo: «Sou Wang-Erb da aldeia de Yen-Chia-Chuang, fora da porta de Hoi-Pien-Men». Extraordinariamente espantado Liu dirigiu-se à aldeia designada para fazer pesquisas e, surpreendido, foi informado que aí tinha havido uma pessoa com esse nome que, por vocação, fora lavrador; mas que nos últimos anos enfraquecera com a idade morrendo no próprio dia em que o filho de Liu nascera, não estando ainda o seu corpo enterrado. Liu, disfarçado em carpidor, dirigiu-se à casa mortuária onde encontrou toda a família chorando sobre o corpo do morto e aí contou o que passara em sua casa. Liu, depois de ter dado dez taéis (10$000 réis) como contribuição do sacrifício ao morto Wang, levou o filho deste a ver o recém-nascido. O baby disse então: «Por causa de afinidades na minha vida anterior vim para debaixo deste tecto!».
Os mais virtuosos vão directamente para o céu gozar da eterna bem-aventurança: os duma virtude média voltam à terra em corpos de ricos mandarins; os celerados, como é natural, para as Profundas do inferno.” (1)
(1) Bernardo Pinheiro Correia de Melo (1855-1911), 1º conde de Arnoso (título em 1895) também conhecido pelo pseudónimo literário Bernardo Pindela (do grupo “Vencidos da Vida”; entre outros membros, Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Oliveira Martins, Guerra Junqueiro) foi um escritor português (secretário particular do rei D. Carlos). Esteve em Beijing entre Outubro e Dezembro de 1887, acompanhando o embaixador Tomás de Sousa Rosa. As impressões da viagem, editou-as em 1885, nas “Jornadas pelo Mundo” onde descreve detalhadamente o sistema do governo imperial chinês.
ARNOSO, Conde de – Jornadas pelo Mundo , 2 tomos (I – Em caminho de Pekin II em Pekin) de 1895, 440 p.,
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