Continuação do artigo de Adolfo D´Eça, publicado numa revista portuguesa, em 1918 (1)

“Avista-se então a cidade de Macau, edificada nas encostas dos montes. É de pitoresco e magnífico aspéto aquele anfiteatro subindo desde o semi-circulo de Praia Grande como em escalões pelas alpenduradas das  montanhas os edifícios pintados  de diversas côres, destacando no meio  de frondentes arvoredos e por cima de todos coroando os mais altos pico as velhas fortalezas do Monte e da Guia; o elegante e grandioso Hospital de S. Januário, o magestoso frontespício da destruída Igreja de S. Paulo, pesada  mole de maçiça cantaria, adornada de estruturas de bronze em tamanho natural; a branca ermida da Senhora da Penha, residencia favorita do ultimo prelado de Macau e o magestoso Hotel de Boa Vista, hoje transformado no Liceu Nacional.

Ilustração portuguesa n.º 663 1918 - MACAU IV“O grandioso edifício do hospital militar de S. Januário. no meio de frondentes arvoredos e n´um dos pontos mais altos da peninsula”

            Entrando a seguir no porto interior a vista é tambem linda, mas d´um aspéto diferente. Filas de juncos chinezes de varias dimensões ancorados em ambas margens do rio, deixam vago um estreito caminho para a entrada e saída dos vapores da carreira. Minutos depois chega-se ao terminus de uma viagem de 44 milhas. O vapor atraca-se ao caes, onde se efectuam o desembarque dos passageiros e a descarga dos passageiros e a descarga das mercadorias. O turista conduzido em automoveis ou em jerinshas (carros puxados á mão) percorre por momento algumas das estreitas ruas do bairro chines, entra na Nova Avenida (Ribeiro d`Almeida), onde estão construídos edifícios novos e elegantes, que dão uma impressão mais agradável do que as antigas lojas avistadas logo á entrada do porto interior; ao mesmo tempo que o seu movimento comercial dá de conhecer ao forasteiro que está n´uma cidade, que, embora pequena, conta com uma população de 80 mil almas.

Ilustração portuguesa n.º 663 1918 - MACAU V” Um panoramico aspéto da Praia Grande, vendo-se ao fundo o magestoso Hotel de Boa-Vista, onde atualmente está instalado o Liceu Nacional”

             Minutos depois encontra-se em Praia Grande a curva graciosa que de bordo atraiu a atenção do viajante: edifícios grandiosos, taes como: Palacio de Justiça, Palacio do Governo, residencias de capitalistas chinezes e edificios construídos à europeia.

Ha varios passeios em Macau. O mais preferido pelos turistas é: a Avenida Vasco da Gama de uma extensão de 600 metros e fechado n´uma extremidade por um rico jardim cuidadosamente tratado e nóutra pelo elegante monumento dedicado a Vasco da Gama.

 Ilustração portuguesa n.º 663 1918 - MACAU VI

“O portico tradicional «As Portas do Cerco», que perpetuam a memoria de dois heroes macaenses, a cuja vida se encontra ligada a historia da peninsula“.

Saindo d´esta Avenida percorre o viajante estradas bem lançadas e assombradas por grandes arvores até que atinge «As Portas do Cerco», portico historico onde existem lapides atestando os feitos dos dois heroes tão bemquistos e venerandos  pelos macaenses Amaral e Mesquita.

Ilustração portuguesa n.º 663 1918 - MACAU VII

O interior da historica Gruta de Camões, onde o notavel poeta escreveu a maior parte da sua grandiosa obra «Os Lusíadas»”

Voltando continua o viajante o seu passeio atravessando a antiga povoação da Patane, hoje transformada em um local assás prazenteiro, até chegar à Gruta de Camões , onde, segundo a tradição, o grande poeta passou horas bem amargas para concluir a sua gigantesca obra “Os Luziadas”.

Ilustração portuguesa n.º 663 1918 - MACAU VIII“A escadaria e o frontespicio da destruida egreja de S. Paulo, que se avista da entrada do canal de Macau”

            Não deixa turista algum a cidade de Macau sem visitar as ruinas da Egreja de S. Paulo , cujo frontespício começou a contemplar de bordo do vapor. Só depois de admirar estas antiguidades que atestam o dominio secular de Portugal sobre aquela possessão genuinamente portugueza é que o turista regressa a Hong Kong contente, satisfeito e bem impressionado do que viu, estudou e admirou n´essa velha cidade portugueza, que possue paginas tão brilhantes na história das conquistas portuguezas.”

(1) “Ilustração Portuguesa“, n.º 633, 1918, pp. 373-374
A primeira parte deste artigo está em:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/07/18/lei tura-roteiro-turistico-de-macau-de-1918-i/