VERSOS SOBRE S. PAULO
Os que chegam, pela primeira vez, a uma terra estranha, procuram, infalivelmente novidades.
Encontrarão assim pessoas que usam fatos curtos e coletes compridos.
O corpo é tatuado. As pessoas que se encontram na encruzilhada.
São do templo de S. Paulo.
Os seus chapéus feitos de folhas de bambu são superiores aos tuduns (1)
Os gradeados palanquins são melhores que os carros.
Aos nossos compatriotas já não lhes interessam as nossas cousas. Preferem os estrangeiros que são mais fervorosos.
Volto a elogiar os pigmeus.
Sêk-Tchêk-Tch´ák (2)
Estes versos sobre “o Templo de S. Paulo” (muito possivelmente se referia à Igreja da Madre de Deus e ao Colégio de S. Paulo que estava adjacente) do livro: 澳門 记略 (Ào mén jì lüè) (3) são tradução de Luís Gonzaga Gomes (4).
FRONTESPÍCIO DA EGREJA DE S. PAULO EM MACAU (1900)
Outra versão, tradução de Jin Guo Ping em (5)
SANBASI
Para os recém-chegados, tudo é novidade
De fatos curtos, capa comprida e corpo tatuado…
Os que se encontram pelos cruzamentos
São de Sanbasi
As folhas de bambu fazem toldos,
As carroças quando saem, saem com rodas vermelhas, (6) competindo em luxo.
Há uns anos as ruas eram desérticas,
Que inveja das frequentes missas dominicais em línguas estranhas.
Shi Jinzhong (2)
Desenho de George Chinnery (1834)
“A igreja principal é a de Sám-Pá (São Paulo), (7) que fica a nordeste de Macau, encostada a uma montanha e tendo de altura vários tch´âm (2,64 metros). Na parte lateral do edifício, abrem-se portas, feitas com estreitas e compridas pedras esculpidas e incrustadas com ouro azulado, que brilham fulgurantes. A parte superior parece-se com um docel voltado. Os lados são rendilhados, encontrando-se espelhados neles admiráveis jaspes. Aquela que dizem ser a Mãe do Céu chama-se Maria. A sua figura é de uma jovem abraçando uma criancinha que se chama jesus Senhor do Céu. O fato não é cosido e cobre todo o corpo que, desde a cabeça é revestido duma simples pintura e dum véu esmaltado. Em se olhando para ela, dir-se-ia que foi moldada. Ao lado, encontram-se trinta figuras. A sua mão esquerda segura a esfera armilar. Os quatro dedos da direita fazem lembrar o gesto de quem discursa. Os cabelos e as sobrancelhas são caracterizadas por pesados lóbulos; o nariz alto; os olhos como se estivessem a comtemplar qualquer cousa distante; a boca, com a atitude de quem quer falar.” (4)
(1) Nome que em Macau se dá aos enormes chapéus chineses de abas larguíssimas, terminando em bico, sendo feitos de hastilhas de bambu entrelaçadas e usados, indiferentemente, por homens ou mulheres do povo.
(2) Sêk-Tchêk-Tch´ák – tradução em «Ou-Mun Kei-Leok» (3) ou Shi Jinzhong – tradução em «Breve Monografia de Macau» (4)
(3) 澳門 记略 (mandarin pinyin: Ào mén jì lüè; cantonense jyutping: Ou3 mun4 gei3 loek6) – Breve Monografia de Macau foi escrita por dois magistrados, letrados, poetas chineses do antigo distrito de Xiangshan (hoje com o nome de Zhongshan 中山) que prestavam serviço na região de Guangdong 廣東, entre 1744 -1746, período de Qianlong: 印光任 (Yin Guangren /Ian-Kuong-Iâm) que iniciou a monografia e depois completada por 张汝霖 (Zhang Rulin/Tcheong-U-Lam). Terá sido concluída em 1751, com aparição da primeira edição xilogravada depois 1751 e antes de 1757. Dividida em dois capítulos, a segunda é dedicada ao estabelecimento dos portugueses em Macau: “Crónica dos Bárbaros de Macau” (5)
(4) OU-MUN KEI-LÉOK Monografia de Macau por Tcheong-U-Lam e Ian-Kuong-Iâm. Tradução do chinês por Luís G. Gomes. Editada pela Repartição Central dos Serviços Económicos- Secção de Publicidade e Turismo, Macau. Imprensa Nacional, 1950, 252 p.
(5) YIN Guangren; ZHANG Rulin – Breve Monografia de Macau. Tradução e notas de Jin Guo Ping. Instituto Cultural do Governo da R.A.E. de Macau, 2009, 485 p., ISBN 978-99937-0-11-6 (6)
(6) NT: alusão aos carros de luxo
(7) As Ruínas de S. Paulo, em chinês: 大三巴牌坊 (mandarim pinyin: dà sàn bā pái fāng; cantonense jyutping: daai6 saam1 baa1 paai4 fong1).