continuação de (1) (2) (3) (4)
“Era já o anno de 1846, foi nomeado governador João Maria Ferreira do Amaral, pae do actual presidente do conselho. (5)
Era um bravo que servira a causa liberal, que no Rio de Janeiro fizera o assombro dos officiaes fransezes e inglezes entrando com o seu barco Urania contra o vento na bahia, após um baile dado a bordo e em que ficára cançada a guarnição. Ao mesmo tempo que a sua bravura, era já legendaria, as suas aventuras amorosas e as suas excentricidades emprestavam-lhe um brilho galante. Eram tão celebres as proezas guerreras do almirante como as suas conquistas amorosas. Como Nelson, ficára sem um braço na guerra, mas isso não o impedia de apertar ao peito com o maior ardor as mais lindas mulheres que lhe amavam a fórma galharda, o ar atrevido, a gloriosa tradição que o fazia querido. batera-se contra os negreiros e por sua vez capturava corações, proclamava-se defensor dos escravos e ia ecravisando aquelas beldades que a sua ancia amorosa cobiçava. Ninguém melhor do que elle podia ir governar Macau e impôr ali tida a força do poderia portuguez.
O valente official foi assassinado pelos chins (7), que o atacaram quando ia a passeio , e logo, após a sua morte correram às armas, entrincheiraram-se em Passaleão, que Vicente Nicolau de Mesquita devia tomar apenas com 12 soldados, um obuz e algum povo, sob o tiroteio inimigo. Também este heroe morreu mais tarde victima da loucura (8) que o fez gerar a mais terrivel teagedia domestica, mas viu Macau prosperar, encher-se de edificios pomposos, recolher n´um largo periodo os colonos chinas e japonezes que ficavam ali em vez de irem para a Australia, tornar-se finalmente n´essa cidade onde se descança e se folga, onde o dominio portuguez se accentuou tanto que hoje difficilmente se poderia apagar.
A ultima questão que surgiu entre Portugal e a China acerca de Macau, a proposito do apresamento do Tsatu-Maru, não é mais do que a repetição dos sonhos largos que os botões de crystal do Grande Conselho de Pekin costumam ter falando em nome de Confucio e dos tratados, chupando no tubo do cachimbo e bebendo o aromatico chá, pensando nos olhos obliquos das gaiatas dos harems com o mesmo fervor que o Theodoro do Mandarim (9) punha ao arrastar a generala dos seus amôres para a sombra negra dos sycomoros. Sonhos …apenas sonhos…”
“Theatro de D. Pedro V e Club de Macau” (10)
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/04/15/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-i/
(2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/05/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-ii/
(3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/10/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-iii/
(4) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/20/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-iv/
(5) Francisco Joaquim Ferreira do Amaral (1844-1923) (filho de João Maria Ferreira do Amaral) foi Presidente do Conselho de Ministro (cargo equivalente ao de primeiro ministro actual) dum governo suprapartidário denominado «Governo de Acalmação», nomeado por D. Manuel II na sequência do regicídio, de 4 de Fevereiro a 26 de Dezembro de 1908.
(6) Sobre esta foto, ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/03/01/%ef%bb%bfnoticia-de-1-de-marco-de-1884-correios-de-macau/
(7) Ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/08/22/22-de-agosto-de-1849-assassinato-do-governador-ferreira-do-amaral/
(8) Ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/03/19/noticia-de-19-de-marco-de-1880-tragedia-em-macau-vicente-nicolau-de-mesquita-i/
(9) Refere-se ao romance de Eça de Queirós, “O Mandarim”. Ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/05/31/outras-leituras-o-mandarim/
(10) Sobre o Teatro D. Pedro V, ver:
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/teatro-d-pedro-v/