“…Contíguo à gruta para o lado do oriente estão esculpidos n´uma pedra, e em lettras doiradas os versos seguintes:

«Patané lieu charmant et si chér au Poéte
Je n’oublierai jamais ton illustre retraite;
Ici Camoens, au bruit du flot retentissant,
Méla l`accord plaintif de son luth gémissant.
Au flambeau d´Apollon allumant son Génie
ll chanta les Héros de la Lusitanie:
Du Tage à l’urne d’or, loin des bords paternels
De Bellone il cueillit les lauriers immortels:
Malheureux exilé, cet émule de Homère

Acheta son Génie au prix de sa misère.
Il posséda, du moins pour charmer ses douleurs,
Les baisers de l’amour et les chants des neuf soeurs.
Lusus et les chinois honorent sa mémoire:
Le temp qui d´étruit tout agrandira sa gloire.
Moi qui chéris ses vers, que pleurai ses malheurs
J´aimais à saluer ces bois inspirateurs.
Je visitais cent fois cet humble e noble asile;
Dans ta Grotte, ó Louis, mon coeur fut plus tranquille.
Agité plus que toi, je fuyais dans le champs,
Et le monde e mon coeur, l’envie et les tyrans.»
________________________________
«Au Grand Luis de Camoens, portugais d’origine castillane
Soldad religieux, voyageur et poete exilé;
L´humble Louis de Riensi, français d’origine romane,
Voyageur religieux, soldad et poéte expatrié.
30 Mars 1827. »

Serões 1902 - Jardim de Camões, Patane e Ilha VerdeA quinta da Gruta de Camões, zona de Patane e a Ilha Verde (revista Serões, 1902)

O poeta francês Louis Domenic de Rienzi que a 30 de Março de 1827 compôs estes versos, em honra de Camões, percorreu durante anos a India, as costas da China, e a Oceania e suicidou-se em França em 1844/1845. (1)

«Este viajante teve em 1928 a ideia de consagrar este lugar poético (a gruta) à memória de Camões. Infelizmente (segundo Ch. Magnin «Causeries et Méditations» 1834 e «Revue de Deux Mondes, 1831) não se pode louvar senão a sua boa vontade. Parece que o Sr. Rienzi possuia as melhores boas intenções do mundo, tornando quase irreconhecível a gruta do poeta. Fez, diz ele, cavar um nicho de mais de seis pés de altura por cinco de largo, no próprio lugar onde Camõe se vinha sentar, imaginando o seu poema. O granito foi talhado pelo cinzel e o monumento teria ficado completo se o dono do jardim não tivesse sustido o zelo monumental de demasiado impetuoso admirador de Camões»(2) 

Rienzi acusou o arrendatário inglês de ter apagado a inscrição que ele colocara.
Esta inscrição, que ele escreveu em francês, foi traduzida para chinês, em 5 de Junho de 1831, pelo P. Louis Françõis Marie Lamiot, superior dos lazaristas em Macau deste 1819 até à sua morte. Mais tarde esta inscrição foi melhor traduzida pelo literato chinês Gai Tang e gravada na Gruta em 1840.

Rienzi refere também que colocou na gruta um busto, mas muito antes desse ano, já lá estava outro busto pois George Staunton menciona-o no seu diário de 1792-1794 publicado em 1797, «An Authentic Acount of an Embassy from the King of Great Britain to the Emperor of China»
Se Rienzi fez substituir este busto em 1827, conclui-se que antes do busto de 1840 (data em que muitos historiadores concordam ter sido erigido o primeiro monumento ao poeta em terra portuguesa) já ali se haviam estado dois bustos de Camões. (2)

(1) Sobre o infortúnio da vida de Rienzi encontrei uma notícia do «Singapore Chronicle Fev, 12», no “The Asiatic Journal and Monthly Register”, Vol 28, 1829: (sublinhado a bold, da minha autoria)
Amongst the passengers in the Dourado, a Portuguese brig from Macao to Bombay, wrecked on the east coast of Bintang is the Chevalier Louis Domenic de Rienzi, who lost every thing he had on board. He was on his return from a voyage to the South Sea, the Phillipines, and China, bound to Europem intending to publish there his travels in Egypt, Abyssinia, and most of the countries of Asia… (…)
…He had completed all his research, and after raising at Macao a monument to the memory of the illustrious and unfortunate Camoens in the grotto which bears his name, Monsieur Rienzi quitted China, destined to lose in an instant the fruits of ten years of increasing labour!. Among these have seen a vast and valuable collections of the most precious medals, cameos, statues, inscriptions and other antiquities...”
http://www.univie.ac.at/Geschichte/China-Bibliographie/blog/2011/05/28/the-asiatic-journal-and-monthly-register-1816-1829/
(2) Informações e parte de textos de TEIXEIRA, P. Manuel – A Gruta de Camões em Macau. Macau-Imprensa Nacional, 1977, 246 p.