Faleceu recentemente em 22/04/2015, o escritor, ficcionista, poeta e editor Rebordão Navarro. (1)
As Portas do Cerco CAPAUm do seus livros, o romance “As Portas do Cerco”, (2) tem por tema Macau. A capa é de António Andrade.

As Portas do Cerco CONTRACAPANa contracapa:
“Macau, simbolicamente separado da China pelas Portas do Cerco, não é apenas um pretexto, um cenário, uma referência exótica. É mais do que um espaço geográfico, um «padrão vivo», com uma história própria, os seus deuses e as duas superstições, uma singular forma de estar e conceber o mundo e a existência, um rosto, um corpo. Macau é, assim, neste livro, uma personagem principal. Como também o será o próprio tempo, não tão absoluto ou determinante que condicione as várias vidas que pode ter um Poeta. O Poeta Camilo Pessanha cujos versos guiarão os leitores através destas páginas, ao longo de uma viagem em que a memória e a invenção, a ficção e o real se interpenetram.

Retiro um pequeno trecho (3) onde o “famoso” restaurante da Praia de Hac Sá, em Coloane é ficcionado e o dono retratado como o “Salema”:
“No crepúsculo atravessamos a Taipa e é já noite muito escura quando chegamos ao sul de Coloane, à praia de Hac Sá, debruada de altas palmeiras de murmurantes copas, à taberna do Salema, um barracão de cimento e zinco, com manchas de humidade nas paredes, muitas mesas dispersas ou talvez dispostas segundo uma secreta ordem que nos escapa, mas podia ter sido determinada pelo fông-sôi, junto a esquadrias de cimento armado contendo tubos de néon rodeados de vidros amarelos cheios de assinaturas, desenhos, elogios, gracejos, críticas brejeiras, quadras irregulares e mal rimadas, saudações em variadas línguas, injúrias jocosas e até ameaças ao Salema.
O Salema é um monumento e uma lenda. Açoreano hercúleo, seria, no entanto, duvidoso ter vindo directamente dos Açores. Punha-se em causa percurso tão estranho, contrariando a usual emigração das gentes do arquipélago. Por isso, atribuíam-lhe passado misterioso, clandestino, marginal. Havia quem o dissesse fugido da prisão, da vingança, até da pena máxima na China, quem o considerasse espião ou desertor de um ou mais esquadrões de mercenários.”

As Portas do Cerco CAPA DissertaçãoSobre este livro, foi publicado em 1999 (4) um trabalho académico de Ana Margarida Ramos: “As Portas do Cerco ou a Viagem pelas Fronteiras do Romance, do Tempo e da História , resultante da sua dissertação de Mestrado em Literaturas Românicas, Modernas e Contemporâneas apresentada à Faculdade de Letras da Universidade do Porto e aprovada com a classificação de Muito Bom. A autora na “Apresentação” ” (pp.7-11) justificava que a sua dissertação visava «dar conta de uma leitura do romance «As Portas do Cerco» de António Rebordão Navaro, orientada pelas seguintes linhas mestras:

  • A inclusão na produção romanesca do autor;
  • A relação com a produção contemporânea;
  • O destaque dos principais temas (História, Portugal, Camilo Pessanha, etc.), bem como das estratégias de índole formal actualizadas pela introdução de cada uma dessas linhas temáticas sugeridas.» (p.7)

E ao terminar na “Apresentação”(p.10):
Parece-nos, agora, possível, se não concluir, pelo menos constatar que o romance As Portas do Cerco surge como tese das várias hipóteses que foram experimentadas ao longo dos vários romances, uma vez que esta obra contém em si quase todos os temas já tratados, desde a viagem à História até à própria condição de Portugal em época de mudança.”
(1) António Rebordão Navarro (1933-2015) formou-se em Direito pela Universidade de Coimbra foi Delegado do Ministério Público em Vimioso e Amarante, director da Biblioteca Pública Municipal do Porto e exerceu advocacia antes de se tornar editor literário.
Informação sobre a sua vida literária e obras publicadas em:
http://www.ediumeditores.org/autores/antonio-rebordao-navarro.aspx
(2) NAVARRO, António Rebordão – As Portas do Cerco. Livros do Oriente, Colecção Macau/Leituras, 1992, 151 p., ISBN 972-9418-19-5; 12,8 cm.  x 23.2 cm.
O romance está traduzido em francês e neerlandês.
(3) Outros pequenos trechos do mesmo livro, poderão ler em
http://caderno-do-oriente.blogspot.pt/2011_01_01_archive.html
http://caderno-do-oriente.blogspot.pt/2012/02/praca-ferreira-do-amaral.html
(4) RAMOS, Ana Margarida – As Portas do Cerco ou a viagem pelas Fronteiras do Romance, do Tempo e da História. Principia, Cascais, 1999, 174 p. ISBN: 972-8500-09-2; 24 cm x 16,5 cm.