A 19 de Dezembro de 1850, chegou a Macau a mala de Portugal do mês de Outubro, levando a notícia da nomeação do capitão-de-fragata Francisco António Gonçalves Cardoso para governador desta colónia. Tratou-se logo de preparar para o receber o palácio da residência dos governadores, e como ainda ali estivesse depositado na capela respectiva o cadáver do governador Amaral, o Conselho do Governo dispôs que os seus restos mortais fossem conduzidos para a capela de Nossa Senhora do Carmo, na Igreja de S. Francisco.

CHINNERY - Vista da Igreja de S. Francisco c. 1837Vista com a Igreja de S. Francisco, c. 1837 – George Chinnery

Abriu-se o féretro, porque dele correra algum líquido, o que dera muito que falar e temer aos supersticiosos chinas. Limpou-se o crânio e os ossos dos restos de cartilagens: eu tive nas mãos esse crânio nu, e dos golpes da barbaridade e da traição lhe vi os vestígios indeléveis, como o deveriam sempre ser em ânimos portugueses!
No dia 2 de Janeiro de 1851, às cinco horas da tarde, foi o ataúde conduzido aos ombros de seis marinheiros, e às pontas do pano mortuário que o cobria, pegaram o encarregado de Negócios de França na China, o cônsul dos Estados Unidos da América, e quatro funcionários superiores do Estabelecimento. Procedia o ataúde um destacamento do batalhão naval e outro da marinhagem das guarnições dos navios de guerra surtos no porto, e compunham o préstito fúnebre o Corpo Municipal, com o seu pendão em funeral, as autoridades civis e militares, a oficialidade da marinha e do batalhão provisório, o corpo diplomáticos e consular aqui residente, seus funcionários, numeroso séquito dos moradores de Macau e de portugueses e estrangeiros.
Fechava este respeitável e pomposo acompanhamento o batalhão de linha, com o seu tenente-coronel comandante à frente.
À porta da igreja de S. Francisco achava-se o presidente do Conselho, o bispo diocesano, rodeado de todo o seu clero, e acompanhando os restos mortais à destinada capela, ali lhes foi cantado o competente Memento. (1)

(1) CALDEIRA, Carlos José – Apontamentos de uma Viagem de Lisboa à China e da China a Lisboa, 1852/3