“De quando em quando a China alarma-se com os piratas; hordas de homens terríveis com mulheres de pelle engelhada, insexuadas, repellentes, n´um tinido de Taifós, n´um tiroteio ruidoso, assolam as aldeias do interior, põem a ferro e a fogo os logares, retiram-se com os de vice-reis , partem para novos assaltos. O Celeste Império é o ultimo reducto da pirataria que a Europa viu flosrecer, crear raizes e envolver-se na lenda do heroismo. O pirata chinez como todo o bandido tambem tem a sua aureola feita de horrores e de rasgos, d´aventuras e até de prodigalidades.”
LEGENDA DAS FOTOS:
1 – Os primeiros piratas presos
2 – Uma casa de Coloane depois de bombardeada
3 – Piratas capturados
4 – Uma rua da villa de Coloane depois do bombardeamento
5 – A povoação de Lai-Chi-Van bombardeada

“Algumas aldeias  de Cantão teem-nos visto, armados até aos dentes, com os seus trajos negros, as suas armas afiadas, cahir, como um bando de feras, sobre as habitações e fazer a chacina; por toda a região de Kuang Tung,  elles teem imposto a chancella da sua vontade e no rio Si Kiang, mettidos nos seus sampans, escondidos na treva ou albergados como corcodilos nos juncaes  da margem, esperam as embarcações desprevenidas, os barcos de passageiros, as lorchas de carga onde as tanqareiras remam. Ouvem-se então gritos de triumpho, rugidos de alegria se a presa é boa; arrastam-se creanças em reféns, embainham-se os taifós nas carnes dos que resistem e lá vão acantoar-se, depois de deixarem atraz de si um incendio, nas ilhas do rio, na Taipa, em Coloane. Nos reconcavos das rochas á beira d´agua, com as pirogas ao alcance da mão o pirata repousa n´um festim, queima panchões em louvor dos seus idolos, masca betel á farta e fuma o seu opio sonhando maravilhas. O que ficou para traz depressa esqueceu.”                    …………….continua

LEGENDA DAS FOTOS:
1 – A villa de Coloane depois de bombardeada
2 – posto de observação das nossa forças na montanha
3 – Desembarque de víveres

Artigo e fotos (não identificados o seu autor) encontram-se nas páginas 329 e 330  de  Ilustração Portuguesa (edição semanal do jornal O SECULO), n.º 238, Lisboa, 12 de Setembro de 1910, pp. 329 – 334.

Os acontecimentos relatados nesta “reportagem” iniciaram-se em Julho de 1910 quando os piratas, numa das suas frequentes acções de pirataria, raptaram uma dúzia de crianças duma escola entre Cantão e Macau e refugiaram-se com elas na ilha de Coloane pedindo às famílias  resgates na ordem das 35 mil patacas, o que, naquele tempo, era uma fortuna. A polícia de Macau enviou para Coloane um oficial e alguns soldados, que foram logo atacados à mais ligeira aproximação. Voltaram estes à Taipa e a situação foi-se agravando, dia-a-dia. Em 12 de Julho desse ano, o Governador Eduardo Marques suspendeu as garantias constitucionais de todo o território da Taipa e Coloane. No dia 18 de Julho a canhoneira «Pátria» e o lancha-canhoneira «Macau» bombardearam as posições dos piratas chineses e no dia 19 de Julho deu-se o avanço geral das forças militares e policiais. (SILVA, Beatriz Basto da – Cronologia da História de Macau Século XX, Volume 4. Direcção dos Serviços de Educação e Juventude, 2.ª Edição, Macau, 1997, 454 p (ISBN 972-8091-11-7)