“Relíquias dos tempos que passaram e não voltam mais: os velhos campanários com os seus sinos das nossas velhas igrejas. Foram com os portugueses para toda a parte, em todos os continentes , onde marcam uma presença e perpetuam o sentimento da saudade genuinamente portuguesa.
Em Macau ainda subsistem na maior parte dos templos sagrados. A certas horas do dia e da noite, lembram o tempo que passa e apontam aos fieis que para além desta vida outra se segue.
O toque do bronze dos seus sinos quantas vezes não nos desperta as lembranças da infância em terras da província, por mais materialismo em que se tenha envolvido a nossa existência?… (…)
Nas procissões festivas ou nos cortejos fúnebres a voz dos seus sinos faz-se ouvir com aquele som alegre ou plangente a que ninguém pode ficar estranho, nem mesmo os que da fé poucos vestígios ou mesmo nenhum guardam. É um som que tem alma, sentimento, vida, lembrando as grandes realidades que não escapam, porque se impõem: a tristeza e a alegria, a vida e a morte, a temporalidade de tudo o que existe.
Velhos campanários de Macau, relíquias dos tempos que passaram, mas que deixaram pegadas fundas, indeléveis, no ambiente humano e geográfico desta terra, onde jazem tantos mortos portugueses, de tantas gerações que no decurso dos séculos de foram sucedendo, continuai a despertar sentimentos que sejam limpamente portugueses no amor às tradições respeitáveis.”
Artigo não assinado e foto de “Macau Boletim de Informação e Turismo“, 1974.