“Quando houve conhecimento no Oriente de que Portugal tencionava fazer-se representar condignamente no grande certame de Sevilha, logo Macau pensou que era azado momento para demonstrar  àqueles que caluniam os nossos processos coloniais quais os recursos de que dispunha a antiga feitoria, mercê do seu progresso constante, iniludível.
O Sr. comandante Jaime do Inso (1) tratou do assunto na imprensa, e, numa grande reunião presidida pelo governador Sr. Tamagnini Barbosa (2), assentou-se que a Colónia se faria representar com um pequeno pavilhão independente, nomeando-se para a comissão executiva dessa representação, o engenheiro Sr. Carlos Alves, o capitão Sr. Jacinto de Moura e o Sr. Dr. Felix Horta (3), que ficou encarregado de traçar o projecto do pavilhão.
Em nova reunião, a que concorrem muitos e dos mais graduados comerciantes e industriais chineses, mostrando notável entusiasmo pela Exposição, foi aprovado e projecto do pavilhão e logo se abriu o crédito necessário para a iniciação dos trabalhos.
Boletim AGC 1929 - Exp Sevilha I

O pavilhão, como as nossas gravuras indicam, tem a arquitectura  de um pagode, sendo os seus detalhes buscados nos mais lindos templos budistas de Macau.
Na porta principal do da Barra, ou Ma-Kok- Miu, de enorme devoção dos navegantes, com o seu barco estilizado a encimá-la, se moldou a porta principal do Pavilhão de Macau, colónia fundada por marinheiros portugueses e pelo seu esforço e dedicação mantida. Os pagodes de Mong-Há, o de Lin-Fon-Miu, e outros pequeninos e belos, espalhados na Colónia, forneceram os motivos decorativos do Pavilhão que, fronteiro ao palácio Joanino, na Avenida de Portugal, se ergue gracioso como um sonho do Oriente e orgulhoso como uma página de história nacional… (…)

Boletim AGC 1929 - Exp Sevilha II

O pavilhão de Macau não é porém, apenas a evocação dum passado de ouro ou a manifestação artística duma colónia. É sobretudo a afirmação da sua vitalidade.
Nos seus Stands, decorados a azul celeste e ouro, os tecidos, as águas gasosas, as  artes  gráficas, os bordados, os artigos de bambú, de joalharia, e de ferro, a sua cal, os seus cimentos e os seus mosaicos, as indústrias de conservas, de artigos de cobre, de cortume, a papeleira, os frutos cristalizados e os secos, o mobiliário, o fabrico de tabacos, de pivetes, vidros e a formidável riqueza da sua pesca atestam o desenvolvimento colossal da mais pequena e querida colónia portuguesa.” (4)

(1) Sobre Jaime do Inso, capitão-tenente nesse ano e ex-comandante da Canhoneira «Pátria», ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jaime-do-inso/
(2) Artur Tamagnini de Sousa Barbosa (1880-1940) nasceu em Macau no ano de 1880. Desempenhou por três vezes o cargo de Governador de Macau (12-10-1918 a 1919; 8-12-1926 a 1930 e 11-04-1937 a 1940).  Casado com a poetisa Maria Ana Acciaioli Tamagnini. Faleceu em Macau, no ano de 1940, durante o seu terceiro mandato como governador.
Anteriores referências a este Governador neste blogue.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/artur-tamagnini-barbosa/
(3) Félix Horta, advogado. Foi cônsul de Portugal em Cantão.
(4) Informação e notícia da Agência Geral das Colónias em 1929.