O EUROPEU E O CHINEZ ῼ UMA VELHA AMBIÇÃO ῼ AS NHONHOS
“Pois essa cidade assim entrevista n´uma impressão só digna d´artistas – restos d´um mundo que antes morra do que venha a adaptar-se – foi um logar de mercancias portuguezas, em que um ou outro heroismo faz perdoar a ambição.
Fortaleza do Monte
D´um lado existe o europeu com o seu uniforme branco, vagueando nas ruas, fazendo picnics nas onze mezas (2), visitando os padres na Ilha Verde, bailando com as nhonhós (3), de pernas lindas, dominado e estragando o ar com as chaminés das fabricas que ergue; do outro vive o chinez, sob os seus enormes parasoes com dragões e aves phantasticas, mandarins ou coolies (4), jogando ou trabalhando,fumando ou queimando panchões (5); vive a prostituta desolada e a trabalhadora tanqareira (6), a mulher que vae remando nas barcas, muda e a envelhecer, comida pela lucta e pelos soes, sem outro abrigo que o seu bote, sem outro prazer que a belleza do céu d´onde espera a felicidade.
Farol da Guia, a Casa de Silva Mendes no início da Estrada de Cacilhas e à esquerda da foto, a entrada do Cemitério dos Parses
O europeu despresa o chines; este ri do europeu mesmo ao saudal-o porque na sua raça e nos seus costumes tem a força que o subjuga swe acaso elle, n´uma curiosidade d´arte, sonha em prescrutar-lhes a alma vivendo no seu meio. O chinez tem o fantan e tem o opio,as duas cousas vingadoras, os dois supplicios feitos de goso, bem proprios de divindades terríveis como são os ídolos dos seus pagodes.
E enquanto socialmente, rindo, mascando betel (7), andando na sombra dos seus palanquins, geram o mal, politicamente, esquecendo os nossos feitos, sonham em guardar apenas para si essa Monaco do Orente onde descançam os piratas e folgam os mandarins”
(1) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/04/15/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-i/
(2) “onze mezas” – lugar na Ilha da Lapa onde se faziam picnics.
(3) “nhonhós“ – deve ser “nhônha” (termo na Língu maquista) – rapariga, mulher nova, casada ou solteira
(4) “coolies” – “Cule” – trabalhador braçal ou carregador
(5) “panchões” – panchão – foguete chinês, pequeno pacotinho de pólvora que rebenta sem subir no ar. (炮 仗-mandarim pinyin: bao zhàng; cantonense jyutping: paau3 zoeng3)
(6) “tanqareira“ – mulher que tripula e habita o tancar (pequeno barco chinês, movido a um ou dois remos, que serve para transporte de pequenas distâncias e por vezes de habitação.
Ver anterior post: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/11/30/macau-maritimo-i/
(7)”betel” ou “bétele” – planta asarmentosa e aromática/mistura de substâncias, que se mastiga por hábito em algumas regiões tropicais, e em que entram folhas de bétele. (Dicionário de Cãndido de Figueiredo)
(8) artigo e fotos retirados da “Ilustração Portugueza“, 1908.
[…] https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/04/15/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-i/ (2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/05/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-ii/ (3) Deverá estar a referir-se ao último imperador da China (12.º imperador da dinastia Qing) de […]
[…] https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/04/15/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-i/ (2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/05/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-ii/ (3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/10/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-iii/ […]
[…] https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/04/15/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-i/ (2) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/05/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-ii/ (3) https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/05/10/leitura-portugal-no-extremo-oriente-macau-iii/ […]