“Grande incêndio na «Praia Pequena» pelas 9 da noite e atingindo o Bazar, com origem nas barracas clandestinas que serviam de habitação e botica a uma franja da população chinesa entre o vadio e o tendeiro.
Na ocasião, o Procurador da Cidade escreve ao Suntó de Cantão pedindo-lhe apoio, que não encontra nos Mandarins de Casa Branca, para fazer valer, junto desses ociosos chineses, a lei que propõe tais barracas, que são também coito de ladrões e jogadores, mesmo chegadas a casas vizinhas dos portugueses. O Procurador Pereira participa ainda que, para evitar a propagação de mais incêndios, a cidade vai abrir uma rua larga, cercada por uma parede entre os dois focos habitacionais.
Arderam também boticas chinesas mas algumas de boa seda. Talvez um prejuízo de 1 milhão de patacas. O Convento de S. Domingos esteve em perigo.” (1)
A propósito deste incêndio, comenta o Dr. J. Caetano Soares que os portugueses tinham assistência médica, mas não os chineses, que continuaram esquecidos mesmo depois deste incêndio:
“Circunstâncias similares não foram, contudo, oferecidas aos doentes chineses que continuavam esquecidos e nem, quando, após o incêndio que destruiu a maior parte do Bairro de S. Domingos, vulgarmente conhecido como Bazar Grande», a Casa Beneficência chinesa «Sam Kai Hui Kun» (Assembleia dos habitantes das três ruas) pretendeu instalar-se mais à larga, nem mesmo essa oportunidade foi devidamente aproveitada.
Complete-se que tal sociedade de sede no «Sam Kai Miu» (Pagode das três ruas), (2) edifício que, pelo estranho acaso de estar mais livre, foi o único nas redondezas poupado pelo fogo e lá continua ainda hoje; essa sociedade era organismo, também, de carácter político e muito dominada pelo Mandarim de «Heong –Shan» (Casa Branca), por isso o Governo da Colónia ao ver esboçada no seu seio uma cisão dissidente, mais a nosso favor, procurou ajudá-la doando-lhe uns lotes de terreno então suburbano. Para aí foi a nova sede e nesses terrenos, mediante subscrição pública veio, também, a sr construído o primitivo Hospital «Keng-Wu» (Hospital de Macau) (1872). A designação «Keng-Wu» (3) traduz a forma literária do nosso termo – Macau.” (4)
(1) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Volume 3, 1995.
(2) Templo Sam Kai Vui Kun / Kwan Tai
(3) Hospital Kiang Wu – 鏡湖醫院, na Estrada do Repouso, n.º 33-35
(4) SOARES, José Caetano – Macau e a Assistência, 1950 p. 129