Nesta data, D. Sinibaldo de Mas, (1) enviado de S. M. Católica na China, regressou à Europa no vapor Spark, por ter sido suprimida a Legação Espanhola no Império Chinês. Muito culto e tendo cativado as simpatias dos macaenses durante a sua residência nesta cidade, deixou dois belos retratos a óleo, sendo um deles o do Bispo Diocesano D. Jerónimo José da Mata, (2) que figura na galeria dos retratos de Bispos de Macau, em uma sala do Paço Episcopal. (3)
Trago esta notícia porque Sinibaldo de Mas está ligado a um episódio da História de Macau.
Já reformado em Madrid (depois da sua estadia no Oriente), foi contactado por James Duncan Campbel (4), líder de uma missão secreta a Madrid, que tentou convencê-lo a ser o mediador da venda de Macau à China (chamada “Operação Emily“). D. Senibaldo de Mas tinha em Portugal grande influência não só na Igreja Católica como a classe política e a Maçonaria. No entanto, o falecimento de Sinibaldo de Mas inviabilizaria tal operação.
(1) Sinibaldo de Mas y Sanz (1809 -1868) nascido em Barcelona, foi sinólogo, pintor, calígrafo, escritor, embaixador, aventureiro e intelectual iberista espanhol (defensor do iberismo – união pacífica e legal entre Portugal e Espanha). Foi o primeiro embaixador espanhol na China (1847). Morreu em Madrid em 1868.
(2) Jerónimo José da Mata (1804-19862) foi Bispo da Diocese de Macau entre 1845 a 1862. Chega a Macau a 24-10-1826, como seminarista dos lazaristas, concluiu os estudos teológicos no Seminário de S. José, e foi ordenado subdiácono em 1827. Foi professor do Seminário de S. José. Foi ele que sagrou a nova Sé Catedral a 19 de Fevereiro de 1850 e ampliação do Recolhimento de Santa Rosa de Lima.(3)
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XIX, Volume 3. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1995, 467 p (ISBN 972-8091-10-9)
(4) A “operação Emily” foi idealizada por Sir Robert Hart , Inspector-geral das alfândegas marítimas chinesas, e consistia na venda de Macau à China, tentando desta venda tirar vantagens políticas e económicas; por um lado ficaria a superintender o porto de Macau, o único porto livre que se encontrava nessa altura fora do imperialismo britânico e por outro, ficaria com uma parcela do negócio que segundo os seus cálculos seria cerca de um milhão e trezentos mil taéis (cerca de 314 mil patacas).
Sobre esta “operação”, recomendo a leitura do artigo de João Guedes “Operação Emily: a tentativa frustada inglesa de vender Macau” (donde retirei a informação):
http://temposdoriente.wordpress.com/2011/03/22/operacao-emily-a-tentativa-frustrada-inglesa-de-vender-macau-22-marco-11/
[…] Aqui e ali aparecem os rochedos arredondados e fendidos, mostrando a sua branca desnudez. Pela frinchas da penedia brota a vegetação, cujo verdor e viço estão, como se uma ininterrupta primavera quisera compor e disfarçar a anarquia geológica das primitivas formações. Alfombram-se e arrelvam-se as quebradas, e os píncaros se toucam e se enfeitem de sombrios e bastos arvoredos, onde as flores da Ásia e da Europa se estão mesclando e convivendo fraternais. Ali anda na memória popular que o poeta passava as horas de ócio, quando a poesia e a tristeza lhe pediam que deixasse os cuidados terrenos e prosaicos de arrecadador de espólios e heranças, e lhe lembravam que, se a miséria o afundira em tão baixo e ingrato ofício, o levantara o génio às glórias de cantor”. Texto retirado do livro de COELHO, J. M. Latino – Galeria de Varões Ilustres de Portugal, 1.º Volume: Luís de Camões. Lisboa: Empreza Horas Românticas, 1880, 374 p. José Maria Latino Coelho (1825 — 1891), mais conhecido por Latino Coelho, militar, escritor, jornalista e político português, formado em Engenharia Militar. Seguiu a carreira das armas, tendo atingido o posto de general de brigada do estado-maior de engenharia. Político percorrendo vários partidos políticos da Monarquia Constitucional, foi várias vezes eleito deputado, foi par do Reino eleito e exerceu as funções de ministro da Marinha e de vogal do Conselho Geral de Instrução Pública. Foi lente na Escola Politécnica de Lisboa (cadeira de Mineralogia e Geologia) e sócio efectivo e secretário perpétuo ( a partir de 1856) da Academia Real das Ciências de Lisboa. Como escritor, notabilizou-se com obras de foro histórico e ensaístico. http://pt.wikipedia.org/wiki/Jos%C3%A9_Maria_Latino_Coelho NOTA: Não tenho conhecimento que Latino Coelho tivesse estado em Macau. A sua “ligação” a este território foi mais interventiva ao prefaciar (em 1851, então jornalista e escritor) o Livro ” A Ibéria” publicado inicialmente em Lisboa sem autor mas que posteriormente revelou-se ser de D. Sinibaldo de Mas (1) (defendia a tese da junção das duas coroas peninsulares numa só). Sobre este tema, ler a excelente artigo de João Guedes publicado em http://temposdoriente.wordpress.com/2011/01/11/o-jantar-de-macau-que-desencadeou-o-iberismo-04-10-11/ (1) Sobre D. Sinibaldo de Mas, ministro plenipotenciário de Espanha na China que residiu em Macau tendo sido editor durante uma ano do “Boletim Oficial”, ver meu anterior post: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2013/04/24/noticia-de-24-de-abril-de-1851-d-sinibaldo-de-mas/ […]