No dia 16 de Setembro de 1880, o tenente José Correia de Lemos, Comandante da Fortaleza da Taipa, vendo passar um sapatião com 13 chineses, chamou-o à Fortaleza. Responderam os tripulantes que iam para a Praia Grande e continuaram a remar. Intimou-os com dois tiros, mas eles não fizeram caso, virando para o canal de Bugio . Mais tiros e nada. O sapatião, depois de tocar na ponta da Ilha de D. João seguiu para a aldeia de Chai-ngui-van (Tchai-ngui-Uán, segundo Luís G. Gomes) na mesma ilha, onde os chineses desembarcaram. Da fortaleza seguiu uma sampana com seis praças e sete loucanes.

MAPA n.º 13 -MACAU A CIDADE e o PORTO 1870PLANTA DA COLÓNIA PORTUGUESA DE MACAU
DESENHADA por M. Azevedo Coutinho, Capitão de exército
1870

O tenente José Correia de Lemos narra:
“Ao chegarem a terra disse-lhes o Tipu que os chinas do sapatião eram piratas, e que estavam a roubar uma casa na povoação. O cabo Almiro, collocando a força como melhor convinha, correu à casa indicada com dois loucanes e ahi encontrou debaixo de uma cama escondidos dois piratas que prendeu e entregou à guarda dos loucanes, ordenou tambem para afastarem da praia o sapatião que estava encalhado, para que os piratas não conseguissem fugir. Os onze piratas restantes tinham já retirado para a montanha, sendo perseguidos pelos quatro soldados e os dois cabos. Esta força ainda capturou mais sete piratas, não podendo dar com os quatro que faltavam.
Depois de terem voltado para a praia e quando tratavam já de retirar para a fortaleza, os quatro piratas que ficaram na montanha começaram a fazer-lhes fogo de espingarda.
Felizmente não feriram praça alguma.
O soldado n.º 69 quando andava perseguindo os piratas foi atacado por dois d´elles, um dos quais lhe apontou a espingarda, de que estava armado, mas faltando-lhe terreno, cahiu de bruços. O cabo Almiro que chegou n´aquelle momento, pôde salvar o soldado descarregou sobre o pirata uma corunhada d´arma, que o feriu a cabeça e atordoou.
Quando a champana chegava a Chai-ngiu-van fez o tipu d´aquella povoação o signal pedindo socorro”.
O comandante da Fortaleza da Taipa pediu reforços a Macau, mas quando estes chegaram a D. João, já os piratas estavam presos e desarmados.
Os moradores de D. João, encorajados com a presença dos nossos soldados animaram-se e percorreram também a montanha em perseguição dos piratas que resistiram aos soldados, não lhes sendo possível encontrá-los.
Os piratas capturados haviam cometido muito crimes na China, sendo por isso extraditados para Cantão a pedido do Vice-Rei.
Foram encontradas no sapatião 3 lanças, 3 rodelas, uma porção de balas, 3 peças de artilharia, 8 espingardas e 1 pistola.
(TEIXEIRA, Padre Manuel – Taipa e Coloane, 1981.

Em 21 de Setembro de 1880, o tenente Lemos oficiou à Secretaria do Governo a relação das praças que compuseram a força militar e que foram louvadas, tendo o Vice-Rei de Cantão condecorado o cabo Almiro. – publicado em anterior “post”:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/09/21/noticia-de-21-de-setembro-de-1880-pirataria-na-ilha-de-d-joao/

LOUCANES – assim denominados os “marujos chineses”.
SAPATIÃO – barco chinês pequeno e ligeiro  – siu t´eang – 小 艇  – mandarim pinyin: xiǎo tǐng; cantonense jyutping: siu2 teng5.
SAMPANA – pequena embarcação (serventia dos barcos de pesca de arrasto) remado por meio de pás, como a pirogas africanas, usada para transportar passageiros e pequenas cargas ou para pesca em águas abrigadas (calmas). Muitas vezes, é indevidamente dado o nome de Sampana ao Tancar.
Não confundir com o “SAMPÁ – embarcação de 32 côvados de comprimento, 5 de boca e 1,5 de calado. Proa pouco aguçada e popa, aguçada também ou ligeiramente redonda convés corrido com um mastro amovível. Destina-se e fazer carreiras entre Macau e Sam-Chou, transportando pequena carga diversa e passageiros. É uma embarcação muito usada pelos piratas nos seus «raids»” (CARMONA, Artur – Lorchas, Juncos e outros Barcos Usados no Sul da China, 1985)
TIPU– regedor da povoação nas ilhas, eleito pela população local e nomeado pelo Governador.