“Felizmente não teve maiores consequências o incidente que se deu em Macau entre as tropas da nossa guarnição e a população chineza que enxameia na cidade. As primieras notícias telegráficas, na sua concisão, deixavam antever acontecimentos graves. Originou esse incidente um das praças indígenas de Moçambique, ali em serviço ter na dua passagem, tropessado, sem querer, n´uma chineza que ia pela mão da mãe, levantando esta um berreiro injustificado.
Soldados africanos guardando um caes que foi fechado
Os chinezes, tomando o partido da mulher, amotinaram-se e lançaram-se ao soldado, defendendo-se este valentemente e levando um d´eles preso para a esquadra, mas, ao retirar-se d´ali, a canalha saltou em cima d´ele, deixando-o em estado tão lastimoso que teve de recolher à enfermaria do hospital.
No dia seguinte declarou-se a greve geral e uma multidão enorme acumulou-se sussurrante e agitada na avenida Marginal, havendo cabecilhas que incitavam contra os portuguezes. Os manifestantes rodearam a esquadra, ocupando completamente as ruas próximas, formando barricadas e não deixando passar ninguém.
No quartel – Uma força de soldados africanos, muito temidos pelos chinezes, em parada no quartel
A força militar encontrava-se isolada e a gentalha ameaçava ruir sobre ela. O tenente sr. Rogério Ferreira (1) resolveu sair d´aquela situação. Um dos amotinados lançou-se-lhe ao pescoço para o estrangular. O oficial puxou da espada, e com ela ainda feriu alguns, mas, por fim, arrancaram-lha das mãos. Não havia paciência que resistisse por mais tempo Da multidão partiram vários tiros de revolver e um soldado baqueou.” (2)
……………………………………………………………continua
NOTA: Embora a “reportagem” não dê a data dos acontecimentos, tratou-se das confrontações entre grupos representativos de associações de classe (operários) e os patrões, iniciadas em 1 de Maio de 1922, com uma manifestação das associações operárias de Macau. Estas confrontações prolongaram-se por todo o mês de Maio e Junho desse ano.
Por isso o Ano de 1922 ficou conhecido por “Ano da Greve“.
Seguimos os acontecimentos relatados por Beatriz Basto da Silva (3):
“Os ânimos opondo patrão e o operário estão exaltados e, como é comum nesta circunstâncias, as manifestações multiplicam-se. Um incidente entre um soldado moçambicano e uma prostituta chinesa, a 28 de Maio, desencadeia um tiroteio grave, que conduz a troca de explicações entre o Governo de Macau e a autoridade de Cantão, levando ao castigo de militares envolvidos bem como à retirada de Macau do contingente de forças africanas. A 29 de Maio de 1922 é proclamado o estado de sítio em todo o território. A 30 de Maio são convocados todos os cidadãos portugueses válidos a apresentarem-se no Quartel do Corpo de Voluntários (em Santa Clara), a fim de serem mobilizados para o serviço do Governo
Só a firmeza da resposta do Governador, Comandante Corrêa da Silva – Paço d´Arcos às autoridades de Cantão evitou crise maior. A 5 de Junho a situação é considerada calma e normal”
As consequências: exoneração por abandono de serviço (greve) de alguns funcionários, por exemplo da Imprensa Nacional. Outros preferiram pedir a exoneração. Em 08 de Junho é determinado o encerramento de 68 associações de Macau. O estado de sítio prolongaria até finais do mês de Junho.
(1) Será o mesmo (?) que tendo sido promovido posteriormente a capitão, proferiu em 1934, a conferência “Os Portugueses na China e a Fundação de Macau” – ver anterior blogue
https://nenotavaiconta.wordpress.com/tag/1934/
(2) Artigo não assinado da Ilustração Portuguesa n.º 860, 1922
(3) SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau, Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, Macau, 1997, 454 p. ISBN-972-8091-11-7.
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[…] da História de Macau, 1997). Sobre estes incidentes no ano de 1922, anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/23/os-tumultos-de-macau-em-1922i/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/24/os-tumultos-de-macau-em-1922-ii/ E aconselho a […]
[…] em Macau, por “Ano da Greve“ – ver anteriores referências relacionados com este tema: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/23/os-tumultos-de-macau-em-1922i/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/24/os-tumultos-de-macau-em-1922-ii/ […]
[…] da História de Macau, 1997. Sobre estes incidentes no ano de 1922, anteriores referências em: https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/23/os-tumultos-de-macau-em-1922i/ https://nenotavaiconta.wordpress.com/2012/10/24/os-tumultos-de-macau-em-1922-ii/ E aconselho a […]
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