Camões na Gruta de Macau (1851-1852)- Francisco Augusto Metrass
Museu de Arte Contemporânea (Lisboa)
(óleo sobre tela 163 cm x 132 cm)
“Sobre um fundo de sombras bituminosas, que representa o interior opaco da celebrada Gruta de Macáu, vê-se o poeta assentado. Ao lado esquerdo, a caverna rôta deixa ver largos horizontes banhados de luz serena, por onde Camões alonga os olhos, com a soffreguidão da alma que procura novos e melhores destinos. Era n´este logar onde o bardo luzitano, a sós com o seu genio e a natureza, ia pedir á immensidão das aguas e á infinidade do espaço, inspirações par o seu espirito e dasafôgo para as suas angustias. A attitude do poeta traduz um d´aquelles arrebatamentos intimos de exaspêro, em mque a realidade armada de todos os revezes, nos rasga o véo dos sonhos fagueiros, retalhando-nos o coração e revolvendo-nos a phantasia n´uma procella de attribulações. Desferindo fogo do olhar, com a faces contraidas e entrevendo-se-lhe tumultuar sob a fronte a lucta de pensamentos que lhe exacerbam o espirito, dir-se-ha que um movimento comvulso e instinctivo levára a mão esquerda a apoiar a cabeça, como querendo suffocar a tempestade que lá se revolvia dentro, em quanto que a mão direita mal sustem a penna, e desfallecida em cima de algumas paginas dos Lusiadas que se vêem sobre o joelho do poeta, parece lhe fugira o alento e esfriára o calôr do éstro…(…)
Contrastando com a vehemencia d´esta dôr, e aos pés de Luiz de Camões, está sentado o pobre jáu, encruzado e submisso. O escravo, ou antes o amigo, olha triste para as paginas despersas dos Lusiadas, e como que tem desejos de chorar…”
FERREIRA, José Maria d´Andrade – Francisco Augusto Metrass. Revista contemporanea de Portugal e Brazil, Vol. III, N.º 2, Mai. 1861 pp. 83-100.
Francisco Augusto Metrass (1825 – 1861) foi um pintor português da época romântica.
Os seus primeiros estudos foram feitos na Academia das Belas Artes de Lisboa como aluno voluntário, para onde entrou em 1836, tendo como mestres Joaquim Rafael e António Manuel da Fonseca e como colegas Anunciação, Cristino e Manuel Maria Bordalo Pinheiro.
Sem sucesso com os quadros feitos em Portugal, Francisco Augusto Metrass, a partir de 1850 foi para Paris onde pintou “Camões e o Jau” e voltou a Portugal em 1853 com este quadro que mereceu o aplauso do público e da crítica. Começou a ser reconhecido destacando-se com a pintura histórica. O rei D. Fernando comprou este quadro.
Foi professor de pintura histórica em 1854, na Academia de Belas-Artes e colaborou na Revista Contemporânea de Portugal e Brasil (1859-1865).
Metrass morreu com trinta e seis anos de idade, vítima de tuberculose.
https://pt.wikipedia.org/wiki/Francisco_Augusto_Metrass
[…] (1) In Macau – p.59 Suplemento da Revista Latina, Maio de 1991. Anteriores referências deste poeta em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/antonio-couto-viana/ (2) Ver outro quadro de Camões com o escravo Jau em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/08/04/macau-e-a-gruta-de-camoes-xxxi-francisco-augusto-met… […]
[…] (3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2015/08/04/macau-e-a-gruta-de-camoes-xxxi-francisco-augusto-met… […]