Os raios solares decorando a cidadezinha no Outono
Mesmo as ruelas partilham da sombra do sol
A trepadeira verde sobe janelas desbotadas
e as aldrabas da porta ferrugenta fecham o silêncio

O farol habituou-se ao vento, à chuva, ao dia claro ou nublado
Mas os viajantes já se despediram das águas
do Outono e da vastidão do céu
As caras familiares desapareceram pouco a pouco
Em todas as ruas apenas olhos estranhos

Eu deixo repousar a saudade nas acácias
e aguardo secretamente que Maio floresça rubro
O luar do Outono brilha sobre as ruelas serpenteantes
que esperam o rumor do teu andar tão leve.

Wang Hao Han
Tradução de Yao Jingming (1)
                             Foto retirada de Macau Focus 1993

Wang Hao Han é o pseudónimo de Wang Yun Feng, nascido em Zhongshan (província de Guangdong), no ano de 1950
NOTA Sobre este poema, escreve Mônica Simas (2)
“Em relação à poesia chinesa, que consta da antologia de Arrimar e Yao, observo que os comentários a seguir só foram feitos graças à generosidade das traduções de Yao Jingming. Entre os poemas chineses, encontra-se uma teia que vai desde imagens sutis de aspectos da natureza, sugerindo a solidão de se viver numa cidade em meio a rostos estranhos, como em “Cidadezinha”, de Wang Hao Han … ”

(1) ARRIMAR, Jorge e YAO, Jingming (Selecção e organização). Antologia de Poetas de Macau. Instituto Camões/ Instituto Cultural de Macau/Instituto Português do Oriente, 1999, 313 p.,  ISBN 972-566-201-6 (IC)
(2) SIMAS, Mônica – Coordenadas Poéticas de uma China Especial in ZUNÁI – Revista de Poesia & Debates
http://www.revistazunai.com/ensaios/monica_simas_coordenadas_poeticas.htm