Mais um desenho do álbum da colecção Duarte de Sousa (1), presente no livro “Macau, Cidade do Nome de Deus na China” (2).

 Macau cidade do nome de Deus na China Gruta de Camões“Camoens Cave at the Casa. Macao.”

O alpendre em forma de pombal, sobre a gruta, já aparece em 1797, na gravura do livro de Sir George Staunton, intitulado “An Authentic Account of an Embassy from the King of Great Britain to the Emperor of China”.
O caramanchão ou pavilhão chinês encimado pelo tal pombal apareceu em 1558, na revista «Archivo Pitoresco», e em 1900 na revista de João Feliciano Marques Pereira, «Ta-Ssi-Yang-Kuo»,  Vol II, p. 534.
Talvez este alpendre circular semelhante a um pombal terá dado origem à nomenclatura chinesa de Pak Kap Tch´au, dada ao Largo e ao Jardim de Camões.
Esta pintura está datada de 1831/1832. Nessa altura já lá havia um busto, pois Harriet Low (3) no seu diário do dia 18 de Outubro de 1829, anotava:
“…Noutra parte, há uma gruta nos rochedos, onde o famoso Camões escreveu os Lusíadas. Na gruta ergue-se o busto de Camões…é um lugar selvático e aprazível…”
E creio que este desenho terá sido feito antes de 3 de Setembro de 1832, dia do grande tufão que assolou Macau e fez grandes estragos na casa Garden e os jardins.
No mesmo diário de 8 de Setembro de 1832 :
… Agora está inteiramente delapidado; as paredes foram arrombadas pelo tufão, as árvores arrancadas pelas raízes, os templos e as casas de verão, demolidos….” .
O busto foi mutilado entre 1837 e 1840, e a pedido de Lourenço Marques, o antigo Vice-Cônsul da França em Macau, Chalave, encomendou em Paris um busto em bronze do poeta ao escultor Jules Droz (pediu 600 francos pelo trabalho). Mas tanto quanto se sabe, o busto de bronze nunca chegou ao seu destino embora a obra fosse executada e enviada para Macau. No entanto foi colocado em 1840 um busto de greda, de cor bronzeada feito em Macau por um artista chinês.
O primeiro busto seria colocado em 1840, por iniciativa do Comendador Lourenço Marques, que herdou a Gruta, por ter casado com uma filha do Conselheiro Manuel pereira (falecido em Macau a 10 de Março de 1826 que já anteriormente tinha mandado branquear o alpendre), e o mesmo Lourenço Marques “na senda tortuosa do mau gosto”, em 1840 mandou revestir de alvenaria o corpo do rochedo da Gruta e circundar o local por um muro de alvenaria. As paredes do rochedo foram cobertas com 3 ou 4 lápides de granito com inscrições.
(1) Ver:
Álbum de Desenhos a Lápis Sobre Macau e Ilhas do Atlântico e Índico – 50 desenhos.
http://purl.pt/index/porCulture/aut/EN/933589_P6.html.
(2) Ver
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2014/01/24/leitura-macau-cidade-do-nome-de-deus-na-china-nao-ha-outra-mais-leal/
(3) Outra referência de Harriet Low é a descrição do tufão que atingiu Macau nos dias 23 e 24 de Setembro de 1831, in
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/09/23/leitura-diario-de-harriet-low-tufao-de-1831/

23-09-1831 – Grande tufão assolou Macau e destruiu todo o traçado e muitos edifícios da Praia Grande, além de inúmeros outros da cidade. Em 3 de Outubro de 1831 e em 14 de Maio de 1832 o Senado tentou minorizar os efeitos dos estragos deste tufão, com obras cujas despesas procurou repartir com alguns dos moradores”
SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XIX, Volume 3. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1995, 467 p. (ISBN 972-8091-10-9)