Epidemia de peste bubónica – “A Junta de Saúde, em vista do aumento de casos de peste em Hong Kong, propõe-se que pelo Hospital Chinês (Hospital Kiang Wu) seja feita uma barraca-lazareto (1)  na Lapa e que os comandantes dos navios chegados declarem a existência de doentes a bordo. Resolve-se que a barraca só será construída quando não baste o edifício já existente. Perguntando o Governo se não era preferível a visita de saúde aos navios, a Junta pronuncia-se pela pouca conveniência desta medida.” (2)

Recorda-se que nas primeiras décadas do século XX, houve várias grandes epidemias no sul da China desde os grandes portos do mar abertos à navegação até os mais recônditos portos fluviais do rio Si-Kiang, (3) mantendo-se endémica durante 20 anos, entretida e agravada por frequentes importações do morbo. Esses picos quase sempre nos meses de Abril: em 1901, em 1909 (grande epidemia de peste bubónica) e  em 1913 (epidemia de cólera e peste). Pelas condições explicadas pelo capitão médico Peregrino da Costa e/ou por milagre (?) tiveram consequências mínimas em Macau (4)

(1) Lazareto – estabelecimento existente junto aos portos, onde se recolhiam os viajantes suspeitos de doenças contagiosas ou provenientes de países com epidemias para aí despistar a doença (quarentena). Em Macau designava-se também lazareto, o hospital onde se recolhiam os leprosos (existiram lazaretos na Colina de D. Maria II, na Ilha de D. João e em Coloane (Ka Hó), este o último a fechar.

Lazareto de D. Maria II 1907

A colina de D. Maria II com o seu forte e o lazareto
(Arquivo Científico Tropical: http://actd.iict.pt/view/actd:AHUD6899)
Foto atribuída a Man-Fook e possivelmente de 1907

(2) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7)
(3) Si Kiang / Xi Jiang / Hsi Chiang 西江 (mandarim pinyin: xi jiang; cantonense jyutping: sai1 gong 1 – rio do Oeste. Este rio (juntamente com o Bei Jiang 北江 (mandarim pinyin: bèi jiang; cantonense jyutping: baak1 gong1) – rio do Norte e Dong Jiang 東江 (mandarim pinyin: dong jiang; cantonense jyutping: dung1 gong1) – rio do Oriente formam o Zhu Jiang, 珠江 (mandarim pinyin: zhū jiāng; cantonense jyutping: zyu1 gong1 – rio Pérola, banhando toda a região denominada do Delta do Rio das Pérolas. Terceiro rio chinês em comprimento, embora não tão largo como o rio Amarelo – Huang He 黄河 (mandarim pinyin: huang he; cantonense jyutping: wong4 ho4) e o rio Yangtze- Chang jiang 长江 (mandarim pinyin: cháng jiang; cantonense jyutping: zoeng2 gong1), é contudo o segundo em caudal.
(4) Em relação à peste “Constata-se que, ao passo que em Hong Kong, a duração do período epidémico atinge em quási tôdas as recrudescência 6 a 7 meses, com casos esporádicos durante todo o ano, em Macau êste período atinge raras vezes 4 meses, decorrendo o seu período inter-epidémico na mais completa acalmia, o que faz crer na existência de condições naturais, climáticas ou outras e que se mostram eminentemente desfavoráveis à persistência do morbo ou à sua difusão. Constata-se também, que ao passo que em Hong Kong, apesar de persistentes e enérgicas medidas empregadas em debelar a peste, só ainda há bem pouco tempo, em 1923, se vê livre da endemia, Macau comparticipando em um agrande parte das mesmas condições nosológicas e mantendo com essa colónia uma comunicação por assim dizer permanente, não regista, desde 1915 um só caso de peste, causando êste facto a admiração das próprias autoridades sanitárias da colónia vizinha
COSTA, Peregrino da  –Epidemiologia de Macau in Anuário de Macau, 1927.