“Quando houve conhecimento no Oriente de que Portugal tencionava fazer-se representar condignamente no grande certame de Sevilha, logo Macau pensou que era azado momento para demonstrar àqueles que caluniam os nossos processos coloniais quais os recursos de que dispunha a antiga feitoria, mercê do seu progresso constante, iniludível.
O Sr. comandante Jaime do Inso (1) tratou do assunto na imprensa, e, numa grande reunião presidida pelo governador Sr. Tamagnini Barbosa (2), assentou-se que a Colónia se faria representar com um pequeno pavilhão independente, nomeando-se para a comissão executiva dessa representação, o engenheiro Sr. Carlos Alves, o capitão Sr. Jacinto de Moura e o Sr. Dr. Felix Horta (3), que ficou encarregado de traçar o projecto do pavilhão.
Em nova reunião, a que concorrem muitos e dos mais graduados comerciantes e industriais chineses, mostrando notável entusiasmo pela Exposição, foi aprovado e projecto do pavilhão e logo se abriu o crédito necessário para a iniciação dos trabalhos.
O pavilhão, como as nossas gravuras indicam, tem a arquitectura de um pagode, sendo os seus detalhes buscados nos mais lindos templos budistas de Macau.
Na porta principal do da Barra, ou Ma-Kok- Miu, de enorme devoção dos navegantes, com o seu barco estilizado a encimá-la, se moldou a porta principal do Pavilhão de Macau, colónia fundada por marinheiros portugueses e pelo seu esforço e dedicação mantida. Os pagodes de Mong-Há, o de Lin-Fon-Miu, e outros pequeninos e belos, espalhados na Colónia, forneceram os motivos decorativos do Pavilhão que, fronteiro ao palácio Joanino, na Avenida de Portugal, se ergue gracioso como um sonho do Oriente e orgulhoso como uma página de história nacional… (…)
O pavilhão de Macau não é porém, apenas a evocação dum passado de ouro ou a manifestação artística duma colónia. É sobretudo a afirmação da sua vitalidade.
Nos seus Stands, decorados a azul celeste e ouro, os tecidos, as águas gasosas, as artes gráficas, os bordados, os artigos de bambú, de joalharia, e de ferro, a sua cal, os seus cimentos e os seus mosaicos, as indústrias de conservas, de artigos de cobre, de cortume, a papeleira, os frutos cristalizados e os secos, o mobiliário, o fabrico de tabacos, de pivetes, vidros e a formidável riqueza da sua pesca atestam o desenvolvimento colossal da mais pequena e querida colónia portuguesa.” (4)
(1) Sobre Jaime do Inso, capitão-tenente nesse ano e ex-comandante da Canhoneira «Pátria», ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/jaime-do-inso/
(2) Artur Tamagnini de Sousa Barbosa (1880-1940) nasceu em Macau no ano de 1880. Desempenhou por três vezes o cargo de Governador de Macau (12-10-1918 a 1919; 8-12-1926 a 1930 e 11-04-1937 a 1940). Casado com a poetisa Maria Ana Acciaioli Tamagnini. Faleceu em Macau, no ano de 1940, durante o seu terceiro mandato como governador.
Anteriores referências a este Governador neste blogue.
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/artur-tamagnini-barbosa/
(3) Félix Horta, advogado. Foi cônsul de Portugal em Cantão.
(4) Informação e notícia da Agência Geral das Colónias em 1929.
[…] (2) sobre a participação de Macau nessa exposição ver também o “post” anterior: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/07/20/leitura-macau-na-exposicao-ibero-americana-de-sevilha… (3) sobre esta Tipografia ver anteriores “posts” em […]
[…] https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/07/20/leitura-macau-na-exposicao-ibero-americana-de-sevilh… (3) Sobre esta indústria, transcreverei extractos desta monografia, numa próxima postagem. (4) […]
[…] Artigo de Jaime do Inso publicado no «Jornal de Macau» do dia 16 de Abril de 1931 e republicado no Boletim Geral das Colónias, acerca da possibilidade de se instalar em Lisboa, o pavilhão de Macau (fachada: templo da Barra – Á Má) que esteve presente na Exposição Ibero-americana de Sevilha (1929) Ver anterior referência a este pavilhão https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/07/20/leitura-macau-na-exposicao-ibero-americana-de-sevilh…/ […]