Artigo publicado no semanário “Archivo Pittoresco”, de 1861 (1)

No artigo que acompanha aquella gravura, (2) escripto pelo mesmo auctor, está mui cabalmente feita a descripção d´este memorável sítio. Ahi se diz que no centro da gruta há um pedestal que tem gravadas na pedra seis oitavas dos Lusiadas e que sobre elle está o busto de Camões, modelado por artistas chinezes.
Para substituir este busto por outro de bronze, mandou o benemérito proprietário da gruta, o sr. Lourenço Marques, fazel-o a Lisboa, e é d´elle que hoje damos um fiel transunto.
Archivo Pittoresco 1861 - Busto de camões ICommetteu o sr. Lourenço Marques ao sr. C. J.Caldeira, seu correspondente n´esta corte, a superintendência d´esta obra. Foi o sr. Bordalo Pinheiro encarregado de modelar o busto em gesso , para se fundir em bronze no arsenal do Exército.
Tratou o artista de consultar pessoas competentes sobre a escolha do retrato que havia de tomar para typo. O sr. Visconde de Juromenha, que tão porfiados estudos tem feito sobre a vida do nosso grande épico, facultou-lhe quantos possuía, indicando-lhe como o que reúne mais probabilidades de verdadeiro, aquelle que publicou Manuel Severim de Faria nos seus Discursos, edição de Évora, 1624.(3) Por este retrato, e pela atenta leitura da vida do infeliz poeta, ultimamente da à luz pelo mesmo sr. Visconde, é que o hábil esculptor compoz a physionomia do busto, que nos parece estar bem estudada, porque revela com muita naturalidade as amarguras que abreviaram a vida de quem «foi mais afamado que ditoso», e juntamente denota certa altivez própria do caracter indómito que teve Luiz de Camões.
Archivo Pittoresco 1861 - Busto de camões IIIFeito o modelo, encarregou-se da fundição do busto o aparelhador da oficina n. 1 do arsenal do Exercito, o sr. Felisberto José Pereira, que fez obra perfeita, louvada não só pelos entendedores, mas oficialmente n´uma ordem da inspecção do referido arsenal, em data de 27 de março do corrente anno.
Foi este perito fundidor coadjuvado pelos operários da sua oficina, Cyrillo Antonio Teixeira e Hypolito José, aos quaes, em recompensa da tão bom trabalho, se lhes augmentou o jornal, sendo igualmente louvados pelo benemérito inspector do mesmo arsenal, o sr. Marechal Barreiros, que tem levantado aquelle estabelecimento da decadência em que jazia.
Archivo Pittoresco 1861 - Busto de camões IITão perfeito se julgou a fundição d´este busto, que o governo mandou se tirasse segundo exemplar para o museu do arsenal, que ficou tão bom como o primeiro.
Consta-nos que esta obra importou, apenas, em 265:000 réis (4), modelo, fundição e mais despezas acessórias; pesando o busto 49 kilogramas (107 arrateis) (5) de bronze. (…)
………………………………………………..… (…)… continua

MACAU - A GRUTA DE ACMÕES - Camões 1639Retrato de Camões por Pedro Vila Franca (gravador) 1639 (6)

(1) In ARCHIVO PITTORSCO, 1861.
http://hemerotecadigital.cm-lisboa.pt/Periodicos/ArquivoP/1861/TomoIV/N024/N024_master/ArquivoPitoresco1861N024.PDF
(2) Artigo de Carlos José Caldeira com o desenho da Gruta de Camões publicado no mesmo semanário, em 1857  Transcrevi-o em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/01/11/leitura-macau-e-a-gruta-de-camoes-xvi-c-j-caldeira-1857-i/
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/02/10/leitura-macau-e-a-gruta-de-camoes-xvii-c-j-caldeira-1857-ii/
(3) Poderá ler este livro de Manoel Severim de Faria, “Discursos Vários Políticos”, em: http://purl.pt/966 
Archivo Pittoresco 1861 - Busto de camões IVArchivo Pittoresco 1861 - Busto de camões V 
As páginas referentes à “Vida de Luís de Camões” são de 88 a 135.
(4) real (no plural: reais, mais popularizado como réis) foi a unidade de moeda de Portugal de 1430 a 1911. Foi substituído pelo escudo (1000 réis= 1 escudo).
(5) arrátel: antiga unidade de medida de peso correspondente a 459,5 g ou 16 onças.
(6) Da colecção de postais “Macau –A Gruta de Camões”. Ver em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/06/08/postais-de-macau-a-gruta-de-camoes/