M. Anna Accioli Tamagnini Portugal Colonial, n. 41-1934VIDAS QUE SE FINDAM

MORREU Maria Anna Acciaioli Tamagnini…
E com ela uma grande sensibilidade de artista.
Maria Anna Acciaioli Tamagnini passou a vida breve, que tão apaixonadamente amou, a cantar e a sonhar. Era o seu canto uma espécie de suave murmúrio como o que se desprende do shamiceu, dedilhado à hora melancólica do entardecer quando a fantasia rufla asas para longe, inquieta de beleza e de emoção.
Maria Anna Acciaioli teve em vida dois grandes amores: a sua arte e o seu Lar.
Como artista amou profundamente o Oriente e o Oriente dominou-a logo com seus misteriosos filtros, absorvendo avaramente aquele espírito gentil, deslumbrado e entontecido pela magia embriagadora do ambiente tão incompreensível para o mundo ocidental.
Alma gémea de outras a quem o Oriente também para sempre perturbou – Venceslau de Morais e Camilo Pessanha – , ao extinguir-se o último gorjeio de ave canora, de-certo livrou-se nos ares e fuflou asas para essas distantes paragens onde, segundo o fabulário oriental vivem os espíritos bons recreando-se em amável convívio à beira de laos de águas adormecidos, cheios de lotus e nenúfaves …

M. Anna Accioli Tamagnini II Portugal Colonial, n. 41-1934Outra grande paixão da sua vida a paixão Mulher – foi o seu lar, dissemos. Espôsa e mãe amantíssima, o seu desaparecimento deixou apagar o alegre brazido daquela lareira de ternura onde havia sempre conforto e calor.
Maria Anna Acciaioli Tamagnini conhecia profundamente a vida chinesa pois permaneceu longo tempo em Macau, junto de seu marido, o antigo governador daquela nossa Colónia, sr. Tamagnini Barbosa.
A sua sensibilidade extraordinariamente vibrátil, a sua lúcida inteligência, a sua cultura e os dons de coração que fartamente possuía, fizeram desta ilustre Senhora a companheira dum Governador de Colónia.
Não é vasta a obra literária que deixa, mas nem por isso é menos valiosa. Muitos dos seus escritos, dispersaram-se prodigamente por jornais e revistas.
Neles se revelavam sempre os primores da sua musa exótica de raro encanto e poder de expressão.
Colaborador ilustre desta Revista, para a qual escreveu horas antes de falecer, as últimas páginas da «crónica» que hoje publicamos, intitulada De Macau a Cantão, a sua morte, quando tanto havia a esperar dos seus talentos de escritora e poetisa, enche de pezar quantos tiveram a fortuna de a conhecer.
Portugal Colonial apresenta ao antigo Governador de Macau e nosso ilustre amigo, sr. Artur Tamagnini Barbosa a expressão do seu mais profundo pezar. ”

Da revista “Portugal Colonial“, 1934.
Sobre Maria Anna Acciaioli Magalhães Colaço (23.07.1898 – 05.07.1934; casamento com Artur Tamagnini Barbosa em 31.08.1881) ver referências anteriores em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/maria-anna-tamagnini/