Todo o visitante que viajava, no século passado, nos barcos de carreira, ao curvar a Barra para entrar no Porto Interior, deparava com a Fortaleza de S. Tiago, encostada nos rochedos que se erguiam pela colina da Barra.
Fortaleza de S. Tiago da Barra
Photograv. De P. Marinho, segundo uma photographia do sr. Carlos Cabral (1899) (1)
A Fortaleza está situada na ponta Sul da península de Macau, à entrada do Porto Interior. Esta importante fortaleza era essencial e indispensável à defesa de Macau por proteger o Porto Interior. Em 1638, Marco D´Avalo descrevia “ Todos os navios e juncos que desejam entrar esta barra ou pôrto têm necessariamente que passar dentro de 3 ou 4 alabardas de distância do forte porque (cerca de 6 a 7 metros) os portugueses bloquearam a restante parte do canal a fim de protegerem melhor o local.” (2)
Fortaleza de S. Tiago, ou da Barra.
Planta aguarelada, autor desconhecido, s.d. (século XVIII) (provável: 1775) (3)
A artilharia estava orientada e apontava directamente para este único meio de acesso ao Porto Interior e o canal entre as ilhas da Taipa e de D. João (4)
Bateria da Fortaleza de S. Tiago da Barra
Photograv. De P. Marinho, segundo uma photographia de 188? (1)
A fortaleza estava a Sudeste da Fortaleza de Bomparto e em frente à Ilha da Lapa (4)
A construção da Fortaleza (Forte da Barra) iniciou-se em 1616 e ficou concluía em 1629 no local de uma primitiva bateria de canhões, com a função de defesa do ancoradouro interior. A sua importância estratégica para a defesa de Macau era de tal ordem que nos séculos XVII e XVIII “o capitão deste baluarte é nomeado directamente pelo rei ou em seu nome e o capitão geral da cidade não pode substitui-lo por outro, excepto em caso de negligência manifesta ou então, provisoriamente até que seja recebida a aprovação do Rei” (2)
Macau no século XVII (depois de 1622)
Estampa publicada por Manuel de Faria e Souza no tomo 3.º da Asia portuguesa (1)
Quando se deram os combates contra os holandeses, em 1622, a primitiva bateria era apenas uma bateria montada mas prestou uma valiosa defesa. O local tinha características de boa defesa militar e ainda mais na defesa costeira, como auxiliar dos outros fortes que serviam a costa exterior.
O proprietário do forte era um homem robusto chamado João Soares Vivas.
Em regime de propriedade privada era contudo de utilidade na defesa, e mantinha ao seu serviço bom número de homens, pois esse valoroso capitão marchou com 160 homens para a elevação da Guia para a defender dos ataques que nessa altura os holandeses vibravam contra esta possessão.
A sua situação estratégica foi depois aproveitada, após a derrota dos holandeses, para resistir a futuras investidas. Assim, foi dotada de 14 canhões de grosso calibre, alguns de 50 libras de bala. Estes últimos eram feitos de bronze, mas estava guarnecida de material, tanto de ferro como de bronze, em parte fabricado nas fundições do Chunambeiro. (5)
NOTA: A fortaleza sofreu muitas alterações quer na traça quer no tamanho ao longo dos anos principalmente no alargamento dos arruamentos (ex: Rua de São Tiago).
“Baluarte de Santiago de la Barra, por onde os navios passam e que é muito bom e forte dando a aparência de ser por si uma pequena cidade quando visto à distância devido às grandes construções e aquartelamento existentes no seu circuito. Existe um reduto no tôpo da montanha que serve de refúgio, aonde há 16 peças pesadas 4 das quais têm bôcas largas para tiros de pedras, enquanto as restantes são de calibre para bala de ferro de 24 libras. Dentro dêste referido baluarte há um outro baluarte mais alto, provido de seis canhões, como os referidos, que têm um alcance muito longo” (2)
(1) PEREIRA, J. F. Marques – Ta-Ssi-Yang-Kuo, Vol II. Antiga Casa Bertrand – José Bastos, 1899-1900, 812 p.
(2) “Descrição da cidade de MACAOU ou, MACCAUW, com as suas fortalezas, peças, negocio e costumes dos habitantes”, escrita por MARCO D´AVALO, italiano, em 1638 in BOXER, Charles Ralph – Macau na Época da Restauração (Macao Three Hundred Years Ago). Fundação Oriente, Lisboa, 1993,2 31 p.
(3) http://fortalezas.org/?ct=fortaleza&id_fortaleza=1313&muda_idioma=PT
(4) A Fortaleza “está mesmo à frente da aldeia conhecida antigamente por «Ribeira Grande», na Ilha de Lapa.“
GRAÇA, Jorge – Fortificações de Macau Concepção e História. Instituto Cultural de Macau, 1.ª edição em português, s/ data, 144 p.
(5) Macau Boletim Informativo n.º 48 de 1955 e n.º 72 de 1956.